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domingo, 30 de setembro de 2018

EXISTE DEUS ?  
HÁ VIDA APÓS A MORTE ?


Veja a história de dois gêmeos conversando no útero da mãe, e compare com nossas crenças sobre Deus e a vida após a morte:


- Diga-me, você acredita em vida após o nascimento?
 
- É claro. Após o nascimento vem a vida. Talvez estejamos aqui para preparar-nos para o que vem após o nascimento.
 
- Nada disso! Após o nascimento não existe nada! De lá ninguém voltou! Além disso, como seria essa vida após o nascimento?
 
- Não sei exatamente, mas sinto que existe luz em todo lugar... Talvez caminharemos sobre nossos pés e comeremos com nossa boca.
 
- Isso é uma estupidez! Caminhar não é possível! E como poderemos comer com essa boca ridícula? Você não vê o cordão umbilical? Então pense: a vida após o nascimento não é possível porque o cordão é muito curto.
 
- Sim, mas acho que existe algo, uma vida de um modo diferente.
 
- Você é um tonto. O nascimento é o fim da vida e ponto.
 
- Olhe, não sei exatamente o que vai acontecer, mas a mãe vai nos ajudar...
 
- A mãe? Você acredita na mãe?
 
- Sim.
 
- Não seja ridículo! Você já viu a mãe em algum lugar? Alguém já a viu afinal?
 
- Não, mas ela está à nossa volta. Vivemos dentro dela. E certamente é graças a ela que existimos.
 
- Bem, agora me deixe em paz com essas bobagens, certo? Vou acreditar na mãe quando vê-la.
 
- Você não pode vê-la, mas se ficar quieto, pode ouvir sua canção, pode sentir seu amor. Se você se aquietar, poderá sentir seu carinho e suas mãos protetoras.
 
 http://yoga-ensinamentos.blogspot.com

O SOFRIMENTO 
JAMAIS DEIXARÁ DE EXISTIR


É importante compreender profundamente o sofrimento, pois ele jamais deixará de existir. Quanto mais você se aprofundar na prática espiritual, mais reconhecerá isso. Quanto mais você se esforçar para viver em paz e harmonia, mais perceberá como é egoísta e autocentrado. Indo mais fundo, verá que o sofrimento ainda repousa no fundo de seu coração. Isso é verdade para todas as religiões. Mesmo que você ore com sinceridade a Deus, ainda assim sofrerá. Mesmo que atinja a iluminação, sofrimento e dor existirão em sua vida.

Mas tudo bem. Como tudo que existe no mundo dos fenômenos, seu sofrimento é um ser que surge da natureza original da existência, e a cada momento retorna à sua fonte.

Por isso, quando sofrer, tudo que você tem a fazer é aceitar e oferecer seu corpo e sua mente à existência suprema. Você e o sofrimento retornam ao vazio e então há libertação do sofrimento.

Dainin Katagiri  

https://obudaemmim.blogspot.com 

 
SOFRIMENTO ?
 
Se você não escapar, se você permitir que o sofrimento esteja lá, se você está pronto para enfrentá-lo, se você não está tentando de alguma forma esquecê-lo, então você é diferente. 
 
O sofrimento está lá, mas apenas em torno de você, mas não é no centro, é na periferia. É impossível para o sofrimento estar no centro, não é da sua natureza. Está sempre na periferia e você é o centro.
 
Então, quando você permitir que isso aconteça, você não escapa, você não corre, você não está em pânico, de repente você se torna consciente de que o sofrimento está lá na periferia, como se tivesse acontecendo com outra pessoa, não com você e você está olhando para ele. 
 
A alegria sutil se espalha por todo o seu ser, porque você percebeu uma das verdades básicas da vida, que você é a bem-aventurança e não o sofrimento.

 
Osho, A Bird on the Wing
https://www.osho.com/pt
       
 
Frases de Jiddu Krishnamurti.

"Compreender o sofrimento é [con]viver com ele, olhá-lo, conhecê-lo como ele realmente é; mas não tendes possibilidade de conhecê-lo quando o olhais com um motivo – que supõe o tempo. A mente superficial, incessantemente ocupada em se melhorar, em se lastimar, em se torturar numa dada relação, desejosa de se libertar do sofrimento sem enfrentar o fato – essa mente prosseguirá sofrendo indefinidamente".

