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quarta-feira, 31 de maio de 2017

POR QUE OS ANIMAIS SOFREM ?


Um Fracasso Ético da Civilização Ocidental

Nota Editorial:

Neste texto vigoroso de 1883, H.P.B. mostra o saldo ético negativo da chamada “civilização cristã” em relação aos animais, e especialmente em relação aos animais mais evoluídos, os “irmãos menores” da humanidade. Com algumas boas e nobres exceções, entre as quais a principal é a de São Francisco de Assis e do franciscanismo, o cristianismo ainda hoje desculpa e “autoriza” o covarde massacre cotidiano de animais indefesos.

Nesta primeira parte do século 21, nossa civilização começa a despertar. Os movimentos de defesa dos animais são cada vez mais fortes. O vegetarianismo se alastra, e a consciência ecológica permeia vastos setores do próprio cristianismo.

O texto de HPB, porém, permanece plenamente atual.

(Carlos Cardoso Aveline)


Texto de Helena P. Blavatsky

P. É possível para mim, que amo os animais, obter mais poder do que tenho para ajudá-los em seu sofrimento?

R. Um autêntico AMOR não egoísta, combinado à VONTADE, é um “poder” em si mesmo. Aqueles que amam os animais devem mostrar sua afeição de maneira mais eficiente do que cobrir seus animais com fitas e levá-los para uivar e arranhar nas competições, em busca de prêmios.

P. Por que os animais mais nobres sofrem tanto nas mãos dos homens? Não preciso entrar em detalhes ou tentar explicar esta questão. As cidades são lugares de tortura de animais que podem, por qualquer motivo, ser usados e abusados pelo homem! E esses são sempre os mais nobres.

R. Nos Sutras ou Aforismos de Karma-pa, uma seita que é um ramo da grande seita Gelukpa (capuz amarelo) no Tibete, e cujo nome indica sua doutrina – “os que acreditam na eficácia do Carma” (ação, ou boas obras) – um Upasaka [1] pergunta a seu Mestre: “Por que o destino dos pobres animais mudou tanto ultimamente? Nunca um animal era morto ou tratado injustamente nas imediações de um templo budista ou outros templos na China, antigamente, enquanto hoje em dia eles são mortos e livremente vendidos nos mercados de várias cidades, etc.” A resposta é sugestiva:

. . . “Não ponha a culpa na natureza por esta injustiça sem igual. Não procure inutilmente por efeitos cármicos para explicar a crueldade, porque o Tenbrel Chugnyi (conexão causal, Nidâna) não lhe mostrará nenhum. É a indesejada vinda do Peling (cristão estrangeiro), cujos três deuses ferozes recusaram-se a dar proteção para os fracos e pequenos (os animais), que é responsável pelos sofrimentos incessantes, e de fazer doer o coração, de nossos companheiros mudos.”

A resposta à pergunta acima está aqui em poucas palavras. Pode ser útil, ainda que mais uma vez desagradável, dizer a alguns religiosos que a culpa por este sofrimento universal é inteiramente da nossa religião e educação ocidentais. Cada sistema filosófico oriental, cada religião e seita da antiguidade – bramânica, egípcia, chinesa e, finalmente, o mais puro e nobre de todos os sistemas de ética existentes, o budismo, ensinam bondade e proteção a cada criatura viva, desde o animal e o pássaro até os seres rastejantes e mesmo o réptil. Só a nossa religião ocidental permanece em seu isolamento, como um monumento ao mais gigantesco egoísmo humano jamais desenvolvido por uma mente humana, sem uma palavra em favor ou proteção do pobre animal. Muito pelo contrário. Porque a teologia, enfatizando uma frase do capítulo jeovístico da “Criação”, interpreta-a como prova de que os animais, como todo o resto, foram criados para o homem! Portanto, a caça se tornou um dos entretenimentos mais nobres das classes superiores. Assim – pobres inocentes pássaros feridos, torturados e mortos aos milhões a cada outono, tudo em países cristãos, para a recreação do homem. Disso também surgiu a maldade, e frequentemente a crueldade a sangue frio, durante a juventude do cavalo e do novilho, indiferença brutal com seu destino quando a idade os torna incapazes para o trabalho, e ingratidão após anos de trabalho duro para o homem e a seu serviço. Em todos os países que o europeu passa a dominar, começa a matança de animais e o seu massacre inútil.

“Alguma vez o prisioneiro matou animais por prazer?” perguntou um juiz budista numa cidadezinha fronteiriça na China, infestada de piedosos homens de igreja e missionários europeus, a respeito de um homem acusado de ter matado sua irmã. E, diante de uma resposta afirmativa, já que o prisioneiro tinha estado a serviço de um coronel russo, “um poderoso caçador diante do Senhor”, o juiz não precisou de nenhuma outra evidência e o assassino foi considerado “culpado” – com razão, como sua confissão posterior comprovou.

