REVENDO ANTIGAS POSTAGENS
FRANCISCO, O SANTO PANTEÍSTA
Lendas Franciscanas
Ensinam a Unidade de Todos os Seres
chamava de irmãos o sol, a lua, o fogo, a água,
o vento, a terra e todos os seres.
As
antigas lendas sobre santos, sábios e heróis são formas de ensinar cuja
eficácia parece crescer à medida que passa o tempo. Elas falam
diretamente à alma. Elas transmitem informação ao hemisfério cerebral
direito, que funciona como instrumento da experiência mística na
consciência humana.
Tais
narrativas devem ser reconhecidas e valorizadas como lendas: não é
correto encará-las como verdadeiras num sentido literal.
A
prática mais modesta da biografia documentada é recente. O que se ganha
com ela em documentação material perde-se, às vezes, em profundidade.
Nem todos são capazes de conciliar a linguagem da alma com uma
documentação correta e verificável.
Há
milênios a história das vidas dos grandes instrutores religiosos tem
sido quase sempre lendária. Seu significado não é óbvio. Para a
filosofia esotérica, as vidas de sábios como Cristo, Osíris, Buddha,
Krishna, Lao-tzu ou Zoroastro são exemplos de linguagem simbólica. Elas
devem ser lidas em profundidade, e Francisco de Assis, o santo do século
13, está longe de ser uma exceção. A lenda franciscana transmite lições
universais, que podem ser colocadas criativamente em prática pelos
habitantes do século 21.
Espírito Vivo Transcende Especulações
Quando
vamos além da letra morta, percebemos a unidade essencial entre os
diferentes campos de conhecimento. Cada religião ou filosofia pode
ensinar algo valioso à alma humana, mas nenhuma delas é suficiente em si
mesma. O espírito da sabedoria está acima das divisões e especulações
intelectuais. Francisco de Assis mandou carta a Antônio de Pádua pedindo
que ensinasse teologia aos irmãos, “contanto que este estudo não
extinga o espírito da santa oração e da devoção”. [1]
A
ideia constitui um axioma central em filosofia esotérica. É
imprescindível estudar os aspectos teóricos da teosofia original, e eles
são fascinantes; mas Helena Blavatsky escreveu: “teosofista é aquele
que age teosoficamente”. Na ausência de uma devoção sincera à causa da
humanidade, o discurso “espiritualizado” pode fazer mais mal do que bem.
A silenciosa contemplação interior das verdades universais é
necessária. A prática diária do ensinamento é igualmente decisiva. Este é
um dos pontos em que Francisco bate na mesma tecla que a filosofia
esotérica. No documento “Palavras de Santa Exortação a Todos os Irmãos”, ele afirma:
“A letra mata, mas o espírito vivifica
(2 Cor 3:6). São mortos pela letra os que tão-somente querem saber as
palavras, a fim de parecer mais sábios que os outros e poder adquirir
grandes riquezas e dá-las aos parentes e amigos. (…..) São porém
vivificados pelo espírito das Sagradas Escrituras aqueles que tratam de
penetrar mais a fundo em cada letra que conhecem, e não atribuem o seu
saber ao próprio eu, mas pela palavra e pelo exemplo o restituem a
Deus…” [2]
Cabe
examinar o que significa a palavra “Deus”. Cada religião, cada igreja e
até cada crente individual fabrica Deus à sua própria imagem e
semelhança. Para a filosofia esotérica, porém, não existe qualquer coisa
semelhante a um deus monoteísta. Há, em todas as dimensões do cosmo
infinito, uma imensa pluralidade de energias e inteligências divinas.
A
Lei Universal ou Lei do Carma rege o universo inteiro. Toda a Natureza é
sagrada, e Francisco parece ter percebido este fato intuitivamente.
Embora tenha procurado manter-se obediente às instituições autoritárias
da Idade Média, as suas inclinações teosóficas e panteístas são
evidentes, e são profundas.
