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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

PERGUNTAS A KRISHNAMURTI

 
 
Pergunta: Como pode uma mente condicionada compreender o que é verdadeiro?
 
Krishnamurti: Não pode. Consideremos isso com toda a simplicidade. Suponhamos que eu seja nacionalista, apegado à minha pátria, a meu soberano, enredado em minha insignificante identificação com determinada raça. Como pode tal mente compreender um estado que transcende tudo isso? Não pode. Por conseguinte, a mente tem de compreender seu próprio nacionalismo e quebra-lo, destruí-lo, repudiá-lo de todo; e isso, em geral, nos é dificílimo. O nacionalismo é apenas uma expansão de nosso pequenino “ego”. Identificai-vos com vosso país, porque sois pequeno e o país é grande. A “entidade tribal” gosta de identificar-se com algo maior do que ela — e isto é o que todos estamos fazendo. Podeis não identificar-vos com vosso país, mas desejais devotar-vos a algum alvo ou ação de suprema significação; desejais estar identificado com uma ideia ou com Deus. Quer vos devoteis à pátria, à família, quer vos torneis monge e vos devoteis a Deus, trata-se exatamente da mesma coisa: puro condicionamento. E o quebrar desse condicionamento requer, como vimos, um percebimento “sem escolha”, vigilância de todo o movimento do pensamento; trata-se simplesmente de enfrentar o condicionamento, de observá-lo.
 
 
 
Pergunta: O que é a verdadeira, a eterna felicidade?
 
Krishnamurti: (...) veja como a mente prega peças a si mesma. Porque se sente infeliz, angustiado, em circunstâncias precárias, etc., você quer alguma coisa eterna, uma felicidade permanente. Existirá isso? Em vez de pedir felicidade permanente, descubra como se livrar do desejo que o está roendo e criado dor, tanto física como psicológica. Quando é livre, não há problema, você não pergunta se há felicidade eterna ou o que é a felicidade. É o homem preguiçoso, tolo que, estando na prisão, quer saber o que é a liberdade; e pessoas preguiçosas e tolas lhe dirão. Para o homem prisioneiro, a liberdade é mera especulação. Mas se sair da prisão, ele não especulará acerca da liberdade: ela existirá.

Por isso, não é importante, em lugar de perguntar o que é a felicidade, descobrir por que somos infelizes? Por que a mente está paralisada? Por que nossos pensamentos são limitados, mesquinhos, acanhados? Se pudermos entender a limitação do pensamento, ver a verdade disso, nessa descoberta da verdade haverá libertação.

 
 
 
Pergunta: O que é a verdadeira liberdade e como conquistá-la?
 
Krishnamurti: A verdadeira liberdade não é coisa que se adquira; é o resultado da inteligência. Você não pode sair e comprar liberdade no mercado. Não pode obtê-la lendo um livro ou ouvindo alguém falar. A liberdade vem com a inteligência.
 
Mas, o que vem a ser inteligência? Poderá haver inteligência quando há medo, ou quando a mente está condicionada? Quando a sua mente está cheia de preconceitos, ou quando você imagina que é um ser humano maravilhoso, ou quando é muito ambicioso e deseja subir a escada do sucesso, material ou espiritualmente, pode acaso haver inteligência? Quando você está preocupado consigo mesmo, quando segue ou venera alguém, pode acaso haver inteligência? De fato, a inteligência aparece quando você compreende toda essa estupidez e rompe com ela. Portanto, você precisa começar a fazer isso; e a primeira coisa a fazer é tomar consciência de que sua mente não é livre. Você precisa observar como sua mente está presa por todas essas coisas, e, então, haverá um princípio de inteligência, a qual acarreta liberdade. Você tem que encontrar a resposta por si mesmo. Qual é a vantagem de alguma outra pessoa ser livre quando você não é, ou de outra pessoa ter alimento quando você padece fome?

Para ser criativo, o que implica realmente ter iniciativa própria, é preciso haver liberdade; e para haver liberdade é preciso haver inteligência. Portanto, você precisa inquirir e descobrir o que está travando a sua inteligência. Precisa investigar a vida, tem de questionar todos os valores sociais, tudo, e não aceitar coisa alguma porque está com medo.


 

"A vida inteira, a partir do momento em que nascemos, é um processo de aprendizado". (Krishnamurti)




O HOMEM MUNDANO


"O dinheiro não muda o homem,
 apenas o desmascara".
(Henry Ford) 


Eu não digo que pessoas mundanas são aquelas que têm dinheiro. Eu chamo de pessoas mundanas aquelas que mudam os seus motivos por causa do dinheiro. 

Eu não digo que as pessoas que não tem dinheiro não sejam mundanas. Elas podem ser simplesmente pobres. Eu digo que as pessoas não são mundanas quando elas não mudam seus motivos por causa de dinheiro. 

Só por ser pobre não equivale a ser espiritual. E só por ser rico não é equivalente a ser um materialista. 

O padrão materialista de vida é aquele em que o dinheiro predomina acima de tudo. A vida não materialista é aquela em que o dinheiro é simplesmente um meio; a felicidade predomina, a alegria predomina, a sua própria individualidade predomina. Você sabe quem você é e para onde está indo, e você não está se desviando. Então, de repente, você vê que a sua vida adquiriu uma qualidade meditativa.

Mas, em algum ponto do caminho, todo mundo se perdeu. Você foi educado por pessoas que não se realizaram. Você foi educado por pessoas que não tinham saúde. Você pode sentir pena delas. Eu não estou lhe dizendo para ser contra elas. Eu não as estou condenando, lembre-se. Simplesmente sinta compaixão por elas. Os pais, os professores do colégio e da universidade, os chamados líderes da sociedade, eles foram pessoas infelizes. Eles criaram um padrão infeliz em você.

E você ainda não assumiu a sua própria vida. Eles viveram segundo uma interpretação errada, e essa foi a miséria deles. E você também está vivendo segundo uma interpretação errada.
 
 
Osho 
 
 
 
 
"Dinheiro é um negócio curioso. 
Quem não tem está louco para ter 
e quem tem está cheio de problemas por causa dele". (Ayrton Senna)
 
 
A EXIGÊNCIA DA ORDEM 
PRODUZ ORDEM  ?




“Por certo, só poderá apresentar-se
a ordem correta com a destruição da mente
que exige ordem para sua própria
satisfação e segurança”.


Existe grande confusão no mundo. Exteriormente, existe pobreza, fome e corrupção; interiormente, também, existe confusão, sofrimento e pobreza do ser. Existe contradição no mundo. Os políticos se declaram em favor da paz e preparam a guerra; fala-se de união da humanidade, e ao mesmo tempo, estamos assistindo à sua desintegração. E do meio desses caos, dessa desordem, todos desejamos que saia a ordem. Temos paixão pela ordem. Assim como temos paixão por manter nossos quartos limpos e bem arrumados, assim também temos paixão por colocar o mundo em ordem. Não sei se temos refletido profundamente sobre essa palavra, no que ela implica. Queremos ordem interiormente, queremos viver sem contradição, sem luta, sem confusão, de maneira que exclua todo sentimento de desarmonia e luta; e, assim, recorremos aos líderes espirituais para que nos deem a ordem ou aderimos a grupos, ou seguimos certo sistema de ideias, de disciplinas. Eis como erigimos autoridades; queremos que nos mostrem o que devemos fazer. Tentamos produzir a ordem pelo ajustamento, pela imitação.

Do mesmo modo desejamos ter a ordem externa, na política, no mundo dos negócios. Por essa razão existem ditadores, tiranos, governos totalitários que prometem a ordem total, na qual a ninguém é permitido pensar. Ensinam-vos o que deveis pensar, da mesma maneira como vos ensinam o que pensar quando pertenceis a uma igreja ou a um grupo que crê num certo sistema de ideias. A tirania da igreja é tão brutal como a tirania dos governos. Mas gostamos dela, porque desejamos a ordem a qualquer preço. E temo-la. A guerra produz uma ordem extraordinária num Estado. Todos cooperam para a mútua destruição.

