Verificamos
que nossa vida atual esta regida pela lei da luta, em que o mais forte
vence e domina. Isto significa que a todo momento estamos sujeitos a
receber ataques. Daí a necessidade duma defesa. Que nos diz a Lei a esse
respeito? Como resolve ela o problema? Quais são nossos direitos e
deveres? Qual a conduta que nos conduz a resultados melhores? Qual deve
ser nossa reação ao ataque? Qual o método mais sábio e vantajoso para
resolver o caso? Este é um dos pontos onde mais ressalta a oposição
entre o sistema do Evangelho e o do mundo. O primeiro sustenta a regra
da não resistência, o segundo o uso da reação violenta. Já vimos,
trata-se de leis pertencentes a dois níveis evolutivos diferentes, leis
verdadeiras, cada uma no seu respectivo plano de vida, ao qual estão
adaptadas.Não
pode surgir um ataque contra nós se não o tivermos merecido. O homem
que o executa, seja quem for, é só uma causa secundária.
Não
há dúvida, o ataque que nos golpeia é movimentado por um ser, chamado,
por isso, nosso inimigo. Mas, ele é só a causa próxima e é contra esta
que, em nossa miopia, começamos a lutar. Apesar das armas para a defesa
estarem sempre em ação, os ataques voltam a surgir continuamente de
todos os lados, ficando o problema sem solução. E o que sempre continua
permanecendo de pé é a luta continua de todos contra todos. Para que o
problema seja resolvido, eliminando em definitivo os efeitos,
logicamente é necessário que seja removida sua causa primeira, de que
tudo deriva.
Num
sistema centro-periférico qual o do nosso universo, não pode haver
caminho que não leve para Deus. Só n‘Ele se pode encontrar a causa
primeira de tudo. Mas, como pode Deus ser a causa dos golpes que
recebemos? Não há dúvida, eles saem das mãos dos nossos inimigos. Mas,
se existe uma Lei geral de ordem, quem os deixou movimentar-se contra
nós e porque de uma determinada forma e não de outra? Quaisquer
que sejam nossos poderes humanos, ninguém poderá paralisar o
funcionamento da Lei no seu ponto fundamental - a justiça de Deus.
Conforme essa justiça, ninguém poderá chegar até nós se não tivermos,
com nossos erros, deixado as portas abertas. Ficaremos a mercê de todos
os atacantes, quaisquer que eles sejam, se tivermos merecido a reação da
Lei, que os fez seus instrumentos. Cada
um procura destruir seus inimigos, mas não a causa que gera inimigos;
procura afastar os golpes mas não a causa que os produz.
Quando
o problema está enquadrado nesses termos, parece claro que a defesa que
o mundo pratica, limitada só contra o ofensor, não somente é inútil,
mas representa um novo erro que se junta ao velho, aumentando-o. O
remédio, então, é só um: não merecer, isto é, tomar cuidado em preparar o
nosso futuro, não errando em ir contra a Lei e não merecendo, assim,
sua reação. Poderemos destruir com a força todos os nossos inimigos.
Outros surgirão para nos perseguir, enquanto não tivermos pago tudo. Tudo
depende de nós mesmos e nada dos outros. O inimigo que nos agride somos
nós mesmos, que com erro provocamos a reação da Lei que, por sua vez,
movimenta os elementos apropriados para executar essa reação. Isto não quer dizer que a justiça de Deus, sozinha, por si própria, quer movimentar o ataque contra nós. A
divina justiça representa apenas a norma que regulamenta e o poder que
impõe o desencadeamento do ataque conforme a Lei, quando o tivermos
merecido.
Por isso, nosso inimigo, contra o qual apontamos nossas armas, não tem poder algum contra nós, além daquele que nós mesmos lhe conferimos com nossas obras contra a Lei de Deus. Se nós destruirmos com a força esse inimigo, crescerá a nossa dívida perante a justiça da Lei e com isso concederemos, a um número maior de inimigos, poderes maiores contra nós. Que se ganha então usando o método do mundo? Aparece aqui a necessidade lógica de praticar o método da não resistência, porque ele é o único que representa um verdadeiro sistema de defesa. Paralisar o inimigo não paralisa o ataque, mas piora nossa posição, porque o verdadeiro inimigo não é aquele que vemos.
Quem compreendeu como funciona o jogo da vida, quando receber uma ofensa, não reage contra seu ofensor, porque sabe não ter ele valor algum, a não ser o de representar um instrumento cego nas mãos de Deus. Por isso, não merece nem ódio, nem vingança.
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