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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

HABITUE O CORPO 
A COMPREENDER


... atrair a paz para dentro de si e coloca-la dentro do plexo solar - porque não estamos falando de estados interiores, mas de seu corpo físico - e, de lá, dirigi-la  calmamente, vagarosamente, persistentemente, para o lugar onde a dor é mais ou menos aguda e fixa-la lá, é muito bom. Mas nem sempre é o bastante.

Se ao ampliar este movimento de abertura, você puder acrescentar uma espécie de formação mental com um pouco de vida - não apenas fria , mas com um pouco de vida nela - de que a única realidade é a Divina Realidade e que todas as células deste corpo são uma deformação desta única Realidade, a Divina, e nosso corpo é mais ou menos uma expressão desta única Realidade - se, por aspiração, por concentração, puder trazer para dentro das células do corpo a consciência desta única Realidade, toda a desordem deve necessariamente cessar.

Mirra Alfassa -  Saúde e Cura no Yoga
Mensagem recebida por email sem identificação da fonte
 
A MÃE CÓSMICA
UM ASPECTO DE DEUS


Devemos considerar Deus somente como um espírito impessoal, desprovido de toda forma e sexo? Não podemos invocar o Criador concebendo-O sob um aspecto mais familiar para a mente humana? Nesse caso, como deveríamos chamá-lo, “Pai” ou “Mãe”?

Na verdade, Deus é um e outro: Pai e Mãe. Uma porção do Seu Ser permanece sempre oculta, mas, além do espaço e do universo, ali onde existe apenas sabedoria pura, está o aspecto de Deus enquanto Pai. A natureza inteira, em compensação, é uma manifestação de Deus no aspecto Mãe, pródiga em beleza, doçura, bondade e ternura. As flores, as aves, as árvores, os rios, todos falam, em sua formosura, do espírito criador e artístico do Senhor em Seu aspecto maternal. Não podemos evitar um sorriso ao pensar na mãe, com sua Via-Láctea cheia de diamantes estelares, suas flores perfumadas, o riso de suas águas correntes e sua beleza manifestada na criação inteira. Quando contemplamos a fecundidade da terra, o crescimento das plantas e dos seres, o amor de todas as criaturas por seus pequeninos, uma profunda ternura surge em nosso interior: vemos e sentimos nisso tudo o instinto maternal de Deus. E se, em algumas ocasiões, a conduta da natureza se torna cruel e inexplicável para nós (na Índia dá-se o nome de Kali à Mãe quando se apresenta sob esse aspecto), assim também podem parecer à criança algumas das medidas disciplinares e protetoras de sua mãe.

Quando nos sentamos em um bosque sombreado e silencioso; quando, no cume de uma montanha, nos aproximamos do azul do céu; quando olhamos a areia branca, perto de um mar resplandecente, não podemos deixar de experimentar certa ternura em nosso interior: é essa a nossa reação diante do aspecto maternal de Deus. Se, ao fechar os olhos, evocamos internamente a imagem do vasto espaço, somos fascinados pelo sentimento da infinitude; e percebemos nela apenas a vibração da sabedoria pura, nada mais do que sabedoria. Esse é o aspecto de Deus enquanto Pai: a esfera ilimitada na qual não existe nenhuma criação, nem planetas, nem estrelas, apenas o poder sem forma da sabedoria. Esse é o Pai. Assim, Deus é tanto um pai como uma mãe.

Quando se concebe Deus como uma trindade composta pelo Pai, Filho e Espírito Santo, podemos ver a Mãe no Espírito Santo, a criação inteira no Filho e, no Senhor mesmo, o Pai. Assim como a mãe se reflete em seu filho, a Natureza reflete-se na criação. Deus, em Seu aspecto de Pai e Mãe, deu nascimento ao Filho, que é uma expressão de Seu amor. E nós, como parte da criação, integramos esse símbolo do amor divino.

Na família humana, podemos ver uma reprodução em miniatura da grande família divina. Deus manifesta-se tanto no pai como na mãe e, na expressão de seu amor mútuo, no filho. Por que razão essa trindade se expressa na família humana? Isso ocorre porque nós, homens, somos parte de Deus, e Ele é essa trindade. O Criador, em Sua sabedoria infinita e em Seu sentimento infinito, deu origem a veículos pelos quais Ele desejava expressar essas qualidades. E foi assim que, ao manifestar-se na criação, a sabedoria do Senhor assumiu a forma do pai, e Seu sentimento adotou a forma da mãe.

Cada um de nós é uma expressão parcial do Infinito, já que o pai atua sempre de acordo com a razão, enquanto a mãe é guiada pelo sentimento. E ambos são imperfeitos. O pai procura educar o filho pela razão e a força, ao passo que a mãe é guiada pelo sentimento e pela ternura. Ao bater em uma criatura que se encontra semi-afogada na maldade, com o objetivo de salvá-la desse estado, a severidade do pai só conseguirá afundá-la ainda mais no mal. A mãe, pelo contrário, dirá: “Ensine-a por meio do amor.” Em algumas ocasiões, convém fazer uso de certa autoridade, enquanto em outras é preferível oferecer uma grande dose de amor. Mas, se a criança recebesse somente doçura, esse excesso a prejudicaria. Os dois aspectos de Deus – o maternal e o paternal – são necessários para manter o equilíbrio.

Embora o amor paternal seja algumas vezes demasiadamente severo, o amor maternal também nem sempre é perfeito. Fritz Kreisler, certa ocasião, fez o seguinte comentário: “Minha mãe me amava tão profundamente que sempre se opôs a que eu abandonasse a Europa; no entanto, eu não seria Kreisler hoje se não tivesse enfrentado o seu amor”. Um amor como esse é egoísta e escravizador.


Mirra Alfassa
http://www.ogrupo.org.br
 

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

OS CAMINHOS DO AMOR


A forma como vemos Deus é um reflexo da forma como nos vemos a nós próprios. Se Deus nos traz à mente, principalmente, medo e culpa, isso significa que existe muito medo e culpa dentro de nós. Se vemos Deus como cheio de amor e de compaixão, assim, nós também seremos cheios de amor e compaixão.

O caminho para a Verdade é um trabalho do coração e não um trabalho da cabeça. Faça do coração o seu principal guia! Não a sua mente. Conheça, desafie, e finalmente, prevaleça sobre o seu ego com o seu coração. O conhecimento do seu ego o levará ao conhecimento de Deus.

Você pode estudar Deus através de tudo e todos no universo, porque Deus não está confinado numa mesquita, sinagoga ou numa igreja. Mas se você ainda tem a necessidade de saber onde é exatamente a Sua morada, existe apenas um lugar para procurá-lo: no coração de um verdadeiro amante.

O intelecto e o amor são feitos de diferentes materiais. O intelecto ata as pessoas em nós e não arrisca nada, mas o Amor desata todos os nós e os respectivos emaranhados, e arrisca tudo. O intelecto é sempre cauteloso e aconselha, "Cuidado com o excesso de felicidade", enquanto o amor diz: "Oh, não importa! Mergulhe!" O intelecto não se quebra facilmente, enquanto que o Amor pode reduzir-se facilmente em escombros. Mas os tesouros continuam estão escondidos entre as ruínas. Um coração partido esconde muitos tesouros.

A maioria dos problemas do mundo derivam de más interpretações e mal-entendidos. Nunca acredite nas palavras num sentido literal. Quando você entra na zona do amor, a linguagem, como a conhecemos torna-se obsoleta. Aquilo que não pode ser colocado em palavras, só pode ser compreendido através do silêncio.

Solidão e solitude são duas coisas diferentes. Quando você está solitário, é fácil iludir-se e acreditar que você está no caminho certo. A solitude é melhor para nós, e significa estar sozinho sem, no entanto, se sentir solitário. Mas eventualmente, será a melhor maneira para encontrar uma pessoa que será o seu reflexo. Lembre-se, apenas no coração de outra pessoa você pode realmente ver-se a si mesmo e sentir a presença de Deus dentro de você.

O que quer que aconteça na sua vida, e não importa o quão perturbador as coisas possam parecer, nunca entre nas proximidades do desespero. Mesmo quando todas as portas permanecem fechadas, Deus abrirá um novo caminho somente para você. Agradeça! É fácil ser grato quando tudo está bem. Um Sufi é grato não só pelo que lhe foi dado, mas também por tudo aquilo que lhe foi negado.

A paciência não significa resistir passivamente. Significa olhar para o fim de um processo. O que significa paciência? Significa olhar para o espinho e ver a rosa, olhar para a noite e ver o amanhecer. Impaciência significa ser míope por não ser capaz de ver o resultado. Os amantes de Deus nunca ficam sem paciência, pois sabem que o tempo é necessário para que a lua crescente se torne cheia.

Leste, oeste, sul ou norte fazem pouca diferença. Não importa o seu destino, apenas certifique-se de fazer de cada viagem uma viagem para dentro de si próprio. Se viajar dentro de você, você vai viajar pelo mundo inteiro e além.

A parteira sabe que quando não existe dor, o caminho para o bebê nascer não pode ser aberto, e a mãe não pode dar à luz. Da mesma forma, para um novo eu nascer, as dificuldades são necessárias. Assim como o barro precisa passar por um calor intenso para se tornar forte, o Amor só pode ser aperfeiçoado através da dor.

A busca por Amor transforma o buscador. Não existe buscador entre aqueles que buscam o Amor que não tivesse amadurecido durante o Caminho. No momento em que você começa a procurar o Amor, você começa a mudar por dentro e por fora.

Existem mais falsos gurus e mestres neste mundo do que o número de estrelas no universo visível. Não confunda as pessoas que estão centradas no poder e no egocentrismo com os verdadeiros mestres. Um verdadeiro mestre espiritual não vai dirigir a sua atenção para si mesmo e não vai esperar nenhuma obediência absoluta ou admiração de você, mas em vez disso vai ajudá-lo a apreciar e admirar o seu eu interior. Os verdadeiros mestres são transparentes como o vidro. Eles deixam a luz de Deus passar através deles.

Tente não resistir às mudanças, que vêm na sua direção. Em vez disso, deixe a vida viver através de você, e não se preocupe se a sua vida está se virando da cabeça para baixo. Como você sabe que o lado a que você está acostumado é melhor do que aquele que está por vir?

Deus está ocupado com a conclusão do Seu trabalho, tanto externamente e interiormente. Ele está totalmente ocupado com você. Cada ser humano é um trabalho em andamento, e que é lento, mas inexoravelmente movendo-se para a perfeição. Cada um de nós é um obra de arte inacabada, que igualmente, aguarda e se esforça para ser terminada. Deus lida com cada um de nós separadamente, porque a humanidade é uma bela e apurada arte de caligrafia, onde cada marca é igualmente importante para a imagem completa.

É fácil você amar um Deus perfeito, imaculado e infalível, que Ele é. O que é muito mais difícil é amar o seu companheiro ser humano com todas as suas imperfeições e defeitos. Lembre-se, só se pode conhecer aquilo que se é capaz de amar. Não há sabedoria sem Amor. A menos que aprendamos a amar a criação de Deus, não podemos amar verdadeiramente, nem conhecer verdadeiramente Deus.

A verdadeira fé é aquela que está dentro de nós. O resto facilmente se pode lavar. Existe apenas um tipo de sujeira que não pode ser lavada com água pura, e que é a mancha do ódio e do fanatismo que contamina a alma. Você pode purificar o seu corpo através da abstinência e do jejum, mas só o Amor vai purificar o seu coração.

Todo o universo está contido num único ser humano - você. Tudo o que você vê ao redor, incluindo as coisas que você pode não gostar e até mesmo as pessoas que o aborrecem ou despreza, estão presentes dentro de você, em diferentes graus. Portanto, não procure Sheitan (o diabo) fora de si mesmo. O diabo não é uma força extraordinária que ataca pelo lado de fora. É uma voz ordinária dentro de você mesmo. Se você se autoconhecer completamente, está se enfrentando com toda a honestidade e com toda a rigidez.

Se você quer mudar a forma que os outros o tratam, você deve primeiramente mudar a maneira que você se trata, completa e sinceramente, não há nenhuma outra maneira que você possa ser amado. Uma vez que você alcance esse estágio, contudo, seja sempre grato por cada espinho que os outros possam atirar em você. É um sinal de que brevemente será banhado em rosas.

Não se preocupe aonde a estrada irá levá-lo. Em vez disso, concentre-se no seu primeiro passo. Essa é a parte mais difícil, e é disso que você é responsável. Depois de dar esse passo, deixe tudo ocorrer naturalmente e tudo o resto se seguirá. Não vá com o fluxo. Seja o fluxo.

Fomos todos criados à Sua imagem, e ainda assim fomos criados como seres únicos e diferentes. Não existem duas pessoas iguais. Nenhum coração bate ao mesmo ritmo. Se Deus quisesse que todos fossem iguais, ele teria feito isso. Portanto, desrespeitar as diferenças e impor os seus pensamentos sobre os outros é desrespeitar o sagrado esquema de Deus.

Quando um verdadeiro amante de Deus entra numa taverna, a taverna torna-se a sua câmara de oração, mas quando um bebedor de vinho entra na mesma câmara, ela torna-se a sua taverna. Em tudo o que fazemos, são os nossos corações que fazem a diferença, não a (nossa) aparência exterior. Os Sufis não julgam as outras pessoas sobre a sua aparência ou nem mesmo por quem são. Quando um Sufi olha para alguém, ele mantém os dois olhos fechados, e em vez disso abre o seu terceiro olho - o olho que vê o reino interior.

A vida é somente um empréstimo temporário, e este mundo não é nada além de um esboço ou uma imitação da realidade. Somente as crianças confundem um brinquedo com a realidade. E, no entanto, os seres humanos apaixonam-se pelo brinquedo ou desrespeitosamente quebram-no ou jogam-no para o lado. Nesta vida fique longe de todos os tipos de extremidades, pois elas vão destruir o seu equilíbrio interior. Os Sufis não vão aos extremos. Um Sufi permanece sempre suave e moderado.

O ser humano tem um lugar único na criação de Deus. "Eu respirei nele o Meu Espírito", diz Deus. Todos, e cada um de nós, sem exceção, é projetado para ser o representante de Deus na Terra. Pergunte a si mesmo, quantas vezes você se comporta como um delegado Dele, ou se você já fez alguma vez isso? Lembre-se, ele desceu sobre cada um de nós para descobrirmos o Espírito divino dentro de nós e vivermos por Ele.

O inferno está aqui e agora. Assim como também está o céu. Pare de se preocupar com o inferno ou sonhar com o céu, porque ambos estão presentes dentro deste mesmo momento. Cada vez que amamos, ascendemos ao céu. Toda vez que odiamos, invejamos ou lutamos com alguém caímos diretamente no fogo do inferno.

Cada leitor compreende o sagrado Alcorão com um nível diferente consoante a profundidade da sua compreensão. Há quatro níveis de discernimento. O primeiro nível é o significado exterior e é aquele que a maioria das pessoas estão conscientes. Em seguida é o nível interior. Em terceiro, há o interior do interior. E o quarto nível é tão profundo que não pode ser colocado em palavras, e portanto, é obrigado a permanecer indescritível.

O Universo é um ser. Tudo e todos estão interligados através de uma teia invisível de histórias. Estejamos conscientes disso ou não, estamos todos num diálogo silencioso. Não faça mal. Pratique a compaixão. E não tagarele por trás de ninguém - nem sequer faça uma observação aparentemente inocente! As palavras que saem das nossas bocas não desaparecem, porque elas são perpetuamente armazenadas no espaço infinito, e elas vão voltar para nós no seu devido tempo. A dor de um homem vai magoar-nos a todos. A alegria de um homem fará todos sorrirem.

O que quer que você fale, seja por bem ou por mal, de alguma forma, isso um dia voltará para você. Consequentemente, se alguém abriga maus pensamentos acerca de você, similarmente dizendo coisas más sobre essa pessoa você só fará as coisas tornarem-se piores. Você será preso num círculo vicioso de energia maléfica. Em vez disso, passe 40 dias e 40 noites a dizer e a pensar coisas boas acerca dessa pessoa. Tudo será diferente no final desses 40 dias, porque você vai se tornar muito diferente no seu próprio interior.

O passado é uma interpretação. O futuro é uma ilusão. O mundo não se move através do tempo em uma linha reta, procedendo do passado para o futuro. Em vez disso, o tempo passa através, e dentro de nós, numa espiral interminável. A eternidade não significa tempo infinito, mas significa simplesmente intemporalidade. Se você quiser experimentar a iluminação eterna, coloque o passado e o futuro fora da sua mente e permaneça dentro do momento presente.

O destino não significa que sua vida tenha sido estritamente predeterminada. Portanto, deixar tudo para o destino e não contribuir ativamente para a música do universo é um sinal de pura ignorância. A música do universo é toda-penetrante e é composta de 40 níveis diferentes. O seu destino corresponde ao nível em que você toca a sua melodia. Você pode não mudar o seu instrumento, mas o quão bem você o toca está inteiramente nas suas mãos.

O verdadeiro Sufi é tal que, mesmo quando ele é injustamente acusado, atacado e condenado por todos os lados, ele pacientemente resiste e suporta, nunca proferindo uma única palavra ruim para qualquer um dos seus críticos. Um Sufi nunca atribui a culpa a ninguém. Como pode haver oponentes ou rivais ou mesmo "outros" quando não há nenhum "eu" em primeiro lugar? Como pode haver alguém para culpar quando existe apenas Um?

Se você quiser fortalecer a sua Fé, você vai precisar suavizar o seu interior. Para que a sua Fé seja sólida como uma rocha, o seu coração precisa ser suave como uma pluma. Através de uma doença, de um acidente, de uma perda ou de susto, todos nós somos confrontados com incidentes que nos ensinam a tornarmo-nos menos egoístas e críticos, e a tornarmo-nos mais compassivos e generosos. Alguns de nós conseguem aprender a lição e conseguem tornar-se mais suaves, enquanto outros acabam se tornando ainda mais ásperos do que antes...

Nada e ninguém deve ficar entre você e Deus. Nenhum ímã, nenhum padre, nenhum sacerdote ou qualquer outro "guardião" da moral e da religião. Nem mesmo nenhum mestre espiritual ou nem mesmo a sua fé. Acredite em seus próprios valores e nas suas próprias regras, mas nunca se torne um senhor sobre os outros. Se você continuar quebrando o coração das outras pessoas, qualquer dever religioso que você executar não terá um bom resultado. Fique longe de todos os tipos de idolatria, pois eles vão desfocar a sua visão. Deixe que Deus e somente Deus seja o seu guia. Aprenda a Verdade, meu amigo, mas tenha cuidado para não fazer fetiches das suas verdades.

Enquanto todos neste mundo se esforçam para chegar a algum lugar e se tornarem alguém, apenas para depois deixarem tudo para trás após a sua morte, você aponta para o palco supremo do nada. Viva esta vida como a luz e como o vazio, tal como o número zero. Nós não somos diferentes de um pote. Não é a decoração exterior, mas o vazio do seu interior que nos torna úteis. Assim, não é o que aspiramos alcançar, mas a consciência do nada e do vazio que nos faz continuar.

A Submissão não significa ser fraco ou passivo. Não leva a nenhum fatalismo ou capitulação. Ela é exatamente o oposto. O seu verdadeiro poder reside na submissão a um poder que vem do interior. Aqueles que se submetem à essência divina da vida viverão numa tranquilidade e numa paz imperturbável, mesmo que o mundo passe por muitas turbulências.

Neste mundo, não são as similaridades ou as regularidades que nos levam a seguir um passo em frente, mas são os opostos. E todos os opostos existentes no universo estão presentes dentro de cada um de nós. Consequentemente o crente precisa de encontrar o incrédulo que reside dentro de si próprio. E o incrédulo deve conhecer o crente silencioso dentro dele. Até ao dia em que se chega ao estágio do ser humano perfeito a Fé é um processo gradual e requer o seu aparente oposto: a descrença.

Este mundo é erigido sobre o princípio da reciprocidade. Nem uma gota de bondade, nem um grão de maldade, permanecerão sem retribuição. Se alguém está armando uma armadilha, lembre-se, Deus também está. Ele é o maior conspirador. Nem mesmo uma folha de uma planta ou de uma árvore se agita sem o conhecimento de Deus. Simplesmente (e totalmente) acredite nisso. O que quer que Deus faça, ele faz perfeitamente.

Deus é um fabricante meticuloso. Tão precisa é a Sua ordem que tudo na terra acontece em seu próprio tempo. Nem um minuto atrasado, e nem um minuto mais cedo. E para todos, sem exceção, o relógio funciona com total precisão. Para cada um, há um tempo para amar e um tempo para morrer.

Nunca é tarde demais para se perguntar a si mesmo: "Estou pronto para mudar a vida que estou vivendo? Estou pronto para mudar dentro de mim? Mesmo que um único dia na sua vida seja igual ao dia anterior, isso será certamente de lamentar. A cada momento e a cada novo fôlego, somos renovados. Há apenas uma maneira de nascer numa nova vida: morrer antes da morte.

Enquanto as partes mudam, o todo permanece sempre o mesmo. Por cada ladrão que parte deste mundo, nasce um novo ladrão. E por todos os pais que morrem neste mundo um novo filho nasce. Desta forma, não só nada permanece o mesmo, mas como também nada realmente muda. Para cada Sufi que morre, outro Sufi nasce em algum lugar.

Uma vida sem Amor não conta. Não pergunte a si mesmo qual o tipo de Amor que você deve procurar, espiritual ou material, divino ou mundano, oriental ou ocidental. As divisões só levam a mais divisões. O Amor não tem rótulos, nem definições. É o que é, puro e simples. O Amor é a água da vida. E um amante é uma alma de fogo! O universo se transforma quando o fogo ama a água.


Shams de Tabriz -As 40 Regras do Amor
http://misticismonaturalmn.blogspot.com

A DOR DA INGRATIDÃO


Vivemos no planeta Terra, e isso significa diversas coisas. Uma delas é que temos muitas mazelas a resolver. Mazelas íntimas, do ego, da personalidade transitória. Alguns Espíritos comparam os habitantes da Terra com pequenos grãos de feijão. Existem uns maiores, outros menores. Uns mais escuros, outros claros, alguns furados, outros feios. Mas, no final das contas, 'somos todos feijões'. Não estamos muito distantes uns dos outros, embora por vezes nos sintamos superiores, devido a pequenas ações, quando, em verdade, ainda temos que batalhar para sermos verdadeiramente melhores - todos nós.

Em O Livro dos Espíritos, aprendemos que existem três categorias principais de Espíritos, de acordo com seu grau de evolução (moral e intelectual): "na última, aquela que se encontra na base da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão ao mal. Os da segunda se caracterizam pela predominância do espírito sobre a matéria e pelo desejo de praticar o bem: são os Espíritos bons. A primeira, enfim, compreende os Espíritos puros, que atingiram o supremo grau de perfeição" (Kardec, 1862).

A má notícia é que nós pertencemos (ainda) à categoria dos imperfeitos. Uns mais, outros menos, mas todos imperfeitos. Entretanto, também temos notícia de que a Terra está alterando seu estado, entrando em nova fase, chamada de Regeneração, onde os habitantes tendem mais ao bem que ao mal. Daí a necessidade de um contínuo empenho nosso para que possamos habitar um Planeta melhor, mais justo e bom.

E dentro desta “boa batalha”, chamemos assim – um dos quesitos essenciais a serem desenvolvidos chama-se “resiliência”. Trata-se de um conceito sequestrado da Física, hoje largamente utilizado pela Psicologia e mesmo pela Ecologia.

Segundo o Wikipédia, no campo da Física, o termo resiliência diz respeito à "propriedade de que são dotados alguns submateriais, de acumular energia, quando exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. Após a tensão cessar poderá ou não haver uma deformação residual causada pela histerese do material – como um elástico ou uma vara de salto em altura, que se verga até um certo limite sem se quebrar e depois retorna à forma original dissipando a energia acumulada e lançando o atleta para o alto”.

Já em Psicologia, significa a capacidade de se reequilibrar, após alguma situação de angústia, de conflito psíquico, seja causado por impactos reais ou imaginários. Digo imaginários porque, em geral, costumamos aumentar nosso sofrimento para além do necessário, com fantasmas puramente emocionais, medos irracionais, porque nascidos de uma percepção equivocada sobre os eventos da vida.

E, quando falamos de dores reais, intensas, profundas, a palavra Ingratidão nos vem à mente, quase que imediatamente. Não é à toa que o Espírito Santo Agostinho, no capítulo XIV de O Evangelho segundo o Espiritismo, colocou a questão da ingratidão como ponto nevrálgico para o coração humano, dedicando um texto inteiro (o maior do livro, ditado por um Espírito, aliás), para tratar deste assunto, principalmente com relação aos filhos. Ditou ele que "De todas as provas, as mais penosas são as que afetam o coração”. Realmente. E a ingratidão surge como um dardo cheio de veneno, lançado por pessoas geralmente distraídas de sua missão pessoal, de sua essência sagrada. São os cegos espirituais do mundo, que não enxergam o bem que recebem e que mais tarde terão de ser ensinados pela Mestra Divina, chamada Dor.

Mas mantenhamos o foco naquele que recebe a ingratidão como pagamento de um bem realizado:

Em verdade, primeiramente é preciso recordar que não existem vítimas. Se a prova surge, por certo é para buscar as profundezas psíquicas do aprendiz, avaliando se já consegue dar conta de determinados desafios. E, sendo esta uma enorme demanda quando falamos em ego orgulhoso, será preciso desenvolver a resiliência (que serve para esta questão e todas as outras que envolvem desafios existenciais) – esta capacidade de reorganizar o mundo mental, mesmo com a experiência dolorosa.

Para tanto, considero três passos importantes:

1. Reconheçamos que todos somos imperfeitos: Tal constatação produz alívio imediato em nosso coração, pois nos damos conta de que também nós precisamos, com frequência, do perdão alheio, senão do próprio Pai Celestial, uma vez que somos também ingratos, nas mais variadas situações. (Por exemplo: raramente confiamos na Vida, na dinâmica da existência, com seus altos e baixos; raramente agradecemos pela proteção diária; poucos levam em conta a questão da interdependência planetária, deixando de observar certos cuidados para com o próximo e a natureza, de forma geral, quando, em verdade, deveriam se comportar de outra maneira, demonstrando gratidão à vida etc.).

2. Busquemos desenvolver a Compaixão: Jesus já alertava que não existe grande mérito em sermos bons e perdoarmos aqueles que já são benevolentes para conosco. Nesta situação estamos apenas realizando uma troca. Porém, quando conseguimos sentir verdadeira compaixão por aqueles que nada têm a nos oferecer ao coração, tornamo-nos realmente grandes. Henry Wadsworth Longfellow certa vez escreveu que “se pudéssemos ler a história secreta de nossos inimigos, encontraríamos em cada vida tristeza e sofrimento suficientes para aplacar qualquer hostilidade de nossa parte”. Além disso, compadecer-se com os problemas dos outros não é ato que se restringe a questões materiais, como, por exemplo, uma perda significativa ou uma doença grave, mas também com relação a questões morais. Nem sempre o outro compreende a dinâmica da vida e o quanto é bom sermos bons. Por ignorância, erra, vindo mais tarde a colher frutos amargos. Compadecer-se deste tipo de semeadura eleva a alma em trânsito pela Terra, denotando grande resiliência e maturidade espiritual. Reflete a capacidade de sentirmos empatia, do quanto já somos conscientes do nosso papel e da necessidade de combatermos sofrimentos voluntários, através do equilíbrio mental, espiritual, físico e social. Estamos, concomitantemente, sendo bons para conosco, portanto.

3. Construamos pontes, sempre que possível: Uma comunicação eficaz busca soluções e nunca culpados. Estejamos em contato com nossos sentimentos, pois quando mantemos um estado de consciência interior, deixamos mais claro nossos objetivos durante um diálogo. Então, se queremos realmente ajudar um irmão ingrato, não será atirando variadas pedras verbais ou mentais, mas expondo a dor causada de forma coerente e madura. Não devemos dar lições de moral com raiva e, por outro lado, devemos manter fé na justiça. Não cabe a nós punirmos os ingratos. A vida fará isso, caso seja necessário. Por fim, se o diálogo pessoal não for possível, que ele seja feito de forma mental, através de uma prece ou irradiações de amor.

Para melhor ilustrarmos este pensamento, vale recordar um dos contos de Jataka [autor de textos sobre as possíveis encarnações de Buda], chamado “O Gorila e o Homem”. Escreveu ele:

“Certo dia, um caçador adentrou a floresta, perdeu-se e caiu em um buraco profundo, do qual não conseguia sair. Ele gritou por socorro durante dias, ficando cada vez mais faminto e fraco. Enfim, o gorila o ouviu e foi até lá. Ao ver as paredes íngremes e escorregadias da cavidade. o gorila disse ao homem: “Para tirá-lo daí com segurança, primeiro vou rolar pedras aí dentro e praticar com elas”. O gorila rolou diversas pedras para dentro do buraco, uma maior que a outra, e tirou todas de lá. Finalmente chegara a vez do homem. Após subir com dificuldade, segurando-se em rochas e trepadeiras, ele tirou o homem de lá, e, com a última força que lhe restava, saiu do buraco. O homem olhou ao redor, muito feliz por ter sido salvo. O gorila, ofegante, deitou-se ao seu lado. O homem disse: “Obrigado, gorila. Você pode me guiar para sair da floresta?” E o gorila respondeu: “Claro, homem, mas primeiro preciso dormir um pouco para recuperar a energia”. Enquanto o gorila dormia, o homem o observava e começou a pensar: “Estou com muita fome. Sou capaz de descobrir como sair da floresta por conta própria. Ele é só um animal. Eu poderia bater uma dessas pedras na cabeça dele, matá-lo e comê-lo. Por que não?”. Então o homem ergueu uma das pedras o mais alto que conseguiu e atirou-a com força na cabeça do gorila. O gorila gritou de dor e sentou-se rapidamente, atordoado com a pancada, com sangue escorrendo pela face. Quando olhou para o homem e percebeu o que havia acontecido, lágrimas brotaram de seus olhos. Ele balançou a cabeça com tristeza e disse: “Pobre homem. Agora você nunca será feliz…”.

Um conto emocionante que certamente traduz diversas situações vividas na Terra, onde o ingrato não reconhece nem valoriza o bem recebido.

Percebemos que a má vontade do homem tentou justificar a si mesma: “Ele é só um animal”. Naquele momento, o homem racionalizou, como forma de defesa íntima – isso facilitou a decisão pela ação nefasta. Só mais tarde poderá perceber que enganara a si mesmo…

Por outro lado, a bondade, a compaixão do gorila foram sua própria recompensa. Não fora tomado por raiva ou ódio. A primeira flecha moral atingiu-o na forma de uma pedra; não havia por que acrescentar injúria ao ferimento com uma segunda flecha de rancor, atirada por ele mesmo. Perdoou, tão logo recebera a ofensa. Não viu necessidade de desforra, pois sabia que o homem já não conseguiria ser feliz. Agiu com equanimidade, portanto.

O gorila foi resiliente. Apesar da experiência dolorosa, não se desequilibrou, não se desprendeu da própria essência amorosa.

E, finalizando este despretensioso artigo, desejo ainda relembrar uma das mais bonitas passagens do Evangelho de Jesus, no qual os evangelistas narram Sua aparição aos discípulos estupefatos, dias após a morte na cruz. Naquela oportunidade, após ter sido abandonado por 11 dos 12 amigos hebreus, durante toda a caminhada de dura prova até o Calvário, sendo por fim erguido na madeira e pregado como um ladrão comum, sorriu aos discípulos, dizendo, apenas: “A Paz de Deus seja convosco!”…

Nada de muxoxos, reclamações ou cara feia. Nada de desapontamentos. Apenas amor nos olhos, na fala e no coração.

Eis a sublime mensagem do Messias, nesta passagem: Perdão, compaixão, resiliência…, amor…

Aliás, caso não fosse essa a postura do grande Mestre, o que seria do cristianismo?

Vale refletir…


 
http://www.oconsolador.com.br

O MECANISMO DA NECESSIDADE
 E DA DEPENDÊNCIA

 
... a necessidade, a paixão e o amor, acho que tudo isso está relacionado entre si. Se pudermos examinar esta matéria de modo profundo e fundamental talvez então possamos compreender todo o significado do desejo. Mas, antes de podermos compreender o desejo, com todos os seus conflitos e torturas, acho necessário compreender-se a questão da necessidade.

Naturalmente, temos necessidade de certas coisas exteriores, superficiais, tais sejam roupas, teto e alimentos. Estas coisas são essenciais para todos nós. Mas, necessitamos realmente de mais alguma coisa? Psicologicamente, existe uma necessidade real de sexo, de fama, do imperioso impulso da ambição, do perpétuo ansiar por mais e mais? De que necessitamos, psicologicamente? Pensamos que necessitamos de muitas coisas, e daí é que resulta todo o sofrimento da dependência. Mas, se examinarmos realmente, se investigarmos profundamente a questão, existe alguma necessidade essencial, psicologicamente, interiormente? Acho que valeria a pena fazermos seriamente esta pergunta a nós mesmos. A dependência psicológica de outra pessoa nas relações, a necessidade de estar em comunhão com outro, a necessidade de aderir a um dado padrão de pensamento e de atividade, a necessidade de preenchimento, de nos tornarmos famosos — todos conhecemos essas necessidades e constantemente estamos cedendo a elas. E penso que seria significativo se pudéssemos, cada um de nós, tentar descobrir quais são realmente as nossas necessidades e até que ponto delas dependemos. Porque, se não compreendermos a necessidade, não seremos capazes de compreender o desejo, não seremos capazes de compreender a paixão e, por conseguinte, o amor. Seja rico, seja pobre, um homem necessita evidentemente de comida, de roupa e de teto, embora, mesmo aí, a necessidade possa ser limitada, pequena, ou expansível. Mas, além dessa, existe realmente alguma necessidade? Por que se tornaram tão importantes as nossas necessidades psicológicas, por que se tornaram uma força tão imperiosa e compulsiva? São elas, meramente, uma fuga de algo muito mais profundo?

Em nossa investigação não estamos procedendo analiticamente. Estamos tentando encarar o fato, ver exatamente o que é; e isso não requer nenhuma espécie de análise, de psicologia, de engenhosas e digressivas explicações. O que estamos tentando é ver por nós mesmos quais são as nossas necessidades psicológicas, e não explicá-las, não racionalizá-las, e sem perguntar: “Que faremos sem elas? Eu tenho de tê-las”. Isso fecha a porta à ulterior investigação. E, evidentemente, a porta está também hermeticamente fechada quando a investigação é puramente verbal, intelectual ou emocional. A porta está aberta quando desejamos realmente enfrentar o fato, e isso não requer um intelecto extraordinário. Para se compreender um problema muito complexo, necessita-se de uma mente clara, simples; mas nega-se a simplicidade e a clareza quando temos uma quantidade de teorias e estamos tentando evitar o problema.

A questão é: Por que temos essa imperiosa necessidade de preencher-nos, por que somos tão cruelmente ambiciosos, por que tem o sexo tão extraordinária importância em nossa vida? Não importa a qualidade ou a quantidade de nossas necessidades, ou se alguém tem “o máximo” ou “o mínimo”; mas, por que existe esse tremendo impulso para nos preenchermos, na família, num nome, numa posição, etc., com todas as respectivas ansiedades, frustrações e sofrimentos — impulso que a sociedade estimula e a igreja abençoa?

Ora, se examinardes isso, pondo de parte a reação de dizer: “Que me aconteceria se eu não tivesse êxito na vida?” — descobríreis, sem dúvida, algo muito mais profundo, ou seja o medo de “não ser”, do isolamento completo, do vazio e da solidão. Ele lá está, profundamente oculto, esse anseio tremendo, esse medo de se ver isolado de tudo. Eis a razão por que nos apegamos a todas as formas de relação. Eis por que existe a necessidade de pertencer a alguma coisa, a um culto, uma sociedade, de entregar-se a certas atividades, de ater-se a determinada crença; porque, dessa maneira, podemos fugir da realidade interior, profunda. É esse medo, por certo, que força a mente, o intelecto, nosso ser inteiro, a aderir a uma dada forma de crença ou de relação, a qual se torna, então, necessidade.

Não sei se alcançastes este ponto, nesta investigação, — não verbalmente, porém realmente. Isso significa descobrir diretamente e enfrentar o fato de se ser nada, de se estar interiormente vazio como uma concha e coberto das joias do saber e da experiência que, na realidade, nada mais são do que palavras e explicações. Ora, para enfrentar esse fato sem desespero, sem sentir quanto ele é terrível, porém, simplesmente, “ficar com ele”, é necessário em primeiro lugar compreender a necessidade. Se compreendermos o significado da necessidade, ela não terá mais tanta preponderância, em nossa mente e coração.

Voltaremos a este tópico mais tarde. Mas passemos a considerar o desejo. Conhecemos — não é verdade? — o desejo que se contradiz, se tortura, se lança em diferentes direções; a dor, a agitação, a ansiedade do desejo, e o disciplinar, o controlar dele. E, em nossa eterna batalha com ele, torcemo-lo, desfiguramo-lo, tornamo-lo irreconhecível; mas ele subsiste, vigilante, expectante, premente. O que quer que se faça — sublimá-lo, fugir-lhe, rejeitá-lo ou aceitá-lo, soltar-lhe as rédeas — ele está sempre presente. E sabemos que os instrutores religiosos e outros têm dito que devemos ser isentos de desejos, cultivar o desapego — coisa realmente absurda, porquanto o desejo tem de ser compreendido e, não, destruído. Se destruís o desejo, podeis destruir a própria vida. Se pervertemos o desejo, se o moldamos, controlamos, dominamos, reprimimos, podemos estar destruindo algo extraordinariamente belo.

Temos de compreender o desejo; mas é dificílimo compreender essa coisa tão cheia de vitalidade, tão exigente e premente, pois no próprio preenchimento do desejo gera-se a paixão, com os prazeres e dores respectivos. E para se compreender o desejo não deve, naturalmente, haver escolha. Não se pode julgar o desejo chamando-o “bom” ou “mau”, “nobre” ou “ignóbil”, ou dizer: “Conservarei este desejo e rejeitarei aquele”. Tudo isso deve ser posto de parte para podermos descobrir a verdade relativa ao desejo — sua beleza, fealdade, ou o de adquirir conhecimentos e acumular vários tipos de experiência, ao que quer que seja. Este é um assunto muito interessante, mas aqui no Oeste, ou Ocidente, muitos desejos podem ser preenchidos. Tendes carros, prosperidade, melhor saúde, a possibilidade de ler livros, ao passo que no Oriente existe ainda carência de alimentos, de roupa e de moradia, bem como a desdita e a degradação da pobreza. Mas tanto no Ocidente como no Oriente, o desejo sempre arde em todos os sentidos; ele está sempre presente, exteriormente e também interiormente, bem entranhado. O homem que renuncia ao mundo está tão tolhido pelo seu desejo de buscar Deus, como o está o homem que busca a prosperidade. Assim, o desejo está presente a todas as horas, ardente, contraditório, criando agitação, ansiedade, culpa e desespero.

Não sei se já fizestes experiências a esse respeito; mas que aconteceria se não condenássemos o desejo, se não o julgássemos “bom” ou “mau”, porém ficássemos simplesmente apercebidos dele? Será que sabeis o que significa “estar apercebido de alguma coisa”? Em geral, não estamos “apercebidos”, porque nos acostumamos a condenar, a julgar, a avaliar, a identificar, a escolher. A escolha, evidentemente, impede o percebimento, porque a escolha é sempre feita como resultado de conflito. Estar apercebido, ao entrar numa sala, ver os móveis, o tapete ou a falta dele, etc. — ver, simplesmente, estar apercebido de tudo sem tendência para julgar — é dificílimo. Já experimentastes olhar para uma pessoa, uma flor, uma ideia, uma emoção, sem fazer escolha, sem emitir julgamento?

E se fizermos o mesmo com o desejo, se “vivermos com ele” — sem rejeitá-lo ou dizer “Que farei com este desejo? Ele é tão feio, veemente, violento”, sem lhe aplicar um nome, um símbolo, sem encobri-lo com uma palavra — existe então ainda a causa da agitação? É então o desejo algo que se deve lançar fora, destruir? Desejamos destruí-lo porque um desejo está em antagonismo com outro, criando conflito, sofrimento e contradição; e pode-se ver como tentamos fugir desse conflito perene. Assim, pode-se estar apercebido da totalidade do desejo? O que entendo por “totalidade” não é simplesmente um desejo ou muitos desejos, mas a “qualidade total” do próprio desejo. E só se pode estar apercebido da totalidade do desejo, quando não há opinião a seu respeito, nem palavra, nem julgamento, nem escolha. Estar apercebido de cada desejo ao surgir, não se identificar com ele nem condená-lo — nesse estado de alerta existe desejo ou o que existe é uma chama, uma paixão, que nos é necessária? A palavra “paixão” é de ordinário reservada para uma coisa: o sexo. Mas, para mim, paixão não é sexo. Precisamos de paixão, intensidade, para podermos viver realmente com uma coisa; para vivermos plenamente, contemplarmos uma montanha, uma árvore, olharmos realmente para um ente humano, devemos ter intensidade apaixonada. Mas essa paixão, essa chama é negada, quando estamos tolhidos por vários impulsos, exigências, contradições, temores. Como pode sobreviver uma chama se a sufocamos com uma quantidade de fumo? Nossa vida é só fumaça; buscamos a chama, mas a estamos negando pelo reprimir, controlar, moldar a coisa que chamamos desejos.

Sem a paixão, como pode haver beleza? Não me refiro à beleza de quadros, edifícios, pinturas de mulheres, etc., que têm suas peculiares formas de beleza, mas não estamos tratando da beleza superficial. Uma coisa construída pelo homem, como uma catedral, um templo, um quadro, um poema, ou uma estátua, pode ser ou pode não ser bela. Mas existe uma beleza superior ao sentimento e ao pensamento e que não pode ser percebida, compreendida ou conhecida se não existe paixão. Mas não interpreteis erroneamente a palavra “paixão”. Não é uma palavra feia; não é uma coisa adquirível no mercado ou de que se pode falar romanticamente. Não tem absolutamente nenhuma relação com a emoção, o sentimento. Não é coisa respeitável; é uma chama destruidora de quanto é falso. E temos sempre tanto medo de deixar essa chama consumir as coisas que nos são caras, as coisas que chamamos importantes!

Afinal de contas, a vida que atualmente levamos, baseada em necessidades, desejos e métodos de controlar o desejo, faz-nos mais superficiais e vazios do que nunca. Podemos ser talentosos, ilustrados, e capazes de repetir tudo o que aprendemos; mas as máquinas eletrônicas fazem a mesma coisa e já, em certos setores, as máquinas se tornaram mais capazes do que o homem, mais exatas e rápidas em seus cálculos. E assim estamos sempre voltando a este mesmo tópico, ou seja, que a vida que vivemos atualmente é bem superficial, estreita, limitada, e isso porque, profundamente, estamos vazios, sós, e sempre tentando encobrir, preencher esse vazio; por isso, a necessidade, o desejo se torna uma coisa terrível. Nada pode preencher esse profundo vazio interior — nem deuses, nem salvadores, nem o saber, nem as relações, nem os filhos, nem o marido, nem a esposa — nada. Mas se a mente, o intelecto, a totalidade de vosso ser, é capaz de encará-lo, de “viver com ele”, vereis então que, psicológica, interiormente, não há necessidade de coisa alguma. Esta é a verdadeira liberdade.

Isso, porém, requer profundo discernimento, profunda investigação, incessante vigilância; e desse modo talvez venhamos a saber o que é o amor. Como pode haver amor quando há apego, ciúme, inveja, ambição e todas as hipocrisias que acompanham esta palavra? Mas, se tivermos passado por aquele vazio — que é uma realidade e não um mito nem uma ideia — veremos que o amor e o desejo e a paixão são uma mesma coisa. Se se destrói uma, destrói-se a outra; se se corrompe uma, corrompe-se a beleza. Para se penetrar tudo isso requer-se, não uma mente desapegada, dedicada ou uma mente religiosa, mas uma mente disposta a investigar, uma mente nunca satisfeita, que está sempre a olhar, a vigiar, a observar a si própria — a conhecer a si mesma. Sem o amor, nunca será possível descobrir o que é a verdade.

PERGUNTA: Como se pode descobrir qual é o nosso problema principal?

KRISHNAMURTI: Por que dividir os nossos problemas em principais e secundários? Não é tudo problema? Por que fazer deles pequenos problemas ou grandes problemas, problemas essenciais ou não essenciais? Se pudéssemos compreender um só problema, examiná-lo muito profundamente, por maior ou menor que ele seja, esclareceríamos todos os outros problemas. Esta não é uma resposta retórica. Consideremos um problema qualquer: cólera, ciúme, inveja, ódio — conhecemo-los todos muito bem. Se examinardes com profundeza a cólera, em vez de procurardes expulsá-la, que encontrais então? Por que se encoleriza uma pessoa? Porque se sente magoada: alguém lhe disse algo ofensivo; e se lhe dizemos algo que a lisonjeia, sente-se satisfeita. Por que se ofende uma pessoa? Porque atribui importância a si mesma, não é verdade? E por que existe essa importância própria? Porque cada um tem de si mesmo uma ideia, um símbolo, uma imagem — uma ideia do que deveria ser, do que é, do que não deveria ser. Por que cria uma pessoa uma imagem a respeito de si própria? Porque nunca estudou o que ela é realmente. Pensamos que devemos ser isto ou aquilo, o ideal, o herói, o exemplo. O que nos desperta a cólera é ver que está sendo atacado o nosso ideal, a ideia que temos de nós mesmos. E a ideia que temos de nós mesmos representa nossa fuga ao fato, ao que somos realmente. Mas, quando estais observando o fato real, o que sois realmente, ninguém vos pode ofender. Então, se uma pessoa é mentirosa e lhe dizem que ela é mentirosa, isso não pode significar uma ofensa, porque se trata de um fato. Mas, se queremos aparentar que não somos mentirosos e alguém nos diz que o somos, tornamo-nos encolerizados, violentos. Assim, estamos sempre vivendo num mundo imaginário, mítico, e nunca no mundo da realidade. Para se observar o que é, vê-lo, familiarizar-se com ele, não deve haver julgamento, nem avaliação, nem opinião, nem medo.[...]

PERGUNTA: Por que nos assalta o medo ao nos tornarmos apercebidos de nosso próprio vazio?

KRISHNAMURTI: O medo só se manifesta quando estamos fugindo da coisa que é; quando a estamos evitando, repelindo. Se vos adiais verdadeiramente em presença da coisa, olhando-a de frente, existe medo então? Fugir, movimentar-se para longe do fato, atemoriza. O temor é “mecanismo” de pensamento, e o pensamento origina-se do tempo; e se não compreenderdes todo o “mecanismo” do pensamento e do tempo, não compreendereis o medo. Olhar o fato, sem procurar evitá-lo, é pôr fim ao temor. [...]

PERGUNTA: A libertação pode ser realizada por todos?

KRISHNAMURTI: Decerto. Ela não é dada só a uns poucos. O estado de libertação não é uma espécie de “aristocracia”; está ao alcance de quantos queiram investigá-lo. Lá está, com beleza e força sempre mais ampla e profunda, quando há autoconhecimento. E cada um pode começar a conhecer-se observando a si próprio, como quem se vê ao espelho. O espelho não mente; mostra-vos vossas feições exatamente como são. Da mesma maneira podeis observar-vos, sem desfiguração. Começais então a descobrir-vos. É uma coisa extraordinária o autoconhecimento. O caminho da realidade, daquela imensidão desconhecida, não passa pela porta de uma igreja nem por livro nenhum, mas apenas pela porta do autoconhecimento.

Krishnamurti,  O Passo Decisivo
http://pensarcompulsivo.blogspot.com