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terça-feira, 30 de abril de 2019


ANTES QUE OS OLHOS POSSAM VER, 
DEVEM SER INCAPAZES 
DE LÁGRIMAS 



Antes que os olhos possam ver com a clara visão do Espírito, hão de se tornar incapazes de verter as lágrimas de orgulho ferido, críticas exageradas, desprezo, sarcasmo, insucessos e desenganos da existência, etc. Isto não quer dizer que deve fugir do mundo, pelo contrário, se alguém tenta fugir do mundo antes de ter aprendido as suas lições será forçado a voltar a ele repetidas vezes, até que cumpra a sua tarefa. Ser incapaz de chorar é ter enfrentado e vencido a natureza humana. Isto não implica dureza de coração nem indiferença. Não implica a destruição do sofrimento, não significa o frio da velhice. 

Nenhum homem pode ver a luz que ilumina a Alma, enquanto a dor, o pesar e o desespero não o tenham livrado da vida da humanidade comum. Primeiro vença o prazer, depois a dor, até que sejam incapazes de verter lágrimas. Nenhuma dessas condições é digna de um discípulo, e se alguma delas existe nele, deve ser dominada antes que possa entrar no caminho. O primeiro passo é muito difícil, para tentar dá-lo, é preciso ser um homem forte, cheio de vigor psíquico e físico. O homem espiritualmente aperfeiçoado vê que tudo isto não é senão um jogo infantil, embora jogue bem a sua parte, sabe que se trata somente de um jogo e não a realidade. Ele começa a sorrir através das suas lágrimas, quando é batido no tumulto do jogo, então cessa o choro e, aparece um sorriso, porque quem vê as coisas em suas verdadeiras relações não pode deixar de sorrir quando olha ao redor de si e observa os brinquedos à que os homens consagram a sua vida, julgando que são coisas reais. E quando desperta para a realidade, o seu próprio jogo evoca nele necessariamente um sorriso. Estes homens jogam bem a sua partida, com energia e aparente ambição, porque compreendem que tudo isso tem um fim, um significado e que eles são partes necessárias no mecanismo da evolução. 

Quem quer entrar no Caminho tem que ser valente e adquirir domínio sobre a natureza emocional. Devemos desejar realizar a consciência do EU SOU, que está acima dos sofrimentos da personalidade. Devemos aprender que todas essas coisas não podem prejudicar o Eu Real. A única possibilidade de escapar das consequências do jogo é se elevar acima do plano material e morar nas regiões superiores da mente e do Espírito. 

Durante longas idades do passado deixamos de usar nossos sentidos astrais, o homem lhe prestou tão pouca atenção, que perdeu praticamente o uso desses sentidos. Se o pesar, a decepção, o abatimento ou o prazer fizerem estremecer a alma de maneira a fazê-la perder a sua firmeza ou o fluxo do Espírito que a inspira, então tudo se apaga, a luz é inútil A alma é o elo entre o corpo exterior e o Espírito sideral. A Chispa divina mora no lugar silencioso, em que nenhuma convulsão da natureza a pode estremecer. Porém, a alma pode perder seu conhecimento dessa Chispa embora sejam partes de um todo. 

A sensibilidade aumenta, quando o discípulo principia a sua educação, ele tem que sofrer, gozar ou suportar mais sutilmente do que os outros homens, ele não pode permitir que o seu sofrimento o tire de seu propósito. O gozo mais sutil, a dor mais cruel, a angústia da perda e do desespero se acumulam sobre a alma temerosa que ainda não encontrou a luz na obscuridade.

Enquanto a alma não puder sofrer estes choques sem perder o equilíbrio, seus sentidos astrais permanecerão fechados. O médium que entra no mundo psíquico sem preparação é um violador da lei e transgressor das leis da natureza superior. Os que violam as leis da natureza perdem sua saúde física, os que violam as leis da vida interna perdem sua saúde psíquica. O discípulo é obrigado a ser seu próprio mestre antes de se aventurar nesta perigosa senda e colocar-se em frente desses seres que vivem e trabalham no mundo astral, a quem chamamos Mestres, por causa do seu grande conhecimento e de seus poderes. 

A primeira de todas as experiências do neófito em Ocultismo é uma tristeza intolerável. Um sentimento de solidão, que faz do mundo um deserto e da vida uma luta vã, se apodera dele. Logo que contemplar o mistério da sua própria natureza superior, surge a prova inicial. A oscilação entre o prazer e a dor cessa por um momento, porém, isto é bastante para fazê-lo desprender-se dos fortes laços que o atavam ao mundo das sensações. Experimentou, ainda que por um só instante, a vida maior, e continua sua vida oprimido por um sentimento de irrealidade, de negação. 

Os escravos do tempo vivem em meio das sensações e sofrem a mistura constante do prazer e da dor. Não se atrevem a agarrar a serpente do Ser (eu inferior) e vencê-la, tornando-se divinos, mas preferem continuar a sofrer as diversas experiências e a receber golpes das forças opostas. Quando um desses escravos do tempo decide-se a entrar na senda do ocultismo, esta é a sua primeira tarefa. Se a vida não o ensinou, se não é bastante forte para ensinar a si mesmo, e se não tem o poder para pedir o auxílio de um mestre, então se lhe impõe essa prova. Ele tem que sobreviver ao choque de afrontar o que lhe parece ser o abismo do nada. Enquanto não tiver aprendido a olhar nesse abismo e não tiver encontrado a paz que lá existe, é impossível que seus olhos cheguem a ser incapazes de verter lágrimas. 