Nossa Senhora, a Pobreza
NOTAS:
Pouco antes de morrer, Francisco fez algumas recomendações finais no chamado Testamento de Sena. Ali aparece o conceito de “Nossa Senhora, dona Pobreza”. O sábio afirma:
“Abençoo
a todos os meus irmãos, tanto os que estão na Ordem agora como os que
nela entrarem até o fim do mundo. E como por causa da minha fraqueza e
de meus sofrimentos já não lhes posso falar muito, quero elucidar em
três frases a todos os meus irmãos atuais e futuros qual o meu propósito
e meu querer, a saber: que em sinal de minha memória, de minha bênção e
de nossa aliança sempre se amem como eu os tenho amado e ainda amo; que
guardem sempre amor e fidelidade a nossa senhora dona Pobreza; que
sempre se mantenham submissos e prontos a servir aos prelados e clérigos
da Santa Mãe Igreja.” [3]
Na
tradição franciscana, Clara é a figura feminina que complementa o
santo. Ela é uma personificação da pobreza mística, isto é, do desapego
em relação a situações materiais.
Embora
obedecer externamente à Igreja fosse essencial para a sobrevivência do
trabalho franciscano, a divindade feminina da sua Ordem dos Frades
Menores é “dona Pobreza”, isto é, a simplicidade voluntária, o
despojamento. O contraste é profundo com a igreja, cujos clérigos e
bispos viviam no luxo material, em meio à extrema pobreza do povo.
Descontadas
as aparências, a verdade é que Francisco estava lutando de modo
não-violento contra a corrupção do clero. Ele também não acreditava em
obediência cega. Considerado por alguns um precursor da Reforma de
Lutero, o santo de Assis afirmou:
“Se
(…..) um dos ministros mandar a um irmão algo que for contrário ao
nosso gênero de vida ou à sua alma, o irmão não estará obrigado a
obedecer-lhe. Pois não haverá obediência onde se cometer uma falta ou um
pecado. E mais, todos os irmãos que forem súditos dos ministros e
servos observem com diligente atenção o que fazem os ministros e servos.
E se acaso virem que um deles vive segundo a carne e não
espiritualmente, conforme corresponde à retidão de nosso gênero de vida,
tratem de adverti-lo por três vezes. Se apesar disso não se emendar,
deverão denunciá-lo (…..) ao ministro geral de toda a fraternidade, sem
deixar-se intimidar por contradição alguma.”[4]
Acostumado a enfrentar pressões do alto clero corrupto, Francisco estabeleceu em seu testamento para as irmãs de Santa Clara:
“Peço
a vocês, senhoras minhas, e dou-lhes o conselho de que vivam sempre
esta santíssima vida de pobreza. E evitem cuidadosamente afastarem-se
dela nem pela doutrina nem pelo conselho de quem quer que seja.” [5]
Evitando a Escravização Pelo Dinheiro
Não
se pode calcular em dólares o valor de uma vida humana. Tampouco é
possível comprar ou vender conhecimento sagrado, ou felicidade. Ninguém
encontra Ética nas estantes dos supermercados. Quando uma sociedade se
ergue até o nível em que a sabedoria universal é compreendida, as
pessoas vivem segundo valores mais importantes que notas de papel
emitidas por bancos centrais.
Na
Idade Média, a influência do dinheiro era menor do que no século 21.
Muitas relações sociais não eram intermediadas pela moeda, e podemos ler
estas palavras de Francisco no item quatro da “Regra Definitiva da
Ordem dos Frades Menores”:
“Ordeno
severamente a todos os irmãos que de modo algum aceitem moedas ou
dinheiro, nem por si nem por pessoa intermediária. Mesmo para prover as
necessidades dos irmãos enfermos ou vestir os demais irmãos, só os
ministros e custódios tomem solicitamente as devidas providências,
inclusive recorrendo a amigos espirituais, e levando em conta as
condições de lugar, de tempo e de clima, conforme a seu critério melhor
convier à necessidade – salvo sempre, como já ficou dito, que não
aceitem moedas ou dinheiro.”[6]
Francisco
era severo com a deslealdade. Depois de proibir a aceitação de
dinheiro, ele propôs na Regra Não-Aprovada, um texto em que o ideal
franciscano brilha sem mutilações:
“E
se mesmo assim acontecer (…..) que algum irmão ajunte ou possua
dinheiro ou moedas (…..), todos nós irmãos vamos considerá-lo como
falso irmão e como apóstata, como gatuno e como ladrão, e mais, como
aquele que carrega a bolsa [Judas Iscariotes].” [7]
Algumas Lições para o Século 21
Embora
a proibição do uso de dinheiro não possa ser aplicada literalmente no
século 21, há várias lições práticas a serem extraídas da ideia que
inspirou as palavras de Francisco.
