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sábado, 31 de março de 2018

AUTOIMAGEM E AUTOCONHECIMENTO


 O Carma, o Caráter e a
Ideia que Cada Um Tem de Si
 
Em seu livro “Liberte sua Personalidade”, Maxwell Maltz constata: a imagem que o ser humano tem de si mesmo orienta de modo subconsciente a maior parte das suas atitudes.[1]

Para melhorar o rumo da sua existência, o indivíduo deve assumir responsabilidade pelo conteúdo desta autoimagem, tomando providências para que ela seja profunda e verdadeira.

A teosofia ensina que o ser humano é essencialmente imortal, e secundariamente ele tem muito por aprender. O mero fato de reconhecer que nossa essência não morre é um ato revolucionário de mudança da imagem que temos de nós mesmos, e altera tanto o significado da vida como o propósito de cada encarnação. Porém isso não é frequente.

Na maior parte dos casos a imagem que as pessoas têm de si mesmas é resultado de um mero amontoado subconsciente de registros de sensações passadas: vitórias e derrotas, aplausos e estímulos positivos de que foram alvo, lembranças desagradáveis, traumas e alegrias marcantes. Este conglomerado de autoimagens atua num plano instintivo, guiando a pessoa de modo mais ou menos cego, até o momento em que ela desperta para o autocontrole e toma o seu destino em suas próprias mãos.

Cabe ao cidadão assumir a construção da sua autoimagem, desenvolvendo gradualmente por um ato de vontade soberana o potencial infinito presente na sua alma.

A Escolha da Independência

O indivíduo pode e deve definir com autonomia quem ele é. Cabe conhecer e ouvir sua natureza interna. Um dos primeiros passos consiste em desafiar as descrições artificiais que desde a infância recebe de outros a respeito de si mesmo. A meta é construir sua individualidade “à imagem do Deus Pai que está nos céus”, isto é, do seu eu superior, sua alma espiritual.

Na perspectiva teosófica, ter uma imagem positiva de nós mesmos significa ver-nos desde antahkarana, a ponte viva entre consciência humana e consciência divina.

À medida que se trilha o caminho do autoconhecimento, acontece uma gradual organização da nossa vontade em torno de metas elevadas. A alma mortal, quando honesta, é sagrada. É uma aliada decisiva do nosso Espírito imortal. Para que a alma mortal desenvolva sua potencialidade superior, no entanto, ela precisa derrotar as pressões socialmente organizadas segundo as quais todo ser humano deve ver a si mesmo como egoísta e materialista – ou pelo menos comportar-se externamente deste modo – sob pena de ser catalogado como “antissocial”. As autoimagens falsas, criadas por mecanismos neuróticos, por moda, por medo, ambição ou fingimento subconsciente, são transcendidas passo a passo no caminho teosófico.

O peregrino evita ser dominado por processos de hipnotismo coletivo.[2] Ele encontra a verdade dentro de si, e não no que este ou aquele afirma. A pergunta “quem sou eu?” [3] deve ser corretamente encarada para que seja encontrado o ser interno.

O tema clássico da identificação pessoal do ser humano com a lei do universo é abordado de modo claro e sucinto no “Diagrama de Meditação” de Blavatsky.[4] É um privilégio do estudante de filosofia poder desidentificar-se das acumulações instintivas de visões de si mesmo, reunidas ao azar em uma “autoimagem” impensada, e construir o seu próprio ser conscientemente, em consonância com os níveis imortais da alma.

Cabe examinar como se produz a autoimagem do cidadão nos países do mundo moderno.

O estudante de filosofia esotérica clássica tem instrumentos para enfrentar três questões práticas:

* Em que aspectos a autoimagem que alguém tem de si mesmo pode ser falsa, neurótica, pessimista e meramente material?

* Até que ponto a autoimagem de grande parte dos cidadãos é hoje superficial e ditada pela propaganda, pela busca de dinheiro, fama, poder social e outras ilusões, frequentemente alimentadas por medos infantis guardados no subconsciente?

* Como construir e colocar em funcionamento nos níveis concretos da vida uma autoimagem verdadeira, que inclua os níveis superiores de consciência, e que trabalhe 24 horas por dia produzindo paz e bom senso, assim no plano consciente como no plano subconsciente?