Trecho do livro Luz no Caminho, de Mabel Collins
https://osmirclemente.files.wordpress.com

-REVENDO ANTIGAS POSTAGENS-

POR QUE VOCÊ TEM MEDO 
DE SE CONHECER ?
 
O conhecimento de si é a coisa mais difícil — não porque seja difícil, mas porque você fica com medo de saber sobre si mesmo. Existe um grande medo. Todo mundo está tentando escapar, escapar de si mesmo. E, se esse medo existe, seja o que for que você faça, não vai ajudar muito. Você pensa que quer se conhecer, mas se esse medo inconsciente estiver aí, você continuamente evitará, continuamente tentará se esconder, se enganar. Por um lado, tentará se conhecer; por outro lado, criará todos os tipos de obstáculos, de modo que não possa se conhecer. 

Conscientemente, você pode pensar "gostaria de me conhecer"; mas, no inconsciente — que é maior, mais forte, mais poderoso do que o consciente —, você evitará o conhecimento de si. Assim, o medo tem que ser compreendido. Por que você tem medo? 

Primeiro coisa: se você realmente penetrar-se, a imagem que você criou no mundo se revelará falsa. Todo o seu passado passará, não significará nada, porque ele foi como um sonho. Você investiu tanto nele... você viveu por ele... e agora saber que ele foi um fenômeno falso... você se sente ferido — então, toda a sua vida foi um desperdício. 

Se o que quer que você tenha vivido foi uma pseudo vida, não autêntica — se você nunca amou, mas apenas fingiu amar, como pode encarar a si mesmo?... Porque, então, você virá a saber que a coisa toda foi um fingimento: não somente você fingiu que ama, você também fingiu que é feliz quando ama. Você não enganou a mais ninguém além de si mesmo. E, agora, olhar para trás, olhar para dentro... o medo pega. 

Você tem pensado que é algo único; todo mundo pensa. Essa é a coisa mais comum neste mundo, a pessoa pensa que é extraordinária, algo especial, "a escolhida". Mas se olhar para si, virá a saber que não há nada, não há nada sobre o que ser egoísta. Então, onde vai parar o ego? Ele desabará, ruirá no pó. 

O medo existe; assim, você não olha para si mesmo. Não olhando,  pode continuar criando sonhos sobre si mesmo, si mesma, imagens sobre si mesmo, si mesma. E é muito fácil e barato criar uma imagem. mas é muito difícil e penoso ser realmente alguma coisa. A pessoa sempre escolhe o mais barato — e você escolheu o mais barato. Agora, olhar para isso é muito difícil.
 
Você nunca amou, fingiu;  nunca foi honesto, fingiu; nunca foi verdadeiro, apenas fingiu — a sua vida toda é uma longa série de fingimentos. E, agora, como você desperdiçou tanta vida nisso, simplesmente reconhecer que a coisa toda foi uma ficção, é demais.  
 
Uma pessoa religiosa simplesmente transforma a si mesma, mas a transformação é possível somente se você olhar; a transformação é possível somente se você abandonar a ficção. Se você vem a perceber o seu "ser ninguém", se você vem a perceber o seu estado de ser "nada", se você vem a perceber sua vida inautêntica, imediatamente a ficção começa a ser abandonada.
 
Abandone as ficções! Crie coragem para conhecer a si mesmo. Abandone o medo e não tente escapar de si mesmo!
 
 
Osho 
http://pensarcompulsivo.blogspot.com 
 
 
 
É possível que tudo que realizamos até agora foi mero fingimento ? Bem, se dissemos a alguém "Eu te amo" com o intuito de possessão, é possível que tenhamos nos enganado. Em verdade não amamos, nos apaixonamos e a paixão é egoísta, então não fomos honestos; 'fingimos' ser porque supúnhamos conhecer o amor. Mas o amor é terra de ninguém e geralmente nos sentimos proprietários de alguma coisa ou de alguém. Vamos adentrar nessa terra de ninguém e saber o que o amor tem a nos oferecer. Quem sabe ao chegarmos lá tenhamos coragem para nos conhecer a nós mesmos, abandonar o 'alguém' que supomos ser e ter a firmeza de estar frente a frente com o que somos verdadeiramente. 

segunda-feira, 29 de abril de 2019

DESCONTENTAMENTO 
É SINAL DE INVEJA

INTERPELANTE: Existe em mim um descontentamento profundo, e estou em busca de alívio. Instrutores, como Sankara e Ramanuja, recomendaram a submissão a Deus. Recomendaram também o cultivo da virtude e o seguimento do exemplo dos nossos Mestres. Pareceis considerar tudo isso inútil. Tereis a bondade de explicar por quê?