"Para se ser livre do sofrimento, é necessário compreender, consciente e inconscientemente, todo o seu ‘processo’, e isso só é possível vivendo-se com o fato, olhando-o sem motivo. Deveis perceber as manhas de vossa mente, suas fugas, as coisas aprazíveis a que estais apegado e as coisas desagradáveis de que desejais vos livrar com rapidez. Cumpre observar o vazio, o embotamento e a estupidez da mente que só trata de fugir. E pouca diferença faz, se se foge para Deus, para o sexo ou para a bebida, porquanto todas as fugas são essencialmente a mesma coisa".

"Existe uma imensidão que ultrapassa todas as medidas, mas nesse mundo não ingressareis sem a prévia e total extinção do sofrimento".

"Não encontraremos saída de nossa confusão, angústia, conflito, pela constante repetição do ‘Gita’, do ‘Upanishads’ e demais livros sagrados; isso poderá levar à hipocrisia, a uma vida de insinceridade, de interminável pregação moral, porém nunca a enfrentar realidades".

"Temos de enfrentar-nos assim como somos e não como deveríamos ser, segundo um certo padrão ou ideal. Temos de ver realmente o que somos e, daí, iniciar a transformação radical".

"A primeira coisa que nos cumpre fazer é observar com atenção, todas as murmurações, todos os temores, ilusões e desesperos de nosso próprio ser. E vereis então, por vós mesmos – e para isso não se necessita de provas, nem de gurus, nem de livros sagrados – se a Realidade existe. E encontrareis, então, um extraordinário sentimento de libertação do sofrimento. Aí existe a claridade, a beleza e aquela coisa que está faltando hoje à mente humana: o amor, a afeição".

"A religião, evidentemente, perdeu o seu significado, pois sempre houve guerras religiosas. Ela não resolve os nossos problemas. As religiões separaram os povos. Poderão ter exercido determinada influência civilizadora, mas não transformaram radicalmente o homem".

"Ao desejarmos experiências no terreno religioso, nós as desejamos porque não resolvemos os nossos problemas, nossas ânsias, desesperos, temores e tristezas de cada dia; por essa razão pretendemos algo ‘mais’. Nessa pretensão de ‘mais’ encontra-se a ilusão".

"A vida inteira, a partir do momento em que nascemos, é um processo de aprendizado".

"Aprender não é mero cultivo da memória ou acumulação de conhecimentos, porém, a capacidade de pensar claramente, sem ilusões, partindo de fatos e não de crenças e ideais".
 
 http://dharmalog.com

sábado, 29 de setembro de 2018

A ARTE DE CORRIGIR ERROS

Exercícios Práticos Para Obter a Sabedoria
 
 
The Theosophical Movement



O falso conhecimento é rejeitado pelo Sábio 
 e espalhado ao Vento pela Boa Lei.  
A roda da Boa Lei gira para todos, 
os humildes e os orgulhosos.
 (“A Voz do Silêncio”, H.P. Blavatsky, Fragmento II)
 
 
Onde quer que haja um afastamento do que é verdadeiro, é criada uma oscilação que desfaz a harmonia. É em tais casos que a correção se torna necessária. O efeito adverso de um erro não é posterior a ele, mas está, na realidade, incluído na causa que o produz. Só o ignorante e o tolo se alegram quando não veem efeitos adversos imediatos, acreditando que o desvio de algum modo não produzirá efeitos.

A violação das verdades pode ocorrer sem conhecimento. Por outro lado, pode ser algo deliberado. As medidas que podem ser tomadas para corrigir o erro no primeiro caso serão totalmente inadequadas para a correção no segundo caso; e isso embora nos dois casos a ação errada possa ser idêntica, ou aparentemente idêntica. De qualquer modo, para ser efetiva, a correção deve acontecer no nível das causas, do pensamento e das motivações.

A ação que é errada devido a um desconhecimento pode ser corrigida através do conhecimento e da compreensão da verdade.

A compreensão nem sempre ocorre quando há conhecimento.