O
bom senso ensina que é necessário valorizar o trabalho solidário e
voluntário. As pessoas bem informadas têm o dever de promover a opção
pela vida simples, pela superação do consumismo ecologicamente
irresponsável e pela prática da ajuda mútua entre os cidadãos, sem
intermediação de moeda.
Deve-se
perceber aquilo que tem mais valor que o dinheiro. É recomendável
estabelecer a diferença entre o trabalho, de um lado, e a busca do
dinheiro, de outro. As duas coisas não estão necessariamente juntas. O
trabalho altruísta é uma forma de oração. A busca de dinheiro, em
alguns casos, é o seu oposto.
A
proposta franciscana aponta para a economia solidária do futuro. Ela
propõe relações econômicas e sociais ecologicamente corretas, voltadas
para o bem-estar de todos os seres e não para o enriquecimento pessoal
deste ou daquele. A prática do franciscanismo original contrastava
frontalmente com a corrupção do alto clero no final da idade média, e
ainda contrasta hoje com o luxo do Vaticano.
Nas
décadas seguintes à morte do sábio de Assis, o Vaticano perseguiu sem
dó ou piedade os franciscanos mais radicais e os partidários do
Evangelho Eterno, que seguiam a visão de fraternidade universal
partilhada por Joachim de Fiore.
Trabalho ou Ociosidade
O trabalho é sagrado. O esforço criador e construtivo é fonte de felicidade, e a Regra Definitiva dos franciscanos estabelece:
“Aqueles
irmãos que do Senhor receberam a graça de poder trabalhar, trabalhem
com fidelidade e dedicação, de modo a afugentar o ócio, inimigo da alma,
sem contudo perder o espírito da santa oração e devoção, ao qual devem
subordinar-se todos os demais assuntos temporais. Como salário do
trabalho podem receber para si e seus irmãos o necessário para sustentar
a vida, exceto moedas ou dinheiro, e isto com humildade, conforme
convém a servos de Deus e seguidores da mais santa pobreza.” [8]
Vivendo
na Idade Média, Francisco usava com naturalidade o termo “diabo”. Na
realidade, esta palavra é apenas uma personificação simbólica daquele
nível de ignorância humana acumulada que se resiste ativamente ao
aprendizado espiritual. A ignorância que visa eternizar-se existe
subconscientemente. Como todo mau hábito, ela luta pela sua preservação,
e é capaz de usar uma astúcia traiçoeira tanto no plano individual como
no âmbito coletivo. O trabalho altruísta – conhecido no Oriente pelo
nome de Carma Ioga – é uma arma eficaz contra este inimigo do peregrino
espiritual. Assim, a Regra Não-Aprovada dos franciscanos recomenda:
“Todos
os irmãos se esforcem seriamente em praticar boas obras, pois está
escrito: ‘Vê se estás sempre empenhado em praticar alguma boa obra, para
que o diabo te encontre ocupado’; e ainda: ‘A ociosidade é inimiga da
alma’.” [9]
O Usufruto do Universo Pertence a Todos
Há
uma simetria inevitável no Universo. A cada renúncia externa
corresponde uma aquisição interna, e vice-versa. Em consequência disso, é
morrendo para a vida material que se nasce para a vida espiritual. E
Francisco recomendou:
“Os
irmãos não adquiram propriedade de coisa alguma, nem de casa, nem de
residência, nem de outra coisa qualquer. E como peregrinos e
forasteiros neste mundo, servindo a Deus em pobreza e humildade, peçam
esmola com confiança, nem se envergonhem disso, pois o Senhor se fez
pobre por nós neste mundo (2Cor: 8,9). É nisto que consiste a
sublimidade dessa extrema pobreza, que transforma vocês, caríssimos
irmãos, em herdeiros e reis do reino dos céus, e os torna pobres de
bens, mas nobres de virtudes (Tiago, 2:5).” [10]
O
