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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A TERAPIA CHAMADA COMPAIXÃO


Sim, só a compaixão é terapêutica – porque tudo que é ruim no homem é devido à falta de amor. Tudo que é errado no homem está em algum lugar associado com o amor. Ele não tem sido capaz de amar, ou não tem sido capaz de receber amor. Ele não tem sido capaz de compartilhar seu ser. Essa é a miséria. Isso cria todo tipo de complexos por dentro.

Esses ferimentos íntimos podem vir à tona de muitas maneiras: podem se tornar doenças físicas, podem se tornar doenças mentais – mas profundamente o homem sofre de falta de amor. Assim como a comida é necessária para o corpo, amor é necessário para a alma. O corpo não pode sobreviver sem comida, e a alma não pode sobreviver sem amor. Na verdade, sem amor a alma sequer nasceu – não existe a questão de sua sobrevivência.

Você simplesmente pensa que tem uma alma; você acredita que tem uma alma devido ao seu medo da morte. Porém, você não sabe a não ser que você tenha amado. Só no amor a pessoa vem a sentir que é mais do que o corpo, mais do que a mente.

É por isso que digo que a compaixão é terapêutica. Que é compaixão? Compaixão é a forma mais pura de amor. Sexo é a forma mais baixa do amor, compaixão é a forma mais elevada do amor. No sexo, o contato é basicamente físico; na compaixão o contato é basicamente espiritual. No amor, compaixão e sexo estão misturados, o físico e o espiritual estão misturados. Amor é o meio caminho entre sexo e compaixão.

Você também pode chamar a compaixão de oração. Você também pode chamar a compaixão de meditação. A mais alta forma de energia é compaixão. A palavra compaixão é bela: metade dela é paixão - de algum modo paixão tornou-se tão refinada que não é mais como uma paixão. Ela tornou-se compaixão.

No sexo, você usa o outro, você reduz o outro a um meio, você reduz o outro a uma coisa. Eis porque num relacionamento sexual você se sente culpado. Essa culpa não tem nada a ver com ensinamentos religiosos; essa culpa é mais profunda do que os ensinamentos religiosos. Num relacionamento sexual como tal você se sente culpado. Sente-se culpado porque você está reduzindo um ser humano a uma coisa, a um produto a ser usado e jogado fora.

É por isso que no sexo você também sente uma espécie de servidão; você também está sendo reduzido a uma coisa. E quando você é uma coisa sua liberdade desaparece porque sua liberdade só existe quando você é uma pessoa. Quanto mais você for uma pessoa, mais livre você é, quanto mais uma coisa você for, menos livre você é. A mobília do seu quarto não é livre. Se você deixar o quarto trancado e voltar após muitos anos, a mobília estará no mesmo lugar, da mesma maneira; ela não irá se arrumar de uma nova maneira. Ela não tem nenhuma liberdade. Contudo se você deixar um homem no quarto, você não irá encontrá-lo do mesmo jeito – nem mesmo no outro dia, nem mesmo no próximo momento. Você não pode encontrar o mesmo homem novamente.

O velho Heráclito diz: Você não pode pisar no mesmo rio duas vezes. Você não pode encontrar o mesmo homem novamente. É impossível encontrar o mesmo homem duas vezes, porque o homem é um rio, continuamente fluindo. Você nunca sabe o que vai acontecer. O futuro permanece aberto. Para uma coisa, o futuro está fechado. Uma pedra permanecerá uma pedra. Ela não possui nenhuma potencialidade para crescer. Ela não pode mudar, não pode evoluir. Um homem nunca permanece o mesmo. Ele pode recuar, pode ir adiante, pode ir para o inferno ou para o céu, ele, porém, nunca permanece o mesmo. Continua se movendo, desse ou daquele jeito.

Quando você tem um relacionamento sexual com alguém, você reduziu essa pessoa a uma coisa. E reduzindo-a você reduziu a si mesmo também a uma coisa, porque é um compromisso mútuo que “Eu lhe permito me reduzir a uma coisa, você me permite lhe reduzir a uma coisa. Eu lhe permito usar-me, você me permite usá-lo. Usamos um ao outro. Nos tornamos coisas”.

Eis porque… observe dois amantes: quando eles ainda não estão consolidados. O romance ainda está vivo, a lua de mel ainda não acabou e você vai ver duas pessoas pulsando com vida, prontas para explodir – prontas para explodir no desconhecido. E então observe um casal, o marido e a esposa, e você verá duas coisas mortas, dois túmulos, lado a lado – ajudando um ao outro permanecer morto, forçando um ao outro permanecer morto. Esse é o constante conflito do casamento. Ninguém quer ser reduzido a uma coisa!

Sexo é a forma mais baixa dessa energia “X”. Se você for religioso, chame isso de “Deus”, se você for científico, chame-o de “X”. Essa energia, X, pode tornar-se amor. Quando ela se torna amor, então você começa a respeitar a outra pessoa. Sim, às vezes você usa a outra pessoa, mas você se sente grato por isso. Você nunca diz obrigado para uma coisa. Quando você está apaixonado por uma mulher e faz amor com ela, você diz obrigado.

Quando você faz amor com sua esposa, você já disse alguma vez obrigado? Não, você tem isso como certo. Alguma vez sua esposa já lhe disse obrigado? Talvez, muitos anos atrás, você pode se lembrar algum tempo quando você estava indeciso, estava só tentando, cortejando, seduzindo um ao outro – talvez. Mas uma vez consolidado, ela alguma vez já lhe disse obrigado por alguma coisa? Você já fez tantas coisas por ela, ela já fez tantas coisas por você, ambos estão vivendo um para o outro, a gratidão porém, desapareceu.

No amor, existe gratidão, existe uma profunda gratidão. Você sabe que o outro não é uma coisa. Você sabe que o outro possui uma grandeza, uma personalidade, uma alma, uma individualidade. No amor você concede liberdade total ao outro. É claro, você dá e recebe: é um relacionamento de dar e receber... mas com respeito.

No sexo, é um relacionamento de dar e receber sem nenhum respeito. Na compaixão, você simplesmente dá. Não há nenhuma ideia na sua cabeça em receber alguma coisa de volta; você simplesmente compartilha. Não que coisa alguma venha! Isso retorna um milhão de vezes, mas isso é só dessa maneira, só uma consequência natural. Não há nenhum anseio por isso.

No amor, se você der alguma coisa, bem lá no fundo você continua esperando que isso deve retornar. Se isso não retornar, você fica reclamando. Você pode não dizer isso, mas de mil e uma maneiras pode se deduzir que você está resmungando, que você está sentindo que foi enganado. Amor parece ser uma barganha sutil.

Na compaixão você simplesmente dá. No amor, você fica agradecido porque o outro lhe deu algo. Na compaixão, você fica agradecido porque o outro levou algo de você; você está agradecido porque o outro não lhe rejeitou. Você veio com energia para dar, você tinha vindo com muitas flores para partilhar, e o outro lhe permitiu, o outro foi receptivo. Você é grato porque o outro foi receptivo.

Compaixão é a forma mais elevada do amor. Muito retorna – um milhão de vezes mais, digo – mas isso não é o mais importante, você não anseia por isso. Se isso não vier não há nenhuma queixa quanto a isso. Se vier você fica simplesmente surpreso! Se isso vier, é inacreditável. Se não vier não há problemas – você nunca deu seu coração a alguém por alguma barganha. Você simplesmente derrama porque você tem. Você tem tanto que se você não derramar você ficará sobrecarregado. Assim como uma nuvem carregada de água de chuva precisa derramar. E da próxima vez quando uma nuvem estiver chovendo observe em silêncio, e você irá sempre ouvir, quando a nuvem derramou a chuva e a terra a absorveu, você irá sempre ouvir a nuvem dizer para a terra “Obrigado”. A terra ajudou a descarregar a nuvem.

Quando uma flor brota, ela precisa compartilhar sua fragrância com os ventos. É natural! Isso não é uma barganha, não é um negócio; é simplesmente natural! A flor está repleta de fragrância – que fazer? Se a flor mantiver a fragrância para si mesma então a flor se sentirá muito tensa, numa profunda angústia. A maior angústia na vida é quando você não pode expressar, quando você não pode comunicar, quando você não pode compartilhar. O homem mais pobre é aquele que não tem nada para partilhar, ou tem alguma coisa para partilhar, mas perdeu a capacidade, a arte, de como compartilhá-la; assim um homem é pobre.

O homem sexual é muito pobre. O homem amoroso é comparativamente mais rico. O homem compassivo é o mais rico; ele está no topo do mundo. Ele não tem nenhum confinamento, nenhuma limitação. Ele simplesmente dá e prossegue em seu caminho. Ele nem mesmo espera que você diga um obrigado. Com tremendo amor ele compartilha sua energia. Isso é que chamo de terapêutico.

Buddha costumava dizer aos seus discípulos, “Após cada meditação, sejam compassivos – imediatamente – porque quando você medita, o amor cresce, o coração fica repleto. Após cada meditação, sinta compaixão pelo mundo inteiro para que você compartilhe seu amor e você libera a energia na atmosfera e essa energia pode ser usada pelos outros”.

Eu também gostaria de dizer isso a vocês: Após cada meditação, quando vocês estiverem celebrando, tenham compaixão. Apenas sinta que sua energia deve ir e ajudar as pessoas de qualquer maneira que elas necessitem. Apenas libere-a! Você ficará descarregado, você irá se sentir bem relaxado, irá se sentir muito calmo e quieto, e as vibrações que você liberou ajudarão a muitos. Termine suas meditações sempre com compaixão.

E a compaixão é incondicional. Você não pode ter compaixão só por aqueles que são amigáveis com você, só por aqueles que estão relacionados a você. Compaixão inclui tudo... intrinsecamente tudo. Assim se você não pode sentir compaixão pelo seu vizinho, então esqueça tudo sobre meditação, porque isso não tem nada a ver com alguém em particular. Tem algo a ver com seu estado interior. Seja a compaixão! Incondicionalmente, não direcionada, não endereçada. Assim você se torna uma força curativa nesse mundo miserável.

Osho, A Sudden Clash of Thunder
 https://www.osho.com

DIZER A VERDADE


Meu Senhor, ajude-me a dizer a verdade
diante dos fortes e não dizer mentiras
para ganhar o aplauso dos débeis...”
(Mahatma Gandhi)
 

Há algo de uma grande cura, sobre simplesmente se dizer a verdade. Para nós mesmos. Para um amigo confiável e sem julgamento. Para um diário. Para os deuses, para as montanhas, para os animais selvagens da floresta.

Não a verdade "legal", a verdade velha e regurgitada projetada para agradar. Não a verdade conceitual da mente. Mas a verdade bruta, confusa e presente dos nossos corações selvagens. Destruindo a auto-imagem, a persona (máscara) projetada para conquistar o amor, ou impressionar as pessoas, ou apenas nos mantermos "seguros" e "fora de problemas". Bem, às vezes o que antes era "seguro" tornou-se uma prisão autoimposta. Você deseja perder o controle e falar a verdade selvagem. Ou sussurra isso. Ou grite para os céus.

Não a verdade conveniente, socialmente aceitável, “cara legal”. Não a verdade "espiritual" criada para impressionar professores, gurus e amigos e ganhar um milhão de seguidores.

Mas a verdade é que você está com um pouco de medo de falar. A verdade que faz seu coração bater. A verdade que faz você ficar um pouco tonta quando fala.

A verdade vulnerável A verdade trêmula, suada...de boca seca. A verdade da sua imensa solidão. Sua dúvida furiosa. A verdade de seus anseios e desejos "pecaminosos", ânsias, ciúmes.
 
A alegria "fora do controle" que você não pode mais perder. A raiva que foi suprimida por muito tempo e está deixando você fisicamente doente. A frustração, o tédio, a esperança ou a falta de esperança, a "loucura" que você simplesmente não pode mais empurrar para baixo.
 
O que você segura acaba te segurando. E o que você deprime acaba deprimindo você.

Pode ser tão aliviante, tão libertador, apenas dizer a verdade. Ter um colapso, uma crise de cura, e apenas dizer a verdade, gerá-la, criá-la como mãe. Cantá-lo, dançá-lo, pô-lo em um poema. Para escrevê-lo em um pedaço de papel e queimá-lo. Para silenciosamente - ou muito alto - proclamá-lo para todos os deuses e deusas. Você encontrará seu próprio caminho. Você encontrará sua própria expressão única de verdade. Ou vai te encontrar.

Para dizer a verdade deste momento e deixar o amor entrar. A verdade que quebra a segurança antiga, mas dá uma nova segurança.

 
Jeff Foster
http://ventosdepaz.blogspot.com


"Sempre que você tem a verdade ela precisa ser dada com amor ou a mensagem e o mensageiro serão rejeitados". (Mahatma Gandhi)

Á    R    V    O    R    E    S


Para mim, as árvores sempre foram os pregadores mais penetrantes. Eu as reverencio quando elas vivem em tribos e famílias, nas florestas e bosques. E eu as reverencio ainda mais quando elas estão sozinhas.