A culpa do homem que, mesmo conhecendo a Lei, vai adiante e a quebra deliberadamente, é muito maior. A reação que isso provoca é mais severa, por causa do processo deliberado que antecede a ação. Este erro deliberado e frequentemente planejado significa que, ou aquele que faz o erro não está convencido do caráter sagrado e racional da Lei, ou ele não acredita que cada Lei traz consigo suas consequências. Neste caso, o conhecimento de que ele está indo contra a Lei já está presente. Numa situação assim, o remédio deve ser buscado em algo diferente de mera pregação de sermões.

Erros, ações erradas, quedas e fracassos ocorrem principalmente através de uma distorção que pode surgir nos pensamentos, sentimentos, desejos e emoções, assim como nos delicados processos do raciocínio e da inteligência.

A perspectiva política das nações durante os últimos cem anos mostra que todas faltaram com a Verdade e a Lei. Retrospectivamente, é possível ver que povos e indivíduos não sabiam quando comandar e a quem respeitar e obedecer. Depois de cada catástrofe eles foram despertados da sua complacência. Durante certo tempo disseram algumas banalidades piedosas, para então cair de volta nos caminhos menos árduos das meias-verdades e da imbecilidade sonolenta.

O que ocorre com as nações, acontece com as famílias e os indivíduos. Uma visão errada e distorcida da vida pode transformar alguém em um fanático que despreza os seres humanos, ou em um tirano, um miserável, um libertino. Todos estes estados mentais produzem mecanismos de correção. A maior dificuldade enfrentada pelo altruísta e pelo reformador está no fato de que a pessoa que trilha o caminho do erro pensa estar agindo corretamente, e portanto se coloca acima de qualquer ação corretiva.

Enquanto o homem doente negar-se a aceitar o conhecimento do fato de que necessita de remédios, a doença prosseguirá sem freios e construirá raízes mais firmes e mais profundas em um solo que se tornou fértil para o seu crescimento. Esta é uma situação perigosa, na medida em que os modos errados de pensamento são contagiosos. Eles não só pervertem o indivíduo, mas também pervertem o ambiente político, e se transformam em fatores que constroem catástrofes. Estes pensamentos são focos perigosos. São os transmissores de doenças poderosas e requerem remédios fortes. Mas as curas não estão com os charlatães, nem com os doutores de pouco conhecimento e nenhuma sabedoria.

Curar os hábitos do falso conhecimento, e desenvolver a sabedoria, são tarefas difíceis e que tomam tempo. O erro não é apenas fissíparo [1]. O erro é repetitivo; e, à medida que os ciclos de tempo o trazem de novo à superfície, ele tende a se reafirmar com uma força surpreendente e com frequência toma o indivíduo completamente de surpresa. Isso ocorre porque qualquer semente-de-pensamento, uma vez plantada em sua mente, cresce independentemente da sua vontade posterior. As sementes de pensamento – frequentemente sem que sejam vistas como tal – deitam raízes nos planos internos e ocultos do seu ser. São estes planos internos e ocultos que dão vigor e substância aos planos externos. Eles moldam o caráter e o destino do indivíduo. Dos planos internos emergem os seus pensamentos, e eles podem ser benéficos ou maléficos, belos ou feios, potentes para o bem ou para a falsidade. As medidas verdadeiramente corretivas começam neste nível do pensamento e das motivações.

As motivações (aquilo que movimenta e impulsiona) estão por trás de cada pensamento e cada ação, e portanto é a motivação que deve ser testada em cada um dos seus aspectos. Se o sistema de testes é regulado erradamente, ou se é permitido que ele seja estabelecido por outros indivíduos que também necessitam de ajuda e orientação e têm suas próprias ambições pessoais, então os resultados não corresponderão às expectativas. É indiscutível que as normas pelas quais as motivações serão julgadas variam de pessoa para pessoa, porque os deveres variam, de acordo com o estágio de evolução que cada um pode ter alcançado. A motivação de alguém que busca adotar como seu o dever de outra pessoa, ao invés de adotar o seu próprio dever, se torna uma motivação perigosa.