“reino dos céus” é uma imagem simbólica, que representa os níveis
superiores de consciência. O mundo do espírito é cósmico. Um trecho de
uma regra desaparecida da ordem franciscana afirma que os frades menores
“nada querem possuir sob o céu senão a santa pobreza, por meio da qual o
Senhor os alimenta neste século com alimento corporal e possuirão no
século futuro a herança celestial”.[11]
A
ausência de posses não produz apenas uma recompensa futura, mas é fonte
de felicidade e libertação imediatas. O pensador francês Ernest Renan,
que identificou-se pessoalmente com o ideal franciscano, escreveu no
século 19:
“Assim
como o patriarca de Assis, atravessei o mundo sem apegar-me seriamente
ao mundo, mas – ouso dizer – na situação de simples locatário. Nós dois,
sem nada termos que seja nosso, somos ricos. A divindade nos deu o
usufruto do universo, e estamos contentes por desfrutá-lo sem posse.” [12]
A Lenda do Lobo
A
força da renúncia desperta o poder da unidade com todos os seres, e a
lenda franciscana mostra numerosos exemplos deste fato. Conta a tradição
que um lobo de grande porte aterrorizava o condado italiano de Gúbbio,
devorando tanto animais como seres humanos. Ninguém mais tinha coragem
de sair da cidade, quando Francisco foi à procura do animal. Ao vê-lo, o
santo fez o sinal da cruz, concentrou-se mentalmente e disse:
“Venha cá, irmão lobo”.
O lobo aproximou-se de Francisco como um cordeiro e lançou-se aos seus pés.
Francisco
deu-lhe uma ordem em nome de Cristo para que parasse de perseguir as
pessoas. Fez um elaborado discurso ao lobo, enumerando um a um os seus
erros. Finalmente, estabeleceu as condições de uma paz futura entre o
animal e os habitantes do condado.
O
lobo respondeu com humildade, fazendo sinal afirmativo com a cabeça.
Prestou juramento solene, e prometeu nunca mais atacar pessoas. Em troca
disso, o santo anunciou que os habitantes da cidade lhe dariam o
alimento necessário para sua sobrevivência. Francisco selou o acordo
apertando a mão do lobo. [13]
Para
os mais diferentes povos, o lobo é, desde a antiguidade, um símbolo das
paixões animais que perseguem os seres humanos menos sábios e “devoram”
tudo o que veem pela frente.
Maldade Não é Mau Carma Para Quem a Sofre
Os desinformados pensam que o egoísta e o mentiroso prejudicam de fato suas vítimas.
Desde
um ponto de vista teosófico, porém, a maldade e a injustiça prejudicam
sobretudo quem as comete. Também neste caso, o desapego e a atenção
fazem a diferença. A vítima só é seriamente prejudicada quando se apega
ao sofrimento, ou quando reage com um ódio cego e um rancor primário.
Francisco, que possuía bom senso, fez registrar na Regra Não-Aprovada:
“E saibam que a humilhação não é imputada aos que a sofrem, mas aos que a infligem.”[14]
Em outro trecho ele cita Mateus, 5:10-12:
“Bem-aventurados
os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino
dos céus. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem,
insultarem e perseguirem, e vos expulsarem e escarnecerem, e injuriarem
vosso nome como réprobos, e falsamente disserem contra vós todo gênero
de maldade, por minha causa.” [15]
Jesus, o autor simbólico destas palavras, representa o Caminho.
Aquele
que trilha o Caminho da ética e da sabedoria pode ser desprezado no
mundo, porque sua vida segue uma lógica que não é compreensível desde o
ponto de vista do materialista. No entanto, o sofrimento causado pela
incompreensão é fonte de mais aprendizado. Em última instância, todo o
sofrimento “probatório” do aprendiz culmina na felicidade incondicional
que emerge da sabedoria consolidada.
Os
materialistas, em compensação, trilham o verdadeiro caminho do
sofrimento. A obra “I Fioretti”, uma coletânea de lendas franciscanas,
ensina este princípio teosófico:
“Muitas
dores terá o homem mísero, o qual põe o seu desejo nas coisas terrenas,
pelas quais abandona e perde as celestes, e finalmente perderá também
as terrenas. A águia voa muito alto, mas se tivesse algum peso ligado às
asas, não poderia voar muito alto; e assim o homem, pelo peso das
coisas terrenas, não pode voar ao alto, isto é, não pode chegar à
perfeição; mas o homem sábio, que prende o peso da lembrança da morte e
do julgamento [16] às asas do seu coração, não pode,
pelo seu grande temor, discorrer nem voar para a vaidade nem para os
bens deste mundo, que lhe são causa de danação”. [17]
O Cântico do Sol: uma Oração Panteísta
O
manifesto mais vigoroso da filosofia franciscana é o Cântico do Sol.
Baseado em grande parte no testemunho de gratidão aos deuses que faz
parte de uma obra clássica de Xenofonte, “Ditos e Feitos Memoráveis de
Sócrates” [18], o Cântico é uma prova indiscutível das raízes panteístas da mais elevada mística cristã.
Assim
como a tradição esotérica, o franciscanismo ensina a comunhão imediata
com todos os seres, sem a intermediação burocrática da missa, de uma
igreja, ou de sacerdotes. O planeta inteiro é um templo, e a presença
divina está em todas as partes.
A teosofia ensina a unidade de todos os seres
Segundo
a lenda, o Cântico do Sol foi composto por Francisco pouco antes de
morrer. A oração é nominalmente dirigida ao Senhor Deus dos católicos;
porém esta aparente personalização do princípio divino universal faz
parte de um enfoque panteísta em que também o sol, a água, a lua e
outros elementos da natureza são personalizados e chamados de irmãos.
Para
a teosofia de Helena Blavatsky, assim como para o cristianismo de
Francisco, não há coisa alguma destituída de vida ou inteligência no
universo. As forças naturais estão unidas a cada ser humano por laços de
uma afinidade sutil mas incondicional. Nas Cartas dos Mahatmas, é possível encontrar estas palavras de um sábio dos Himalaias:
“A
natureza uniu todas as partes do seu império por meio de fios sutis de
simpatia magnética, e há uma relação mútua até mesmo entre uma estrela e
o homem…” [19]
Este princípio da filosofia oriental é desenvolvido em forma de oração no Cântico do Sol:
Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as tuas criaturas,
especialmente o senhor irmão Sol,
pois ele é dia
e nos ilumina por si.
E ele é belo e radiante com grande esplendor.
E porta teu sinal, ó Altíssimo.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã Lua e as estrelas;
no céu as formaste luminosas
e preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão vento e o ar e as nuvens,
e o céu sereno e toda espécie de tempo
pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão fogo,
pelo qual iluminas a noite;
e ele é belo e alegre
e vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
por nossa irmã e mãe terra,
que nos alimenta e governa
e produz variados frutos
e coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor,
por nossa irmã, a morte corporal
da qual ninguém pode escapar.
Ai daqueles que morrem em pecado mortal. [20]
Felizes os que estão na tua santíssima vontade,
que a morte segunda não lhes fará mal. [21]
Oitocentos
anos depois da vida biológica do sábio de Assis, a visão franciscana
da vida é uma ponte dinâmica da tradição cristã com outras religiões, e
com a filosofia universal.
As
lições que ele deixou constituem um dos aspectos em que o cristianismo
se ergue até o nível da antiga teosofia do Oriente, e ensina a prática
da fraternidade sem fronteiras que marcará a civilização do futuro.
Carlos Cardoso Aveline
[1] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1979, 289 pp., ver p. 162.
[2] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, Editora Vozes, p. 142.
[3] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 117.
[4] “Regra Não-Aprovada”, publicada no volume “São Francisco de Assis”, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1991, 1.372 pp., ver p. 144.
[5] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, obra citada, p. 111.
[6] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, obra citada, p. 102.
[7] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 76.
[8] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, mesma p. 102.
[9] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 75.
[10] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 103.
[11] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 96.
[12] “Nouvelles Études D’Histoire Religieuse”. Ernest Renan, 1884, Calmann-Lévy, Editeurs, 533 pp., ver pp. III-IV.
[13] “I Fioretti”, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, sétima edição, 1985, 254 pp., ver pp. 59-62.
[14] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 77.
[15] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 83.