Deve o cristianismo, ou mesmo o leigo cristão, ser culpado? Nenhum dos dois. É o sistema pernicioso da teologia, são os longos séculos de teocracia e o feroz e sempre crescente egoísmo dos países ocidentais civilizados. O que podemos fazer?

 
 NOTA:

[1] Upasaka: discípulo. (CCA)
Fonte: http://www.filosofiaesoterica.com
 
  
NÃO TENTE COM MAIS ESFORÇO



Respire suave e profundamente absorvendo energia.
 
Sinta seu corpo regenerando, fortalecendo e ao mesmo tempo relaxando...
 
Perceba que é necessária mais energia para se julgar infeliz que para se sentir alegre. Alegria é um estado da natureza - e na realidade, nenhuma energia é necessária para ser alegre porque ela é natural. Necessitamos de energia para ser infeliz, porque isso não é natural. Quanto mais natural você for, menos energia será necessária e quanto mais artificial você desejar ser, mais energia será necessária.


Perceba... Se você se apoia em seus pés, precisará de menos energia. Tente se apoiar em sua cabeça e você precisará de mais energia. Sempre que você vislumbrar a necessidade de mais energia, saberá que está tentando fazer algo artificial. Meditação não requer energia porque é passiva, inativa, silenciosa. Você não está fazendo nada, não está indo a lugar algum. Por que precisaria de energia?
 
A raiva precisa de energia, o pensamento requer energia, a violência precisa de energia - porque você está fazendo algo contra a natureza, está lutando contra a natureza. É como tentar nadar contra a corrente. Se você estiver nadando no sentido do rio, então não há necessidade de energia - o rio te leva. Mas se estiver tentando ir no sentido contrário ao da correnteza, então muita energia será necessária – porque você estará lutando contra ela.


Por que as pessoas parecem estar tão cansadas? Estão todas lutando. Sua religião o ensina a lutar, toda a sua formação baseia-se no conflito, porque é só por meio da luta que o ego pode ser criado. Quando você relaxa, o ego desaparece. Relaxar significa tornar-se sem ego. 
 
Se você nada no sentido do rio, não pode criar o ego. O ego é um fenômeno não natural / artificial; ele precisa de muita energia para ser criado e de muita energia para ser mantido. Ter ego é um fenômeno muito desgastante. Toda sua vida é consumida por ele.


Então, vamos lá... A meditação não precisa de energia, o pensamento precisa de energia! O relaxamento não requer energia, a tensão precisa de energia, a ansiedade precisa de energia.
 
Portanto, não se perca. Não se trata de fazer um esforço para ser consciente. Se você fizer esforço, criará tensões em seu interior – todo esforço acarreta tensões. 
 
Se você tentar ficar consciente, estará lutando consigo mesmo. E não há necessidade de lutar. Consciência é uma fragrância de liberação. Consciência é o florescer do render-se a algo, é o florescer do relaxamento.
 
Então, nesse momento, permita-se relaxar, renda-se, entregue-se e relaxe.
 
 
Osho
 
 
 
"Seja suave e delicado; permita que o fluxo da vida vida leve você para onde levar. Deixe que a meta do Todo seja a sua meta. Seja apenas uma parte. Assim uma grandeza e uma graça infinita vão acontecer na sua vida". Osho tem razão: a vida é uma entrega ao Supremo. Mas não sabemos esperar e nos esforçamos além da conta para conseguir resultados. É uma peleja... parece que as oportunidades vão cessar... a eternidade está ao nosso dispor... não se aprende nem se compreende o que a vida quer nos ensinar em um dia. "Uma vez que você abandone as expectativas, você aprendeu a viver". (Osho)
 
 

terça-feira, 30 de maio de 2017

A ORIGEM DO UNIVERSO



Os antigos sábios ensinavam que o universo estava em perpétuo movimento e que este movimento tinha uma forma rotatória. Iam mais longe, declarando que, do mesmo modo como é impossível dizer onde começa ou acaba um círculo, não se pode indicar onde começa o cosmo, nem onde acaba.

Eis porque, a fim de representar ao mesmo tempo a construção do mundo, o incessante escoamento das coisas, sem começo nem fim, eles empregavam o símbolo da suástica, que é uma forma de roda. Seus raios em cruz representam o eixo polar atravessado pelo equador, e sua rotação traduz o fato de que a terra é dinâmica, não matéria inerte.

A ciência escrutou a matéria sólida e constatou que ela é, praticamente, cava. O vazio da substância material é fantasticamente imenso quando o comparamos às dimensões dos elétrons que se movem perpetuamente no interior. O que vale dizer que o solo que pisamos é quase inteiramente espaço vazio.

Ao nosso sentido do tato, ele é entretanto firme, compacto, imóvel e impenetrável. É uma ilusão devida, evidentemente, às limitações extremamente estreitas deste sentido.

A nova ciência declara que os átomos não constituem a última palavra, nem a matéria a substância última. Os átomos foram penetrados, descobriu-se que eram ondas. Mas ondas de quê? Certamente não de matéria, mas de energia. Um conjunto de processos dinâmicos substitui o bloco antigo de matéria inerte.

A cosmologia do ensino oculto diz que o universo é algo sem começo nem fim. Nunca houve momento em que não existisse, de modo latente ou manifestado. O mundo não resulta de um ato de criação repentina, mas de um processo de manifestação gradual.

Sendo o Universo um grande pensamento, e não uma grande coisa, é posto em existência pela Mente Universal, que o tira de si mesma, de sua própria substância mental e não de uma substância estranha como é a matéria, conforme supõem os materialistas, sejam científicos, religiosos ou metafísicos.

A crença de que Deus num repente criou o mundo – o que daria aos corpos celestes uma mesma idade – não é, pois, aceitável. Seria mais razoável crer, de acordo com o ensino oculto, que o universo nunca teve começo nem terá fim. É o corpo de Deus, se desejarmos usar este termo do qual tanto se tem abusado; um corpo que se basta a si mesmo e contém todas suas criaturas em evolução perpétua.

Nada existe por si mesmo; tudo que existe hoje é conseqüência indireta de numerosas causas que se estendem como cadeia sem fim, através do passado sem começo.

O Universo é, pois, tão velho e tão eterno como a própria Mente Universal. É uma idéia, e é apesar disso, sem começo e sem fim. A criação não começa e não acaba em parte alguma. Não existe lugar nem momento em que se possa situar a causa primeira ou o efeito final.

Quão caprichosa é a concepção do Universo que pretende marcar uma data à criação! Tal data variará unicamente em função do capricho de seu autor que construirá a teoria da criação que mais lhe agradar.

Considerado pelo exterior, o Universo sai do nada e volta ao nada. Mas considerado pelo interior, sempre teve, no plano de fundo, uma realidade eterna e oculta. Essa realidade é o Espírito Universal. O mundo nada mais é que sua manifestação, ele projeto o mundo como sua idéia. O mundo é sua projeção.

O Espírito Universal é imanente em todo o Universo. Este brotou de sua meditação construtiva, mas de modo ordenado, sob forma moldada por suas próprias impressões mentais, conservadas na memória, por antigo estado de existência ativa.

A incessante procissão de imagens, representando sóis, estrelas, terras, mares, todas as coisas visíveis, emana do Espírito Universal conforme uma lei kármica, misteriosa e imutável, como a água que se escoa de uma fonte ininterrupta.

O cosmo é contínuo e seu passado é sem começo. Porém, intervalos de não existência interrompem periodicamente sua história. Esses intervalos, no entanto, são temporários. Não há rupturas reais de existência, mas rupturas aparentes quando esta existência se torna latente.

Cada aparecimento sucessivo do Universo, que se manifesta de novo, resulta inevitavelmente daquele que anteriormente se conservou em estado latente.

Quando todos os karmas coletivos de todos os centros individuais e planetários se cansam e se esgotam, um ciclo da história do Universo se fecha. O Universo manifestado se retira então e o Espírito Universal repousa. Mas a aurora cósmica tem uma nova imaginação de todas as coisas.

Quando os karmas anteriores se põem a germinar e a reproduzir-se, novo ciclo começa, o mundo visível volta à existência, herdando tudo o que se achava no mundo precedente. O Universo atual não é o primeiro que se manifestou e não será o último. Somente nesse sentido o Universo é indestrutível.

O Universo sofre uma evolução que se efetua estritamente segundo a lei kármica e não por mero acaso, como pensam os materialistas, nem sob as ordens arbitrárias de um criador pessoal, como crêem os religiosos.

Se uma nebulosa cósmica se desenvolve em sistemas solares, estes se dissolvem de novo em nebulosa. O Universo das formas volta sem cessar ao ponto de partida; é sem começo, sem fim. Eis porque ele está sujeito ao nascimento e à morte, à degeneração e à refloração, isto é, a mudar constantemente.

É semelhante a uma roda virando eternamente e passando séculos de atividade e de repouso alternativos. Aí está porque os antigos o representavam sob a imagem de uma suástica em movimento.


 
Paul Brunton
Fonte:yogaensinamentos
 

segunda-feira, 29 de maio de 2017

A BRISA NA CAVERNA

 

Certa vez, um homem aproximou-se de uma caverna e sentiu uma linda brisa vindo dela. E quis encontrar a fonte dessa linda brisa. Ele era muito gordo e a entrada da caverna era um pequeno buraco onde não conseguiria entrar.
 
Ele estava tão maravilhado com a brisa e sua fragrância, que só pensava em encontrar a fonte dessa brisa. Então começou a jejuar, perdeu peso, mas ainda assim não conseguia entrar. E abandonou tudo: seu emprego, seu lar, sua família.
 
Seu único pensamento era, "Tenho de encontrar a fonte dessa brisa que possui tanta fragrância." Ele mal se alimentava. Estava determinado a encontrar a fonte da brisa.
 
Finalmente transformou-se num esqueleto e conseguiu passar metade de seu corpo pelo buraco, mas ficou preso ali. Não conseguir entrar nem sair. Então desistiu de seu objetivo e disse, "Fiz tudo que podia. Não há mais nada que possa fazer." Então o Eu Divino o puxou através do buraco e ele se tornou iluminado, auto-realizado.
 
Essa história ilustra que, quando paramos de lutar, de tentar mudar as coisas, de tentar fazer as coisas acontecerem e deixamos tudo fluir, dependendo da Vontade Divina, da realidade absoluta, então o Eu Divino nos puxa para si. Em outras palavras, você se torna auto-realizado.
 
Mas enquanto você depender de uma pessoa, lugar ou coisa, então enfrentará suas batalhas sozinho. É por isso que a verdadeira espiritualidade não é para todos. As pessoas ainda querem apegar-se às coisas.
 
Enquanto este mundo o fizer sentir-se bem ou mal, você é mundano e tem batalhas a enfrentar. Mas quando o bem e o mal não o impressionar mais, então estará livre.
 
Muitas pessoas buscam a verdade apenas quando estão doentes, ou falidos, ou loucos, ou desanimados. Mas se conseguem o que querem, esquecem sua busca e saem para se divertir. Mas lembre-se que as coisas mudam como sempre, e essas pessoas poderão deixar o corpo amanhã, ou na semana que vem. Nunca se sabe. E novamente serão atraídas à reencarnação.


Robert Adams

Fonte:yogaensinamentos 


Osho sabe que quando lutamos nada obtemos, apenas cansaço e desanimo: "A existência não pode ser forçada a ir de acordo com você; ela flui de seu próprio modo. Se você puder fluir com ela então você será positivo. Se você lutar contra ela, você se tornará negativo e todo o cosmo a sua volta se tornará negativo". "Renda-se... Mergulhe no que você não conhece... Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." 

 

domingo, 28 de maio de 2017

O TEMPO, O BEM E O MAL
E A PRECE

 

 
 
Então um astrônomo: disse; “Mestre, que dizeis do Tempo?"

E ele respondeu:

 
"Gostaríeis de medir o tempo, o ilimitado e o incomensurável.
Gostaríeis de ajustar vosso comportamento e mesmo reger o curso de vossa alma de acordo com as horas e as estações.
Do tempo gostaríeis de fazer um rio, na margem do qual sentaríeis para observar correr as águas.
Contudo, o que em vós escapa ao tempo sabe que a vida também escapa ao tempo.
E sabe que ontem é, apenas, a recordação de hoje e amanhã, o sonho de hoje.
E aquilo que canta e medita em vós continua a morar dentro daquele primeiro momento em que as estrelas foram semeadas no espaço.
Quem, dentre vós, não sente que seu poder de amar é ilimitado?
E, porém, quem não sente esse amor, embora ilimitado, circunscrito dentro do seu próprio ser, e não se movendo de um pensamento amoroso a outro, e de uma ação amorosa a outra?
E não é o tempo, exatamente como o amor, indivisível e insondável?
Contudo, se em vossos pensamentos deveis dividir o tempo em estações, que cada estação envolva todas as outras estações, e que vosso presente abrace o passado com nostalgia e o futuro com ânsia e carinho".


 
Um dos anciãos da cidade disse: "Fala-nos do Bem e do Mal."

E ele respondeu:

 
"Do bem que está em vós poderei falar, mas não do mal.
Pois que é o mal senão o próprio bem torturado por sua fome e sede?
Em verdade, quando o bem sente fome, procura alimentos até nos antros escuros, e quando sente sede, desaltera-se até em águas estagnadas.
Vós sois bons quando vos identificais com vós próprios.
Porém, quando não vos identificais com vós próprios, não sois maus.
Pois a casa que se divide não se torna antro de ladrões; é, apenas, uma casa dividida.
E um navio sem leme pode vaguear sem rumo entre recifes perigosos, e não se afundar.
Vós sois bons quando vos esforçais por dar de vós próprios.
Porém, não sois maus quando vos limitais a procurar o lucro.
Pois, quando lutais pelo lucro, sois simplesmente raízes que se agarram à terra e sugam seu seio.
Certamente a fruta não pode dizer à raiz: "Sê como eu, madura e plena, e sempre generosa de tua abundância."
Pois, para a fruta, dar é uma necessidade como, para a raiz, receber é uma necessidade.
Vós sois bons quando falais plenamente acordados.
Porém, não sois maus quando adormeceis enquanto vossa língua tartamudeia sem propósito.
E mesmo um discurso gaguejante pode fortalecer uma língua débil.
Vós sois bons quando andais rumo a vosso objetivo, firmemente e com passos intrépidos.
Porém, não sois maus quando ides coxeando.
Mesmo aqueles que coxeiam não andam para trás.
Mas vós que sois fortes e velozes, guardai-vos de coxear por complacência na presença dos coxos.
Vós sois bons de inumeráveis maneiras, e não sois maus quando não sois bons.
Estais apenas ociosos e indolentes.
Pena que as gazelas não possam ensinar a velocidade às tartarugas.
Na vossa ânsia pelo vosso Eu-gigante está vossa bondade: e essa ânsia está em todos vós.
Mas em alguns, essa ânsia é uma torrente que se precipita impetuosamente para o mar, carregando os segredos das colinas e as canções da floresta.
Em outros, é uma corrente preguiçosa que se perde em meandros, e serpenteia, arrastando-se, antes de atingir a costa.
Mas que aquele que muito deseja se guarde de dizer àquele que pouco deseja: "Por que és lento e atrasado?"
Pois o verdadeiramente bom não pergunta ao desnudo: "Onde está tua roupa?" nem ao desabrigado: "Que aconteceu à tua casa?"


 
Então uma sacerdotisa disse: "Fala-nos da Prece."

E ele respondeu, dizendo:

 
"Vós rezais nas vossas aflições e necessidades; pudésseis também rezar na plenitude de vossa alegria e nos dias de abundância.
Pois que é a oração senão a expansão de vosso ser para o éter vivente?
E se constitui conforto exalar vossas trevas no espaço, maior conforto sentireis quando exalardes a aurora de vosso coração.
E se não podeis reter vossas lágrimas quando vossa alma vos chama para orar, ela vos deveria esporear repetidamente, embora chorando, até que aprendêsseis a orar com alegria.
Quando rezais, vos elevais até encontrardes, nas alturas, aqueles que estão orando à mesma hora, e que, fora da oração, talvez nunca encontrásseis.
Portanto, que vossa visita a esse templo invisível não tenha nenhuma outra finalidade senão o êxtase e a doce comunhão.
Pois se penetrardes no templo unicamente para pedir, nada recebereis.
E se nele entrardes para vos curvar, ninguém vos erguerá.
E mesmo se aí fordes para mendigar favores para outros, não sereis atendidos.
É bastante que entreis no templo invisível.
Não vos posso ensinar a rezar com palavras.
Deus não escuta vossas palavras, exceto quando Ele próprio as pronuncia através de vossos lábios.
E não vos posso ensinar a oração dos mares e das florestas e das montanhas.
Mas vós que nascestes das montanhas, e das florestas, e dos mares, podeis encontrar suas preces no vosso coração.
E se somente escutardes na quietude da noite, ouvi-los-ei dizendo em silêncio:
"Deus nosso, que és nosso Eu alado, é Tua vontade em nós que quer.
É Teu desejo em nós que deseja.
É Teu impulso em nós que pode transformar nossas noites, que Te pertencem, em dias que, também Te pertencem.
Nada Te podemos pedir, pois Tu conheces nossas necessidades antes mesmo que nasçam em nós. Tu és nossa necessidade; e dando-nos mais de Ti, Tu nos dás tudo."




"O Profeta" de Khalil Gibran
Fonte:yogaensinamentos
 
A TEOSOFIA DO SINAL DA CRUZ


O Significado Universal
de um Velho Símbolo Cristão
 
Um diamante não perde seu significado ou seu valor por estar enterrado no solo e no barro; tampouco o ouro ou qualquer pedra preciosa. Assim, o fato de que algo bom seja esquecido ou ignorado não pode diminuir o seu valor, ao contrário, torna-o ainda mais valioso.

O mesmo ocorre com a sabedoria antiga e a filosofia esotérica, que ainda hoje dormem, em um berço nem sempre esplêndido, sob a superfície rotineira dos dogmas cristãos da idade média. Existe, por exemplo, uma versão esotérica, rara e esquecida da oração “Pai Nosso”, e ela foi publicada por H. P. Blavatsky no século 19. [1]

Vamos abordar agora o significado esotérico e profundo de outro elemento cotidiano da cristandade: o sinal da cruz. Há séculos ele tem sido usado em todo o mundo. Na verdade ele tem origem cabalística e possui um significado amplo, filosófico, livre de qualquer relação com crenças supersticiosas.

Em “Ísis Sem Véu” – uma das duas obras monumentais da filosofia esotérica – H.P. Blavatsky mostra em detalhes o processo pelo qual o cristianismo de Roma apropriou-se dos antigos conhecimentos das tradições “pagãs” de sabedoria e, em seguida, passou a perseguir estas mesmas tradições (inclusive a tradição judaica), destruindo suas obras escritas e matando os seus mestres e alunos. Item por item, HPB vai demonstrando que a teologia romana cristã é, na verdade, “pagã”.

E escreve:

“Seria realmente muito doloroso tirar de Roma, de uma única vez, todos os seus símbolos; mas é preciso fazer justiça aos hierofantes despojados. Muito tempo antes que o sinal da Cruz fosse adotado como símbolo cristão, ele era empregado como um sinal secreto de reconhecimento pelos neófitos e pelos adeptos.”

Em seguida, HPB cita palavras de Eliphas Levi, em sua obra “Dogma e Ritual da Alta Magia”:

“O sinal da cruz adotado pelos cristãos não pertence exclusivamente a eles. Ele é cabalístico e representa as oposições e o equilíbrio quaternário dos elementos. Constatamos, na estrofe oculta do Pater, à qual aludimos em volume anterior desta obra, que havia originalmente duas maneiras de fazê-lo, ou, pelo menos, duas fórmulas muito diferentes para expressar o seu significado; uma reservada aos sacerdotes e aos iniciados; e outra, comunicada aos neófitos e aos profanos. Assim, por exemplo, o iniciado, levando a mão à fronte, dizia: ‘A ti’; então ele acrescentava; ‘pertencem’; e continuava, enquanto levava a mão ao peito – ‘o reino’; depois, ao ombro esquerdo; ‘a justiça’; e ao ombro direito; ‘a compaixão’. Então ele juntava as mãos e acrescentava: ‘Através dos ciclos da geração: Tibi sunt Malkhuth, et Gerburah et Hesed, per Aeonas’ – um sinal da Cruz total e magnificamente cabalístico, que as profanações do gnosticismo fizeram a Igreja praticante e oficial perder por completo.” [2]

Até aqui, Eliphas Levi, citado por HPB. Vejamos agora, ponto por ponto, algo sobre o significado deste gesto simbólico e das palavras cabalísticas associadas a ele: “A ti pertencem o reino, a justiça e a compaixão. Através dos ciclos de geração.”

1) “A ti pertencem” – As palavras “a ti” se referem a Atma, o sétimo princípio da anatomia oculta do ser humano. Este é o princípio supremo imortal, o eu superior que vive em unidade com a lei do universo, simbolicamente situado na testa.

2) “o reino,” – Ou seja, o reino dos céus, situado no peito ou no coração. Esta é a consciência do mundo divino, a luz espiritual, Buddhi, o sexto princípio da compreensão universal das coisas, o amor universal.

3) “a justiça e a compaixão.” – Estes são os dois pratos da balança. O reino dos céus (consciência divina) é feito de justiça e compaixão, e para afirmar-se ele necessita do equilíbrio entre estes dois fatores. Qualquer uma destas duas virtudes só pode existir com base na outra. Sem justiça, a compaixão é falsa. Sem compaixão, a justiça é falsa. Sem justiça e compaixão, não há consciência divina (reino dos céus). O amor universal é feito de justiça e compaixão. É graças às duas virtudes (inseparáveis do discernimento) que o estudante tem acesso ao princípio Supremo e superior (Atma), simbolicamente situado na testa.

4) “Através dos ciclos da geração.” – As palavras “os ciclos da geração” se referem ao caráter cíclico do tempo eterno e mais especificamente à reencarnações de cada individualidade humana. Aqui a sabedoria da Cabala aponta para a “doutrina dos ciclos”, uma parte essencial da teosofia.

Os dois ombros humanos simbolizam a responsabilidade do indivíduo diante da vida. É a combinação de justiça (ombro esquerdo) e compaixão (ombro direito) que permite ter força e estabilidade ao longo de uma encarnação.

O sinal da cruz cabalístico aciona quatro fatores, e tem relação direta com os quatro elementos (fogo, água, terra e ar). Ele também se refere à Tetraktis ou Tétrade sagrada dos pitagóricos; aos quatro pontos cardeais; e ao Tetragrammaton, o nome de quatro letras da divindade na tradição mística judaico-cristã (IHVH).

A dimensão geométrica e o significado interior do sinal da cruz têm fortes correlações com a filosofia maçônica e a sabedoria salomônica. O templo de Salomão, esotericamente, simboliza o corpo humano.

Para a filosofia antiga e teosófica, como para o cristianismo autêntico, o corpo humano é o grande templo, e os templos físicos são apenas símbolos externos dele. O corpo é a casa do Espírito: “o Espírito está dentro de nós”. Em I Coríntios 3:16, o Novo Testamento afirma: “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” E em II Coríntios 16, lemos: “Porque vós sois o templo vivo de Deus”.

Segundo a tradição, o templo de Salomão está voltado para o Leste e possui duas colunas, chamadas de “Boaz” e “Jachim”. Idealmente, ao fazer o sinal da cruz, o estudante de sabedoria divina não só se reconhece como um templo vivo, mas também está voltado fisicamente para o Leste, o Nascente. Seus ombros e braços correspondem às colunas. O termo “Boaz”, que corresponde ao ombro esquerdo ou coluna Norte, significa “na força” ou “em fortaleza”. O termo “Jachin”, que corresponde ao ombro direito ou coluna Sul, combina uma abreviatura de “Jeová” (Divindade) com um termo que significa “Estabelecer”.

Assim, quando fazemos a correlação do sinal da cruz cabalístico-cristão com a tradição salomônica e maçônica, vemos o seguinte:

“O reino dos céus (Jeová, a Sabedoria Divina) tem força, isto é, se estabelece como uma fortaleza, quando tem por base a Justiça.”

Quando reconhecemos o corpo humano como um templo, isto é, um invólucro externo de uma presença divina interior, podemos perceber a relação prática entre o sinal da cruz cabalístico e outro campo de conhecimento, a Filosofia da Ioga.

Vejamos, passo a passo, como se dá esta correlação. Inicialmente, enquanto o devoto pronuncia ou pensa as palavras “A ti pertencem”, o sinal da cruz ativa a testa, um ponto intermediário entre os dois chacras superiores, respectivamente localizados no alto da cabeça (chacra Sahasrara) e entre os dois olhos (chacra Ajna).

A seguir, enquanto o devoto pronuncia as palavras “o reino”, o sinal da cruz toca uma parte do corpo que se refere ao chacra Anahata, localizado no coração. Em seguida, o estudante toca os dois ombros, pronunciando, respectivamente, as palavras “a justiça” (ombro esquerdo) e “a compaixão” (ombro direito).

Os dois ombros simbolizam as duas correntes energéticas ou “colunas” (Nadis) que ligam os chacras, segundo a ioga. Uma das correntes é positiva e ativa: a Justiça. A outra é compreensiva e contemplativa: a Compaixão.

Finalmente, ao unir as duas mãos enquanto pronuncia as palavras “Através dos ciclos de geração”, o devoto fecha o círculo harmonizando simbolicamente os dois hemisférios cerebrais, os dois nadis e as correntes yang e yin em sua natureza interior.

Esta visão esotérica do sinal da cruz vai além de mostrar a relação viva que há entre o corpo e a alma, ou entre o templo e o espírito. A prática original do sinal da cruz é, também, um modo ativo e consciente de expressar o compromisso do indivíduo atento com a consciência universal.

Através do verdadeiro sinal de cruz, que nada tem a ver com superstições, o indivíduo se estabelece simbolicamente na consciência divina. Ele assume por mérito próprio “o poder que o faz parecer nada aos olhos dos outros”. Ele assume o poder de estar em união fraterna com a Lei Universal e com todos os seres.



Carlos Cardoso Aveline




NOTAS:

[1] O texto está em nossos websites associados sob o título de “O Pai Nosso da Filosofia Esotérica”.

[2] “Ísis Sem Véu”, Ed. Pensamento, SP, quatro volumes, volume III, p. 84. Veja também a edição brasileira de “Dogma e Ritual da Alta Magia”, de Elipas Levi, Ed. Pensamento, SP, 466 pp., mais especificamente a página 269. Ao citar este trecho, levei em conta a edição original em inglês de “Ísis Sem Véu”, de HPB: “Isis Unveiled”, Theosophy Co., Los Angeles, volume II, p. 87.


sábado, 27 de maio de 2017

POR QUE EXERCITAR O ATO 
DA ESCUTA ATENTA ?


 
Vá a um templo JAINA e você verá vinte e quatro estátuas dos TIRTÂNKARAS JAINAS — as pessoas que são como Jesus, Buda, Zarathustra — e você se surpreenderá: eles parecem ser exatamente o mesmo. Não é possível: você não pode encontrar vinte e quatro pessoas exatamente iguais. Nem JAINAS podem fazer a distinção de quem é quem. Eles não podem dizer quem é Mahavira e quem é Neminath e quem é Parshwanath e quem é o primeiro e quem é o último, porque eles parecem absolutamente iguais — os mesmos rostos, os mesmos narizes, os mesmos olhos, os mesmos corpos, a mesma posição. Para distinguir que eles são pessoas diferentes, os JAINAS descobriram os símbolos: o símbolo mostra um leão ou algo assim, que demonstra de quem é a estátua.