O Duro Caminho da Bem-aventurança

Seja o que for que tenha ocorrido no passado, é no momento presente que cada indivíduo pode e deve estar em paz consigo mesmo.[5]

Concentrar a mente e a ação aqui e agora naquilo que é correto faz com que uma pessoa se sinta bem consigo mesma e com a vida, abrindo caminho para o processo da bênção. A felicidade é um hábito que anda junto com a humildade e o realismo. As aparências enganam, e até situações objetivamente doloridas podem levar à bem-aventurança, quando a alma é maior que as circunstâncias. Conta-se que em certa ocasião São João da Cruz entrou em êxtase contemplando os seguintes versos:

“Quem não provou amarguras,
No vale humano da dor,
Nada entende de doçuras,
E desconhece o que é o amor;
Amarguras são o manto dos que amam com ardor.” [6]

O Conhecimento do Eu Superior

O discipulado ou aprendizado avançado da alma corresponde à desidentificação do estudante com o mundo externo e sua autoidentificação crescente com a lei do universo. O aspirante busca o discipulado através do estudo, da contemplação e do trabalho altruísta. Neste processo ele reconhece a sua própria personalidade externa como um instrumento prático a serviço de um aprendizado maior.

Quando dizemos que um Mestre de Sabedoria “é” essencialmente a Lei universal, estamos dizendo que o Mestre se identifica “pessoalmente” com o Universo.

Esta é também a meta do discípulo e do aprendiz. Todo estudante está no processo de ver que seu Verdadeiro Eu é sua Mônada, o princípio mais cósmico presente em sua aura individual.

O estudo vivencial de “A Doutrina Secreta”, assim como de “Cartas dos Mahatmas” e outros escritos compatíveis com estas obras, é iniciático porque expande a consciência. A abordagem prática da literatura esotérica clássica, que lida com as verdades universais, assinala o rumo central de longo prazo do movimento teosófico e constitui sua tarefa mais elevada, porque leva o estudante a identificar-se gradualmente com sua própria alma imortal, permitindo que ele perceba algo básico: a sua autoimagem mais verdadeira é a de alguém que vive em profunda unidade e harmonia com o cosmo infinito, eterno e impessoal. Há numerosas indicações de que o estudo dos temas abordados em “A Doutrina Secreta” é inevitável no treinamento não só dos discípulos avançados dos mestres, mas também dos aprendizes leigos que pretendem trilhar o caminho da sabedoria cósmica. A compreensão do universo muda a aura do indivíduo.

Skandhas, Kleshas e Autoimagem

Vejamos alguns termos técnicos úteis para a reflexão.

Desde um ponto de vista teosófico, o que Maxwell Maltz chama de “autoimagem” inclui e expressa o conjunto dos skandhas ou carma do indivíduo. Em “Cartas dos Mahatmas”, um Mestre define skandhas como “os elementos da existência limitada”. [7] E uma nota de rodapé esclarece:

“Os cinco Skandhas ou atributos que formam a personalidade humana são forma (rupa), percepção (vidana), consciência (sanjna), ação (samskara) e conhecimento (vidyana).”

Uma questão prática diante de todo pesquisador é saber até que ponto é sábio o modo como ele administra na vida diária esses cinco aspectos da sua existência pessoal.

Há ainda outra forma de descrever a estrutura consciente e subconsciente do eu inferior. Trata-se do termo “kleshas”. Segundo os Ioga Sutras de Patañjali, há cinco principais kleshas ou elementos da dor e fontes do sofrimento:

1) Avidya, Ignorância espiritual;
2) Asmita, Sentido de eu separado;
3) Raga, Apegos cegos;
4) Dvesha, Rejeições cegas; e
5) Abhinivesha, Medo pessoal.

A partir do agregado cármico que forma a personalidade – skandhas e kleshas – surge o que é chamado por autores de Análise Transacional de “script”, ou “drama repetitivo” da vida individual.

Este “roteiro fixo”, estabelecido na infância, relaciona-se com fatos de vidas passadas e muitas vezes atribui a nós certos papéis emocionais predeterminados e repetitivos. Entre eles estão o do “herói”, o da “vítima”, do “santo”, do “líder”, do “sabe-tudo”, do “boicotador”, do “vitorioso”, “derrotado”, o do “simpático agradável” e o do “salvador da pátria”.

O caminho da autorresponsabilidade consiste em superar o jogo de cartas marcadas da repetição constante de velhos “dramas emocionais”, tão comum nas dinâmicas familiares e no mundo psicológico individual, e em despertar para o plantio consciente de carma saudável. O “jogo dramático” da vida deve ser aceito como parte da realidade e fonte de lições. A meta é que ele seja observado e transcendido, de modo que fique flexível, deixando de ser fatalista.

Um Mestre espiritual escreveu que o candidato à sabedoria deve enfrentar e vencer a Dúvida, o Ceticismo, o Desprezo, o Ridículo, a Inveja e a Tentação. Ele deve ter um coração e uma alma vestidos de aço e uma determinação de ferro, e no entanto precisa ser amável e gentil, e humilde. [8]

Colecionando lições, o peregrino transforma derrotas em conhecimento. Avançando, ele constrói uma forma própria de disciplina diária pela qual reforma, purifica e eleva constantemente o seu carma, caminhando sem pressa na direção da luz espiritual. A vocação de vitória, dada pela harmonia com o eu superior, é então reforçada: mas não se trata de uma vitória externa. O que acontece não é “a vitória de alguém”, mas o surgimento da paz.
 
 
NOTAS:

[1] “Liberte Sua Personalidade”, de Maxwell Maltz, Summus Editorial, SP, 1981, 206 pp.

[2] O tema do hipnotismo e da dominação subconsciente é discutido às páginas 50-53 de “Liberte Sua Personalidade”. Leia também, em nossos websites, o artigo “Rompendo a Manipulação Mental”.

[3] A pergunta “Quem sou eu?” ocupa lugar central na filosofia do sábio indiano Ramana Maharshi. Veja por exemplo o capítulo 24 da obra “Conversas na Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline, Edifurb, 2007, 170 páginas. O capítulo é intitulado “Ramana Maharshi e a Busca do Verdadeiro Eu”.

[4] Leia em nossos websites associados o artigo “Diagrama de Meditação”, de Helena P. Blavatsky.

[5] “Liberte Sua Personalidade”, 1981, pp. 59-60.

[6] “Obras Completas de S. João da Cruz”, Ed. Vozes, Petrópolis, RJ, quarta edição, 1996, 1150 páginas, ver p. 78.

[7] “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, Brasília, volume II, Carta 104, p. 192.

[8] “Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, volume II, Carta 126, p. 274.
 
 
 Carlos Cardoso Aveline
 
 
http://www.filosofiaesoterica.com
 

sexta-feira, 30 de março de 2018

CONVIDE A DÚVIDA E A TRISTEZA
COM TODO O CORAÇÃO


Pergunta: Ensinai-nos a dar entrada à dúvida, porém poderemos finalizar por duvidar tanto de tudo que nada reste?

Krishnamurti: nada restará para aqueles que tudo aceitam por autoridade, que estão soterrados sob a poeira da tradição, sob a poeira das crenças decadentes. Porém, pelo convite à dúvida e, mediante ela, pela limpeza da poeira, permanece o resíduo de vossa própria experiência, a pureza de vosso próprio propósito, o êxtase de vosso próprio pensamento e sentimento; e a estes, ninguém pode destruir. Quanto mais duvidardes, quanto mais examinardes todas as vossas crenças — impiedosa e logicamente — até ao fim, mais nítida a verdade vos aparecerá em sua original força e beleza. Porém, aqueles que temem a dúvida, serão anestesiados na poeira das suas próprias tradições. A dúvida é um bálsamo precioso; cura, embora queimando grandemente. Se vos atemorizais de pequenas queimaduras, jamais destruireis as escórias, as impurezas que haveis acumulado através de vossas vidas.

Dizeis, “se duvidarmos de todas as coisas, nada nos ficará”. Muito melhor. Que importância tem aquilo a que vos apegais se a dúvida o pode destruir? Que valor possuem vossas tradições, vossas crenças e o que houverdes acumulado, se a tempestade da dúvida foz capaz de o varrer? Serão semelhantes a um edifício construído sobre as areias: a onda forte virá e é completamente destruído. No evitar a vida, no temer a vida, abrigai-vos nas coisas decadentes, e, nesse abrigo, há a tristeza; porém, no convidar a dúvida e a tristeza com plenitude de vosso coração , criareis aquilo que será eterno e trará o selo da felicidade. Não estou usando palavras sem significado. Eu fiz convite à dúvida, interroguei todas as coisas que diante de mim eram colocadas, jamais aceitando fosse o que fosse, jamais permanecendo no mero estágio da concordância e por isso encontrei, atingi. Por isso é que eu incentivo a todos que procuram a verdade, a abrirem a si mesmos às tempestades do mundo e, a por meio delas, destruir a fraqueza de sua mente e coração. O homem que se atemoriza com a dúvida jamais encontrará a verdade. O homem que se atemoriza com a dúvida jamais a convidará e, portanto, jamais sairá para os espaços abertos onde existe a liberdade e a certeza do conhecimento.

 
Krishnamurti em, Perguntas e Respostas
http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br

quinta-feira, 29 de março de 2018

O SAGRADO NÃO PODE EXISTIR
SEM O AMOR E A COMPREENSÃO
DA MORTE
 
 
... Uma das coisas mais maravilhosas da vida é o descobrimento de algo, de modo inesperado, espontaneamente; encontrar-nos com uma coisa, sem premeditar e percebermos instantaneamente sua beleza, sua essência sagrada, sua realidade. Mas a mente que está a buscar, desejando encontrar, jamais alcançará esse ponto. O amor não é cultivável. O amor, como a humildade, não pode ser formado pela mente. Só o homem vão tenta ser humilde; só o homem orgulhoso procura afastar o seu orgulho mediante o cultivo da humildade. O cultivo da humildade é ainda um ato de vaidade. Para se escutar, e, portanto, aprender, necessita-se de uma humildade espontânea; e a mente que compreendeu a natureza da humildade jamais segue, jamais obedece; pois, como pode aquilo que é completamente negativo, vazio, obedecer ou seguir a quem quer que seja?
 
A mente que, graças à sua própria lucidez, nascida do autoconhecimento, descobriu o que é o amor, pode também perceber a natureza e a estrutura da morte. Se não morremos para o passado, para tudo o que veio de ontem, nossa mente continua presa em suas ânsias, nas sombras de sua memória, em seu condicionamento e, portanto, não há claridade. O morrer para o ontem, facilmente, voluntariamente, sem discussão, nem justificação, exige energia. Discussão, justificação e escolha constituem um desperdício de energia, e, por isso, não temos possibilidade de morrer para os dias passados, para que nossa mente se torne vigorosa e nova. Uma vez existente a claridade do autoconhecimento, o amor, com sua doçura, a acompanha; vem uma humildade de espontânea natureza e, ao mesmo tempo, a libertação do passado por meio da morte. E de tudo isso emana a criação. Criação não é expressão pessoal, não é espalhar tintas sobre um pedaço de tela, nem escrever um volumoso ou modesto livro, nem fazer pão na cozinha, nem gerar filhos. Nada disso é criação. Só há criação ao existir o amor e a morte. A criação só pode vir com o morrer, em cada dia, para todas as coisas, de modo que nunca possa haver acumulação de lembranças, na forma de memória. É bem ver que se necessita acumular certas coisas — vestuário, nossa casa e haveres pessoais — mas não é a esse respeito que estou falando. Refiro-me ao senso interior, da mente, de acumulação e posse, de onde resulta o desejo de domínio, de autoridade, de ajustamento, de obediência; esse é que impede a criação, porque a mente nunca está livre. Só a mente livre sabe o que é a morte e o que é o amor; só para ela há criação. Nesse estado, a mente é religiosa; nesse estado tem existência o Sagrado.
 
Para mim, a palavra “Sagrado” tem extraordinário significado. Mas vejam, por favor, que não quero fazer propaganda desta palavra, não quero convencer-lhes de coisa alguma, não quero fazer-lhes sentir ou experimentar a realidade por meio desse termo. Não o podem. Vocês têm de percorrer sozinho esse caminho, não verbalmente, porém realmente. Vocês têm de morrer verdadeiramente para tudo o que conhecem — suas lembranças, suas tribulações, seus prazeres. E, quando não houver mais ciúme, nem inveja, nem avidez, nem a tortura do desespero, saberão então o que é o amor e se encontrarão com aquilo que pode ser chamado o Sagrado. O Sagrado, por conseguinte, é a essência da religião. Como sabem, um grande rio pode poluir-se quando, em seu curso, atravessa uma cidade, mas, se não for demasiada a poluição poucas milhas além suas águas estão de novo limpas, frescas, puras. De modo idêntico, depois que a mente se encontra com o Sagrado, todo ato seu é então um ato purificador. Com seu próprio movimento a mente está-se tornando inocente e, por conseguinte, não está acumulando. A mente que descobriu o Sagrado se acha em constante revolução — não revolução econômica ou social, porém, uma revolução interior, com a qual se purifica infinitamente. Seu atuar não se baseia em nenhuma ideia ou formula. Como o rio, ajudado pelo seu enorme volume de água se purifica em seu curso, assim se purifica a mente após haver atingido aquele estado religioso do Sagrado.

Krishnamurti — O descobrimento do amor
 http://pensarcompulsivo.blogspot.com.br
 
COMO ENCONTRAR O MESTRE


Informações Úteis Para 
Uma Busca Mais Eficaz

Desde os tempos mais remotos, o tema da busca do Mestre é visto como sagrado nas tradições orientais. Também no Ocidente, todo estudante místico busca um instrutor, um guia, um sistema seguro de orientação. A teosofia clássica, com sua pedagogia milenar, recomenda examinar com calma atenção a seguinte pergunta:
 
 “O que é exatamente, o Mestre a ser buscado?”
 
Em termos práticos, para um aprendiz dotado de bom senso, o Mestre é, fundamentalmente, o seu próprio eu superior.
 
Se o estudante não encontrar a luz em sua própria consciência, de nada adiantará buscá-la fora de si. Seguir esta ou aquela personalidade externa é quase sempre pior que inútil.
 
Em compensação, o aprendiz atento reconhece a todos como seus mestres. Quando alguém sabe aprender, ele aprende com tudo e com cada situação, e não alimenta dependência indevida em relação a qualquer fonte externa de saber.
 
O verdadeiro Mestre, por sua vez, ensina a aprender, e faz com que o aluno aprenda a aprender conscientemente, a partir da sua interação com todos os seres, inclusive aqueles que não são seus amigos.
 
O verdadeiro mestre é, pois, transcendente. Ele atua em cada aspecto da vida. O mestre dos mestres é nosso próprio eu superior, a voz da consciência, o centro de paz e a fonte de ética que há no âmago da alma. A função dos Mestres de Sabedoria que inspiram o movimento teosófico é apenas dar elementos para que os níveis superiores da inteligência humana sejam ativados com autonomia pela consciência de cada um.
 
Levando em conta estes pontos básicos, podemos observar e compreender melhor o seguinte trecho da literatura budista:
 
“Faze um pergaminho com tua pele esfolada,
Faze uma pena com teus ossos,
Faze tinta de teu sangue,
E escreve os ensinamentos do Mestre.” [1]

 
A imagem significa que, para trilhar o Caminho, é recomendável deixar de lado a comodidade e a preguiça que são típicas do eu inferior. Deste modo, poderemos expressar no plano físico a substância do plano espiritual.
 

NOTA:

[1] Do livro “Buda e o Budismo”, de Maurice Percheron, Editora Agir, RJ, terceira edição, 1994, p. 77.

 
 
Carlos Cardoso Aveline 
 http://www.filosofiaesoterica.com
 

quarta-feira, 28 de março de 2018

OS TRES TESOUROS 
DA TRADIÇÃO TAOISTA



Na tradição taoísta, a vida é apoiada em três pilares principais, esses três pilares ou compostos são importantes para levar uma vida equilibrada e saudável. A tradução destes termos é muito vaga e todo mestre taoísta pode dar-lhe uma resposta ligeiramente diferente. Esta tradução aqui é a versão clássica do Qi, Jing e Shen.

Basicamente eles podem ser traduzidos como: Qi é construção de energia. Jing é uma economia de energia e Shen tem muito a ver com o nosso sistema nervoso e consciência.

Os mestres taoísta usam o conhecimento dos três tesouros para refinar sua própria vida e ajudar os outros, indicando seus problemas com a vida. Os três tesouros são princípios básicos para o diagnóstico na medicina tradicional chinesa. A interpretação real dos três tesouros pode ser entendida através da coleta de experiências e através da autoconsciência. Isso inclui treinamento Qi Gong, Tai Chi e Kung Fu e Alquimia Interna Taoista.
Qi (Vitalidade) Qi-compressor Qi

o primeiro Tesouro, é a energia que cria nossa vitalidade. Através da constante interação de Yin e Yang, a mudança é criada. Qi é a atividade de Yin e Yang. O movimento, o funcionamento e o pensamento são o resultado do Qi. A natureza do Qi é mudar. Os Três Tesouros incluem a Energia e o Sangue que nutrem e nos protegem.

Qi é produzido como resultado das funções dos pulmões e do baço. Portanto, os tônicos Qi fortalecem as funções digestivas, assimilativas e respiratórias. Quando Qi se condensa, torna-se Jing. O Qi de rápida mudança é considerado Yang enquanto o Qi em movimento lento é Yin.

No sistema dos Três Tesouros, o sangue é considerado parte do componente Qi de nosso ser. Afirmam que o sangue é produzido a partir dos alimentos ingeridos após o Qi ter sido extraído através da ação do Baço.

Afirmam que os glóbulos vermelhos são nutritivos e, portanto, estão associados ao Ying Qi (Yin), enquanto os glóbulos brancos são protetores e estão associados com Wei Qi (Yang). Os tônicos Qi geralmente tem uma potente atividade de modulação imune. Os tônicos Qi, compostos por tônicos de energia e / ou sangue, aumentam a nossa capacidade de funcionar de forma completa e adaptativa como seres humanos.
Jing (Essência) Jing-compressor Jing

é o segundo tesouro e é traduzido como “Essência Regenerativa”, ou simplesmente como “Essência”. Jing é a energia refinada do corpo. Ele fornece a base para toda a atividade e é a “raiz” de nossa vitalidade. Jing é a energia primordial da vida. Está intimamente associado ao nosso potencial genético e está associado ao processo de envelhecimento.

Jing é energia armazenada e fornece as reservas necessárias para se adaptar a todos os vários estresses encontrados na vida. Como Jing é energia concentrada, ela se manifesta materialmente. Jing também controla uma série de funções humanas primárias: os órgãos reprodutivos e suas várias substâncias e funções; O poder e a clareza da mente; E a integridade da estrutura física.

Jing, que é uma mistura de energia Yin e Yang, e é armazenada no “Rim”. Jing geralmente está associado aos hormônios das glândulas reprodutiva e adrenal, e Jing é a essência vital concentrada nos espermatozoides e óvulos. Considera-se extremamente difícil melhorar o Jing original após a concepção, embora não seja de todo difícil esvaziar e enfraquecer, e assim enfraquecer e encurtar a própria vida. A única maneira de fortalecer essa energia original é através de técnicas yoguis altamente sofisticadas, como as desenvolvidas pelos taoístas – a Alquimia Interna Taoista e pelo consumo de certas ervas tônicas potentes, conhecidas como tônicos Jing. Tonificar o Jing é manter níveis saudáveis de Jing pós-natal. Se o Jing pós-natal for mantido em níveis suficientes, o Jing pré-natal é usado muito mais devagar e o processo de envelhecimento é abrandado.

Quando o Jing é forte, vitalidade e juventude permanecem. Forte energia Jing nos Rins, de acordo com os chineses, levará a uma vida longa e vigorosa, enquanto uma perda de Jing resultará em degeneração física e mental e um encurtamento de sua vida. Jing é essencial para a vida e quando essa energia circula devagar e em níveis baixos, nossa força de vida é severamente diminuída e, assim, perdemos todo o poder para nos adaptar.

A quantidade de Essência determina tanto a nossa vida como a vitalidade final da nossa vida. O jing é queimado no corpo pela própria vida, mas principalmente por estresse crônico e agudo e maus hábitos, incluindo excesso de trabalho, emocional excessivo, abuso de substâncias, crônicas dor ou doença e excesso se relações sexuais (especialmente nos homens). Padrões menstruais excessivos, gravidez e parto podem resultar em um dreno dramático no Jing de uma mulher, especialmente em mulheres de meia idade.

Quando Jing está esgotado abaixo de um nível necessário para sobreviver, morremos. Eventualmente, todos ficam sem Jing e, assim, todos morrem (pelo menos fisicamente).
Shen (Espirito)

Shen é o terceiro tesouro. Shen é o Espírito Santo que dirige Qi. Também pode ser traduzido como nossa “consciência superior”. Este é, em última instância, o mais importante dos Três Tesouros porque reflete nossa natureza superior como seres humanos. Os mestres chineses dizem que Shen é o amor abrangente que reside no nosso “Coração”, um sistema de órgãos primários.

Shen é o resplendor espiritual de um ser humano e é o último e mais refinado nível de energia do universo. Shen não é considerado uma emoção, nem mesmo um estado mental. Ele preside as emoções e manifesta-se como compaixão abrangente e consciência não discriminatória e sem julgamento. Shen é expresso como amor, compaixão, gentileza, generosidade, aceitação, perdão e tolerância. Ele se manifesta como nossa sabedoria e nossa capacidade de ver todos os lados de todas as questões, nossa capacidade de nos elevar acima do mundo, certo e errado, bom e ruim, seu e meu, alto e baixo, e assim por diante.