[16] Julgamento; esotericamente, o “julgamento” do cristianismo convencional simboliza o início do processo pós-morte. Através dele é definido o rumo da alma durante todo o processo entre duas vidas físicas, isto é, até a próxima encarnação. A qualidade deste longo processo entre duas vidas depende da qualidade ética das ações da alma durante a vida física.
[17] “I Fioretti”, Ed. Vozes, sétima edição, 1985, 254 pp., ver p. 231.
[18] Veja o capítulo III do Livro IV da obra “Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates”, incluída no volume “Sócrates”, coleção “Os Pensadores”, Nova Cultural, Círculo do Livro S.A., 1996, 303 pp., pp. 175-177. O tema é abordado também no capítulo dedicado a Sócrates de meu livro “Conversas na Biblioteca”, Edifurb, 2007, 170 pp., ver pp. 18-22. A obra contém um capítulo dedicado ao santo de Assis (ver pp. 47-53).
[2] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, Editora Vozes, p. 142.
[3] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 117.
[4] “Regra Não-Aprovada”, publicada no volume “São Francisco de Assis”, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, 1991, 1.372 pp., ver p. 144.
[5] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, obra citada, p. 111.
[6] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, obra citada, p. 102.
[7] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 76.
[8] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, mesma p. 102.
[9] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 75.
[10] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 103.
[11] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 96.
[12] “Nouvelles Études D’Histoire Religieuse”. Ernest Renan, 1884, Calmann-Lévy, Editeurs, 533 pp., ver pp. III-IV.
[13] “I Fioretti”, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, sétima edição, 1985, 254 pp., ver pp. 59-62.
[14] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 77.
[15] “Os Escritos de São Francisco de Assis”, p. 83.
[16] Julgamento; esotericamente, o “julgamento” do cristianismo convencional simboliza o início do processo pós-morte. Através dele é definido o rumo da alma durante todo o processo entre duas vidas físicas, isto é, até a próxima encarnação. A qualidade deste longo processo entre duas vidas depende da qualidade ética das ações da alma durante a vida física.
[17] “I Fioretti”, Ed. Vozes, sétima edição, 1985, 254 pp., ver p. 231.
[18] Veja o capítulo III do Livro IV da obra “Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates”, incluída no volume “Sócrates”, coleção “Os Pensadores”, Nova Cultural, Círculo do Livro S.A., 1996, 303 pp., pp. 175-177. O tema é abordado também no capítulo dedicado a Sócrates de meu livro “Conversas na Biblioteca”, Edifurb, 2007, 170 pp., ver pp. 18-22. A obra contém um capítulo dedicado ao santo de Assis (ver pp. 47-53).
[19] “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, Brasília, 2001, Carta 47, Volume I, pp. 217-218.
[20] “Morrer em pecado mortal”. Esotericamente, essa expressão significa concluir a encarnação enquanto há um contato nulo, ou insuficiente, entre a alma mortal e a alma imortal. Assim, quando ocorre a “segunda morte” – a morte astral – a consciência do indivíduo não se transfere para o eu superior e não tem lugar a vivência do “Devachan”, o “local dos deuses”; na linguagem cristã, a alma não vai para o “paraíso”, antes de reencarnar.
[21] Conforme sugere o verso final, os que estão de acordo com a vontade divina do seu próprio eu superior nada têm a temer com a “segunda morte”, a morte astral. Quando ela ocorre, a consciência se transfere para o nível superior, o local divino ou “paraíso individual”, tecnicamente chamado de “Devachan” em teosofia.
[20] “Morrer em pecado mortal”. Esotericamente, essa expressão significa concluir a encarnação enquanto há um contato nulo, ou insuficiente, entre a alma mortal e a alma imortal. Assim, quando ocorre a “segunda morte” – a morte astral – a consciência do indivíduo não se transfere para o eu superior e não tem lugar a vivência do “Devachan”, o “local dos deuses”; na linguagem cristã, a alma não vai para o “paraíso”, antes de reencarnar.
[21] Conforme sugere o verso final, os que estão de acordo com a vontade divina do seu próprio eu superior nada têm a temer com a “segunda morte”, a morte astral. Quando ela ocorre, a consciência se transfere para o nível superior, o local divino ou “paraíso individual”, tecnicamente chamado de “Devachan” em teosofia.
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