Logo que um estudante entra no caminho do Ocultismo [2], ele adquire consciência de que os seus deveres previamente aceitos já não se conformam à meta de longo prazo que ele adota para a vida atual e as vidas futuras. Para a pessoa que busca libertação, há um tipo de dever; para aquele que busca a renúncia, eles são de um tipo completamente diferente. Como o Ocultismo ensinado pela Teosofia é o caminho da renúncia, a ênfase é colocada naqueles deveres que dizem respeito a este caminho. Os deveres do aspirante exigem que a cada dia ele expresse as qualidades positivas que dizem respeito a alguma das quatro castas deste Kali Yuga (Idade de Ferro), e que se misturam e combinam nele.

Os processos alquímicos de precipitação e separação de castas ocorrerão invariavelmente, mas apenas em Yugas posteriores. Assim, o estudante se torna um Brâmane (um homem do mundo divino) – alguém que invoca os deuses e um adorador do deus silencioso que há em seu próprio interior.

Ele se torna um Kshatriya (guerreiro), lutando dentro de si mesmo pela vitória da retidão e para preservar aquele templo do deus vivo, um templo que ele mesmo constroi laboriosamente colocando tijolos sagrados, um após o outro.

Ele se torna um Vaishya (um comerciante) à medida que começa a abandonar posses indesejáveis (que agora se tornam estorvos) e a tirar todo proveito possível de tal desapego para obter vantagens na sua busca pelo que é divino.

E, finalmente, ele se torna um Shudra (um servidor) à medida que coloca a mente e o coração, e os olhos, e as mãos, a serviço daquela inspiração divina que agora sente crescer dentro de si.

Este exercício interno, e, portanto, oculto, praticado dentro dos limites do seu próprio ser, produz ideias que antes não haviam encontrado ambiente favorável no indivíduo. Estas ideias devem agora ser tomadas como protótipos a serem copiados, dando-se vida a esses protótipos no plano físico. É desta maneira que a força energizadora interior tem a oportunidade necessária para que possa trabalhar no plano externo e material.

Permanecendo no verdadeiro estado bramânico, o estudante se transforma – para si mesmo e, mais tarde, para outros – naquilo que o “Bhagavad-Gita” chama de “a meta, aquele que dá Conforto, o Senhor, a Testemunha, o lugar de descanso, o refúgio e o Amigo”. Sabendo que deste estado irão emanar todas as ações terrenas, ele ainda permanece como alguém que está indiferente e inalterado.

Ao iniciar as atividades do guerreiro destemido, o aspirante produz e dá forma àquelas armas divinas que irão ajudá-lo a manter os intrusos longe do seu santuário. Ele trava sua própria batalha interna deste modo, e ao lutar assim compreende que em relação às fraquezas dos outros a sua única armadura é a caridade, o amor, e uma fraterna misericórdia.

Como um aspirante-comerciante, ele troca seus serviços pela obtenção de uma vida correta, e, com os ganhos que decorrem de tal serviço, ele se esforça por ajudar o movimento teosófico, contribuindo com tempo, dinheiro e trabalho.

Como um servidor dedicado, ele realiza suas ações sem ser levado a elas pela esperança de recompensa.

A condição ideal a ser desenvolvida pelo aspirante pode ser resumida nestas palavras: “Quando em quaisquer condições ele recebe cada acontecimento, seja favorável ou desfavorável, com a mesma atitude mental – livre de atração ou repulsão – , a sua sabedoria está estabelecida e, ao encontrar o que é bom ou mau, ele nem fica excessivamente contente por causa de um, nem se deixa abater por causa do outro.”

Estes exercícios, que levam o indivíduo a trabalhar deliberadamente desde dentro para fora, são modos comprovados de corrigir todas as formas de má conduta. Neles estão as sementes da cura e do crescimento.

NOTAS:

[1] Fissíparo – organismo que se reproduz pela divisão do seu próprio corpo. (NT)

[2] Ocultismo é o estudo e a prática da sabedoria eterna, através da qual o buscador da Verdade passa a conhecer as leis ocultas da natureza. Isso é obtido graças ao conhecimento e à vivência da ética universal. (NT)
 
https://www.filosofiaesoterica.com
 
 
 
Não corrigir nossas falhas 
é o mesmo que cometer novos erros".
(Confúcio)
 

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A ARTE DE ENXERGAR


"... A primeira coisa a se fazer é concentrar esforços para que a nossa visão se expanda
acima de nossos atos e condutas ..."

O Evangelho de São Tomé Ensina a Olhar Melhor
 
 Carlos Cardoso Aveline


A sabedoria divina, tal como pode ser vivida nas primeiras décadas do século 21, parece coincidir com a perspectiva de alguns trechos do Evangelho de São Tomé – um curto documento que faz parte da chamada Biblioteca de Nag Hammadí.

Esta Biblioteca é um conjunto de textos gnósticos e cristãos dos primeiros tempos. Eles foram descobertos em 1945, e sua publicação só ocorreu no final dos anos 1970. Geralmente ignorados pelas igrejas cristãs, os documentos ampliam de modo radical a visão convencional de Jesus e mostram novas facetas do seu ensinamento, que nem sempre se encaixam na imagem fixa construída por alguns setores do cristianismo.

Embora tenha pontos em comum com os evangelhos mais conhecidos, o evangelho de São Tomé possui valor próprio e é um dos textos mais profundos de Nag Hammadí. Ele inicia dizendo:

“Estes são os ensinamentos secretos do Jesus vivo…”.

Com belas afirmativas simbólicas, o documento é, no mínimo, interessante e inspirador. Ele dá uma certa prioridade à capacidade de enxergar corretamente e, nos fragmentos 5 e 6, Jesus afirma:

“Reconheçam o que está ao alcance da sua visão, e aquilo que está oculto para vocês se tornará claro. Porque não há nada oculto que não se tornará manifesto.”

E acrescenta:

“Não digam mentiras, e não façam aquilo de que não gostam, porque todas as coisas são claras para a visão do céu. Pois nada que está oculto deixará de tornar-se manifesto, e nada que está encoberto deixará de ser descoberto.”

Esse trecho se relaciona com a prática da presença divina, e é claramente pitagórico. Um aspecto primeiro e essencial do trabalho de busca da sabedoria divina é, sem dúvida, relacionado com a atenção e com a consciência de que nada há separado da consciência cósmica. A boa lei do Carma fotografa e registra tudo: nada se oculta dela. Saber disso é algo que aumenta o nosso sentido de responsabilidade a cada momento da vida. Por outro lado, se aproveitarmos bem as possibilidades que hoje vemos ao nosso alcance, passaremos a ser capazes de ver outras tantas oportunidades, que hoje ainda não conseguimos enxergar.

O parágrafo 34 do evangelho de São Tomé sugere, porém, que é recomendável desenvolver atenção e luz própria para enxergarmos o caminho, porque:

“Se um cego conduz um cego, ambos cairão no buraco”.

Nos primeiros estágios do caminho do autoconhecimento, a alma inexperiente anseia por fatos grandes e espetaculares, mas trata-se de uma ilusão. A luz está nas pequenas coisas. No parágrafo 20, um discípulo pergunta ao Mestre:

“Diga-nos como é o reino dos céus.”

E Jesus responde:

“É como um grão de mostarda. É a menor de todas as sementes. Mas quando cai em solo arado, ela produz uma grande planta e se torna um abrigo para as aves do céu.”

Uma das conclusões práticas a que se pode chegar refletindo sobre este trecho é que o renascimento da sabedoria no país e na civilização em que vivemos depende de pequenas iniciativas – de pequenas sementes lançadas em bom solo. Tudo que é criativo começa em pequena escala. A chave que permite mudar a realidade está em ver, e perceber, a identidade interna entre a semente e a árvore, entre o pequeno e o grande, a terra e o céu, o microcosmo e o macrocosmo, o agora e o amanhã.

O parágrafo 32 usa a imagem da montanha como símbolo dos níveis superiores de consciência:

“Uma cidade que é construída sobre uma montanha alta e é fortificada não pode cair, nem pode ficar escondida.”

O parágrafo 48 desse evangelho destaca o potencial ilimitado da cooperação entre as pessoas, quando há uma merecida confiança recíproca:

“Se dois fizerem a paz um com o outro nesta casa, eles dirão à montanha: ‘afaste-se’, e a montanha se afastará.”

