Translate

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

 EMOÇÃO E ESTADO EMOTIVO


As emoções e o estado emotivo podem ser causados por imagens, isto é, por excitações psíquicas, sutis; do mesmo modo, a emotividade pode ser desencadeada por excitações somáticas, grosseiras. Um mal estar somático pode ser a causa de minha ‘fossa’ e, seja a causa psíquica ou somática, a ‘contratura’ que ela desencadeia afeta ao mesmo tempo nossa psique e nosso corpo, o que significa que uma certa contratura muscular (dos músculos estriados ou lisos) sempre acompanha a contratura psíquica causada por imagem subconsciente, e vice-versa.

A emotividade relaciona-se sempre com alguma dúvida quanto a ‘eu ser’; essa dúvida, ‘ser ou não ser’, paira constantemente sobre meu processo que se desenrola na expectativa de uma absolvição definitiva. Na jamais adormecida subconsciência, o homem vive esperando um veredicto ilusório, do qual sente que depende sua absolvição ou condenação definitiva.

A emotividade é necessariamente negativa, é uma contratura ansiosa; a atividade da subconsciência onde ela atua relaciona-se com a necessidade do Absoluto, isto é, com a necessidade da realização atemporal. Após o satori, embora o homem ainda experimente emoções, percebe que por trás delas não está mais a presença constante da angústia; essa modificação no pano de fundo constitui uma transformação tão intensa e fundamental de toda nossa vida afetiva que não nos é possível nem mesmo imaginar os sentimentos do homem depois do satori. O trabalho interior tem em mira esse instante perfeitamente não-emotivo e de perfeita felicidade. Por isso, o homem acredita com frequência que deve controlar as emoções, o que é um erro e inutiliza seu trabalho. Devemos, sim, refrear o estado emotivo pela aquisição de indiferença, e só a compreensão intelectual pura (meditação) é eficaz para isso. O estado emotivo é eliminado quando, atento, procuro percebê-lo.

Na prática, isso deve comportar gestos interiores reiterados, breves e sutis. Não é insistir trabalhosamente como se fosse preciso ‘apreender’ algo; nada há para ser ‘apreendido’. Trata-se de ‘ver’, pela vontade, num relancear de olhos instantâneo e perfeitamente simples, como me sinto globalmente nesse instante, e repetir esse gesto, de maneira suave e discreta, o mais frequentemente possível. Ou consigo ou não consigo sentir; se não consigo, recomeçarei segundos após, mas o gesto deve ser executado de uma só vez. Esse exercício faz cessar a consciência que tenho habitualmente de minha vida dualista, numa ruptura decisiva e instantânea.

A consciência normal e superficial que temos comumente nada mais é que ‘alguma coisa deformada’ que conseguimos perceber da consciência total.

Nada é bom, nada é mal; mas nós classificamos tudo assim e, depois, sofremos com isso. Do Zen: ‘Logo que tendes o bem e o mal (divides, classificas); segue-se tremenda confusão e a tranquilidade está perdida.

O homem julga, sempre, que lhe falta alguma coisa, e espera essa coisa que, acredita, seja capaz de preencher sua carência. Essa aspiração se manifesta na sua expectativa de uma ‘vida verdadeira’ no futuro, diferente de sua vida atual, e que viria a afirmá-lo total e perfeitamente, e não mais de uma maneira parcial e imperfeita. Quer percebamos ou não, todo ser humano vive à espera que finalmente tenha início a ‘verdadeira vida’, da qual tenha desaparecido toda negatividade. Essa falsa crença cria a ilusão de tempo e de que esse tempo lhe escapa continuamente e que parece alongar-se entre o momento presente imperfeito e o momento futuro perfeito a que aspira (o vir-a-ser). Cria, assim, a ilusão de um futuro para o qual projeta a satisfação de seu desejo. O satori não deve ser imaginado como um estado ao qual tenhamos de conseguir acesso, no futuro, mas como nosso estado eterno, independente do nosso nascimento e da nossa morte (já estamos nele; apenas não o percebemos).

O caminho perfeito não oferece nenhuma dificuldade a não ser a de negar qualquer preferência (tudo é o que é; aceitemos isso).

Se desejas trilhar o Caminho Perfeito, não cries pensamentos nem a favor das coisas nem contra as coisas que no mundo ocorrem (Marco Aurélio: não reclames de teu destino, pois ele vem de onde tu vieste).

Opor aquilo que amais àquilo que não amais, eis a doença do espírito (enquanto houver em nós qualquer diferença entre bem e mal, não estamos no caminho).

Não procureis a verdade. Deixai, apenas, de vos apegar a opiniões, para que não vos retardeis no dualismo (nas ilusões, maia).

Deixa que as coisas sejam como elas são (de nada adianta reclamar; nós não escolhemos).

Se desejas o Caminho, não alimentes nenhum preconceito contra os objetos dos sentidos (interpretações equivocadas, cores, formas, sons, aromas, sabores, tato) nem contra lembranças, emoções, expectativas.

O iluminado não tem apegos, nem inimizades (para ele tudo é o que deve ser).

Não sendo dois, tudo é o mesmo, um só, e tudo o que existe aí está incluído.

Toda percepção do mundo exterior, em qualquer instante de nossa vida, contém uma possibilidade de satori, porque estabelece uma ponte entre o eu e o não-eu, fato que contém uma possibilidade de identificação entre o eu e o não-eu, esses dois falsos-opostos e que pode nos permitir a percepção do self-quântico.

Etc., etc.... 

 
EM BUSCA DE DEUS
http://obuscadordedeus.blogspot.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário