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sábado, 30 de junho de 2018

A SABEDORIA DE PITÁGORAS


Como a Filosofia Elimina 
as Causas do Sofrimento
 
 
Carlos Cardoso Aveline

Desânimo, preocupação, ansiedade? Experimente deixar de lado as inúmeras urgências que provocam o sofrimento do cidadão moderno. A filosofia é uma atividade prática. Respire fundo um instante, relaxe os músculos e decida pensar por alguns minutos em um assunto simples e eterno, o tema mais importante da vida: a felicidade humana.

Mesmo estando instalado no século 21, você pode dialogar, através da filosofia, com os principais pensadores da Grécia, de Roma e da Índia. Basta desligar um pouco a televisão e as preocupações da semana que passou. Parar um pouco não é perda de tempo. Felicidade é bom negócio: quem vive relaxado e de bem com a vida tem melhores chances de êxito em todas as áreas de atividade.

O filósofo não é alguém que fala coisas complicadas e que só ele entende. É um cidadão que vive de maneira simples. Ele dedica sua vida a compreender o mundo e a si mesmo, de modo a produzir paz interior e felicidade. A palavra “filósofo” significa apenas amigo da sabedoria. “Ser filósofo é o mesmo que ser bom”, escreveu Musônio Rufo no início da era cristã. Ele ainda disse: “a filosofia consiste em ocupar-se da perfeita honestidade e nada mais”[1].

É verdade que os filósofos não dão muita importância às coisas de curto prazo. Eles parecem ter quase todo o tempo do mundo à sua disposição, e raramente são escravos do hábito de olhar para o relógio de cinco em cinco minutos. Além de atuar nas situações do seu próprio tempo, as diferentes gerações de filósofos dialogam com bastante naturalidade entre si, mesmo separadas umas das outras por milênios. Um filósofo pitagórico diz algo no século 6 antes de Cristo e outro filósofo responde no mundo romano, nos primeiros séculos da nossa era. A polêmica tem outro momento importante nos séculos 18 ou 19, mas você pode participar dela no século 21 e também retomá-la em sua próxima encarnação, dentro de, digamos, uns 2000 anos.

A virtude é um dos temas centrais da filosofia. O pitagórico Theages afirmou: “a verdadeira virtude é o hábito de ficar dentro do que é adequado.” Musônio Rufo definia a questão como um processo científico-experimental: “a virtude é uma ciência não só teórica, mas também prática, assim como a medicina e a música”. Para a filosofia clássica, a virtude é a capacidade de viver corretamente, isto é, sem causar dor para si nem para os outros. Nesta linha, o pitagórico Hipodamus concluiu: “A felicidade não pode durar sem virtude, e a virtude nasce primeiro em quem é racional”.

A doutrina de Pitágoras ensina que para viver a felicidade e a iluminação do espírito é necessário purificar a alma de toda paixão humana. A ideia está certa. Mas libertar a mente das ansiedades e preocupações em relação ao mundo externo é uma tarefa de longo prazo. “O homem não é nem feliz nem bom por natureza, mas é preciso disciplina e cuidados para alcançar bondade e felicidade”, escreveu o pitagórico Hipodamus [2]. “Para ser bom”, disse ele, “o homem deve ter virtude. Mas para ter felicidade, ele deve ter boa fortuna.”

O que significa a palavra “fortuna”, usada aqui por Hipodamus? Superficialmente, é apenas boa sorte. Mas, para a filosofia esotérica, “boa fortuna” significa bom carma. Quem parece ser protegido pela boa sorte está, na verdade, colhendo um carma positivo plantado antes, nesta existência ou em uma vida anterior. É sempre recomendável aproveitar a oportunidade atual, portanto, plantando mais bom carma agora, para ter o que colher no futuro.

Hipodamus deu ainda outro motivo para explicar por que nem todas as pessoas boas são felizes: “O homem bom que busca o mundo divino é feliz; mas o homem bom que busca coisas de natureza mortal é infeliz”. A importância prática desta ideia é enorme. Embora sejamos bons, sofreremos bastante se estivermos identificados com coisas passageiras. Mas, se possuirmos a sabedoria e o desapego necessários, poderemos conhecer uma felicidade duradoura. Isso nos leva a outro problema: administrar os momentos felizes requer talento, porque é fácil apegar-se cegamente à satisfação e destruir a fonte de felicidade. A chave para resolver o problema, segundo Hipodamus, está na humildade e na busca contínua de inspiração interior:

“O homem deve administrar as coisas terrenas agradáveis buscando a virtude, assim como o piloto de um barco navega nas águas observando as estrelas, mesmo quando o vento é favorável. Aquele que faz assim não só segue o ser sagrado, mas harmoniza o bem humano com o bem divino.”

Segundo Hipodamus, a felicidade individual é inseparável da felicidade coletiva: “Se não há harmonia e inspiração divina nos assuntos diários, as coisas belas não podem permanecer em uma condição excelente. Se não existe uma legislação justa na cidade, não é possível que o cidadão seja bom ou feliz. Se não houver saúde, não será possível que o pé ou a mão sejam fortes e saudáveis. (…) A harmonia, sem dúvida, é a virtude do mundo. A legislação justa é a virtude de uma cidade. Saúde e força são a virtude de um corpo. Nestas três coisas – o mundo, a cidade e o corpo – as partes vivem em função do todo e do Universo.”

Onde está o alicerce da nossa vida? Onde podemos apoiar-nos? O filósofo Estobeu registrou que “a riqueza é uma âncora sem firmeza; a glória tem ainda menos estabilidade, assim como o corpo físico ou o poder pessoal e as honras. A prudência, a generosidade e a força interior são as âncoras poderosas. Nenhuma tempestade pode sacudi-las.” De fato, podemos evitar bastante sofrimento aprendendo a construir nossa vida sobre a base firme da verdade, e não sobre coisas efêmeras.

Para os filósofos clássicos, cada ser humano é autor e diretor de sua própria vida. Ele deve construí-la como quem faz uma obra de arte. “Assim como numa estátua, todas as partes de uma vida devem ser bonitas”, ensinou Estobeu. É melhor avançar pela vida e ganhar experiência de modo integral e equilibrado. Todos os aspectos do nosso ser devem participar da aprendizagem: deste modo, os pontos fracos são gradualmente reduzidos e eliminados.

“Quem é escravo das suas paixões não pode atingir a liberdade”, afirma o mesmo texto de Estobeu. Aqui o filósofo questiona as ideias superficiais sobre liberdade. Para ele, obedecer aos desejos animais não é liberdade. A verdadeira liberdade surge do ato de compreender os desejos exagerados como parte do ciclo da ignorância e da dor. Livre deles, o amigo da verdade vive moderadamente. Este equilíbrio interior traz felicidade. Traduzo mais quatro fragmentos preciosos de Estobeu sobre o uso da palavra, a ética e a pureza:

* “Fique em silêncio ou diga algo melhor que o silêncio. (…) Um conhecimento científico do mundo divino faz com que o homem use poucas palavras”.

* “Quando um homem sábio abre sua boca, a beleza da sua alma fica à mostra, como no caso das estátuas em um templo.”

* “Aqueles que não punem os maus gostariam de agredir os bons.”

* “Perceba o seu corpo como a roupa do seu espírito; e, portanto, mantenha-o puro”.

Junto com a pureza e a ética, uma das questões básicas da filosofia pitagórica é a da brevidade da vida. Quando o cidadão finalmente aceita este fato doloroso, ele encontra a paz. Hiparchus escreveu, em seu tratado sobre a tranquilidade:

“Já que os homens vivem durante um período muito breve, se sua vida é comparada com o tempo todo que existe, eles farão, digamos, uma viagem mais bonita se passarem pela vida com tranquilidade. Eles terão tranquilidade no mais alto grau se conhecerem cientificamente e com exatidão a si mesmos, isto é, se reconhecerem que são frágeis e mortais, que têm um corpo que pode adoecer e ser ferido facilmente, e que é ameaçado por muitas coisas seriamente prejudiciais até seu último momento de vida (…). Mas as doenças que atacam a alma são muito maiores e mais graves [que as doenças do corpo]. Porque toda conduta injusta, má, ilegal e perversa da vida do homem se origina das paixões da alma.”

Além de observar de que modo a ignorância espiritual produz sofrimento, é preciso colocar em movimento, de fato, a sabedoria em nossas vidas. Em seu Tratado Sobre o Homem Bom e Feliz, o pitagórico Architas escreveu:

“Dos bens, alguns são desejáveis em si mesmos, e não por causa de outras coisas; outros são desejados por causa de um segundo objetivo e não por seu próprio valor. Porém há alguns bens que são desejados tanto por seu próprio valor quanto em função de outros objetivos. Qual é, vejamos, o bem desejável em si mesmo, e não em função de alguma outra coisa? Evidentemente, é a felicidade. Porque nós aspiramos outras coisas para alcançar a felicidade, mas não aspiramos à felicidade para alcançar outra coisa qualquer. E quais são os bens que nós desejamos em função de outra meta, e não por seu próprio valor? É evidente que são as coisas úteis, que permitem obter objetivos desejados, como trabalhos corporais e exercícios que criam bons hábitos no corpo, e também leitura, meditação e estudo, que são realizados em função da virtude e de coisas belas. Mas quais são as coisas desejadas por seu próprio valor, e também em função de outro objetivo? Estas são as virtudes, e os bons hábitos que vêm com elas; as decisões e ações deliberadas e conscientes, e tudo aquilo que acompanha o que é realmente belo.”

Os pitagóricos ensinam que o bem supremo é a justiça. Nada mais natural, porque justiça é apenas o nome ocidental da lei do Carma, que governa o universo e também cada uma das suas partes. Theages escreveu:

“A justiça é aquilo que separa todos os erros e todas as virtudes da alma. Justiça é uma certa ordem na combinação correta das partes da alma. É uma virtude perfeita e suprema, porque todas as coisas boas estão contidas nela, mas as outras qualidades positivas da alma não podem existir sem ela. Por isso a justiça tem grande força tanto entre os deuses como entre os homens. Esta virtude contém o laço pelo qual o todo e o universo são mantidos juntos, e pelo qual deuses e homens mantêm contato.”

Para Theages, “a virtude não está em eliminar os sentimentos da alma, mas em harmonizá-los. Porque a saúde, que é uma certa combinação das energias do corpo, não é alcançada com a eliminação do que é quente ou frio, úmido ou seco, mas sim com a combinação correta destes elementos. Assim também, na música, a beleza não consiste em eliminar o agudo e o grave, mas, quando eles são harmonizados, o acorde é produzido e a dissonância é eliminada. (…) Deste modo, quando a raiva e o desejo são harmonizados, os vícios e outras paixões são extirpados e a conduta é regenerada.” [3]

Não devemos, pois, buscar necessariamente a eliminação dos contrastes e das dificuldades nas situações concretas da nossa vida. Situações fáceis muitas vezes produzem grandes quantidades de preguiça, acomodação e rotina. Em compensação, as situações difíceis e os grandes desafios nos forçam a crescer.

As verdadeiras causas do conflito e da ansiedade é que devem ser eliminadas. As crises servem para alargar nosso horizonte. A incerteza do futuro nos faz acordar para a necessidade de compreender a vida eterna e redescobrir conscientemente a nossa vocação para o que é infinito.
 
 
NOTAS:
 
[1] Musônio Rufo em “Disertaciones, Fragmentos Menores”, Biblioteca Clásica Gredos, Editorial Gredos S. A., Madrid., 1995. Ver pp. 59, 85, 87. 
 
[2] A seguir, em várias citações, traduzo trechos pitagóricos inéditos em português, incluídos em “Life of Pythagoras”, de Iamblichus (Jâmblico). A tradução do grego é de Thomas Taylor, em livro editado em Londres por John Watkins, 1926. Há uma excelente coletânea de material pitagórico publicada nos EUA sob o título “The Pythagorean Sourcebook and Library”, compilada por Kenneth Sylvan Guthrie, editada por Phanes Press, Michigan, em 1987, com 361 pp.
 
[3] “Life of Pythagoras”, Iamblichus, 1926, obra citada, p. 170.
 
http://www.filosofiaesoterica.com

O ESPELHO ENEVOADO


Três mil anos atrás havia um ser humano como eu e você, que vivia perto de uma cidade cercada de montanhas. O ser humano estudava para tornar-se um xamã, para aprender a sabedoria de seus ancestrais, mas não concordava completamente com tudo aquilo que aprendia. Em seu coração, sentia que existia algo mais.

Um dia, enquanto dormia numa caverna, sonhou que viu o próprio corpo dormindo. Saiu da caverna numa noite de lua nova. O céu estava claro e ele enxergou milhares de estrelas. Então, algo aconteceu dentro dele que transformou sua vida para sempre. Olhou para suas mãos, sentiu seu corpo e escutou a própria voz dizendo: "Sou feito de luz; sou feito de estrelas".

Olhou novamente para as estrelas e percebeu que não eram as estrelas que criavam a luz, mas antes a luz que criava as estrelas . "Tudo é feito de luz", acrescentou ele, "e o espaço no meio não é vazio". E ele soube tudo o que existe num ser vivo, e que a luz é a mensageira de vida, porque está viva e contém todas as informações.

Compreendeu então, que embora fosse feito de estrelas, ele não era essas estrelas. "Sou o que existe entre as estrelas", pensou. Então, chamou as estrelas de tonal e a luz entre as estrelas de nagual, e soube que o que criava a harmonia e o espaço entre os dois é a Vida ou Intenção. Sem a vida o tonal e o nagual não poderiam existir. A Vida é a força do absoluto, do supremo, do criador que cria tudo.

Foi isso o que ele descobriu: tudo o que existe é uma manifestação do ser que denominamos Deus. Tudo é Deus. E ele chegou à conclusão de que a percepção humana é apenas a luz que percebe a luz. Também viu que a matéria é um espelho - tudo é um espelho que reflete luz e cria imagens dessa luz - e o mundo da ilusão, o Sonho, é apenas fumaça que não permite que enxerguemos quem realmente somos. "O verdadeiro nós é puro amor, pura luz", disse ele.

Essa compreensão mudou sua vida. Uma vez que ele soube quem realmente era, olhou ao redor para os outros seres humanos e para o restante da natureza e ficou surpreso com o que viu. Viu a ele mesmo em tudo - em cada ser humano, em cada animal, em cada árvore, na água, na chuva, nas nuvens, na terra. E viu que a Vida misturava o tonal e o nagual de formas diferentes para criar bilhões de manifestações de Vida.

Naqueles poucos momentos ele compreendeu tudo. Ficou muito excitado e seu coração encheu-se de paz. Mal podia esperar para contar ao seu povo o que descobrira. Mas não havia palavra para explicar. Tentou falar com os outros, mas eles não conseguiam entender. Eles perceberam que o homem havia mudado, que algo bonito se irradiava dos olhos e da voz dele.

Repararam que ele não julgava mais as coisas e as pessoas. Ele não era mais como os outros.

Ele entendia os outros muito bem, mas ninguém conseguia entendê-lo.

Acreditavam que ele fosse a encarnação viva de Deus, e ele sorriu quando escutou isso, e lhes disse: "É verdade. Sou Deus. Mas vocês também são Deus. Somos o mesmo, você e eu. Somos imagens de luz. Somos Deus". Mesmo assim, as pessoas não o entenderam.

Havia descoberto que era um espelho para as outras pessoas, um espelho no qual podia observar a si mesmo. "Todo mundo é um espelho", disse ele. Viu a si mesmo em todos, mas ninguém o viu como eles mesmos. Então compreendeu que todos estavam sonhando, mas sem consciência, sem saber o que realmente eram.

Não podiam enxergá-lo como eles mesmos porque havia uma parede de nevoeiro entre os espelhos. E essa parede era construída pela interpretação das imagens de luz - o Sonho dos seres humanos.

Então, ele percebeu que logo iria esquecer tudo o que aprendera. Queria lembrar-se de todas as visões que tivera; portanto, decidiu chamar a si mesmo de Espelho Enevoado, para que sempre soubesse que a matéria é um espelho e que a névoa do meio é o que nos impede de saber quem somos.

Ele disse: "Sou o Espelho Enevoado, porque estou vendo a mim mesmo em todos vocês, mas nós não reconhecemos um ao outro por causa do nevoeiro entre nós. Esse nevoeiro é o Sonho, e o espelho é você, o sonhador".


Don Miguel Ruiz - Texto extraído do livro "Os Quatro Compromissos"
http://www.ippb.org.br 



OS QUATRO COMPROMISSOS



1 - SEJA IMPECÁVEL COM SUA PALAVRA
 
É o compromisso mais importante. É através da palavra que expressamos nosso poder criativo, quer seja através da fala ou do pensamento. É o mais poderoso instrumento que possuímos, e tanto pode ser usado para nos libertar como para nos escravizar.

O primeiro passo é ter consciência do poder da palavra. E aí então, torná-la impecável. Impecável significa "sem pecado". Bom, mas o que é pecado? Pecado é quando vamos contra a nossa natureza mais íntima, a nossa essência. Ou seja, sempre que nos julgamos, estamos pecando. Sempre que nos julgamos, nos criticamos, nos culpamos, nos condenamos, estamos pecando. E isso cria uma série de conflitos em nossa vida. E assim sem percebermos vamos nos escravizando a esses conflitos.

Se passarmos a sermos impecáveis com nossa palavra iremos, pouco a pouco, re-criar nossa vida na direção do bem, do amor, da harmonia. E nos libertar do conflito.

Esse é um compromisso difícil de assumir, pois vai contra muito do que nos ensinaram. Por isso que é fundamental, antes de tudo, acreditar no poder da palavra, pois foi esse mesmo poder, usado erradamente, que criou tanto conflito em nossa vida.

O próximo passo é assumir consigo mesmo o compromisso de sermos impecáveis com nossa palavra. Devemos observar a nós mesmos, o que dizemos, o que pensamos, e ir modificando nossa palavra. Observar a forma como falamos com nós mesmos (nosso diálogo interior) e evitar qualquer pensamento de crítica, julgamento, culpa, substituindo - os por pensamentos de apoio, afeto, confiança, aceitação. Aos poucos vamos realizando também esse processo na forma como lidamos com os outros, como falamos com eles, como pensamos sobre eles.

Ser impecável com nossa palavra é usar nossa palavra para cultivar a semente do amor que existe em nós. É só em terreno fértil que esse amor pode crescer e frutificar. lembre-se: A fala é poderosa, com ela construimos ou destruimos.

 
2 - NÃO LEVE NADA PARA O LADO PESSOAL
 
Se você leva as coisas pro lado pessoal é porque, em algum nível, você concorda com o que está sendo dito. Nós costumamos levar as coisas pro lado pessoal devido a uma coisa chamada "importância pessoal". Achamos que tudo o que acontece a nossa volta tem a ver conosco. Será que tem mesmo? O que os outros fazem, dizem ou pensam tem a ver com a forma como os outros vêem o mundo, e não tem nada a ver com você. Já parou pra pensar nisso?

Os outros vêem o mundo baseado nos compromissos que assumiram consigo mesmos (suas crenças) e isso não tem nada a ver com você. Quando você se sente ofendido ou magoado por outra pessoa sua reação é defender seus compromissos (suas crenças) como algo certo, estabelecido, como uma "verdade", quando são apenas suas crenças. Saiba que os outros não tem nada a ver com suas crenças.

Daí tantos conflitos e tanto caos criado em nossas vidas. Eu levo tudo pro lado pessoal, e os outros também. Eu defendo meus pontos de vista e os outros defendem os pontos de vista deles. Não deveríamos levar nada para o lado pessoal, nem as críticas e nem os elogios.

Não levar nada para o lado pessoal é viver em estado de tal amor que todo o mundo ao nosso redor é visto por esse prisma, sob o ponto de vista do AMOR. Se vejo tudo com olhos amorosos, me liberto das críticas e até dos elogios. O contrário do amor é o medo, e quanto mais medo tivermos em nós, mais levaremos as coisas para o lado pessoal, criando caos e conflito.

Escolha: quero ver o mundo com olhos medrosos? Ou quero ver o mundo com olhos amorosos? Assuma o compromisso de não levar nada para o lado pessoal, vendo tudo com olhos amorosos. Não faça do lixo alheio o seu próprio lixo.

 
3 - NÃO TIRE CONCLUSÕES
 
Temos tendência a tirar conclusões, suposições sobre tudo, a presumir verdades. É por isso que levamos tudo pro lado pessoal, porque acreditamos em nossas conclusões, em nossas "verdades", e como criamos conflito por isso...

Buscamos conclusões porque buscamos nos sentir seguros. Tiramos conclusões até de nós mesmos. De onde você acha que vem nosso auto julgamento? De nossas conclusões sobre nós mesmos! Não tirar conclusões significa viver a vida como ela é, dinâmica, viva, aberta, eternamente em movimento. Pare de presumir verdades e simplesmente viva!

Claro que você pode saber mais sobre uma pessoa ou uma situação. Nesse caso, faça perguntas, quantas achar necessário, mas nunca ache que você detém toda a verdade. Tal coisa é impossível..

 
4 - DÊ SEMPRE O MELHOR DE SI
 
Esse compromisso se refere a ação dos três compromissos anteriores. Sempre dê o seu melhor, mas lembre que esse melhor nunca será o mesmo, pois tudo sempre está mudando. Lembra quando disse que a vida é dinâmica, aberta, sempre em movimento? Pois é! Por isso, não busque aquele melhor idealizado que só existe nos filmes e que nos ensinaram (esse melhor idealizado só serve pra nos criticarmos, pois nunca conseguimos atingi-lo).
 
Dar o melhor de si significa não se esforçar exageradamente nem fazer corpo mole. Dê o seu melhor de cada momento, nem mais, nem menos. Quando você faz o seu melhor pode ter prazer na ação, ao invés de fazer as coisas apenas esperando resultados, apenas esperando a recompensa.

Dar o seu melhor é ser feliz desde agora! Assim, você irá atingir um ponto em que tudo o que você faz é sempre o seu melhor. Sempre que não conseguir manter um dos compromissos anteriores, não há problema, não se julgue, não se culpe. Você deu o seu melhor, siga em frente!


 Don Miguel Ruiz - Os Quatros Compromissos
 http://www.marcelodalla.com


sexta-feira, 29 de junho de 2018

SOBRE A DISCIPLINA


Disciplina é uma bela palavra, mas assim como no passado foram todas as belas palavras, ela tem sido mal empregada. A palavra disciplina tem a mesma raiz da palavra discípulo - o significado da raiz é “processo de aprendizagem”. Aquele que se mostra disposto a aprender é um discípulo, e a atitude de estar disposto a aprender é disciplina.
 