Cumpre, assim, compreender essa obsessão pela ordem. A sujeição de nossa própria confusão à autoridade, interna ou externa, produz a ordem?  Compreendeis a pergunta?

Vejo-me confuso e não sei o que fazer. Minha vida é estreita, limitada, confusa, infeliz — encontro-me num estado de contradição e não sei o que fazer. Assim sendo, dirijo-me a alguém, instrutor, guru, santo, salvador; e provavelmente alguns de vós viestes aqui com igual propósito. Assim, por causa de vossa confusão escolheis vosso líder, e quando atuais por motivo de confusão, vossa escolha só pode criar mais confusão. Abandonai-vos à autoridade — e isso significa que não desejais pensar, não desejais descobrir por vós mesmos o que é o verdadeiro e o que é falso. Descobrir o que é verdadeiro e o que é falso é dificílimo; temos de estar muito ativos, muito vigilantes. Mas, como em geral somos preguiçosos, insensíveis, não profundamente sérios, preferimos que nos digam o que devemos fazer; e para isso temos os santos, os salvadores, os instrutores, para dirigirem nossa conduta interior; e exteriormente temos os governos, os tiranos, os generais, os políticos, os especialistas. E esperamos que, seguindo-os, nossas tribulações se acabarão gradualmente e, por conseguinte, teremos ordem.

Por certo, a palavra “ordem” implica tudo isso, não? Ora a exigência de ordem produz ordem? Considerai isso, por favor, pois desejo examinar este ponto. A meu ver, a autoridade e o poder, de qualquer espécie que sejam, são destrutivos. O poder, em qualquer forma, é coisa má, porque estamos confusos; porque não sabemos, queremos ser ensinados.

Penso, pois, que desde o início destas palestras deve ficar bem entendido que este orador não é nenhuma autoridade; tampouco o sois vós, que ouvis e acompanhais o que se está dizendo. Nós estamos procurando investigar, descobrir juntos. Se aqui viestes com a ideia de que se vos irá dizer o que deveis fazer, partireis de mãos vazias.

A mim o que importa é perceber a existência da desordem exterior e interior, e que a exigência de ordem é simplesmente exigência de segurança, garantia, certeza. E infelizmente não existe segurança, nem interna, nem externa. Os bancos poderão falir, poderá haver guerra, há a morte, os valores da bolsa poderão sofrer uma queda desastrosa — tudo pode acontecer, e coisas terríveis já estão acontecendo. Como vemos, a exigência de ordem é exigência de segurança; e é isso o que todos, velhos e moços, queremos. Não temos muita preocupação quanto a segurança interior, porque não sabemos como proceder para obtê-la, mas esperamos alcançar, pelo menos, a segurança exterior, com bons bancos, bons governos, uma tradição perdurável. Torna-se, assim, a mente gradualmente satisfeita, embotada, segura, confinada na tradição, e essa mente, como é bem óbvio, nunca descobrirá o que é verdadeiro ou o que é falso; é incapaz de enfrentar o tremendo desafio da existência.

Espero não vos estejais deixando mesmerizar pelas minhas palavras, mas que estejais escutando de maneira tal que possais descobrir por vós mesmos se realmente existe tal coisa como a segurança. Este é um problema formidável. Viver num mundo exterior onde não existe segurança, e viver num mundo interior onde nenhuma tradição existe, onde não existe amanhã nem hoje — isso significa que a pessoa ou se torna desequilibrada, completamente insana, ou extraordinariamente viva e sã.