O texto atribuído a Tomé aborda também a expectativa humana sobre uma nova era global de paz e união entre todos os povos. No trecho 113, já na conclusão do documento, um discípulo pergunta:

“Quando é que o reino virá?”

E Jesus responde:

“Ele não virá porque as pessoas ficam esperando por ele. Não será uma questão de dizer ‘aqui está ele’ ou ‘lá está ele’. Em vez disso, o reino do pai está espalhado pela terra toda, e os homens não o veem.” [1]

Este fragmento indica que a sabedoria, a paz e a fraternidade já estão em todos nós, ainda que mais ou menos adormecidas. Mas não só em nós: o ‘reino do pai’, a lei do equilíbrio, está também no mundo desde sempre. Cabe a cada um despertar a atenção necessária para VER e PERCEBER com clareza a ação dessa Lei Eterna em sua vida cotidiana. Deste modo, poderá agir conscientemente de acordo com a lei do universo, e participar do lento despertar coletivo para a sabedoria.

 
NOTA:

[1] “The Gospel of Thomas”, em “The Nag Hamadí Library”, Revised Edition, Complete in One Volume, James Robinson, General Editor, HarperSanFrancisco, 1990, 550 pp., ver pp. 124 a 138.
 
 
 https://www.filosofiaesoterica.com
   

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

O PODER CRIATIVO


Pergunta: No meu entender, afirmais que o estado de potência criadora é uma embriaguez difícil de deixar. Entretanto, falais frequentemente da pessoa que cria. Quem é ela, senão o artista, o poeta, o arquiteto?

Krishnamurti: O artista, o poeta, o arquiteto é necessariamente criador? Ele não é também lascivo, mundano, ansioso de prosperidade? Não está, assim, contribuindo para o caos e as misérias do mundo? Não é responsável pelas suas catástrofes e sofrimentos? Ele o é, quando ambiciona a fama, quando é invejoso, quando é mundano; quando os seus valores são dos sentidos; quando é apaixonado. A circunstância de possuir um certo talento faz o artista criador.

Criar é coisa infinitamente, superior à mera capacidade de expressão. A simples expressão de efeito feliz, e os aplausos que suscita, não representam, por certo, manifestações da atividade criadora. Prosperar, neste mundo, significa ser deste mundo — o mundo da opressão, da crueldade, da ignorância e da malevolência. Não o achais? A ambição produz resultados, sem dúvida, ma não acarreta infelicidade e confusão, tanto para o que a realiza como para seu semelhante? O cientista, o arquiteto, podem haver trazido certos benefícios, mas não é certo que têm também trazido destruições e desgraças inenarráveis? É criar, isso? É criar, atiçar o homem contra o homem, como o fazem os políticos, os governantes, os sacerdotes.

A potência criadora surge quando estamos livres da servidão do anseio, com o seu conflito e seus pesares. Pelo abandono do “eu”, com sua positividade e crueldade, com suas lutas incessantes por vir a ser, surge a Realidade criadora. Na beleza de um pôr de sol ou de uma noite calma, já não sentistes uma alegria intensa e criadora? Num momento desses, estando o “eu” temporariamente ausente, ficais suscetíveis, abertos à Realidade. Essa é uma ocorrência rara, não buscada, independente de nossa vontade, mas o “ego”, havendo-a provado uma vez, em toda a sua intensidade, quer continuar a deleitar-se com ela, e por isso começa o conflito.

Todos nós temos conhecido momentos de ausência do “eu”, sentindo, em tais momentos, o extraordinário êxtase de criar, mas, em vez desses instantes raros e fortuitos, não será possível efetivarmos o verdadeiro estado no qual a Realidade é o eterno ser? Se buscais com diligência aquele êxtase, poderão, dessa atividade do “ego”, advir certos resultados, que não serão, entretanto, aquele estado que nos vem com o pensar e a meditação corretos. As tendências sutis do “ego” devem ser conhecidas e compreendidas, porquanto com o autoconhecimento vem o pensar e a meditação corretos.