KRISHNAMURTI: Porque estamos descontentes, e que há de mau no descontentamento? Evidentemente, estamos descontentes porque — para dizê-lo com muita simplicidade — queremos ser alguma coisa. Se sou bom pintor, pinto para tornar-me mais famoso; se escrevo um poema, sinto-me insatisfeito por não o achar bom e luto para melhorar a minha capacidade. Se sou dessas pessoas ditas religiosas, também neste terreno quero ser alguma coisa. Sigo o exemplo dos vários santos e desejo alcançar nomeada igual à deles. Desde meninos, nos dizem sempre que devemos ser tão bons ou melhores do que outro. Fui criado na base da comparação, da competição, da ambição e, por isso, levo em toda a vida a carga do descontentamento. Propriamente falando, descontentamento é inveja; e nossa cultura religiosa e social está baseada na inveja. Estimulam-nos a ser alguma coisa, para maior glória de Deus. Por um lado, estimula-se o descontentamento, e, por outro lado, queremos achar meios e modos de dominar o descontentamento. Estando descontentes, economicamente, socialmente, recorremos aos exemplos religiosos, a fim de encontrarmos satisfação; meditamos, praticamos disciplinas, a fim de nos livrarmos do descontentamento, ficarmos em paz. Isto está acontecendo com todos vós e eu vos digo que é uma coisa completamente fútil, sem significação nenhuma. Seguir, imitar, obedecer a uma autoridade em assuntos religiosos é coisa má, assim como é uma coisa má a tirania do governo, porque então está completamente perdida a individualidade.

Atualmente, não sois indivíduos, e sim meras máquinas de imitar, produto de um certo meio cultural, um certo sistema educativo. Sois o corpo coletivo, não sois indivíduo, sendo isto muito óbvio. Todos sois hinduístas ou cristãos, isto ou aquilo, com certos dogmas, crenças, o que significa que sois produto da massa. Por conseguinte, não sois indivíduos. Precisais estar totalmente descontentes, para poderdes descobrir. Mas a sociedade não deseja ver vos descontentes, porque teríeis então vitalidade, começaríeis a inquirir, a investigar, a descobrir e, consequentemente, vos tornaríeis perigosos para ela.

Infelizmente, o descontentamento de quase todos vós está baseado no desejo de satisfação, e no momento em que vos vedes satisfeitos, desaparece o descontentamento. E então definhais e declinais. Já não observastes como pessoas descontentes quando jovens, perdem esse descontentamento logo que obtêm um bom emprego? Dai ao comunista um emprego rendoso, e lá se foi o seu descontentamento. O mesmo acontece com as pessoas religiosas. Não riais — isto também acontece convosco. Desejais encontrar o mestre certo, o guru certo, a disciplina certa: e o que se encontra é uma gaiola que vos asfixiará e destruirá; e esta destruição se chama "busca da verdade"... Isto é, quereis achar-vos satisfeitos permanentemente, para não sofrerdes perturbação, descontentamento, não terdes o desejo de investigar. Foi isso que realmente sucedeu; e quanto mais antiga a civilização, tanto mais destrutiva, porque a tradição gera sempre mediocridade.

Vemos, pois, que o descontentamento, tal como ora o conhecemos, é meramente desejo de encontrar satisfação permanente. E existe de fato satisfação permanente, um permanente estado de paz? Ou só existe um estado em que nada é permanente? Só a mente que, na sua totalidade, é impermanente, incerta, pode descobrir o que é verdadeiro; porque a Verdade não é estática. A Verdade é sempre nova e só pode ser compreendida pela mente que está morrendo para todas as acumulações, todas as experiências e é, por conseguinte, fresca, jovem, "inocente". Agora, existe descontentamento sem objetivo, sem "motivo"? Compreendeis? A mente cujo descontentamento tem um "motivo" procurará uma conclusão que a satisfaça, destruindo o descontentamento; e, então, a mente definha, declina. Todo nosso descontentamento está baseado em algum "motivo", não? Mas agora estamos fazendo uma pergunta completamente diferente: existe descontentamento sem "motivo", que não seja produto de uma causa? Não deveis investigar e averiguar isso? Ora, tal descontentamento é necessário. Ou empreguemos uma palavra diferente — o que aliás é sem importância — digamos que é um movimento sem causa, sem "motivo". Penso que tal movimento existe, e isto não é mera especulação nem promessa. Quando a mente compreende o descontentamento que tem "motivo", o descontentamento nascido do desejo de satisfação, permanência; quando percebe, realmente, a verdade relativa a esse descontentamento, vem então à existência "a outra coisa". Mas "a outra coisa" não pode ser compreendida nem experimentada, se há descontentamento com "motivo", e atualmente todo descontentamento nosso tem "motivo": não posso alcançar o que desejo, minha mulher não me ama, nada valho assim como sou e, portanto, tenho de tornar-me diferente, e assim por diante. Há esta interminável multiplicidade de causas e efeitos, causadora dessa coisa que chamamos "descontentamento".

Ora, se a mente está apercebida de todo esse mecanismo e o compreende integralmente, percebe a sua verdade, vereis então manifestar-se um movimento sem "motivo" algum — um movimento, uma ação, uma coisa não estática, que se pode chamar Deus, a Verdade, ou como quiserdes. Nesse movimento há beleza infinita, e ele se pode chamar "amor"; porque, afinal, o amor é sem "motivo". Se eu vos amo e desejo algo de vós, isto não é amor — embora eu lhe dê esse nome — porque, aí, há "motivo". A atividade social ou religiosa baseada em "motivo", ainda que a denominemos "serviço", não é serviço porém, sim, auto preenchimento.

