Translate

sexta-feira, 31 de março de 2017

O SÁBIO QUE VIVE A VIDA
NOS OFENDE


 "Corrija um sábio e o fará mais sábio. 
Corrija um tolo e o fará teu inimigo". 
 

Justamente porque o ego, a alma e o Eu (Self) podem estar presentes ao mesmo tempo, não será difícil entender o sentido verdadeiro de “ausência do ego” – expressão que tem causado imensa confusão. Ausência do ego não significa a ausência de um eu (self) funcional (o que seria próprio de um psicótico e não de um sábio); significa que não estamos mais exclusivamente identificados com aquele eu.

Um dos muitos motivos de não sabermos lidar com a noção de “ausência do ego” é que desejamos que nossos “sábios sem ego” satisfaçam às nossas fantasias relativas a “santidade” ou “espiritualidade”, que habitualmente significa que essas pessoas estejam mortas do pescoço para baixo, livres das vontades ou desejos da carne, eternamente sorridentes. Desejamos que esses santos não passem por todas as coisas que nos incomodam – dinheiro, comida, sexo, relacionamentos, desejos. “Sábios sem ego” estão “acima de tudo isso” – assim desejamos. Queremos cabeças que falem. Acreditamos que a religião bastará para livrá-los de todos os instintos básicos, de todas as formas de relacionamento, considerando a religião, não como orientação para viver a vida com entusiasmo, mas, sim, como guia para evitá-la, reprimi-la, negá-la, fugir dela.

Em outras palavras, o homem típico espera que o sábio espiritual seja “menos que uma pessoa”, de alguma forma liberto dos impulsos confusos, difusos, complexos, pulsantes, compulsivos, que guiam a maior parte dos seres humanos. Esperamos que nossos sábios sejam a ausência de tudo o que nos impulsiona. Queremos que não sejam sequer tocados por todas as coisas que nos atemorizam, que nos confundem, que nos atormentam, que nos atordoam. É a essa ausência, a essa falta, a esse “menos que uma pessoa” que, frequentemente, chamamos “sem ego”.

Entretanto, “sem ego” não significa “menos que uma pessoa”; significa “mais que uma pessoa”. Não pessoa menos, mas pessoa mais – isto é, todas as qualidades normais da pessoa mais algumas transpessoais. Pensemos nos grandes iogues, santos e sábios – de Moisés a Cristo, a Padmasambhava. Não foram desfibrados maneirosos, mas dinâmicos e instigantes – desde o episódio dos vendilhões do Templo até a imposição de novos rumos a nações inteiras. Lidaram com o mundo em seus próprios termos, não em termos de uma piedade melosa; muitos deles provocaram revoluções sociais significativas, que se estenderam por milhares de anos. E assim fizeram, não porque tivessem evitado as dimensões físicas, emocionais e mentais da humanidade, e o ego, que é o veículo de todas elas, mas porque as assumiram com tal garra e intensidade que sacudiram as próprias fundações do mundo. Indiscutivelmente, estavam também intimamente ligados com a alma (o psiquismo mais profundo) e o espírito (o Eu informe) – fonte última de sua força – mas expressaram essa força e tiraram dela resultados concretos, exatamente porque assumiram, decididamente, as dimensões menores através das quais ela poderia expressar-se de modo a ser sentida por todas as pessoas.

Esses grandes mobilizadores e agentes de mudança não foram egos pequenos; foram, na mais completa acepção do termo, grandes egos, justamente porque o ego (veículo funcional do domínio da mente) pode existir e de fato existe com a alma (veículo do sutil) e o Eu (veículo do causal). Na mesma medida em que esses grandes mestres mobilizaram o domínio da mente, eles mobilizaram o próprio ego, porque o ego é o veículo desse reino. Entretanto, não se identificavam meramente com seu ego (isso seria narcisismo); simplesmente perceberam seu ego conectado a uma fonte Cósmica radiante. Os grandes iogues, santos e sábios conseguiram tanto, exatamente porque não foram tímidos bajuladores, mas grandes egos ligados ao seu Eu superior, animados pelo puro Atman (o puro Eu – eu ) que é um com Brahman; abriram a boca e o mundo estremeceu, caiu de joelhos e pôde ver face a face o Deus radioso.

Santa Teresa não foi uma grande contemplativa? Sim, e Santa Teresa foi a única mulher que reformou uma tradição monástica inteira (pensemos nisso). Gautama Buda sacudiu a Índia nos seus fundamentos. Rumi, Plotino, Bodhidharma, Lady Tsogyal, Lao Tsé, Platão, o Baal Shem Tov – estes homens e mulheres deram início a revoluções no mundo que duraram centenas, às vezes milhares de anos – coisa que nem Marx, nem Lenin, nem Locke, nem Jefferson, poderiam afirmar ter conseguido. E não agiram assim porque estivessem mortos do pescoço para baixo. Não, eles eram fantasticamente, divinamente grandes egos, ligados profundamente ao psíquico, que estava diretamente ligado a Deus.

Existe certa verdade na noção do transcender o ego: não significa destruir o ego, mas, sim, conectá-lo a alguma coisa maior. Como afirma Nagarjuna , no mundo relativo, Atman é real; no absoluto nem Atman nem anatman são reais. Assim, em nenhum caso annatta corresponde a uma descrição correta da realidade. O pequeno ego não se evapora; permanece como o centro funcional da atividade no domínio convencional. Como eu disse, perder esse ego significa tornar-se um psicótico, não um sábio.

“Transcender o ego”, significa, pois, em verdade, transcender mas incluir o ego num envolvimento mais profundo e mais elevado, primeiro na alma ou psiquismo mais profundo, depois na Testemunha ou Eu superior e, então, após a absorção nos níveis precedentes, envolver-se, incluir-se e abraçar-se na radiância do Um Sabor. E isto não significa, portanto, “livrar-se” do pequeno ego, mas, ao contrário, habitar nele plenamente, vivê-lo com entusiasmo, usá-lo como veículo necessário, através do qual as grandes verdades podem ser transmitidas. Alma e espírito incluem o corpo, as emoções e a mente; não os eliminam.