Shen é o nosso maior conhecimento de que tudo é um, mesmo que a natureza se manifeste de forma dual e cíclica, muitas vezes obscurecendo nossa visão e criando ilusão. Nosso verdadeiro Espírito, que os chineses chamam de Shen, é a centelha da divindade que reside no coração de cada ser humano e se manifesta como amor, gentileza, compaixão, generosidade, entrega, tolerância, perdão, misericórdia, ternura e apreciação da beleza. É o Espírito de um ser humano como o mensageiro divino, o canal da vontade e do amor de Deus.

Shen é o propósito de todos os caminhos espirituais. É o desejo do Buda de acabar com o sofrimento e é o amor e a compaixão de Cristo … Shen se manifesta apenas quando o coração está aberto. Uma vez que o coração está aberto, Shen se manifesta como a luz que ilumina o caminho de um homem ou mulher na jornada da vida em direção ao objetivo espiritual e ao longo do caminho espiritual.

Nos intensivos de Alquimia Interna, podemos aprender as práticas que levam ao desenvolvimento saudável desses níveis de energia, e a recuperação total do JING, a energia primordial que uma vez regenerada muda nosso destino e nos liberta do mundo social e político em que vivemos
 
Cada etapa das práticas vai abrindo e refinando os vasos maravilhosos por onde essas energias circulam. Uma vez desimpedidas em sua circulação, nossa saúde de fortalece, nossa mente se torna clara e os caminhos do Tao se revelam.

No ano de 1993, quando fui apresentada a essas práticas do sistema de Mantak Chia, eu estava com 45 anos, e com todos os níveis de energia extremamente baixo. Sentia dores por todo o corpo, e a medicina não conseguia diagnosticar o que estava acontecendo.

Percebia que ali, ou me preparava para morrer, ou algo mágico deveria acontecer para me tirar daquele estado. Tendo estudado o I Ching desde os 20 anos, sabia que as consultas não poderiam me ajudar, tendo obtido como resposta que me encontrava em uma situação perigosa, e somente a Yoga Taoista poderia me afastar de um destino que hoje sei, seria a morte.

A ajuda veio pela lista do I Ching a qual pertencia e de um instrutor canadense, que ao me aceitar como sua aluna, me passou todos os segredos das práticas e com elas consegui reverter o estado terrível que em me encontrava.

Tendo recuperado meus níveis saudáveis dessas energias, hoje consigo ajudar as pessoas a administrarem com propriedade, esses três tesouros e reconquistarem sua independência física, emocional e espiritual cultivando o seu JING, seu QI e despertando as virtudes do SHEN!

Comecem já suas práticas e vejam os milagres que podem criar em suas vidas!

“O Tao está perto, mas os homens o procuram LONGE. O Tao é simples, mas os homens amam as dificuldades.” (Frase de um sábio anônimo da antiga China).

 
http://healing-tao.com.br
 
 
 
Lao-Tsé foi um importante filósofo da China antiga. 
Conhecido como o autor do "Tao Te Ching",
 a obra basilar da filosofia taoista.
 
 
CULPA E SOFRIMENTO


Toda culpa acarreta uma pena — é esta a inexorável biologia do universo espiritual. Toda desordem tem de ser reintegrada na ordem por meio do sofrimento.
 
Se a desordem é prole dum gozo ilegal, só pode a ordem ser filha dum desgozo, dum sofrimento. Se o prazer ilegal macula, a dor redime.
 
Entretanto, como dizíamos, a finalidade da dor não se cifra nesse papel negativo, nesse pagamento de débito, nesse simples restabelecimento da ordem perturbada pela culpa. A dor tem também caráter de crédito, tem uma função nitidamente positiva e construtora — e é precisamente isto que dá conforto, coragem e serenidade a todo humano sofredor.
 
A dor, quando compreendida, é um poderoso fator de evolução rumo às alturas, é um veemente estímulo de progressiva espiritualização da vida.
 
Não afirmamos que a dor, considerada em si mesma, tenha caráter redentor, mas, sim, que Deus se serve do sofrimento para redimir o homem das suas misérias e imperfeições.
 
 
Do livro: “Por que sofremos” de Huberto Rohden
https://ihgomes.wordpress.com 
 
 

Sofrimento?

Se você não escapar, se você permitir que o sofrimento esteja lá, se você está pronto para enfrentá-lo, se você não está tentando de alguma forma esquecê-lo, então você é diferente. O sofrimento está lá, mas apenas em torno de você, mas não é no centro, é na periferia. É impossível para o sofrimento estar no centro, não é da sua natureza. Está sempre na periferia e você é o centro.
 