Pode-se descobrir o que é amar sem "motivo"? Isso é uma coisa que se precisa descobrir e que não pode ser praticada. Se disserdes: "Como alcançarei esse amor?" — estareis fazendo uma pergunta sem significação, porque o desejo de alcançá-lo já é um "motivo". Se empregais um método, para alcançar esse amor, esse método só tornará mais forte o "motivo", que é "vós". Vós sois então importante, e não o amor.

Se penetrardes profundamente esta questão — o que é muito difícil e é, em si, meditação — penso que descobrireis um movimento sem "motivo", um movimento sem causa alguma e é esse movimento que traz a paz ao mundo, e não o movimento de vosso descontentamento, determinado por uma causa. O homem em quem se verifica esse movimento sem causa é um homem religioso, é um homem que ama e, portanto, pode fazer o que deseja. Mas o político, o reformador social, o homem que cultiva a virtude, a fim de ser feliz ou de conhecer Deus, o homem, cujos esforços são o resultado de um "motivo", num nível qualquer, — as atividades desse homem só podem gerar ódios, antagonismos e sofrimentos.

Eis porque muito importa que cada um de nós descubra por si mesmo, deixando de seguir Sankara, Ramanuja, Buda ou Cristo. Para por nós mesmos descobrirmos, acharmos uma coisa, temos de ser livres; e não somos livres, se meramente citamos Sankara ou outra autoridade qualquer. Se seguimos, nunca achamos. Assim, pois, a liberdade está no começo, e não no fim. A liberdade precisa ser buscada agora, não no futuro. Liberdade significa estar livre de autoridade, da ambição, da avidez, da inveja, do descontentamento que tem "motivo" e exige resultados, e que asfixia o verdadeiro descontentamento.

Torna-se necessária uma revolução, não dentro do padrão da sociedade, porém dentro de cada um de nós, a fim de que nos tornemos indivíduos totais e não pequenos Sankaras, pequenos Budas, pequenos Cristos. Temos de empreender a jornada sozinhos, completamente desacompanhados, sem ajuda de ninguém, de nenhuma influência, de nenhum estímulo ou desestímulo; porque, então, já não existe "motivo" algum. A própria jornada representa o "motivo", e só os que a empreendem produzirão algo novo, algo não corrompido, neste mundo — e não os reformadores sociais, os "beneméritos", os mestres e seus discípulos, os pregadores de fraternidade. Estes nunca trarão paz ao mundo. São eles os verdadeiros malfeitores. O "homem da paz" é aquele que repele toda autoridade, que compreende, em todos os seus aspectos, a ambição, a inveja, que se desprende totalmente da estrutura desta sociedade aquisitiva e de todas as coisas envolvidas de tradição. Só então a mente é nova. E é necessária uma mente nova, para encontrar Deus, a Verdade — ou como quiserdes chamá-lo — não uma mente fabricada pela sociedade, pela influência.

 
Krishnamurti, Da Solidão à Plenitude
http://pensarcompulsivo.blogspot.com

DEUS É O DENOMINADOR 
MAIS SIMPLES DA EXISTÊNCIA


Uma historieta Zen:

Joshu, um mestre Zen, perguntou a um novo monge do mosteiro: “Já o vi antes?”
 
O novo monge respondeu: “Não, senhor.”
 
Joshu disse: “Tome uma xícara de chá.”
 
Joshu, então, voltou-se para um outro monge: “Já o vi por aqui antes?”
 
O segundo monge respondeu: “Sim, senhor, é claro que sim.”
 
Joshu disse: “Então tome uma xícara de chá.”
 
Mais tarde, o monge administrador do mosteiro perguntou a Joshu: “Como é que o senhor faz o mesmo oferecimento de chá para qualquer resposta?”
 
Diante disso, Joshu gritou: “Administrador, o senhor ainda está aqui?”
 
O administrador respondeu: “É claro, mestre.”
 
Joshu disse: “Então, tome uma xícara de chá.”

 
A história é simples, mas difícil de ser entendida. É sempre assim. Quanto mais simples a coisa, mais difícil de ser entendida. Para se entender, algo complexo é necessário. Para entender, você tem de dividir e analisar. Uma coisa simples não pode ser dividida e analisada – não há nada para se dividir e analisar – a coisa é tão simples. O mais simples sempre escapa à compreensão. É por isso que Deus não pode ser compreendido. Deus é a coisa mais simples, absolutamente a coisa mais simples possível. O mundo pode ser compreendido; ele é muito complexo. Quanto mais complexa é a coisa, mais a mente pode trabalhar nela. Quando a coisa é simples não há nada para queimar as pestanas, a mente não pode funcionar.

Os lógicos dizem que qualidades simples são indefiníveis. Por exemplo: alguém lhe pergunta o que é amarelo. É uma qualidade tão simples, a cor amarela, como você a definirá? Você dirá: “Amarelo é amarelo.” O homem dirá: “Isso eu sei, mas qual a definição de amarelo?” Se você diz que amarelo é amarelo, você não está definindo, você está simplesmente repetindo a mesma coisa novamente. É uma tautologia.