Isso não é questão de escolha. Não se pode escolher entre a segurança e a insegurança; mas é fácil perceber que não existe segurança interior, psicológica. Nenhum estado de relação oferece segurança; e por mais fortemente que estejamos apegados a certa doutrina, ou crença, a isso está sempre associada a dúvida, a suspeição, o medo. Uma investigação desta natureza é necessária, quando há paixão pela ordem.

Não é verdadeiro, tampouco, o contrário disso: que devamos viver na desordem, no caos. Isso é apenas uma reação. Sabeis que vivemos e atuamos por efeito de reação. Todas as nossas ações são reações. Não sei se já notastes isto. E se vemos que a ordem não é possível, pensamos então, invariavelmente, que deve haver o oposto, a desordem, a reação à ordem. Mas se se percebe a verdade de que a exigência de ordem implica tudo o que acabamos de apontar, então, do descobrimento do que é verdadeiro resulta a ordem verdadeira. Estou-me fazendo claro? Vou expressá-lo de maneira diferente.

A paz, por certo, não é a ausência da guerra. A paz é coisa diversa. Não é o intervalo entre duas guerras. Para descobrirmos o que é a paz, precisamos estar completamente libertos da violência. Para nos libertarmos da violência, requer-se tremenda investigação da violência. Isso significa perceber realmente que na violência estão implicados compulsão, ambição, desejo de êxito, perfeita eficiência, autodisciplinamento, e o seguimento de certas ideias e ideais. Por certo, forçar a mente a ajustar-se — não importa se a um padrão nobre ou ignóbil — implica violência.

Dizemos que, se não nos ajustarmos, haverá caos. Mas tal afirmativa é uma reação, não achais? A violência não é uma coisa superficial; o sondá-la requer muita investigação. A cólera, o ciúme, o ódio, a inveja, tudo isso são expressões da violência. Estar livre da violência é estar em paz, não achar-se num estado de desordem. Eis porque o conhecimento de si mesmo não é questão simplesmente de se considerarem as coisas ocasionalmente, pelo espaço de uma manhã, e não cuidar mais disso pelo resto da semana. É uma questão muito séria.

Assim, compreender a ordem é muito mais importante do que a reação pela qual dizemos: “Se não houver ordem, haverá caos” — como se o mundo em que vivemos fosse uma maravilha, belo e deslumbrante, sem caos nem sofrimento! Basta-nos olhar a nós mesmos, para vermos como somos pobres interiormente. Somos vazios de afeição, de simpatia, de amor, somos feios, e mui facilmente persuadidos; e há sempre essa busca de companhia, a impossibilidade de estarmos sós.

Importa, pois, considerarmos a ordem em sua totalidade, e não apenas pedacinhos dela, aqueles que preferimos. E é dificílimo vermos uma coisa totalmente — como se vê a árvore inteira. Falei um pouco extensamente a respeito da ordem, da autoridade, e do ajustamento; e, se puderdes ver isso de maneira total, vereis então como o cérebro, a mente, se livra dessa exigência de ordem e, portanto, do desejo de seguir — seja a um herói nacional, à lenda ou a outros absurdos, seja ao vosso instrutor preferido, guru, santo, etc.

Pois bem. Que é “ver totalmente”? Em primeiro lugar, que é “ver”? É só a palavra? Tende a bondade de acompanhar-me com um pouco de atenção, se vos apraz. Quando dizeis “vejo”, que quereis dizer?...

Quando dizeis: “vejo aquela árvore”, a estais vendo realmente, ou vos estais satisfazendo apenas com a palavra “vejo”? Pensai nisso. Vamos devagar! Dizeis: “Aquilo é um carvalho, um pinheiro, um olmo — o que quer que seja — e passais adiante? Se assim é, isso denota que não estais vendo a árvore, porque estai confiando na palavra. Só quando compreendeis que a palavra não é importante e podeis colocar de lado o símbolo, o termo, o nome, é só então que podeis olhar. Isso é muito difícil — olhar — porquanto significa que o nome, a palavra, com todas as lembranças, reminiscências associadas à palavra têm de ser postos de lado. Vós não olhais para mim. Tendes certas ideias a meu respeito. Tenho uma certa reputação, etc., e isso vos impede de me verdes. Se puderdes despojar a mente de todo esse absurdo, podereis então ver — e esse “ver” é completamente diferente de ver através da palavra.