Então, quando você permitir que isso aconteça, você não escapa, você não corre, você não está em pânico, de repente você se torna consciente de que o sofrimento está lá na periferia, como se tivesse acontecendo com outra pessoa, não com você e você está olhando para ele. A alegria sutil se espalha por todo o seu ser, porque você percebeu uma das verdades básicas da vida, que você é a bem-aventurança e não o sofrimento. 
 
Osho, A Bird on the Win
 http://www.osho.com
 
 
 
O fim do sofrimento
 
Se você andar pela estrada, verá o esplendor da natureza, a extraordinária beleza dos campos verdes e os céus abertos; e ouvirá o riso das crianças. Mas apesar de tudo isso, há uma sensação de sofrimento. Há a angústia de uma mulher carregando uma criança; há sofrimento na morte; há sofrimento quando você vai atrás de alguma coisa e ela não acontece; há sofrimento quando uma nação decai, vai à falência; e há o sofrimento da corrupção, não só no coletivo, mas também no indivíduo. Há sofrimento em nossa própria casa, se você olha profundamente – o sofrimento de não ser capaz de se realizar, o sofrimento de sua própria insignificância ou incapacidade e vários sofrimentos inconscientes.
 
Há também riso na vida. O riso é uma coisa adorável; rir sem razão, ter alegria sem causa no próprio coração, amar sem querer algo de volta. Mas tal riso raramente nos acontece. Estamos sobrecarregados de sofrimento, nossa vida é um processo de miséria e disputa, uma contínua desintegração, e nós quase nunca sabemos o que é amar com todo nosso ser.
 
Queremos encontrar uma solução, um meio, um método para resolver este fardo da vida, e assim, nós nunca de fato olhamos para o sofrimento. Tentamos fugir através de mitos, imagens, especulação; esperamos encontrar algum meio de evitar este peso, de ficar longe da onda do sofrimento.
 
O sofrimento tem um fim, mas ele não acontece através de algum sistema ou método. Não existe sofrimento quando existe percepção do que é. J. 
 
 
Krishnamurti, The Book of Life
http://www.jkrishnamurti.org 

 

terça-feira, 27 de março de 2018

ESCARAVELHOS
 
 
No seu livro Alegorias, Rohden descreve uma manhã de primavera no campo. Em meio de uma sinfonia primaveril com muita luz, cores, vozes, verdes prados ouve um zumbido forte a ferir-lhe os ouvidos. Diante dele adeja um lindo besouro traçando graciosos desenhos. Seguindo as evoluções aéreas o vê pousar no meio de uma esterqueira.
E lá se deixa ficar, contente e satisfeito, enterrado na imundície – porque afinal de contas é um escaravelho.

 

Rohden escreve:
 
Fui seguindo o meu caminho através do esplêndido florir da natureza, enquanto aos ouvidos me chegavam as estrofes de um hino cantado ao longe:
 
Minha vida é o lodo,
Minha vida é na esterqueira,
Pelos montes da estrumeira
Eu me lambo todo, todo.
Através de mil monturos,
Pela força do focinho,
Vou rompendo o meu caminho,
Longos túneis bem escuros.
Ah! Que aromas, que primícias,
Imundície, tu me envias!
Todo, todo me inebrias,
De balsâmicas delícias!
Pobres plantas, pobres aves!
Que ignorais os nossos gozos,
Estes cheiros voluptuosos,
Tão jucundos, tão suaves!
Lá me importam primaveras,
Puras auras, lindas flores,
Alvoradas de mil cores,
Verdes vales, altas serras!
Quando em delicioso abraço
Com o meu quinhão de esterco,
Eu de vista o mundo perco
E dos céus o vácuo espaço!
Viva, pois, a nossa gente!
Viva, cresça! Sus! Floresça!
E entre aromas esmoreça
Nos monturos, finalmente!…
Entrementes, a natureza continuava a sorrir, formosa e pura, e o sol matutino alargava cada vez mais o seu majestoso círculo pela cerúlea vastidão do firmamento; as aves trinavam, e as flores impregnavam de incenso as imensas galerias do templo de Deus…
À revelia do escaravelho…
 
Huberto Rohden

 
OBSERVAÇÃO:
 
ENTRE OS HUMANOS É COMUM ENCONTRAR PESSOAS QUE GOSTAM DE REMOER LATAS DE LIXO.
 
 
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