Grosseiramente, podemos dizer que o ego não é uma obstrução ao Espírito, mas uma radiosa manifestação do Espírito. Todas as Formas não são senão o Vazio, inclusive a forma do próprio ego. Não é necessário livrar-se do ego, mas, simplesmente, vivê-lo com certa intensidade. Quando a identificação transborda do ego no Cosmos em geral, o ego descobre que o Atman individual é, de fato, da mesma espécie de Brahman. O Eu superior não é, em verdade, um pequeno ego, e, assim, no caso de estarmos presos ao nosso pequeno ego, a morte e a transcendência são necessárias. Os narcisistas são, simplesmente, pessoas cujos egos não são ainda suficientemente grandes para abraçar o Cosmos inteiro e, para compensar, tentam tornar-se o próprio centro do Cosmos.

Não queremos que nossos sábios tenham grandes egos; sequer desejamos que exibam qualquer característica evidente. Sempre que um sábio se mostra humano – a respeito de dinheiro, comida, sexo, relacionamentos – sentimo-nos chocados, porque estamos planejando fugir inteiramente da vida, e o sábio que vive a vida nos ofende. Queremos estar fora, queremos ascender, queremos escapar, e o sábio que assume a vida com prazer, vive-a totalmente, pega cada onda da vida e surfa nela até o fim – nos perturba e nos assusta intensamente, profundamente, porque significa que nós, também, deveríamos assumir a vida com prazer, em todos os níveis, e não simplesmente fugir dela numa nuvem etérea, luminosa. Não queremos que nossos sábios tenham corpo, ego, impulsos, vitalidade, sexo, dinheiro, relacionamentos ou vida, porque essas são coisas que habitualmente nos torturam e queremos vê-las longe de nós. Não queremos surfar as ondas da vida, queremos que as ondas desapareçam. Queremos uma espiritualidade feita de fumaça.

O sábio completo, o sábio não dual está aqui para mostrar-nos o contrário. Geralmente conhecidos como “tântricos”, estes sábios insistem em transcender a vida, vivendo-a. Insistem em procurar libertação no envolvimento, encontrando o nirvana no meio do samsara , encontrando a liberação total pela completa imersão. Passam com consciência pelos nove círculos do inferno, certos de que em nenhum outro lugar encontrarão os nove círculos do céu. Nada lhes é estranho porque nada existe que não seja Um Sabor.

Na verdade, o segredo consiste em estar inteiramente à vontade no corpo e com seus desejos, com a mente e suas ideias, com o espírito e sua luz. Assumi-los inteiramente, plenamente, simultaneamente, uma vez que todos são igualmente manifestações do Um e Único Sabor. Vivenciar a paixão e vê-la funcionar; penetrar nas ideias e acompanhar seu brilho; ser absorvido pelo Espírito e despertar para a glória que o tempo esqueceu de nomear. Corpo, mente e espírito, totalmente contidos, igualmente contidos, na consciência eterna que é a essência de todo o espetáculo.

Na quietude da noite, a Deusa sussurra. Na luminosidade do dia, Deus amado brada. A vida pulsa, a mente imagina, as emoções ondulam, os pensamentos vagam. O que são todas estas coisas senão movimentos sem fim do Um Sabor, eternamente jogando com suas próprias manifestações, sussurrando mansamente a quem quiser ouvir: isto não é você mesmo? Quando o trovão ruge, você não ouve o seu Eu? Quando irrompe o raio, você não vê o seu Eu? Quando as nuvens deslizam mansamente no céu, não é o seu próprio Ser ilimitado que está acenando para você?

 
 
Ken Wilber, em One Taste
Fonte: pensarcompulsivo
 
 
 
"A única maneira de enfrentar a vida é rindo. Pode-se rir ou chorar diante dos problemas. Eu prefiro rir. Chorar me dá dor de cabeça".  (Marjorie Pay Hinckley)  O verdadeiro sábio é simples e alegre o tempo todo.
 

quinta-feira, 30 de março de 2017

MOMENTOS COM OSHO



O que você vai levar consigo ?

Amanhã é a morte. Você é como a folha amarelada. O próximo momento é a morte. O que você vai levar com você? Você conseguiu algo que pode levar com você? Se não conseguiu nada, então sua vida foi puro desperdício. Você pode ter acumulado muita riqueza, se tornado famoso, porém tudo isso é fútil. Você não pode levar isto com você. Seus diplomas, seus títulos, seus prêmios, tudo será deixado para trás. Você irá completamente sozinho. Há algo que você pode levar com você?

Há somente uma coisa que você pode levar com você, e isso é riqueza verdadeira . Buda a chama de meditação, atenção consciente,observação plena,  consciência. Se você se torna mais e mais consciente, você pode levar essa consciência total com você. Mas você está vivendo uma vida muito, muito inconsciente. Toda sua vida é mecânica, você simplesmente continua repetindo. Você não está vivendo de verdade, você está sendo vivido por desejos inconscientes.

Buda diz: ‘Meditação é a única riqueza’, porque você pode levá-la para além da morte. De fato ele diz que este é o critério: se algo pode ser levado além da morte, é riqueza verdadeira. Se não pode ser levado além da morte, não é riqueza verdadeira, é decepção. E você não só está enganando outros, mas também a si mesmo. E quando a morte bater na sua porta, você lamentará, chorará, porém nada pode ser feito.
 
 
Não Faça Nada Inconscientemente
 
As pessoas estão vivendo através de fantasias, fantasias absurdas. Olhe para suas próprias fantasias e elas todas serão ridículas. Mas você nunca acha suas próprias fantasias ridículas, é mais fácil ver as fantasias dos outros como ridículas. Observe suas próprias fantasias. O que você quer de sua vida? Pelo que você está vivendo? Qual é seu programa, seu planejamento nesta terra? Por que você quer continuar vivo amanhã? Simplesmente olhe para suas fantasias. Se lhe forem dados somente sete dias para viver, como vai preencher esses sete dias? Com o quê? Escreva suas fantasias, não seja astuto e nem esperto, seja completamente verdadeiro, e você verá que todas as suas fantasias são ridículas. Mas é assim que as pessoas estão vivendo.

‘Esta vida’ - Buda falou - ‘nada é além de sofrimento’. Ele concorda com Sócrates. Sócrates diz: ‘Uma vida não observada não vale a pena viver’. E Buda diz: ‘Uma vida não observada não é nada além de sofrimento’. Essa é a primeira verdade nobre.

A segunda verdade nobre é: quem segue o caminho se torna consciente dela – é: ...o começo do sofrimento... a causa do sofrimento. A causa é o desejo, desejo por mais. Primeiro, ele experiência que toda sua vida está cheia de sofrimento, então, se torna consciente que a causa daquele sofrimento é o desejo. Aqueles que escaparam da roda dos desejos não estão em sofrimento, eles estão completamente extáticos. Mas aqueles que estão apegados à roda, são esmagados por muitos desejos.

A primeira verdade é: vida é sofrimento. A segunda verdade é: a causa do sofrimento é o desejo, desejo por mais. A terceira verdade é: o caminho óctuplo. Buda diz que essa é toda a sua abordagem para a transformação de seu ser pode ser dividida em oito etapas – o caminho óctuplo. E todos esses passos não são nada além de diferentes dimensões de um fenômeno simples: mindfulness correta, sammasati. O que quer que você esteja fazendo, faça absolutamente consciente, alerta, com consciência. Esses oito passos não são nada exceto aplicações da consciência plena nos diferentes aspectos da vida. Buda chama isso de plenitude mental correta. Não faça nada inconscientemente.
 
 
Isto Tem Que Ser Lembrado: Que “Eu Sou Real”
 
Você pergunta: ‘Há alguma coisa que necessito lembrar?’ É de si próprio. A lembrança de si mesmo é necessária. Buda chamava isto de mindfulness correta, sammasati; Mahavira a chamava vivek, consciência plena; George Gurdjieff a chamava lembrança de si mesmo, Kabir a chamava de surati. Mas todos eles exprimem a mesma coisa.

Você não sabe quem você é. Você é – isso é certo. Na Verdade só isso é certo e nada mais. A existência de outros não é certa...

O mundo pode ser ilusão, mas quem é uma ilusão? Pelo menos alguma consciência é necessária, absolutamente necessária, categoricamente necessária; sem alguma consciência a ilusão não pode existir. A corda pode não ser a serpente, a serpente talvez seja a ilusão. Mas a pessoa que tem a ilusão não é uma ilusão.

Isto tem que ser lembrado: que ‘Eu sou real’. Isto tem que ser lembrado: que ‘Eu sou a única realidade segura, – tudo o mais pode ser, pode não ser’.

Nós nunca procuramos internamente por esta realidade absoluta, e nós continuamos vivendo uma vida sem baseá-la sobre esta pedra de certeza. Consequentemente nossas vidas são somente castelos no ar, ou no máximo, castelos de areia – assinaturas feitas na água, você nem a completou, e a assinatura se foi. Nossas vidas são assim: um momento, estamos aqui; outro momento, nos fomos, e esse momento poderia ter sido usado para a lembrança de si mesmo.

Somente pessoas que usam sua vida para a lembrança de si estão usando esta grande oportunidade.

Um homem encontra um velho amigo que se tornou um bêbado. ‘Mas por que você bebe tanto?’‘ ele pergunta.

‘Para esquecer’, o bêbado responde.

‘Para esquecer o quê?’ pergunta seu amigo.

‘Oh’, diz o bêbado, coçando a cabeça, ‘eu esqueci’.

Estamos neste esquecimento, nós somos este esquecimento.

 
Fonte: http://www.osho.com
 

quarta-feira, 29 de março de 2017

A MENSAGEM ESTÁ ALÉM 
DO SÍMBOLO FONÉTICO


 
Para mim, a meditação tem dois passos: primeiro, um ativo (que não é, realmente, de modo algum, meditação) e segundo, um completamente não ativo (a consciência passiva, que é, realmente, meditação). A consciência, ou conhecimento, é sempre passiva, e, no momento em que te tornas ativo perdes teu conhecimento. É possível estar ativo e consciente apenas quando a consciência chegou a um tal ponto que agora já há, necessidade da meditação para conquistá-la, ou conhecê-la, ou senti-la. Quando a meditação se torna inútil, tu, simplesmente, pões de lado a meditação. Agora, estás consciente. Só então podes estar ao mesmo tempo consciente e ativo — de outra maneira não é possível. Enquanto a meditação ainda for necessária, não serás capaz de estar consciente durante a atividade. Mas, quando a meditação já não é necessária...

Se tu te tornas meditação, já não precisarás dela. Então, podes ser ativo, mas mesmo nessa atividade és sempre o espectador passivo. Agora, jamais és o ator: és, sempre, uma consciência que testemunha.

A consciência é passiva... e a meditação está fadada a ser passiva porque é apenas uma porta para a consciência — a perfeita consciência. Assim, quando as pessoas falam em meditação "ativa", estão erradas. Meditação é passividade. Podes precisar de alguma atividade, de algum "fazer" para chegar a ela — isso pode ser compreendido — mas isso não se dá porque a meditação seja, em si, ativa. Isso, antes, se dá, porque estiveste ativo em tantas e tantas vidas — a atividade tornou-se de tal forma parte e parcela de tua mente — que precisas até mesmo da atividade para alcançar a não-atividade.

Estivestes tão envolvido em atividade que não podes abandoná-la. Assim, pessoas como Krishnamurti podem continuar a dizer: "Abandone isso", mas continuarás a perguntar como abandonar isso. Krishnamurti dirá: "Não perguntes como. Estou dizendo que abandones isso! Não há um 'como' para tanto. Não há necessidade de nenhum 'como'."

De certa forma ele está certo. Consciência passiva ou meditação passiva não têm um "como". Não podem ter, porque se houver um "como" então não pode ser passiva. Mas está certo, também, porque não leva em conta seu ouvinte. Ele está falando de si próprio.

A meditação se faz sem "como", sem tecnologia, sem qualquer técnica. Assim, Krishnamurti está totalmente correto, mas o ouvinte não foi levado em conta. O ouvinte nada mais tem senão atividade; para ele, tudo é atividade. Assim, quando dizes "A meditação é passiva, não-ativa, sem escolha. Podes apenas estar nela. Não há necessidade de esforço, de nenhum esforço, ela é sem esforço", estás falando uma linguagem que o ouvinte é capaz de entender. Ele entende a parte linguística do que dizes — e isso é que torna tudo tão difícil. Ele diz: "Intelectualmente, compreendo tudo. Tudo o que o senhor está dizendo está sendo inteiramente compreendido", mas ele é incapaz de compreender o significado.

Não há nada de misterioso nos ensinamentos de Krishnamurti. Ele é o menos místico dos mestres. Nada há de misterioso! Tudo é obviamente claro, exato, analisado, lógico, racional, de forma que todos podem entender. E isso tornou-se uma das grande barreiras, porque o ouvinte pensa que compreendeu. Compreendeu a parte linguística, mas não compreende a linguagem da passividade.

Compreende o que lhe está sendo dito — as palavras. Ouve-as, compreende-as, conhece o sentido daquelas palavras. Faz correlações. Um quadro inteiramente correlato vem à sua mente. O que está sendo dito é compreendido, há uma comunicação intelectual. Mas ele não compreende a linguagem da passividade. Não pode compreender. Só pode compreender a linguagem da ação — da atividade.

 
Osho
 
Fonte: blogdoosho
 

terça-feira, 28 de março de 2017

OBSTÁCULOS E OPORTUNIDADES
 
A Maior Oportunidade ao Nosso Alcance
É o Cumprimento dos Nossos Deveres Atuais
 
 
Transformar fatos aparentemente negativos
em potencialidades para o bem é o primeiro
e o último passo no caminho da Sabedoria.

 
A existência humana, observada desde o ponto de vista convencional, consiste num fluxo incessante de fatos variados, em uma combinação sempre mutável de circunstâncias. Cada ser humano classifica as circunstâncias como boas ou más, favoráveis ou desfavoráveis, e vê nelas obstáculos ou oportunidades, conforme elas parecem ajudar ou atrapalhar a obtenção de determinada meta para a qual está voltado o indivíduo.

O resultado natural desta visão da vida é uma luta incessante para aproveitar oportunidades e evitar obstáculos, e as pessoas chamam isso de “luta pela sobrevivência”.

Trata-se de uma luta, sem dúvida, e uma luta sem esperança, enquanto for feita qualquer distinção entre acontecimentos e circunstâncias favoráveis e desfavoráveis, e enquanto for alimentado esse erro básico de percepção sobre o significado e o propósito da vida.

Se vivemos num Universo regido pela Lei, então todos os acontecimentos e circunstâncias que um ser humano enfrenta são o resultado exato de causas colocadas em movimento por ele mesmo [1].

As circunstâncias não são nada mais e nada menos do que os meios – e os únicos meios eficazes – pelos quais o indivíduo pode experimentar conscientemente a natureza das suas ações, e assim conseguir conhecimento de primeira mão. Os acontecimentos e as circunstâncias são apenas lições criadas por ele mesmo e que tornam possível para ele erguer-se, de acordo com a Lei, através dos diversos níveis daquela grande Escola de autoaprendizado que nós chamamos de existência humana.

Reconhecer que isso deve ser assim é comparativamente fácil para quem já percebeu que o ensinamento teosófico sobre a absoluta universalidade da lei faz todo sentido. Mas compreender de fato que é isso o que ocorre implica muito mais do que uma compreensão intelectual da Lei. Para isso é necessária uma completa autoidentificação com o funcionamento da Lei.

Se alguns acontecimentos e circunstâncias ainda podem ser percebidos por nós como “ruins”, como “desfavoráveis”, ou como “obstáculos”, nós ainda temos que aprender o ABC da Vida. Podemos reconhecer mentalmente que a Lei governa o universo, mas ainda temos que compreender o funcionamento desta lei dentro de nós mesmos.

Se os acontecimentos atuais parecem ser obstáculos, se as circunstâncias atuais parecem desfavoráveis, se o cumprimento dos nossos deveres atuais parece atrapalhar-nos, então há alguma coisa errada; não com os nossos deveres atuais, mas com a nossa concepção de dever; não com as circunstâncias atuais, mas com o modo como usamos as circunstâncias; e não com os acontecimentos atuais, mas com a nossa atitude diante de todos os acontecimentos.

Nós costumamos pensar que alguns fatos são favoráveis e outros desfavoráveis? Se pensamos isso, tanto os fatos favoráveis como os desfavoráveis estão obstaculizando o nosso verdadeiro Poder de Percepção.

Imaginamos que as circunstâncias são uma questão de boa ou má sorte? Neste caso, permanecemos como escravos das circunstâncias, e não compreendemos o nosso Poder Divino de Escolha.

Vemos o Dever como algo imposto a nós desde fora para dentro? Neste caso, cada dever nosso funciona como obstáculo, impedindo-nos de despertar a Vontade Espiritual.

Pensamos que a vida é feita de obstáculos e oportunidades? Então continuamos lamentando e comemorando, e lamentando de novo, e outra vez comemorando, ao invés de aprender com ambas as situações, compreendendo o significado e o propósito da existência humana.

Desde o ponto de vista da Alma, há um único obstáculo verdadeiro, e ele é a nossa dificuldade de ver, em tudo o que nos acontece, uma lição a ser aprendida, e, portanto, uma oportunidade de ouro para aumentar a nossa força e a nossa compreensão. Seria possível adquirir conhecimento, sem eliminar a ignorância? Seria possível obter força, sem vencer a fraqueza? Seria possível ter oportunidades, sem vencer obstáculos? A fraqueza vencida é a força. A ignorância eliminada é o conhecimento. Os obstáculos superados são as oportunidades. Aprender, ao invés de ter alternadamente prazer e sofrimento, é Sabedoria.

A maior oportunidade ao nosso alcance está no cumprimento consciente dos nossos deveres atuais, no uso correto das atuais circunstâncias, e na aceitação de bom grado dos acontecimentos atuais, quer eles pareçam favoráveis ou desfavoráveis. Quanto maiores as nossas dificuldades, maior a oportunidade para que nos tornemos mais fortes, mais sábios, e, portanto, mais úteis como membros da família humana.

A vida não consiste de uma sucessão de obstáculos e oportunidades. Cada acontecimento é um obstáculo ou uma oportunidade, conforme o modo como olhamos para ele.

Transformar fatos aparentemente negativos em potencialidades para o bem é o primeiro e o último passo no caminho da Sabedoria.

 
 John Garrigues
 
 
NOTA:

[1] Não necessariamente. Na realidade, cada indivíduo deve compartilhar o carma dos outros, e também deve partilhar o carma de toda a humanidade, e do planeta. O carma é portanto muito menos “individual” do que parece. Todos os seres interagem o tempo todo entre si, e novo carma está sendo plantado a cada momento. Novas injustiças ocorrem a cada dia, como consequência da ignorância espiritual de quem as comete, e elas não são necessariamente o resultado de uma ação passada de quem as sofre. As circunstâncias são de fato frequentemente injustas. No entanto, o carma irá corrigir cada injustiça, e todos os sofrimentos imerecidos serão compensados, se não a curto prazo, seguramente no Devachan – o longo intervalo “celestial” que separa duas vidas físicas – e nas próximas encarnações. Estudos mais amplos sobre o funcionamento da lei do Carma podem ser encontrados em nossos websites associados. (CCA)
 
Fonte: http://www.filosofiaesoterica.com
 

O HOMEM É MAIS COMPLICADO 
DO QUE UMA AMEBA


 
Pergunta: Haveis dito que na natureza todas as coisas se movimentam seguindo uma espiral ascendente, em direção a uma simplicidade cada vez maior. Porém, no que se refere à constituição, não será antes o contrário? O homem é mais complicado do que uma ameba. O arcabouço das comunidades civilizadas é mais complicado do que o arcabouço das comunidades selvagens. Na evolução social não se moverão todas as coisas do simples para o complexo?


Krishnamurti: Por outras palavras, que é que entendeis por simplicidade? Os seres humanos, da completa simplicidade ao começo, desenvolvem-se por meio de complexidades para retornarem à simplicidade, como acontece em toda a grande arte. Existem aborígenes na Austrália tão simples, que quando se lhe dá um cobertor à noite para se cobrirem, esquecem-se pela manhã que tiveram frio e o deixam de lado, em vez de o guardarem para a noite seguinte. É esta simplicidade em seus começos — rudeza, falta de entendimento, limitação de pensamento e sentimento. A mente e o coração ainda não acumularam experiências. Esta é a condição das mentes e corações parcialmente evoluídos, primitivos. A medida que o homem se torna mais civilizado, enfeita-se com penas e tintas. Torna-se então, mental e emocionalmente um pouco mais complicado. E assim, p processo continua até que, uma vez mais, volta ele à simplicidade, por haver adquirido a simplicidade consciente, que é a resultante de toda a experiência. Um tal homem, é, na verdade, divinamente simples, pelo fato de haver sobrepujado a experiência. Não mais se encontra sob o jugo da experiência. Se olhardes para dentro de vossa própria mente e coração, verificareis estarem eles repletos de complicações: crenças, tradições, esperanças e temores. Estareis um pouco mais evoluídos do que o homem que se reveste de penas e se pinta de cores selvagens e berrantes. Aquele que houver atingido a meta é inteiramente simples, sua mente e coração são incolores, porém, não negativos. Assim como a luz branca se compõe de todas as cores, assim também é o homem que houver passado por todas as experiências e alcançado a simplicidade do atingimento. É esta a maneira de compreender, o caminho para a felicidade: tornou-se tão simples, tão desprendido de todas s coisas que, como o lago calmo que reflete a pureza, possais refletir a Verdade por serdes vós próprios essa verdade.



Krishnamurti 
Fonte: pensarcompulsivo





"Eu não sou um lógico, sou um existencialista. Acredito nesse belo caos da existência e estou pronto para ir aonde quer que ela vá. Não tenho uma meta, porque a existência não possui uma meta. Ela simplesmente é, florescendo, brotando, dançando - mas não pergunte porque. Apenas um transbordamento de energia, sem motivo algum. Estou com a existência." Osho está certo. Acredito que simplicidade é isso: fluir com a vida sem normas, sem conceitos... nus... sem nenhuma ideia... nenhuma ideologia... ninguém... Enquanto não estivermos vibrando nesse vazio não compreenderemos nada.
 


segunda-feira, 27 de março de 2017

SOBRE A LEI DA ATRAÇÃO



Quem nós pensamos que somos está intimamente ligado a como nos consideramos tratados pelos outros.

Muitas pessoas se queixam de que não recebem um tratamento bom o bastante. “Não me tratam com respeito, atenção, reconhecimento, consideração. Tratam-me como se eu não tivesse valor”, elas dizem.

Quando o tratamento é bondoso, elas suspeitam de motivos ocultos. “Os outros querem me manipular, levar vantagem sobre mim. Ninguém me ama.”

Quem elas pensam que são é isto: “Sou um pequeno eu’ carente cujas necessidades não estão sendo satisfeitas.”

Esse erro básico de percepção de quem elas são cria um distúrbio em todos os seus relacionamentos. Esses indivíduos acreditam que não têm nada a dar e que o mundo ou os outros estão ocultando delas aquilo de que precisam.

Toda a sua realidade se baseia num sentido ilusório de quem elas são. Isso sabota situações, prejudica todos os relacionamentos. Se o pensamento de falta – seja de dinheiro, reconhecimento ou amor – se tornou parte de quem pensamos que somos, sempre experimentaremos a falta.

Em vez de reconhecermos o que já há de bom na nossa vida, tudo o que vemos é carência.

Detectarmos o que existe de positivo na nossa vida é a base de toda a abundância. O fato é o seguinte: seja o que for que nós pensemos que o mundo está nos tirando é isso que estamos tirando do mundo. Agimos assim porque no fundo acreditamos que somos pequenos e que não temos nada a dar.

Se esse for o seu caso, experimente fazer o seguinte por duas semanas e veja como sua realidade mudará: dê às pessoas qualquer coisa que você pense que elas estão lhe negando – elogios, apreço, ajuda, atenção, etc. Você não tem isso? Aja exatamente como se tivesse e tudo isso surgirá. Logo depois que você começar a dar, passará a receber.

Ninguém pode ganhar o que não dá. O fluxo de entrada determina o fluxo de saída. Seja o que for que você acredite que o mundo não está lhe concedendo você já possui. Contudo, a menos que permita que isso flua para fora de você, nem mesmo saberá que tem. Isso inclui a abundância.

A lei segundo a qual o fluxo de saída determina o fluxo de entrada é expressa por Jesus nesta imagem marcante: “Dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada, sacudida e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também.”

A fonte de toda a abundância não está fora de você. Ela é parte de quem você é.

Entretanto, comece por admitir e reconhecê-la exteriormente. Veja a plenitude da vida ao seu redor. O calor do sol sobre sua pele, a exibição de flores magníficas num quiosque de plantas, o sabor de uma fruta suculenta, a sensação no corpo de toda a força da chuva que cai do céu.

A plenitude da vida está presente a cada passo. Seu reconhecimento desperta a abundância interior adormecida. Então permita que ela flua para fora. Só fato de você sorrir para um estranho já promove uma mínima saída de energia. Você se torna um doador. Pergunte-se com frequência: “O que posso dar neste caso? Como posso prestar um serviço a esta pessoa nesta situação?”

Você não precisa ser dono de nada para perceber que tem abundância. Porém, se sentir com frequência que a possui, é quase certo que as coisas comecem a acontecer na sua vida. Ela só chega para aqueles que já a têm.

Parece um tanto injusto, mas é claro que não é. É uma lei universal. Tanto a fartura quanto a escassez são estados interiores que se manifestam como nossa realidade. Jesus fala sobre isso da seguinte maneira: “Pois, ao que tem, se lhe dará; e ao que não tem, se lhe tirará até o que não tem.

 
Eckhart Tolle, em Praticando o Poder do Agora



"Tudo é energia e isso é tudo que há. Sintonize a realidade que você deseja e inevitavelmente essa será a realidade que você terá. Não tem como ser diferente. Isso não é filosofia é física".  Albert Einstein está absolutamente certo. "Somos seres vibracionais num  universo vibracional". Então, cuidemos da nossa vibração; que seja sempre positiva ! 
 
ARREPENDIMENTO E CULPA

Conversa entre Pema Chodron 
e Dzigar Kongtrul Rinpoche

 
PC: Tendo isso em mente, como podemos lidar com essa tendência profundamente enraizada de nos sentirmos culpados?

DKR: Primeiro, num nível mais básico, podemos nos lembrar de que a culpa não traz nenhum tipo de benefício e só aumenta nosso apego neurótico ao eu. Mas, sobretudo, podemos perceber que a culpa é, na verdade, uma forma de tentarmos fugir da responsabilidade pelas nossas ações e circunstâncias. Nos sentimos culpados quando não aceitamos totalmente nossas circunstâncias. Em vez disso, tentamos o tempo todo proteger e consolar esse eu imaginário. Quando nos sentimos culpados, estamos na verdade dando ainda mais solidez a esse “eu”, em vez de olharmos honestamente para a situação que está diante de nós. Se nos lembrarmos de que a mente é inocente, ainda que nossas ações tantas vezes se baseiem na ignorância, podemos nos distanciar da situação o suficiente para observá-la realmente de maneira honesta. A culpa, por outro lado, é um desvio que não traz solução alguma – não tem fim. Você pode achar que está enfrentando alguma coisa porque está mergulhado nela – esfregando na própria cara que foi algo muito ruim – mas a realidade é que você não está aceitando a situação.

PC: Se eu fizer algo de mal e não me sentir culpada por isso, como vou poder me reconciliar com o que eu fiz? Como posso reconhecer completamente o que eu fiz, e ainda assim não me sentir culpada?

VDKR: Por meio do arrependimento. O arrependimento é uma função da inteligência da mente. Podemos ver o que fizemos para causar sofrimento a nós mesmos e aos outros. Reconhecemos o que fizemos e também resolvemos não fazê-lo de novo. Isso é muito útil. Vemos o erro claramente e o reconhecemos, então ele não permanece no nosso fluxo mental. Essa capacidade de autorreflexão traz enorme liberdade. É como se você parasse de brigar com as suas circunstâncias e observasse honestamente. Como a sua visão do eu não é tão densa, você pode observar sem se intimidar. Fazemos essa prática de reconhecer e purificar, com um profundo arrependimento pelo mal que causamos. Nós o expomos a nós mesmos.

PC: Realmente não consigo perceber a diferença entre arrependimento e culpa. Ainda existe a noção de que alguém fez algo de mal.

VDKR: A diferença entre a culpa e o arrependimento é que a culpa nunca encara a má ação diretamente. Existe apenas um sentimento intenso de “Gostaria que não tivesse acontecido. Queria não ter feito isso. Queria não ter ficado nervoso” ou “Queria não ter feito algo tão vergonhoso”, e assim por diante. O arrependimento é o oposto da culpa. Nós reconhecemos o erro, expomos para nós mesmos que agimos mal e que isso se originou da nossa ignorância, mas não nos deixamos levar pelas emoções e pelas nossas histórias. A noção de remorso está longe de ser tão pesada quanto a ideia do “lado mau” que a culpa produz. Na verdade, a sensação do remorso sincero é libertadora. Ao aplicar a visão da ausência de eu, entendemos como o inútil sentimento de culpa nos congela na percepção que temos de nós mesmos como maus. Quando alguém sente que tem espaço para se abrir e consegue entender que sua ação é movida pela ignorância, e não por uma essência intrinsecamente má, não hesita em enxergar quando faz algo que prejudica outra pessoa. Tampouco hesitará em pedir desculpas se isso lhe parecer benéfico.

PC: Obrigada. Isso com certeza esclarece muita coisa para mim. E há outros benefícios em refletir sobre a ausência de culpa?

VDKR: Quando alguém compreende a ausência de culpa dentro de si, sente-se mais livre e mais leve. O apego ao eu, que todos nós temos, se vai. Também começamos a trabalhar melhor com nossas mentes. A mente fica mais ágil e flexível, porque nossa inteligência se torna o ponto de referência, em vez desse eu ao qual nos agarramos tão desesperadamente. Então podemos diferenciar nossas ações com mais precisão e trabalhar com elas de formas mais criativas no futuro, com mais sabedoria. Em relação às más ações das outras pessoas, percebemos que a natureza de suas mentes também é inocente, sem culpa. A ignorância as influenciou, e elas estão cegas e vulneráveis. E, como elas estão impotentes diante do poder da ignorância, é mais fácil gerarmos compaixão por elas e perdoá-las também. É muito mais fácil fazer tudo isso quando enxergamos a pessoa como inocente, e não como culpada e intrinsecamente má.


Publicado originalmente na Revista Tricycle. Tradução de Lilian Moreira Mendes. Retirado do site Buda Virtual
Fonte: http://obudaemmim.blogspot.com.br
 

domingo, 26 de março de 2017

SOBRE O ARREPENDIMENTO


Seja o que for que você compreenda sobre arrependimento é absolutamente falso. Tente compreender. Quando você se arrepende, você de fato não se arrepende. Quando você se arrepende, você de fato está tentando reparar a imagem. Isso não é arrependimento: é reparação da imagem quebrada, a que você tem de si mesmo.

Por exemplo, você tem tido raiva e tem dito muitas coisas. Mais tarde, quando a raiva se foi, a loucura se foi, você se acalma e olha pra trás. Agora há um problema. O problema é que você sempre se achou um homem muito pacífico, um homem da paz e do amor; sempre imaginou que você não é raivoso. Agora, essa imagem quebrou-se. Seu ego está espatifado: agora você sabe, que seja o que for que você esteve acreditando, provou-se errado. Você tem estado com raiva, tem estado muito raivoso, e tem dito coisas que são contra o seu ego. Despedaçou sua própria auto imagem. 


Agora tem de consertá-la. O único meio de se consertar isso é arrependendo-se. Você vai e se arrepende, você diz coisas boas. Você diz: “Aconteceu a despeito de mim. Eu jamais quis que fosse assim. Eu estava louco: não estava nos meus sentidos. A raiva me assomou de tal jeito que fiquei quase inconsciente; assim, o que quer que eu tenha dito, perdoe-me, eu nunca quis dizer aquilo. Posso ter dito aquilo, mas nunca quis dizer aquilo.”

O que você está fazendo? Arrependendo-se? Você está simplesmente fazendo um reparo. Você relaxa: quando alguém pede para ser perdoado, tem de ser perdoado. Se o outro não perdoar, então, ele não é um homem bom. O outro estava com raiva sobre a sua raiva, ele estava pensando em se vingar, mas agora você foi pedir perdão. Se ele não perdoar, então, ele não será capaz de se perdoar. Então, é a imagem dele que será quebrada. E este é o truque que você está usando. Agora, se ele não o perdoar, você é o bom sujeito e ele é o sujeito mau. Agora tudo foi jogado em cima dele.

Este é um truque, um truque bem dissimulado. Se ele não o perdoar, ele é mau. Então, você fica à vontade, sua imagem foi consertada: você jogou toda a culpa nele. Agora, ele se sentirá culpado se não perdoar, pois um homem bom tem de perdoar. Se ele perdoar, é bom para você; se ele não perdoar, então também isso é bom para você. Agora é uma questão para ele decidir.
 
Isto não é arrependimento.

 

Osho, em Além da Psicologia
ventosdepaz 


A MAGIA DAS ÁRVORES


Última Parte

No mundo antigo, as novas civilizações surgiam saudáveis em regiões bem florestadas. Algum tempo depois, as populações já se multiplicavam e o consumo de madeira crescia excessivamente. As árvores eram usadas como lenha – algo indispensável para fundir metais – e também como material para construir casas e barcos.

É verdade que o mundo grego já procurava proteger suas florestas desde Aristóteles. As cidades da Grécia tinham os seus arvoredos sagrados, equivalentes aos parques nacionais de hoje. Mas, apesar das cautelas, esses bosques intocáveis foram destruídos. A decadência de Atenas, a partir de 404 a.C. está relacionada com o esgotamento das suas florestas durante as guerras.

Cada sociedade que ganhava poder e influência usava a guerra como meio de expandir-se. Então as reservas florestais eram usadas para fundir metais, para produzir armas e construir navios de combate. O desmatamento descontrolado provocava a erosão do solo, que destruía a produtividade agrícola, provocando a decadência da sociedade e finalmente a sua derrota nas guerras. Por isso, Helena Blavatsky escreveu que a decadência de uma civilização se segue à destruição das suas florestas tão inevitavelmente quanto a noite segue o dia.

O mundo romano, como a sociedade grega, devia sua força às árvores. A floresta era considerada mãe de Roma. Todo o crescimento do império romano se baseou sobre o uso das florestas e de outros recursos naturais, no seu próprio território e nos territórios de povos distantes. Mas valeu a regra geral e o caso de Roma não foi uma exceção: no seu devido tempo, a destruição das florestas e da base ecológica da vida ajudou a provocar a decadência e o fim do vasto império que dominava o mundo [3].

Ao longo de milênios, enquanto alguns cortavam as árvores, outros as viam como seres sagrados. Com seu charme encantador, elas sempre inspiraram sentimentos religiosos. Na Inglaterra, só no século 11 a Igreja cristã, finalmente, decretou que era “pecado” construir um santuário em torno de uma árvore. Em 1429, o clérigo de Bungay ainda sustentava que as imagens religiosas não tinham grande valor, e que as árvores possuíam mais energia e virtude, “sendo mais adequadas ao culto do que pedras ou madeira morta esculpida com a forma de um homem”. Alguns dos primeiros protestantes consideravam que se podia rezar tanto nos bosques como nas igrejas.

Quando a madeira começou a escassear na Inglaterra do século 17, surgiu a prática do reflorestamento e a preservação florestal ganhou força. A admiração pelas árvores também se apoiava em certos mitos cristãos, na época considerados literalmente verdadeiros. Em 1670, por exemplo, John Smith, especialista em silvicultura, sustentava que alguns carvalhos ingleses ainda vivos haviam surgido no primeiro verão depois do Dilúvio, e que uns poucos entre eles eram, inclusive, “do momento da Criação do mundo”.

Os fiéis das paróquias inglesas faziam uma peregrinação anual. Durante a caminhada, paravam de quando em quando diante de um carvalho de maior porte para ler as escrituras e rezar ao pé da árvore, que consideravam sagrada. O poeta inglês Alexander Pope escreveu que uma árvore é “uma coisa mais nobre do que um príncipe em traje de coroação”. As árvores eram temas de livros. Plantá-las era um esporte em toda a Europa. Essa tendência cultural compensou, em parte, a devastação causada pela revolução industrial, cuja poluição ambiental era extrema [4].

As árvores ocupam lugar central na história do Brasil. O nome do país é o nome de uma árvore. As lendas tradicionais falam de Curupira, o deus que protege as florestas do país. Ele é um pequeno índio com os pés voltados para trás, e seu corpo não tem os orifícios necessários para as excreções indispensáveis à vida. Por isso, o povo do Pará o chama de muciço. No Amazonas, Curupira é visto como um pequeno índio de quatro palmos de altura, careca, mas com o corpo coberto de pelos. No rio Tapajós, ele tem apenas um olho.

O pequeno deus Curupira é dotado de uma força extraordinária. Para experimentar a resistência das árvores antes de uma tempestade, ele bate nelas com o calcanhar. Curupira tanto mostra a caça como a esconde. Sua função é proteger a mata e seus habitantes. Todo aquele que derruba ou estraga inutilmente as árvores é punido por ele com o castigo de caminhar indefinidamente pelo bosque sem poder lembrar do caminho de casa. Por isso era temido pelos indígenas.

“Curupira foi o primeiro duende selvagem que a mão branca do europeu fixou em papel e comunicou a países distantes”, escreveu Luís da Câmara Cascudo. José de Anchieta já o citava em uma carta de 1560. Mas seu nome tem variações: no Maranhão, esse deus da floresta se chama Caipora. Ele tem uma presença marcante nas lendas do sul brasileiro, e ganha o nome de Curupi no Paraguai e na Argentina [5] .

Os mitos brasileiros registram o conceito de caapora (caipora no norte e nordeste) para designar genericamente qualquer um dos espíritos da natureza que aparecem nas florestas. Mas Caapora também está associado aos pequenos animais selvagens, enquanto que Anhanga é o espírito que protege os animais maiores, como a paca, a anta, a capivara e o veado. A caipora nordestina é mulher, aparece quase sempre montada em um porco-do-mato, e ressuscita os animais abatidos.

O simbolismo universal das árvores é rico e complexo – e estimula a busca da sabedoria. Cada espécie de árvore irradia uma influência e uma vibração próprias, que os seres humanos buscam descrever com palavras. O espírito do cipreste, por exemplo, representa a imortalidade. O pinheiro, a árvore escolhida para as festas de Natal, é outro símbolo da vida espiritual. Em todo o mundo a acácia representa a verdade, assim como o sicômoro simboliza a bondade.

O carvalho é a árvore de Zeus, de Júpiter, e simboliza a força divina e o eixo do mundo. A figueira e a oliveira simbolizam a abundância. A figueira também pode representar o eixo do mundo, como o carvalho. A aveleira, que dá a avelã, representa a fertilidade e ainda fornece a madeira de que são feitas as varinhas mágicas.

Em francês, avelã é “Aveline”. Há vários sobrenomes luso-brasileiros inspirados por nomes de árvores. Entre eles estão Pinho, Oliveira, Carvalho, Pereira, Pinheiro, Figueira, Teixeira, Matos, e Nogueira. Silva e Silveira também possuem acepções relativas a mato e floresta. O nome Cardoso significa “terreno em que há numerosos cardos”. São plantas espinhosas frequentes em Portugal: algumas das suas espécies têm efeito terapêutico.

A videira é uma árvore sagrada tanto na tradição egípcia como na antiga Israel. Alguns a associam à Árvore da Vida. A mamona – que aparece na breve história bíblica de Jonas – simboliza a imprevisibilidade do futuro e nos ensina o desapego. Ela nos faz lembrar que, apesar das aparências, a vida raramente é linear e contínua.

Os significados e as influências espirituais das árvores são inesgotáveis. Em diferentes momentos da nossa vida, cada árvore – em um parque, uma rua ou um quintal – traz a nós mensagens diferentes. Devemos estar abertos ao diálogo silencioso com estes seres benéficos. Há inúmeras vantagens nisso.

Segundo o filósofo Plotino, as plantas buscam a felicidade. De fato, a filosofia esotérica ensina que, assim como os animais mais evoluídos já fazem força para aproximar-se do desenvolvimento mental, as plantas, por sua vez, avançam no sentido do desenvolvimento das emoções.

Ora, as árvores estão entre os habitantes mais sábios e evoluídos de todo o reino vegetal. Há inúmeros relatos de que elas são capazes, à sua maneira, não só de receber os nossos sentimentos de amizade mas também de responder a eles. Nossa pobre inteligência humana só tem a ganhar quando percebemos a inteligência das árvores. O conteúdo das lições que elas nos trazem, porém, depende da nossa capacidade de deixar de lado as coisas pequenas, que pensamos que conhecemos, e de abrir-nos para a magia da vida.


Carlos Cardoso Aveline

 
NOTAS:
 
 [3] Para saber mais sobre a importância decisiva das florestas na história das civilizações humanas, veja a obra “História das Florestas”, de John Perlin. Ed. Imago, RJ, 1992, 490 pp.
 
[4] Sobre a importância das árvores na cultura inglesa, veja a obra “O Homem e o Mundo Natural”, de Keith Thomas, Cia. das Letras, SP, 1988,  454 pp., especialmente as pp. 253-266.
 
[5] “Geografia dos Mitos Brasileiros”, Luís da Câmara Cascudo, Ed. Itatiaia (USP), SP, 1983, 345 pp., ver pp. 84-86.
 
Fonte: http://www.filosofiaesoterica.com