G. E.Moore, uma das mentes mais penetrantes deste século, escreveu um livro intitulado Principia Ethica. O livro inteiro resume-se a um esforço muito persistente para definir o que é o bem. Fazendo esforços em todas as direções, em duzentas ou trezentas páginas – e duzentas, trezentas páginas de G. E. Moore valem três mil páginas de qualquer outro –, ele chegou à conclusão de que o bem é indefinível. O bem não pode ser definido – é uma qualidade tão simples.

Quando algo é complexo, há muitas coisas ali; você pode definir uma coisa em função de uma outra que esteja presente ali. Se eu e você estivermos numa sala e você me perguntar “Quem é você?”, eu poderei, pelo menos, dizer que eu não sou você. Esta será minha definição, a indicação. Mas se eu estiver sozinho numa sala e eu me fizer a pergunta “Quem sou eu?”, a pergunta ressoará, mas não haverá resposta. Como definir?

É por isso que se perde Deus. O intelecto nega-o, a razão diz não. Deus é o denominador mais simples da existência – o mais simples e o mais básico. Quando a mente para, não há nada diferente de Deus – assim, como definir Deus? Ele está sozinho na sala. É por isso que as religiões tentam dividir, pois assim torna-se possível uma definição. Eles dizem: “Este mundo não é isso; Deus não é o mundo, Deus não é matéria, Deus não é corpo, Deus não é desejo.” Essas são formas de definir.

Você tem de colocar alguma coisa em oposição a alguma coisa, então uma fronteira pode ser desenhada. Como estabelecer uma fronteira se não há um vizinho? Onde colocar a cerca de sua casa se não existe vizinhança? Se não há ninguém além de você, como você pode cercar sua casa? A fronteira de sua casa baseia-se na presença de seu vizinho. Deus é sozinho, ele não tem vizinhos. Onde ele começa? Onde ele acaba? Em lugar nenhum. Como você pode definir Deus? Exatamente para definir Deus, o Diabo foi criado. Deus não é o Diabo – pelo menos este tanto pode ser dito. Você pode não ser capaz de dizer o que é Deus, mas você pode dizer o que ele não é: Deus não é o mundo.

Eu estava lendo um livro de um teólogo cristão. Ele diz que Deus é tudo exceto o mal. Isto, também, é suficiente para definir. Ele diz: “Tudo, exceto o mal” – este tanto estabelecerá uma fronteira. Ele não está consciente de que se Deus é “tudo”, então, de onde vem esse mal? Ele deve estar vindo de “tudo”. Caso contrário, há alguma outra fonte de existência além de Deus, e essa outra fonte de existência torna-se equivalente a Deus. Então, o mal nunca poderá ser destruído; tem a sua própria fonte de existência. Então, o mal não é dependente de Deus; assim, como Deus pode destruí-lo? Deus não o destruirá. Uma vez que o mal seja destruído, Deus não poderá ser definido. Para defini-lo, ele precisa que o Diabo esteja sempre lá, ao lado dele. Os santos precisam dos pecadores, de outra forma eles não existiriam. Como você saberia quem é um santo? Todo santo precisa de pecadores a sua volta; esses pecadores fazem a fronteira.
 
A primeira coisa a ser entendida é que coisas complexas podem ser entendidas, coisas simples não podem. Uma coisa simples fica só.

Essa historieta Zen sobre Joshu é muito simples. É tão simples que escapa a você: você tenta pegá-la, você tenta capturá-la, ela escapa. Ela é tão simples, que sua mente não pode trabalhar sobre ela. Tente sentir a história. Eu não direi tente entender, porque você não poderá entendê-la. Tente sentir a história. Muitas coisas estão ocultas dentro dela, se você tentar senti-las. Se você tentar entendê-la, não haverá nada nela – toda a historieta é absurda. 
 
Osho 
https://tudopositivo.wordpress.com

domingo, 28 de abril de 2019

"BEM-AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO"




"Quando o seu coração está pleno de gratidão,
qualquer porta aparentemente fechada 
pode ser uma abertura para uma bênção maior".
(Osho)


Pobre pelo espírito” é aquele que se libertou interiormente de todo o apego a qualquer objeto externo. “Puro de coração” é aquele que se libertou, não só dos objetos externos, mas, também, do sujeito interno, isto é, daquilo que ele idolatrava como sendo o seu sujeito, o seu eu, embora fosse apenas o seu pseudo-eu, o seu pequeno ego físico-mental.
 
Quem se libertou dos bens materiais fora dele possui o “reino dos céus”, porque o seu reino já não é deste mundo; rejeitou a oferta do ego luciférico “eu te darei todos os reinos do mundo e sua glória” - mas quem se libertou, também, do maior pseudo bem dentro dele, o seu idolatrado ego personal, esse tem a certeza de “ver a Deus”, verá o verdadeiro Deus, porque olha para além do seu falso eu.
 
De maneira que ser puro de coração é ainda mais glorioso do que ser pobre pelo espírito; ser interiormente livre da obsessão do ego vivo é mais do que ser livre da escravidão da matéria morta. Aliás, ninguém pode ser realmente livre da matéria morta dos bens externos sem ser livre da ilusão do ego vivo, porque tudo que eu chamo “meu” é apenas um reflexo e uma consequência do meu falso “eu”, o ego físico-mental; se o meu falso eu se tivesse integrado no verdadeiro Eu, que é o Universo em mim, não teria eu necessidade alguma de me apegar àquilo que chamo “meu”, os bens individuais. Enquanto o pequeno eu não tiver em si suficiente segurança interna, necessita de buscar seguranças em fatores externos; mas a segurança interna torna supérflua as seguranças externas; o pequeno eu fez tantos ‘seguros de vida” porque não possui segurança. Age sob o impulso da lei da compensação.
 
A definitiva integração do pequeno ego físico-mental no grande Eu racional-espiritual é que é pureza de coração, que garante uma visão clara de Deus. Ninguém pode ver claramente o Deus transcendente do universo de fora antes de ver nitidamente o Deus imanente do universo de dentro.
 
Nas letras sacras — como também nos escritos de Mahatma Gandhi — “impureza” quer dizer egoísmo, e “pureza” significa o oposto, que é o amor universal a solidariedade cósmica. Os demônios, no Evangelho, são constantemente chamados ‘espíritos impuros”, porque são egoístas, tanto assim que procuram apoderar-se de corpos humanos, desequilibrando-os física e mentalmente, só para gozarem de certo conforto pessoal que essa obsessão lhes dá. Esse egoísmo é que é chamado “impureza”.
 
Gandhi, quando não conseguia fazer prevalecer os seus ideais entre os patrícios renitentes, recorria a um período de “self-purification”, mediante a oração e o jejum, porque atribuia essa falta de força espiritual ao seu egoísmo; para ele, egoísmo era impureza e fraqueza, ao passo que amor era pureza e força.
 
Certa teologia cristã, quando fala em impureza, entende apenas o abuso dos prazeres sexuais. Estes, certamente, também fazem parte do egoísmo humano, são o egoísmo da carne; mas não são a única nem mesmo a principal zona do egoísmo ou da impureza; todo e qualquer egoísmo é impureza. Os demônios de que o Evangelho nos fala, eram “espíritos impuros”, embora não estivessem sujeitos à impureza sexual. Eram impuros por egoísmo.

O egoísta impuro não pode ver a Deus, que é amor puríssimo. O egoísmo, portanto, a egolatria, equivale a uma cegueira mental. Entre o Deus amor e o homem egoísta se ergue, por assim dizer uma muralha opaca que intercepta a luz divina. Enquanto o homem não ultrapassar as estreitas barreiras do seu ego personal, está com os olhos vendados, separados de Deus por uma camada impermeável à luz, que é a impureza do coração. Por mais que um ególatra ouça falar em Deus, nada compreende, porque compreender supõe ser. Ninguém pode compreender senão aquilo que ele vive ou é no seu íntimo ser. Entender é um ato mental, mas compreender é uma atitude vital; entender mentalmente é uma função parcial, unilateral do nosso ego humano — compreender é uma vivência total, unilateral, do nosso Eu divino. Quem não é divino não pode saber o que é Deus. O egoísta é antidivino, e por isso não pode compreender o que é divino, não pode ver a Deus”, antes de adquirir “pureza de coração”. “Ver a Deus” “ver o reino de Deus”, são expressões típicas que Jesus usa para designar a experiência direta da Realidade eterna, o contato íntimo com ela.
 
Outros creem em Deus — mas só o puro de coração vê a Deus. O simples crer, embora necessário como estágio preliminar, não é suficiente para a definitiva redenção do homem, que consiste na vidência ou visão de Deus.“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”...

Se é difícil a “pobreza pelo espírito”, muito mais difícil é a “pureza do coração”. O desapego dos bens externos é o abandono de algo que não fez, nem jamais poderá fazer parte integrante do homem algo que nunca foi nem pode ser realmente “seu” - ao passo que o ego personal faz parte integrante do homem, é “seu”, embora não seja ele mesmo; e por isso a renúncia à sua personalidade físico-mental em prol da sua individualidade espiritual é, incomparavelmente, mais difícil do que a renúncia à cobiça dos bens externos. Parece ser uma morte para o homem que ainda não descobriu o seu eterno Eu. Mas essa morte é indispensável para a ressurreição. A coragem de arriscar ou não arriscar esse salto mortal do ego humano para o Eu divino é que divide a humanidade em dois campos: em profanos e iniciados, nos de fora e nos de dentro, em cegos e videntes, em inexperientes e experientes, em insipientes e em sapientes. É necessário que o homem sofra tudo isso para, assim, entrar em sua glória...

O despertar dessa nova vidência, que existe, dormente, em cada um de nós, requer exercício intenso, assíduo e prolongado, porque o homem tem de superar barreiras já estabilizadas há séculos e milênios. Se essa vidência não fizesse parte integrante da natureza humana, nenhuma esperança haveria de podermos despertá-la, porque não se pode despertar o que não existe. Mas nós sabemos que ela existe. Em alguns essa vidência adquiriu intensidade e nitidez muito maior do que em nós, e pelo menos num homem, chegou ela, a ser perfeitamente desenvolvida. Ora, o que aconteceu uma vez pode acontecer mais vezes. 

Sem exercícios sistemáticos e bem orientados é impossível termos esse contato consciente com o grande mundo desconhecido.
 
Os exercícios, porém, não consistem apenas em determinadas técnicas intermitentemente praticadas, como as escolas iniciáticas prescrevem; muito mais importante que essas práticas periódicas é a vivência contínua, o viver de cada dia inteiramente pautado por essa realidade.
 
Esse exercício diário e vital consiste, principalmente, em uma permanente atitude interna de querer servir, servir espontânea e gratuitamente a todos. Esse clima de querer servir, espontânea e gratuitamente, remove os obstáculos que existem entre nós e o Todo (Deus), porque diminui gradualmente o egoísmo unilateral e exclusivista e aumenta a solidariedade unilateral e inclusivista, que uns chamam altruísmo, outros amor, outros ainda benevolência universal. Com essas práticas diárias, a muralha opaca que se ergue entre nós e Deus se torna cada vez mais transparente, permitindo-nos a visão da grande Luz.


Trecho do livro O SERMÃO DA MONTANHA, de Huberto Rohden

SOBRE A PRÁTICA 
DO ALTRUÍSMO


A Relação Entre Gratidão e Ajuda Mútua   

"Faça o bem que puder, 
usando todos os meios que puder, 
de todas as maneiras que puder,
 para todas as pessoas que puder,
 durante o maior tempo que puder..." 
(John Wesley) 


Há uma prática do altruísmo que é espontânea. Ela brota natural e até inevitavelmente na consciência de alguém que possui uma concepção mais ampla da vida.

Um pai, por exemplo, cuida da criança e dá elementos para que ela cresça mesmo quando ela não entende o processo nem sabe o que está acontecendo. O papel do pai é cuidar, e ele tem prazer nisso. O papel da criança é ser cuidada, e não é entender nem valorizar a ação do ser mais velho e mais experiente. É precisamente nisso que consiste o fato de ser criança, no plano psicológico ou espiritual.

A compreensão do mistério do altruísmo surge quando se amplia a noção de tempo.

A verdade é que alguém deve haver “cuidado” do pai quando ele era mais novo e não sabia das coisas. Assim, o jeito dos mais jovens retribuírem à vida, quando eles finalmente têm experiência suficiente para entender o que receberam, está em ajudar outras tantas e novas crianças ao longo do caminho da aprendizagem, que é trilhado por todos, “mestres” e “discípulos” igualmente.

Cada geração planta o que a próxima geração irá colher, e assim se completa o círculo virtuoso da sustentação da vida. Este é um círculo que se renova constantemente, que não teve início e não terá fim.

Três fatores reforçam o fato de que a vida é um treinamento constante em desapego e em impessoalidade:

1) O fato de não entendermos bem o que recebemos na primeira etapa da vida ou da caminhada;

2) Mais tarde, o fato de não podermos retribuir diretamente a quem nos ajudou;

3) Do ponto de vista da alma mais experiente, o ato de cuidar do crescimento do outro sem exigir “compreensão” ou “gratidão”.

Na verdade, essa “ajuda” aparentemente unilateral só parece algo “sem retorno” enquanto não se percebe que, mais do que quaisquer “relações pessoais”, o nosso único e grande relacionamento é com a Vida mesma, toda ela em seu conjunto; e que este relacionamento com a Vida se dá ATRAVÉS das pessoas que conhecemos. A qualidade dos relacionamentos “pessoais” na verdade depende da qualidade do relacionamento com a Vida Em Geral.

Ao “ajudar” alguém, pois, não devemos ter a intenção de retribuir algo que essa pessoa específica já fez por nós, nem devemos esperar que essa mesma pessoa retribua, agora ou mais adiante. É com a Vida como um todo que a contabilidade é feita. E podemos confiar, com toda tranquilidade, no fato de que as nossas futuras colheitas corresponderão, com justiça, ao que nós realmente plantamos.

O primeiro desafio é, pois, saber plantar, antes de querer colher. O segundo desafio é saber esperar até que as boas ações frutifiquem. O terceiro desafio consiste em saber que, enquanto esperamos, devemos continuar plantando.
 
Carlos Cardoso Aveline 
https://www.filosofiaesoterica.com 
 
 

A menos que você seja amoroso consigo mesmo...

Ame-se, respeite-se, seja gentil consigo mesmo. A menos que você seja amoroso para consigo mesmo, você não pode ser amoroso com ninguém, absolutamente. A menos que você seja atencioso consigo mesmo, você não pode ser atencioso com ninguém; é impossível.

Eu lhe ensino a ser realmente egoísta, de modo que você possa ser altruísta. Não há contradição entre ser egoísta e ser altruísta: ser egoísta é a própria fonte de ser altruísta. Mas até agora você tem aprendido exatamente o oposto, lhe ensinaram o contrário.

E qual tem sido o resultado desse ensinamento? Ninguém ama ninguém. A pessoa que se condena não pode amar ninguém. Se você não pode amar nem sequer a si mesmo - porque você é a pessoa mais próxima a você -, se seu amor não pode nem mesmo alcançar o ponto mais próximo, é impossível seu amor chegar até as estrelas. Você não pode amar nada - você pode fingir. E é isso que a humanidade se tornou: uma comunidade de fingidores, hipócritas.