O pensar justo vem no fluir constante da auto-vigilância, vigilância tanto das ações mundanas como das atividades meditativas. A potência de criar e o êxtase que a acompanha surgem na liberdade, no estar livre do anseio. E isso é virtude.

 
Krishnamurti, O Egoísmo e o Problema da Paz 
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O EGO E A EVOLUÇÃO


Cada ego faz uma evolução que toma a forma de tríplice corrente: física, intelectual e espiritual. Na primeira, dirige-se para o exterior e alcança os abismos da ignorância e do mal, perdendo-se durante certo tempo na ilusão da matéria. Os desejos se multiplicam poderosamente na primeira corrente, mas perdem intensidade na terceira.

A evolução intelectual é a mais longa e carregada de lutas. No curso da primeira caminhada, o ego só procura adquirir, mas na segunda ele se faz curioso e interrogador. Não é mais desejoso de conseguir a vida, mas de compreendê-la. Resulta daí um mal maior – o que nasce da entrada em jogo da velhacaria humana.

Mas sai também da segunda depois de muitos sofrimentos e penas. O ego atinge então o ponto de sua longa evolução em que, recorrendo à inteligência, começa a olhar para trás, empreendendo a viagem que o levará ao porto.

Na evolução espiritual, o ego se dirige para o interior e atinge finalmente a unidade procurada e volta em plena consciência ao Eu Superior.

O mal é presente na evolução, mas não eternamente; ele acaba por transformar-se. Se a dor e o mal desempenham um papel considerável em nosso planeta, outros planetas há em que são desconhecidos.

Seres pertencentes a todos os graus de evolução, do mais baixo ao mais elevado, aparecem simultaneamente sobre a Terra; e os que se entregam ao mal, mas dele se libertam posteriormente, não desaparecem completamente como tipo. São substituídos por outros que se manifestarão mais tarde.

Entretanto, isso é verdadeiro apenas para um período limitado, porque soará a hora em que os tipos inferiores cessarão de aparecer nesta planeta para que os demais possam evoluir mais rapidamente. A partir desse momento, o mal começará por atenuar-se, e por fim desaparecerá completamente.
 

Paul Brunton
 
http://yoga-ensinamentos.blogspot.com 
 
 

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

 A TOTAL LIBERTAÇÃO DO 'EU' 
É POSSÍVEL?

 

Pergunta: Parece-me que no momento em que entra em cena o “eu”, apresenta-se um problema. Esse “eu” coloca-se então a trabalhar para resolver o problema, e isso é absurdo. Não é o próprio “eu” o único problema?

Krishnamurti: Sim, senhor, evidentemente. Enquanto há um centro, há uma periferia, que é o tempo psicológico. E a questão é: em face das caóticas exigências criadas pelo “eu” — minha pátria, minha religião, minha família, meu seguro, minha hipoteca, meu isto e meu aquilo — exigências em que está enredado todo o ente humano, é possível viver neste mundo e eliminar o “eu”, não teoricamente, porém realmente, assim como se extirpa um câncer? É possível viver num dado país, exercer um emprego, ter esposa, marido, filhos, ter uma casa, e ao mesmo tempo não ter nenhum centro? Percorrer alegremente a vida toda e livre da dor — é possível isso?

(...) O hábito é, essencialmente, um feixe de “memórias”, ou seja o “eu”.

Ora, é possível, vivendo neste mundo, abandonar completamente esse feixe? Mais uma vez, peço-lhes que não digam que é ou não é possível. Vocês têm que investigar, têm que estar cônscios dele, têm que penetrá-lo — não movidos pelo desespero, nem pela esperança de acabar com ele, mas simplesmente com o fim de descobri-lo. Eu digo que isso pode e deve ser feito, pois, do contrário, nossa vida continua muito sórdida. Vocês podem ser capazes de escrever poesias, podem ser um homem famoso, exercer um cargo importante, possuir uma bela casa, uma esposa encantadora, filhos talentosos, etc. etc.; mas, enquanto não estiverem libertados do “eu”, continuarão dentro da prisão construída pelo homem, incapaz de irem além.

Pergunta: Quando não há “eu”, que é isso que olha e escuta?