Por que eles a fizeram iguais? Certamente elas não são históricas. Elas são iguais porque os escultores jainas não estavam interessados na História, eles estavam interessados no FENÔMENO INTERIOR. Aqueles homens tinham atingido à MESMA EXPERIÊNCIA... — como representar isso? E como representá-lo em mármore? Eles atingiram à mesma IMOBILIDADE, ao mesmo CENTRAMENTO, ao mesmo FUNDAMENTO, à mesma CRISTALIZAÇÃO. Daí, as estátuas iguais — a mesma posição, o mesmo corpo representando algo do MUNDO INTERIOR — o mesmo estado espiritual, o mesmo SAMADHI.

Você se surpreenderá sobre muitas coisas, ao olhar aquelas vinte e quatro tirtânkaras e suas estátuas. Você verá que suas orelhas são muito grandes, seus lóbulos encostam-se nos ombros. Você não encontrará orelhas assim. Isso representa algo: diz que aquelas pessoas atingiram seu supremo estado de consciência PELO OUVIR ABSOLUTO — ouvir as canções dos pássaros, ouvir o vento passando entre os pinheiros, ouvir o som das águas, ouvir silenciosamente TUDO QUE VAI ACONTECENDO AO SEU REDOR.

Ouvir era o método deles. Assim como o método budista é o de observar a respiração, o método JAINA é o de ouvir os sons. Ouvir corretamente é o suficiente. Se a pessoa puder ouvir SEM O TAGARELAR INTERIOR DA MENTE, se a mente tornar-se completamente calma... este cão latindo lá longe, ou o pássaro piando. Se você puder apenas ouvir SEM PENSAR, sem pensar nem que "o cão está latindo", "os passarinhos estão piando", APENAS OUVIR SEM NENHUM PENSAMENTO, SEM QUALQUER INTERPRETAÇÃO, você atingirá cada vez mais e mais profundos reinos de silêncio: atingirá à suprema consciência.

Qualquer espécie de consciência alerta conduz ao Supremo. Ora, a consciência alerta pode vir dos sentidos, de qualquer um dos cinco. Você poderá ouvir música e funcionará... pode ouvir qualquer coisa e funcionará. Pode olhar as nuvens e o pôr-do-sol e os pássaros voando no espaço e, ao ver, funcionará. O único ponto a ser lembrado é este: SUA MENTE NÃO PODE FUNCIONAR — seus sentidos não podem ficar anuviados pela mente.

Para representar isso, as longas orelhas. Ora, como representar em mármore o método de ouvir? Esta é uma bela representação. Mas há tolos eruditos jainas, tão tolos quanto os cristãos, que pensam que todo tirtânkara tem aquelas longas orelhas — sem as tais longas orelhas, não pode ser um tirtânkara. Tirtânkara quer dizer exatamente o mesmo que Buda, ou Cristo — essa é a terminologia jaina. Isso é estupidez, falta de compreensão, abordagem nada compreensiva. E depois, isso pode ser cristalizado muito facilmente.


 
Osho
Fonte:pensarcompulsivo
 
 
 
A IMPORTÂNCIA DA ATENÇÃO
 
Você não é honesto nem desonesto; dar nome a estados mentais só serve para expressar sua aprovação ou desaprovação. O problema não é seu, é só de sua mente. Comece por dissociar-se de sua mente. Recorde-se absolutamente que você não é a mente, e que os problemas da mente não são seus. 
 
Seja consciente de si mesmo, vigie sua mente, dê a ela toda sua atenção. Não busque resultados rápidos; pode ser que não note nenhum. Sem que você saiba, sua psique mudará, haverá mais claridade em seu pensamento, mais claridade em seus sentimentos, mais pureza em sua conduta. Não tem que tratar de consegui-lo, ainda assim você testemunhará a mudança. 
 
Porque o que você é agora é a falta de atenção, e o que virá será o fruto da atenção. Até agora sua vida foi obscura e inquieta. A atenção, o estado de alerta, a Consciência, a claridade, a vivacidade, a vitalidade, todas são manifestações de integridade, de unidade com sua verdadeira natureza. 
 
A verdadeira natureza é neutralizar a obscuridade e a inquietação e reconstruir a personalidade de acordo com a verdadeira natureza do Ser. A unidade com a verdadeira natureza é o servente fiel do ser, sempre atento e obediente. 
 
A atenção quer dizer interesse e amor. Para conhecer, fazer, descobrir, ou criar, você deve dar o seu coração a ela, que significa atenção. Todas as bênçãos fluem dela.
 
Dedique toda sua atenção aquilo que é mais importante em sua vida: você mesmo. No seu universo pessoal você é o centro; sem conhecer o centro, o que pode conhecer?
 
O problema da humanidade não é outro senão o mau uso da mente. Todos os tesouros da natureza e do espírito estão abertos para o homem que utiliza a mente de forma correta.
 
 
Nisargadatta Maharaj
Fonte:pensarcompulsivo