Por favor tente entender o que quero dizer por ser egoísta. Primeiro você tem que se amar, se conhecer, ser você mesmo. A partir disso, você irradiará amor, ternura, atenção com os outros. A partir da meditação, surge a verdadeira compaixão, mas a meditação é um fenômeno egoísta. Meditação significa deleitar-se consigo mesmo e com sua solitude, esquecer o mundo todo e simplesmente deleitar-se consigo mesmo. É um fenômeno egoísta, mas desse egoísmo surge grande altruísmo. E, então, não há nenhum vangloriar-se a respeito, você não se torna egoístico. Você não serve as pessoas; você não as faz sentir-se devedoras a você. Você simplesmente se deleita em compartilhar seu amor, sua alegria.
 
Osho
http://www.espacoholistico.com.br
 
-REVENDO ANTIGAS POSTAGENS-

O AMOR ESTÁ ALÉM 
DA LIMITADA CONSCIÊNCIA
 
 
... A mente com suas respostas emocionais, com todas as coisas que o pensamento agregou é nossa consciência. Essa consciência, com todo o seu conteúdo, é a consciência de todos os seres humanos, modificada, não inteiramente similar, diferente em suas nuances e sutilezas, mas as raízes de sua existência são basicamente comuns a todos nós.

Os cientistas e os psicólogos estão examinando essa consciência e os gurus estão brincando com ela para seus próprios fins.Os que são sérios estão examinando a consciência como um conceito, como um processo laboratorial — as respostas do cérebro, ondas alfas, etc. — como algo fora deles próprios.

Mas nós não estamos interessados em teorias, conceitos e ideias a respeito da consciência; nós estamos interessados em suas atividades na nossa vida diária. Ao entender essas atividades, as respostas diárias, os conflitos, nós temos um INSIGHT na natureza e estrutura de nossa consciência. Como indicamos, a realidade básica dessa consciência é comum a todos nós.  Não é a sua ou a minha consciência particular. Nós a herdamos e a estamos modificando aqui e ali, porém, seu movimento básico é comum a toda a humanidade.

Essa consciência é a nossa mente com toda a sua complexidade de pensamento — as emoções, as respostas sensoriais, o conhecimento acumulado, o sofrimento, a dor, a ansiedade, a violência. Tudo isso é a nossa consciência.  O cérebro é antigo e está condicionado por séculos de evolução, por todo tipo de experiência, pelas acumulações recentes do conhecimento expandido. Tudo isso é a consciência em ação, em todos os momentos de nossa vida — a relação entre os seres humanos com todos os prazeres, dores, confusão dos sentidos contraditórios e a gratificação do desejo com sua dor.

Esse é o movimento de nossa vida. Nós estamos perguntando, e isso deve ser enfrentado como um desafio, se esse movimento ancestral pode ter um fim — pois isso se tornou uma atividade mecânica, uma forma tradicional de viver. No fim existe um começo e só então não existirá nem fim nem começo.

A consciência parece ser um assunto muito complexo, mas essa realidade é muito simples. O pensamento agregou todo o conteúdo de nossa consciência — sua segurança, sua incerteza, suas esperanças e seus medos, a depressão e a euforia, o ideal e a ilusão. Uma vez que isso é apreendido — que o pensamento é responsável por todo o conteúdo da nossa consciência —, a questão inevitável surge: pode o pensamento ser detido?

Muitas tentativas, religiosas ou mecânicas, foram feitas no sentido de pôr fim ao pensamento. A própria exigência de acabar com o pensamento é parte do movimento do pensamento. A própria busca por uma super consciência é ainda a medida do pensamento. os deuses, os rituais, toda a ilusão emocional das igrejas, templos e mesquitas com suas maravilhosas arquiteturas, é ainda o movimento do pensamento. Deus é alçado aos céus pelo pensamento.

O pensamento não criou a natureza. Ela é real. A cadeira é real e feita pelo pensamento; todas as coisas que a tecnologia gerou são reais. Ilusão é tudo aquilo que se afasta da realidade dos fatos (aquilo que está realmente acontecendo agora), mas podem se tornar uma realidade porque vivemos das ilusões.

O cachorro não é feito pelo pensamento, mas o que queremos que ele seja é o movimento do pensamento. O pensamento é medida. O pensamento é tempo. A totalidade disso é a nossa consciência. A mente, o cérebro e os sentidos são parte dela. Perguntamos: pode esse movimento chegar a um fim?

O pensamento é a raiz de todo nosso sofrimento, de toda a nossa feiura. O que estamos pedindo é o fim disso — as coisas que o pensamento agregou —, não o fim do pensamento em si mesmo, mas o fim de nossa ansiedade, pesar, dor, poder e violência. Com o fim disso, o pensamento encontra seu lugar próprio e limitado — o conhecimento e a memória que precisamos ter no dia-a-dia.

Quando os conteúdos da consciência, que foram agregados pelo pensamento, não estão mais ativos, então existe um vasto espaço e assim há a liberação da imensa energia, que estava limitada pela consciência. O amor está além dessa consciência.


Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com


Quando VIVERMOS realmente o amor, então todo esse jogo de palavras não terá mais sentido. Por esta razão o sábio não precisa ler mais, não precisa buscar mais, não precisa aprender mais, apenas vive em união com o amor. Precisamos amar para compreender e viver em união com todos.