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domingo, 31 de maio de 2020

C A N Ç Ã O   D O   Z A Z E N

Aprendendo a Meditar: A Prática do Zazen

A palavra Zen significa concentração, e sua prática propicia a serenidade e tranquilidade da mente. Pensando bem, vemos que a nossa mente é misteriosa; esta mesma mente, em certo momento está alegre e já em outro momento, está com raiva; não há com defini-la! A mente é algo pessoal de cada um, e a verdade é que não conseguimos usá-la da forma como desejamos. Isto é a mente!
 
Por que a mente passa por essa mutação constante? O Budha disse “se tem isso, tem aquilo; se isto nasce, aquilo também nasce; se não tem isso, também, não tem aquilo; se isto desaparece, aquilo também desaparece”.
 
Na mente não ocorrem somente a alegria e raiva. Certamente, para todas as ocorrências mentais egoicas, existe uma causa. Portanto, se há sentimentos ilusórios e preocupações, igualmente, eles existem por uma causa. Quando tomamos consciência das causas dos egoismos , as ilusões, naturalmente, desaparecem.
 
No budismo fala-se da transmigração pelos seis mundos. Os seis mundos representam os mundos das ilusões. A transmigração é igual a uma roda, em que ao circular, chega-se ao mesmo lugar. Na Índia antiga havia um pensamento corrente de que, dependendo das ações das pessoas em suas vidas passadas, elas poderiam, após a morte, cair em mundos de sofrimentos, ou renascerem em mundos variados.

Nós, constantemente, estamos indo e vindo, perdidos nos seis mundos da transmigração. São eles: o jigokudō (地獄道), o mundo do inferno; o gakidō (餓鬼道), o mundo dos demônios famintos; o chikushōdō (畜生道), o mundo animal; o ashuradō (阿修羅道), mundo dos ashuras, ou demônios guerreiros; o nindō (人道), o mundo humano; e o tendō (天道), o mundo celeste.
 
1- O mundo do inferno é o estado em que os seres sofrem pelos seus erros e enganos.
 
2- O mundo dos demônios famintos é o estado em que os desejos nunca são satisfeitos.
 
3- O mundo animal é o estado em que predominam os instintos indiscriminados, principalmente por comida e sexo.
 
4- O mundo dos ashuras (demônios guerreiros) é o estado de apego por batalhas, ciúmes e invejas.
 
5- O mundo dos humanos é o estado em que se manifestam os sofrimentos comuns da humanidade.
 
6- O mundo celeste é o estado em que os deuses ficam preocupados em perder os seus estados celestiais.
 
O próprio Shakyamuni Budha enumerou as três causas principais do sofrimento humano: a
ganância, a raiva e a ignorância.
 
Um dos ensinamentos do mestre Hakuin é que, se não percebermos a origem do sofrimento, não obteremos a libertação.
 
Cometemos a estupidez de não percebermos que temos todos, dentro de nós, a essência búdica, e por isso caímos em caminhos obscuros.
 
Quando, então, seremos capazes de transcender o medo da morte e o sofrimento?
 
No sutra do Coração aparece a palavra “haramitta”, que na Índia antiga significava transpor para a outra margem do rio.
 
Na Índia e na China antiga havia, e ainda há hoje em dia, rios muito grandes, comparados aos oceanos, em que não se consegue enxergar a outra margem, que se torna assim, uma terra desejada. Para transpor as pessoas até a outra margem da salvação, o Shakyamuni Budha nos mostrou as seis ações, assim chamadas de seis paramitas:
 
1- Doação – o esforço em ajudar solidariamente, as outras pessoas;
 
2- Observar e manter os preceitos;
 
3- Ter paciência, controlando a raiva;
 
4- Continuar nos esforços para a purificação;
 
5- Preservar a concentração;
 
6- A pronta sabedoria.
 
Praticar a doação para com os outros, assim como manter os preceitos, é certamente, a ação para incorporar os ensinamentos dos Budhas. 


Existem três espécies de doações:
 
1- Doação de bens – quando doamos para outros, as coisas que possuímos, como dinheiro e bens materiais.
 
2- Doação do Dharma – quando oferecemos aos outros, os ensinamentos budistas e conhecimentos.
 
3- Doação para suprimir medos e preocupações – quando se doa a si próprio, assim, eliminam-se os medos e aflições dos outros.
 

A palavra doação em japonês é chamada de Fuse, fu significa pano e se significa doar.
 
Antigamente, os monges ofereciam os seus sermões, com ensinamentos budistas e recitações de sutras e as pessoas lhes retribuíam com doações de panos. Os monges costuravam os panos e, assim, faziam mantos para cobrir seus corpos. Assim, deu-se inicio ao tradicional uso dos mantos (kesa).
 
Nesta Canção do Zazen o mestre Hakuin exalta as maravilhas do zazen. A principal razão para a prática do zazen é que ele é a base fundamental para nos engajarmos em boas ações. Quando praticamos o zazen, nossa mente fica tranquila e passamos bem o dia a dia. Também com este ato se realiza a unidade entre a natureza e os ensinamentos de Budha. Se não retificarmos nossas mentes, não há bons frutos. Pratica-se o zazen justamente, para colocar a nossa mente em ordem.


Mestre Hakuin Ekaku, Trecho do livro "Canção do Zazen"