A pessoa douta nunca está disposta a aprender, pois acha que já sabe muito; ela se mantém muito centrada no que chama de conhecimento. Seu conhecimento não é nada senão alimento para o ego. Ela não é capaz de ser um discípulo, de se manter sob verdadeira disciplina.

Sócrates disse: “Só sei que nada sei” — esse é o princípio da disciplina. Quando você não sabe nada, claro, claro que lhe sobrevém o desejo intenso de inquirir, explorar, investigar. E, assim que começa a aprender, surge inevitavelmente outro fator: qualquer coisa que você tenha aprendido tem que ser abandonada sempre; caso contrário, ela se tornará conhecimento, e conhecimento impede a aprendizagem de outras coisas.

O homem realmente disciplinado jamais se prende a nada; a cada momento, ele morre para qualquer coisa que tenha vindo a saber e volta a ser ignorante. Essa ignorância é verdadeiramente luminosa.

Concordo com Dionísio quando ele afirma que a ignorância é luminosa. Uma das experiências mais belas da existência é estar num estado de luminosa ignorância. Quando está nesse estado de luminosa ignorância, você está aberto, não há barreira em seu ser, você está disposto a investigar.

A disciplina tem sido mal interpretada. As pessoas têm dito às outras que disciplinem sua vida, que façam isso, que não façam aquilo. Têm sido imposto ao homem milhares de deves e não deves. E, quando o homem vive com inúmeros deves e não deves, ele não consegue ser criativo. Ele se torna prisioneiro; em toda parte se deparará com uma barreira.

A pessoa criativa tem que eliminar todos os deves e não deves. Ela precisa de liberdade e de espaço, muito espaço; ela precisa do céu inteiro e de todas as estrelas que existem nele. Só assim sua espontaneidade pode começar a florescer.

Portanto, lembre-se: minha ideia de disciplina não envolve nenhum dos dez mandamentos; não estou impondo-lhes nenhum tipo de disciplina; estou simplesmente tentando fazê-lo discernir a ideia de como continuar a aprender e jamais arvorar-se em douto.

Sua disciplina tem que vir de seu próprio coração; ela tem que ser inteiramente sua - e há uma grande diferença nisso. Quando alguém lhe impõe algum tipo de disciplina, talvez ela jamais lhe sirva; será como vestir as roupas de outrem. Ou elas ficarão grandes demais ou muito apertadas, e você sempre se sentirá um tanto idiota nelas.

Maomé legou um corpo de disciplina aos muçulmanos; talvez isso tenha sido bom para ele, mas não pode ser bom para todos. Buda legou um corpo de disciplina a milhões de budistas; talvez isso tenha sido bom para ele, mas não pode ser bom para todos.

A disciplina é um fenômeno que se dá no âmbito da individualidade; toda vez que você a adota de outrem, começa a viver de acordo com princípios pré estabelecidos, preceitos mortos. E a vida jamais é morte; a vida é transformação incessante. A vida é movimento.

Heráclito está certo: você não pode entrar no mesmo rio duas vezes. Aliás, gostaria de dizer-lhe que você não pode entrar no mesmo rio uma única vez sequer, pois ele se move muito rapidamente! A pessoa tem que estar atenta a cada situação e suas nuanças, observando-a e, é necessário que a pessoa reaja à situação de acordo com o momento, e não conforme algum tipo de respostas prontas, fornecidas por outrem.

Você percebe a estupidez da humanidade? Há cinco mil anos, Manu transmitiu um corpo de disciplina aos hindus e até hoje eles o seguem. Três mil anos atrás Moisés deixou um corpo de disciplina aos judeus e ainda hoje eles o seguem. Há cinco mil anos, Rsabhanatha transmitiu seu corpo de disciplina aos jainistas e eles ainda o seguem.

O mundo está sendo levado à loucura com essas doutrinas! Elas são ultrapassadas; elas deveriam ter sido enterradas há muito, muito tempo. Vocês estão carregando defuntos nas costas e esses defuntos fedem. E quando você vive cercado por defuntos, que tipo de vida você pode levar?

Eu lhes ensino o momento, a liberdade do momento e a responsabilidade do momento. Algo pode ser correto neste momento e pode tornar-se errado no momento seguinte.

Não tente ser imutável, pois você estará morto. Só os mortos são imutáveis. Procure estar vivo com todas as suas inconstâncias e viva cada momento sem nenhuma ligação com o passado nem com o futuro. Viva o momento e suas reações serão plenas.

Essa plenitude é sublime, essa plenitude é criatividade. Com isso tudo que você fizer terá beleza própria.

 
Osho, em Criatividade : Libertando Sua Força Interior 
http://www.marcelodalla.com 


Tudo o que foi dito pelos grandes sábios foi destinado a orientar quem os acompanhou naquela época, para os episódios que estavam se desenrolando naquele tempo... Entretanto, alguns ensinamentos excederam a barreira do tempo e continuam a iluminar o caminho daqueles que se desapegam das palavras e detém-se no conteúdo das mensagens... O que foi dito foi para abrir 'fronteiras'... Quantos de nós ainda precisam dessas instruções, não como doutrina, mas como orientação, pois até agora não ultrapassamos essa ponte...


MORRER DEVE SER
A MAIS MARAVILHOSA
DAS EXPERIÊNCIAS



Que é a morte? Que significa isto — morrer? Morrer deve ser a mais maravilhosa das experiências! Deve significar que uma coisa chegou completamente a seu fim. O movimento que fora desencadeado — conflito, luta, confusão, desesperos e frustrações — cessou subitamente. A atividade do homem que quer tornar-se famoso, que é arrogante, violento, brutal — essa atividade é interrompida. Já notaram que tudo o que tem continuidade psicológica se torna mecânico, "repetitivo"? Só quando cessa a continuidade psicológica, surge alguma coisa totalmente nova; isso podem observar em si mesmos. Criação não é a continuidade do que É ou do que FOI, mas o findar dessa continuidade.

Ora, pode-se morrer psicologicamente? Entendem essa pergunta? Podem morrer para o conhecido, morrer para o que FOI — não com o fim de se tornarem outra coisa — sendo esse morrer o fim do conhecido, a libertação do conhecido? Afinal de contas, a morte é isso.

O organismo físico, naturalmente, morrerá; dele se abusou, foi submetido a maltratos e frustrações; comeu e bebeu coisas de toda espécie. Vocês sabem de que maneira vivem, e pelo mesmo caminho continuam até ele (o organismo físico) perecer. O corpo, por motivo de acidente, de velhice, de doença, da tensão da constante batalha emocional, no interior e no exterior, se deforma, torna-se feio, e morre. Nesse morrer há auto-compaixão, e ela existe também quando outra pessoa morre. Quando morre alguém que pensamos amar, não há em nossa tristeza uma grande porção de medo? Porque nos vemos sós, abertos a nós mesmos, sem ninguém para nos amparar, nos dar conforto. Nossa tristeza é toda mesclada dessa auto-compaixão e desse medo e, naturalmente, nessa incerteza, aceitamos qualquer espécie de crença.

A Ásia inteira crê na reencarnação, no renascer em outra vida. Se indagamos o que é que vai renascer na próxima vida, nos deparamos com dificuldades. Que é que vai renascer? Sua pessoa? Que é você? — um monte de palavras, de opiniões, apegos as suas posses, aos seus móveis, seu condicionamento. Esse monte de coisas, que chamam de sua alma, vai renascer na próxima vida? Reencarnação implica que o que hoje são determina o que serão na próxima vida. Portanto, comportem-se bem! — não amanhã, mas hoje, porque pelo que hoje fazem irão pagar na próxima vida. Os que creem na reencarnação pouco se importam com o seu comportamento; trata-se de uma mera crença, sem nenhum valor. Reencarnem-se hoje, renovem-se hoje, e não na próxima vida! Mudem completamente ESTA VIDA, agora; mudem-na com uma grande paixão, façam a mente despojar-se de todas as coisas, de todos os condicionamentos, de todos os conhecimentos, de tudo o que pensar ser "correto"; esvaziem-na. Saberão então o que significa morrer; saberão então o que é o amor. Porque o amor não pertence ao passado, ao pensamento, à cultura; não é, tampouco, prazer. A mente que compreendeu o inteiro movimento do pensamento se torna sobremaneira quieta, absolutamente silenciosa. Esse silêncio é o começo do novo.


Krishnamurti — A questão do impossível
http://pensarcompulsivo.blogspot.com 
 
 
 
Não creio que Krishnamurti desacreditava na reencarnação, porém seu objetivo maior foi erradicar todas as ilusões, as quais o ser humano encontra-se emaranhado, utilizando-as como muletas para justificar seu comportamento, nas esperança de algum dia - através da reencarnação - mudar. "Reencarnem-se hoje, renovem-se hoje, e não na próxima vida! Mudem completamente ESTA VIDA, agora..." Então, por que deixar para a próxima o que podemos fazer agora?


ORAÇÃO 
PARA ANTES DE DORMIR


Como Fechar Cada Dia Mergulhando na Paz
  
Carlos Cardoso Aveline 

As orações usadas em teosofia não são pedidos de favores pessoais, mas decisões e compromissos do indivíduo consigo mesmo. Elas são feitas de pensamentos claros e definidos. Ajudam a organizar a vontade própria, e estão baseadas nos princípios filosóficos do autoconhecimento, do autorrespeito e da autorresponsabilidade diante da vida.

Orações podem ser usadas para começar algo, e também para terminar. O modo como se conclui uma atividade, ou um período qualquer de atividades, é tão importante quanto o modo como se vive o seu início. O final de uma semana, de um mês, ou um ano constitui uma ocasião propícia para avaliar o que foi feito e vivido. Lições devem ser extraídas, e a decisão de fazer o melhor, renovada.

Tudo é cíclico. A vida avança em espirais. O último passo de cada etapa prepara sempre o primeiro passo da etapa seguinte. Por isso, os últimos pensamentos antes de dormir não influenciam apenas a qualidade do sono e dos sonhos: também ajudam a determinar a substância do despertar na manhã seguinte. É recomendável, portanto, dirigi-los de forma consciente e criativa, com responsabilidade em relação aos efeitos que eles irão provocar. A oração é um meio prático e eficaz de obter o direcionamento e a organização da consciência, no momento exato da transição para o descanso.

Como Melhorar a Qualidade do Sono

É saudável dormir cedo, quando possível. No período anterior ao recolhimento para o descanso, cabe evitar atividades ou pensamentos estressantes e que envolvam conflito emocional.

A média da consciência durante o sono é determinada pela média da consciência em estado de vigília, exercida ao longo do dia. O ciclo de 24 horas é um todo indivisível. O estudante de filosofia deve dormir envolto num clima de confiança e de repouso de alma. Ele obtém isso não só meditando e orando de modo eficaz no momento de dormir, mas também através da prática do despertar correto.[1] É igualmente importante desenvolver ações adequadas ao longo do dia inteiro, a partir de intenções nobres, com desapego e discernimento.

A Oração Para Antes de Dormir deve ser dita com pausas contemplativas que terão uma duração variável. O momento de silêncio deve ser tão longo quanto for útil, nem mais, nem menos. Sua duração será diferente a cada nova realização da prática. As pausas devem ser feitas em diferentes trechos, conforme a importância desta ou daquela ideia para fechar cada dia em particular.

É correto anotar ideias e comentários nas margens do papel em que a oração foi impressa.

Dizer a palavra Om é um meio pelo qual se evoca a lei da harmonia universal. A “palavra sagrada” dos orientais só pode ser pronunciada em um estado mental altruísta e generoso: de outro modo seria perigosamente nociva para o praticante. Ela pode ser pronunciada durante cerca de quatro a cinco segundos. O final do som deve ser rápido e não arrastado. Entre os seus efeitos está o de estimular a serenidade.

As pessoas que se amam profundamente podem praticar em conjunto esta meditação.[2]

Oração Para Antes de Dormir

1) Om…

2) É hora do repouso, e decido neste momento concluir em paz a pequena encarnação que foi o dia de hoje. Agradeço a cada parte do meu corpo físico pelo trabalho fielmente realizado. Sou grato a cada célula desse corpo. Liberto de ocupações, aceito a presença da felicidade em meu coração.

3) Renuncio agora a todo desejo. O cansaço é bem-vindo. Mergulho na serenidade. Sei que sou parte da lei universal, e ela é meu refúgio.

4) O ponto de equilíbrio do meu ser, aqui e agora, está no sentimento de autorrespeito e de respeito por todos os seres. O amor é como a luz do sol e das estrelas. É por ele que cada ser se orienta na vida. Através dele eu encontro a felicidade da paz.

5) Chamo a mim o meu eu superior, o meu anjo da guarda, o meu mestre interno de cada dia. Ele fez com que eu nascesse. Ele me orienta sempre que sou capaz de ouvir sua voz. Sua voz vibra acima do plano em que existem palavras.

6) A voz de meu Mestre, a voz de minha Alma, é a Voz do Silêncio sagrado. Eu sou um instrumento da aura imortal que me rodeia e inspira. Nela eu vivo. Nela eu encontro a paz. Sua harmonia é eterna e está viva aqui e agora. Ela me protege.

7) Om… Shanti. Paz.
 
 
NOTAS:

[1] Veja os textos “Como Começar o Dia” e “Oração Para Começar o Dia”, de Carlos C. Aveline, que podem ser encontrados em nossos websites associados.

[2] Após algumas semanas ou meses de prática diária com leitura do texto em papel, é válido evocar apenas interiormente o espírito vivo desta oração, isto é, o estado de alma que ela produz. Ainda assim será útil reler regularmente o texto em papel.
 
http://www.carloscardosoaveline.com

quinta-feira, 28 de junho de 2018

O QUE É MORTE ?



“O que é morte?” Esta é uma pergunta para os jovens e para os idosos, assim, por favor, faça a pergunta a si mesmo. A morte é meramente o fim do organismo físico? É disso que temos medo? É o corpo que queremos que continue? Ou é alguma outra forma de continuidade que ansiamos? Todos nós percebemos que o corpo, a entidade física se deteriora pelo uso, pelas variadas pressões, influências, conflitos, impulsos, exigências, sofrimentos.

Alguns provavelmente gostariam que o corpo pudesse continuar por 150 anos ou mais, e talvez os médicos e cientistas juntos finalmente encontrem um modo de prolongar a agonia em que a maioria de nós vive. Mas, mais cedo ou mais tarde o corpo morre, o organismo físico chega ao fim. Como qualquer máquina, ele finalmente se acaba. Para a maioria de nós, a morte é alguma coisa mais profunda do que o fim do corpo, e todas as religiões prometem algum tipo de vida depois da morte.

Ansiamos por continuidade, queremos estar seguros de que alguma coisa continuará quando o corpo morrer. Esperamos que a psique, o “eu” – o “eu” que experimentou, lutou, adquiriu, aprendeu, sofreu, gozou; o “eu” que no ocidente chamamos de alma, e no oriente de outro nome – continuará. Então estamos mesmo preocupados com a continuidade, não com a morte. Não queremos saber o que a morte é; não queremos conhecer o extraordinário milagre, a beleza, a profundeza, a vastidão da morte. Não queremos investigar esta coisa que não conhecemos. Tudo que queremos é continuar. Nós dizemos, “Eu que vivi por quarenta, sessenta, oitenta anos; eu que tenho uma casa, uma família, filhos e netos; eu que fui ao escritório dia após dia durante muitos anos; eu que tive disputas, apetites sexuais – quero continuar vivendo”. É só nisso que estamos interessados. Sabemos que existe a morte, que o fim do corpo físico é inevitável, e então dizemos, “Tenho que estar certo da continuidade de mim mesmo depois da morte”.

Então temos crenças, dogmas, ressurreição, reencarnação – milhares de maneiras de fugir da realidade da morte; e quando temos uma guerra, colocamos cruzes para os pobres companheiros que foram mortos. Este tipo de coisa vem acontecendo durante milênios.

Por que temos medo de morrer?

Você sabe o que significa buscar a permanência? Significa desejar que as coisas agradáveis durem eternamente, e as desagradáveis terminem o mais rápido possível Desejamos que nosso nome se torne famoso e tenha continuidade em nossa família e em nossos bens materiais; queremos o sentimento de permanência em nossas relações e atividades; e tudo isso significa que desejamos uma existência duradoura, contínua, em nosso fosso estagnado; lá, não queremos verdadeiras mudanças e, assim, edificamos uma sociedade que nos garante a permanência de nossos bens, nosso nome, nossa fama.

Mas, veja, a vida de modo algum é assim; a vida não é permanente. Como as folhas que caem da árvore, todas as coisas são impermanentes, nada perdura; há sempre mutação e morte. Você já observou uma árvore nua, desenhada contra o céu? Em seus galhos bem delineados, em sua nudez, há um poema, uma canção. Foram-se todas as suas folhas, e ela aguarda a primavera. Com a vinda da primavera, de novo se enche a árvore com a música de suas folhas que, na estação própria, caem e são levadas pelo vento. Assim também é a vida.

Mas nós não a queremos assim. Apegamos-nos aos nossos filhos, nossas tradições, nossa sociedade e nossas insignificantes virtudes, porque desejamos permanência; por isso é que temos medo de morrer. Tememos perder as coisas que conhecemos. Mas a vida não é como desejamos; a vida em coisa nenhuma é permanente. Os pássaros morem, a neve derrete, as árvores são abatidas pelo homem ou destruídas pelas tempestades, e assim por diante. Mas, queremos que perdure a nossa posição, a autoridade que sobre outros exercemos. Recusamo-nos a aceitar a vida como efetivamente é.

O fato é que a vida é como o rio: eternamente em movimento, perenemente buscando, explorando, impelindo, transbordando, penetrando todas as frestas com sua água. Mas, veja, a mente não quer que assim aconteça. Percebe que é perigoso, arriscado, viver num estado de impermanência, de insegurança e, por conseguinte, constrói uma muralha em torno de si própria: a muralha da tradição, da religião organizada, das teorias políticas e sociais. Família, nome, bens materiais — tudo isso se encontra atrás das muralhas, separado da vida. A vida, que é movimento, impermanência, procura incessantemente penetrar, demolir essas muralhas, atrás das quais só há confusão e angústia. Os deuses que moram atrás das muralhas são falsos deuses, e suas escrituras e filosofias são sem significação, porque a vida as excede.

Ora, para a mente que não tem muralhas, que não está pesada de aquisições, acumulações, conhecimentos, para a mente que vive fora do tempo, na insegurança, para essa mente a vida é uma coisa maravilhosa. Essa mente é a própria vida, porque a vida não tem pouso. Mas, quase todos nós queremos um pouso, uma pequena casa, um nome, uma posição, e consideramos essas coisas muito importantes. Exigimos permanência, e criamos uma “cultura” baseada nessa permanência, inventamos deuses que não são deuses, mas, tão só, “projeções” de nossos próprios desejos.

A mente que busca a permanência depressa se estagna; como a vala ao lado do rio, depressa se enche de corrupção, deterioração. Só a mente que não tem muralhas, que não tem ponto de apoio, não tem barreira, não tem pouso, que se move, toda inteira, com a vida, eternamente ousando, explorando, “explodindo” — só essa mente pode ser feliz, eternamente nova, porque ela é essencialmente criadora.
 
Entende o que estou dizendo? Você deve compreendê-lo, porque faz parte da verdadeira educação e, quando o compreender, sua vida será completamente transformada, suas relações com o mundo, com o próximo, com seu cônjuge, terão significado de todo diferente. Você já não tentará, então, preencher-se com coisa alguma, porque perceberá que a busca de preenchimento só atrai sofrimento e confusão. Por essa razão, você deve perguntar aos seus mestres sobre tudo isso, e discuti-lo também entre vocês. Se você o compreende, terá começado a compreender essa verdade extraordinária que é a vida, e nessa compreensão encontra-se grande beleza e amor, o florescimento da bondade. Mas, os esforços da mente que busca um fosso de segurança, de permanência, só podem conduzir à treva e à corrupção. Uma vez instalada naquele fosso, a mente teme aventurar-se fora dele, para buscar, explorar; mas a Verdade, Deus, a Realidade — ou o nome que você quiser — encontra-se além dos limites do fosso.

Você sabe o que é religião? Não é o cântico, não é a execução de rituais, não é a adoração de deuses de lata ou imagens de pedra; ela não se encontra nos templos e igrejas, nem na leitura da Bíblia ou do Gita; não é a repetição de um nome sagrado ou o seguir de qualquer outra superstição inventada pelos homens. Nada disso é religião.
 
Religião é o sentimento da bondade, daquele amor semelhante ao rio — que é um movimento vivo, eterno. Naquele estado, você verá chegar um momento em que não haverá busca de espécie alguma; e esse findar da busca é o começo de algo totalmente novo. A busca de Deus, da Verdade, o sentimento de se ser integralmente bom (não o cultivo da bondade, da humildade, porém o buscar, além das invenções e dos artifícios da mente, uma certa coisa — e isso significa ser sensível a essa coisa, viver nela, sê-la) isso que é a verdadeira religião. Mas nada disso lhe será possível se você não abandonar o fosso que você cavou para si mesmo, e entrar no rio da vida. A vida cuidará então de você, de uma maneira surpreendente, pois, de sua parte, nada haverá para cuidar. A vida, então, lhe levará aonde lhe aprouver, porque você será uma parte dela; não haverá mais problemas concernentes à segurança ou ao que “os outros” digam ou não digam. E esta é que é a beleza da vida.


Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com
 
L   A   R   


A menos que encontremos nosso verdadeiro lar, precisaremos seguir viajando...
 
Precisaremos seguir na jornada.
 
E o mais surpreendente é que o lar real não está distante.
 
Construímos muitos lares e nunca olhamos para o lar real.
 
Os lares que construímos são castelos de areia... Palácios feitos de cartas de baralho.
 
Apenas brinquedos com os quais brincamos...
 
Eles não são lares reais, porque a morte os destrói todos.
 
Lar real é o lar que é eterno.
E somente Deus é eterno
Tudo o mais é temporário.
 
O corpo é temporário, a mente é temporária, dinheiro, prestígio, poder, fama – tudo é temporário.
 
Não construa seu lar sobre essas coisas.
Não sou contra elas.
 
Use-as, mas lembre-se de que são abrigos temporários.
 
Elas são boas para um pernoite, mas pela manhã teremos que partir.
 
Prosseguimos nossa jornada sem notar nosso lar real porque ele está muito próximo.
 
Na verdade, ele nem mesmo está próximo, mas dentro de nós.
 
Aqueles que por meio da prática constante penetram o silêncio, dentro de si mesmos, acabam encontrando.


Osho
 http://blogdoosho.blogspot.com