Podeis agora olhar para os vossos deuses, vossos prazeres favoritos, vossos sentimentos de nobreza, de espiritualidade, etc. — despojados da palavra? Isto é dificílimo, e são poucos os que se sentem dispostos a olhar assim. Esse ver é total, porque já não está associado com a palavra e as lembranças, os sentimentos que a palavra evoca. Assim, o ver uma coisa totalmente significa que não existe divisão, que não há reação ao que se está vendo: há, apenas, ver. E a percepção do fato em si provoca uma série de ações dissociadas da palavra, da memória, das opiniões e ideias. Isso não é uma façanha intelectual, embora o pareça. Ser intelectual ou ser emotivo é um tanto estúpido. Mas o ver totalmente o medo liberta a mente do medo.

Ora, nunca vemos uma coisa totalmente, porque estamos sempre olhando as coisas com o intelecto. Isso não significa que não se deva fazer uso do intelecto; pelo contrário, temos de fazer uso do intelecto em sua máxima capacidade. Mas a função do intelecto é fracionar as coisas; ele foi educado para observar por partes, não totalmente. Estar inteiramente cônscio do mundo, da Terra, isso não implica nenhum senso de nacionalidade, nem tradições, nem deuses, nem igrejas, nem repartição das terras, nem a divisão da Terra em coloridos mapas. E ver a humanidade como constituída de entes humanos não significa segrega-los em europeus, americanos, russos, chineses ou indianos. Mas o intelecto recusa-se a ver totalmente a Terra e o homem que a habita, porque o intelecto foi condicionado através de séculos de educação, tradição e propaganda. Assim o intelecto com todos os seus hábitos mecânicos, seus instintos animais, seu impulso para permanecer em segurança, protegido, jamais pode ver coisa alguma em sua totalidade. Entretanto, é o intelecto que nos domina; é o intelecto que está sempre funcionando.

Por favor, não salteis logo à ideia de que deve haver algo além do intelecto, de que em nós deve habitar um espírito, com o qual devemos entrar em contato, e outros absurdos de tal laia...

O intelecto, pois, foi condicionado — pelo hábito, pela propaganda, pela educação, por todas as influências diárias, pela insignificância da vida e por seu próprio e incessante tagarelar. E é com esse intelecto que olhamos. Esse intelecto, ao escutar o que se diz, ao contemplar uma árvore, um quadro, ao ler um poema ou ouvir um concerto, é sempre fracionário; sempre reage em termos de “gosto” e “não gosto”, em termos de vantagem ou desvantagem. A função do intelecto é reagir e, se assim não fosse, seríamos destruídos da noite para o dia. É, portanto, o intelecto, com todas as suas reações, lembranças, impulsos e compulsões — tanto conscientes como inconscientes — que olha, vê, escuta e sente. Mas o intelecto, sendo em si, parcial, produto do tempo e do espaço, da educação — conforme já descrevemos — não pode ver totalmente. Está sempre comparando, julgando, avaliando. Mas a função do intelecto é reagir, avaliar; por conseguinte, para poder ver as coisas totalmente, o intelecto tem de suspender sua atividade. Espero me esteja explicando claramente.

Deste modo, o percebimento total de uma coisa só pode ser verificada quando o intelecto é altamente receptivo à razão, à dúvida, à indagação, mas ao mesmo tempo reconhece as limitações do raciocinar, do duvidar, do indagar e, portanto, não permite a si mesmo interferir no que está vendo. Se desejais realmente descobrir algo que seja mais do que produto do intelecto, este deve, em primeiro lugar, alcançar os seus limites, interrogando, argumentando, examinando, desejando descobrir e conhecer sua existência limitada, parcial; e essa própria existência, esse conhecer da limitação, quieta a mente, o intelecto. Há então a visão total.