Krishnamurti: Veja, isso já é uma questão teórica. Quando morrem para tudo o que conhecem, quando para vocês já não existe ontem nem amanhã, nem o presente no sentido de tempo psicológico, que existe então? Como posso responder-lhes? Verbalmente, posso dizer-lhes que existe algo imenso, algo extraordinariamente vivo; mas isso nada lhes significará. A meu ver, a questão real é esta: É possível eliminar o “eu”? Se a examinarem profundamente, vocês mesmos responderão à pergunta.

Pergunta: Estou contaminado pela sociedade. Como poderei livrar-me dessa contaminação?

Krishnamurti: Ora, a questão não é de como se libertarem dessa contaminação, porque, assim, apenas criam outro conflito, outro problema. O “eu” não está contaminado pela sociedade; ele próprio é a contaminação. O “eu” é uma coisa que se formou pelo conflito, pela inveja, pela ambição e o desejo de poder, pela agonia, o sentimento de culpa, o desespero. E é possível o “eu” dissolver-se sem conflito?

Isso não são questões teóricas ou teológicas. Se uma pessoa tem sério interesse em compreender a si própria, verá que todo esforço para dissolver o “eu” tem motivo; resulta de uma reação e, por conseguinte, faz parte ainda do “eu”. Que se pode fazer, então? Pode-se ver o fato e nada fazer em relação a ele. O fato é que todo pensamento, todo sentimento é resultado da sociedade, com suas ambições, sua inveja, sua avidez; e esse processo inteiro é o “eu”. O próprio ato de perceber inteiramente esse processo constitui a sua dissolução; não se precisa fazer esforço nenhum para dissolvê-lo. Perceber uma coisa venenosa é deixar de tocá-la.

Pergunta: Depois de nos “esvaziarmos” do “eu”, que há para preencher a mente?

Krishnamurti: Como posso responder-lhe? Primeiro, trate de “esvaziar” a mente e, depois, você descobrirá o que há. Não só você, pessoalmente, senhor: todos nós. Esta é uma questão de interesse geral. Temos muito medo do vazio e desejamos preenche-lo. Temos medo de nossa esgotante solidão, e procuramos fugir dela. É o fugir que gera o medo; mas o fugir nos coloca ativos e, por isso, quando fugimos, pensamos que estamos muito positivos. Quando tiverem compreendido essa solidão, depois de atravessá-la e ultrapassá-la, descobrirão por si mesmos o que há quando o “eu” já não existe. Mas, como em tudo mais, senhor, devem começar pelo vazio. A taça só é útil quando vazia. Mas, para compreender esse vazio, é preciso atravessá-lo num clarão, por assim dizer, e lançar a base correta. Então, vocês saberão; nunca mais perguntarão o que há além daquele vazio.

Ouvinte: Então, por certo, o significado da vida é este: a taça deve ser útil.

Krishnamurti: A taça só pode ser útil quando vazia. Vocês podem então enchê-la com o que gostam. Mas se a taça de vocês está cheia — cheia de sofrimento, aflição, conflito — que utilidade ela tem? Senhor, que utilidade tem nossa vida, tal como é: competição, guerras, conflitos internacionais, divisão entre Oriente e Ocidente, entre esta e aquela religião? Que utilidade tem isso?

Interpelante: Você não me entendeu bem. Ao dizer “a taça dever ser útil”, eu quis dizer que a finalidade da vida é cumprir a vontade de Deus.

Krishnamurti: Todo político, todo negociante, todo general preparador de guerras, fala sobre “a vontade de Deus”. O comunista também fala da “vontade de Deus”, mas no seu caso se trata da “vontade do Estado”, etc. etc. Que é a “vontade de Deus”? Só poderão averiguar isso quando já não estiverem buscando, já não estiverem pedindo, quando já não pertencerem a nenhum grupo separado, quando já não tiverem medo, quando se acharem num estado de completa incerteza — que não significa demência. Nesse estado, o pensamento já não busca um pouso seguro. Então, talvez, aquilo que se pode chamar “Deus” — ou outro nome qualquer — começará a atuar.
 
 
Jiddu Krishnamurti — O homem e seus desejos em conflito 
http://nossaluzinterior.blogspot.com
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