Quando se puder ver a totalidade da ordem — com todas as implicações que já examinamos — ver-se-á também surgir, dessa compreensão total, uma ordem de qualidade inteiramente diferente. Por certo, só poderá apresentar-se a ordem correta com a destruição da mente que exige ordem para sua própria satisfação e segurança. Depois de o intelecto despedaçar tudo o que ele próprio criou, de destruir o solo em que cultiva toda espécie de fantasias, ilusões, desejos, então surgirá, em consequência dessa destruição, um amor que criará sua ordem própria.

 
Krishnamurti
 
 
 
 
 
Parece que vivemos nos superando. Quando éramos mais instintivos tivemos que ultrapassar esses instintos para nos adaptar a racionalidade que estava surgindo, agora precisamos superar o intelecto para ser mais receptivos. É simplesmente formidável a evolução do ser humano, podemos até compará-la ao declínio das grandes civilizações, que só prevalecem enquanto tem algo a oferecer ao crescimento e aperfeiçoamento da humanidade; assim são os nossos corpos e seus componentes; cada vez mais sofrem  transformações graduais e progressivas e as estruturas antigas vão sendo transcendidas e outras vão surgindo - presentemente o homem precisa ser mais intuitivo. Certamente  Krishnamurti foi o introdutor desse aprendizado. KyraKally
 
 
 

quinta-feira, 29 de setembro de 2016


ANDANDO NO FIO DA NAVALHA



O ser humano é infinitamente capaz de se ajustar; e cada criança aprende a se ajustar a todas as espécies de coisas.
Basta olhar no seu próprio ser, a quantas superstições você foi capaz de se ajustar, quantas crenças estúpidas você está carregando.
E há momentos em que você se torna ciente dessa estupidez, mas esses momentos sadios você os põe de lado porque eles são momentos perigosos.
De vez em quando a janela se abre, mas você as fecha rapidamente, pois surge o medo e você não quer mostrar sua sanidade a ninguém.
Somente de vez em quando surge uma pessoa sadia – um Buda, um Zarathustra, um Jesus.
E a coisa estranha é que essas pessoas sadias parecem loucas e os realmente loucos são os supostos sadios.
Em uma passagem Jesus disse: “A menos que você seja como uma criança, você não entrará no reino de Deus”.
O que ele está querendo dizer é que a menos que você se torne novamente sadio, sadio como toda criança é – inocente, autêntica, sem medo - você não entrará no reino de Deus.
Seja qual for a sociedade à qual  pertença, você já foi distorcido.
Não é mais inocente, já foi corrompido e envenenado – pelos sacerdotes, pelos políticos e pelos educadores.
O próprio medo faz parte da loucura, caso contrário, não há nada a temer.
A vida é um fluxo e você não pode manter nada extático.
Então, qual é o sentido de se ter medo de algo?
A pessoa deve apenas viver momento a momento, desfrutando seja o que estiver disponível.
O medo não lhe permite viver totalmente: ele sempre refreia.
Ele jamais permite a intensidade, a paixão, a totalidade, a inteireza – ele o mantém dividido.
Você ama uma pessoa e o seu amor é sem entusiasmo porque você tem medo.
Quem sabe onde o amor vai parar... Aonde ele o conduzirá?
Você é sempre parcial e fragmentário, nada lhe dá a alegria que lhe poderia dar.
Mas o medo não vai adiantar.
O medo pode conduzi-lo cada vez mais e mais à loucura.
Ao invés de ficar com medo, torne-se sereno, calmo.
Abandone o estado de ebulição e torne-se um observador.
Uma vez que aceite o fato de que a sociedade já o contaminou e o tornou insano, agora o trabalho a se fazer é o de como sair deste estado antinatural que a sociedade forçou em cima de você.
Observe... “O rapaz tem que ser forte, sarado, cabelo curtinho para se ajustar a sociedade, a mulher tem que usar silicone, tem que usar uma meia branca até o joelho na academia, do contrário ela não será aceita.”
“E assim, vamos deixando de ser nós mesmos para satisfazer a sociedade, vamos usando máscaras e fingindo que somos sadios.”
O mundo está virando um grande hospício.
E uma vez que você compreenda o mecanismo da loucura...
Por exemplo: a ambição é a raiz de tudo.
Tente compreender sua ambição – seu esforço para ser alguém no mundo... Para ser aceito...
E perceba que isso está te levando à loucura.
Seja um ninguém, e então, não há nenhum problema.
Abandone a ambição e comece a viver, porque a pessoa ambiciosa não pode viver: ela adia sempre.
Sua vida está sempre no amanhã – e o amanhã nunca vem.
A pessoa ambiciosa fatalmente será agressiva e violenta, e a pessoa violenta e agressiva fatalmente será louca.
A pessoa não-ambiciosa é pacífica, amorosa, compassiva.
A pessoa ambiciosa está sempre com pressa, correndo, indo em direção a algo que ela sente vagamente que está lá adiante, mas que ela nunca encontrará.
É como o horizonte: ele não existe, somente aparenta existir.
A pessoa não-ambiciosa vive aqui e agora, e ficar aqui e agora é ser são.
Estar totalmente neste momento é ser são. Sanidade significa um estado de paz, harmonia, alegria, bem-aventurança e bênção.

Osho 






Quantas coisas, como o horizonte, que apenas aparentam ser, nos condicionam a elas ? Ser importante, por exemplo. "Seja comum, seja simples, seja você quem for. Não há necessidade de ser importante. Ser real é existencial. Ser importante é viagem do ego". Osho está correto, por isso a nossa existência aqui no planeta é tão curta. Quantas vezes vimos e voltamos sem nenhum conhecimento do que fomos, pois, se porventura soubéssemos, seria bem mais complicado experienciar a compassividade, pois ainda vivemos numa sociedade condicionada pelo ego. KyraKally

 

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O APARENTE FRACASSO 
DO HOMEM ESPIRITUAL


 Renunciai à vossa pretensa cultura,
E todos os problemas se resolvem.
Oh! Quão pequena parece à diferença 
entre o sim e o não!
Quão exíguo o critério entre o bem e o mal!
Como é tolo não respeitar 
o que merece ser respeitado de todos!
Oh solidão que me envolve todo!
Todo o mundo vive em prazeres 
como se a vida fosse uma festa sem fim,
Como se todos vivessem em perene primavera!
Somente eu estou só... 
Somente eu não sei o que farei...
Sou como uma criança que desconhece sorriso...
Sou como um foragido sem pátria nem lar...
Todos vivem na abundância, 
somente eu não tenho nada...
Sou um ingênuo, um tolo. 
É mesmo para desesperar...
Alegres e sorridentes andam os outros!
Deprimidos acabrunhado ando eu...
  Circunspectos é ele, cheios de iniciativas!
Em mim, tudo jaz morto...
Inquieto, como as ondas do mar, 
assim ando eu pelo mundo...
A vida me lança de cá para lá, 
como se eu fosse uma folha seca...
A vida dos outros tem um sentido,
 e eu não tenho uma razão-de-ser....
Somente a minha vida parece vazia e inútil;
Somente eu sou diferente de todos os outros,
..................................................................
E, no entanto - sossega meu coração!
Tu vives no seio da mãe do Universo.

Lao Tsé - Tao Te King

 

À primeira vista parece estranho esse pessimismo do autor, esse lúgubre desânimo da vida, que lembra os lamentos de Jó. Mas não convém esquecer que todo homem que deixou a sociedade dos profanos tem, de início, a sensação duma solidão imensa, dum saara sem oásis; sente-se exilado, sem pátria nem lar. O homem espiritual se sente desambientado aqui na terra; ninguém o compreende; todos os consideram um estranho, não pertencente ao nosso mundo. O próprio Jesus passou por esses transes: "As raposas têm suas cavernas, as aves têm seus ninhos — o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça". E a seus discípulos diz ele: "Por causa de mim e do Evangelho sereis odiados de todos..." "Bem-aventurados os que choram..."

Ao descer do Tabor, ele exclama: "Ó geração perversa e sem fé! Até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei?"

Mas esta aparente solidão e abandono do homem espiritual é a "Comunhão dos Santos", a mais bela companhia do Universo, como Lao-Tsé lembra nas últimas linhas. É o total abandono de Jó — que estava na companhia de Deus, no coração do Universo. Abandonado se sente o ego — bem amparado está sempre o EU. "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?... Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito."
 
 
Fonte:pensarcompulsivo
 
 
PARA ENTENDER A VERDADE 
É PRECISO MERGULHAR



Pergunta: Se a Verdade é um país sem caminho, pode existir um caminho de discipulado que a ela conduza ou a existência de um tal caminho tornar-se-á uma barreira?

Krishnamurti: Digo-vos que vos não molesteis acerca destas coisas. Voltais atrás continuamente, às velhas concepções, lançando-as à minha face para formardes vossas verdades incertas. Digo que a Verdade é uma terra sem caminhos, que não pode ser abordada por um caminho qualquer, por nenhuma estrada ou por intermédio de outrem. Não podeis interpretar isto mais que de um modo. Achais tudo isto muito difícil, porque não abandonais vossos velhos modos de pensar. Quereis que vos deixem em paz em vossas águas tranquilas e estagnantes. Se assim for, não venhais aqui; se, porém, quiserdes o que é novo, abandonai o antigo, não brinqueis com as coisas. Isto não é uma luta de egoísmo. Falo acentuadamente porque há miséria, tristeza na face de todos — por favor, não vos torneis sentimentais — existe o caos, a luta continua, e por ela sois colhidos, e não a abandonais porque vos atemorizais. Quereis antes morar nessa tristeza, nessa sufocação, do que abandonar o antigo e lutar pelo novo. Assim, ao ver a tristeza, dor, sofrimento, regozijo, prazeres que são limitados pelas lágrimas, quero libertar o homem. Porém, como não posso libertá-lo — ele próprio tem que se libertar — meu papel é despertá-lo, impeli-lo para essa liberdade — não por meio do sentimentalismo, por meio do êxtase, ou por meio da autoridade, porém, por meio de cuidadosa análise, pela sensatez, pelo apercebimento, pela autovigilância. Não penseis que para entender-me precisais haver estudado durante trinta anos. Outro dia narrei-vos a história do pobre da estação ferroviária, que não sabia quem eu era ou o que quer que fosse acerca de mim, porém que compreendeu a coisa única que podia torná-lo imenso e que, portanto, teve a coragem de pular para a frente e deixar o antigo para traz.  Assim como em cada primavera toda a árvore emite novas folhas, assim também deve haver em vós mudança contínua — e vós vos atemorizais de mudar. Quereis que a Verdade vos seja dada exatamente pelos velhos métodos, afim de poderdes ficar tranquilos, felizes e por esse modo degenerar para a estagnação. Não vos falo com rudeza, porém isto é o que está acontecendo por todo o mundo. Para entenderdes a Verdade, precisais mergulhar. Oh, deveríeis achar-vos tão ansiosos que quisésseis deixar tudo para um lado e pular — não insensatamente, não sem discernimento, porém, com cuidado, com sensatez, com a inteligência que escolhe entre as coisas essenciais e não-essenciais   e então, compreendereis.


 
Krishnamurti
 
 
 
"A descoberta da verdade é impedida 
de forma mais eficiente não pela aparência falsa das coisas que iludem e induzem ao erro, 
nem diretamente pela fraqueza dos poderes 
do raciocínio, mas pela opinião
 preconcebida e pelo preconceito".
(Schopenhauer)