Elas são como pessoas solitárias. Não como eremitas, que se perderam por alguma fraqueza, mas como grandes homens solitários, como Beethoven e Nietzsche. Em seus galhos mais altos o mundo sussurra. Suas raízes descansam no infinito.

Mas elas não se perdem lá; elas lutam com toda a força de suas vidas para uma única coisa: a realizar-se de acordo com suas próprias leis, para construir a sua própria forma, para representar a si mesmo.

Nada é mais sagrado, nada é mais exemplar do que uma árvore, bela e forte. Quando uma árvore é cortada e revela a sua morte ferida nua para o Sol, pode-se ler a sua história inteira no disco luminoso, inscrito em seu tronco: nos anéis dos seus anos, suas cicatrizes, toda a sua luta, todo o seu sofrimento, todas as suas doenças, toda a sua felicidade e prosperidade estão realmente escritas, os anos difíceis e os anos de luxo, os ataques resistidos, as tempestades vencidas.

E cada jovem das roças sabe que a madeira mais nobre e mais sólida tem os menores anéis, que no alto das montanhas e em perigo permanente são as árvores mais indestrutíveis, mais fortes, mais ideais, que crescem.

As árvores são santuários. Quem sabe como falar com elas, e quem saber ouvi-las, pode aprender a verdade. Elas não pregam a aprendizagem ou preceitos. Elas pregam, sem se abalar, a antiga lei da vida.

Uma árvore diz: um núcleo está escondido em mim, uma faísca, um pensamento, eu sou a vida da vida eterna. A tentativa e o risco que a mãe eterna tomou comigo é único, exclusivas as formas e as veias da minha pele, único também a menor das folhas em meus galhos e a menor cicatriz da minha casca. Eu fui criada para formar e revelar o eterno em cada um dos meus pequenos detalhes.

Uma árvore diz: minha força é a confiança. Não sei nada sobre meus pais, eu não sei nada sobre os milhares de crianças que a cada primavera nascem de mim. Eu vivo o segredo da minha semente até o fim, e eu não me importo com nada além disso. Eu confio que Deus está em mim. Eu confio que o meu trabalho é sagrado. É dessa confiança que eu vivo.

Quando somos feridos e não podemos mais suportar nossas vidas, então a árvore tem algo a nos dizer: atenção! Atenção! Olhe para mim! A vida não é fácil, a vida não é difícil. Esses são pensamentos infantis.

Deixe Deus falar dentro de você e seus pensamentos irão crescer em silêncio. Você está ansioso porque o seu caminho conduz para longe da mãe e do lar. Mas cada passo e cada dia o levam de volta para a mãe. O lar não está aqui nem lá. Ou o lar está dentro de você, ou o lar não está em lugar algum.

Uma ânsia para vagar arranca lágrimas do meu coração quando ouço as árvores farfalhando ao vento durante a noite. Se alguém ouve em silêncio por um longo tempo, esse desejo revela o seu núcleo, o seu significado. Não é tanto uma questão de escapar de um sofrimento, embora possa parecer assim. É uma saudade de casa, de uma memória da mãe, de novas metáforas para a vida. Isso o leva para casa. Cada caminho leva em direção a casa, cada passo é o nascimento, cada passo é a morte, cada túmulo é a mãe.

Assim, a árvore sussurra à noite, quando estamos inquietos diante dos nossos próprios pensamentos infantis: árvores têm pensamentos longos, uma respiração longa e tranquila, assim como elas têm uma vida mais longa que a nossa. Elas são mais sábias do que nós, enquanto nós não as ouvirmos.

Mas quando aprendemos a ouvir as árvores, a brevidade e a rapidez e a pressa infantil de nossos pensamentos alcançam uma alegria incomparável. Quem aprendeu a escutar as árvores já não quer ser uma árvore. Ele não quer ser nada, exceto o que ele é. Isso é estar em casa. Isso é a felicidade.”

Hermann Hesse, escritor e poeta alemão.


Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=183792 © Luso-Poemas
Para mim, as árvores são os pregadores de fala mais penetrante. Eu as reverencio por viverem em tribos, famílias, em florestas e bosques. E ainda mais as reverencio por se manterem de pé sozinhas. Elas são como pessoas solitárias. Não como eremitas que se escondem de algumas fraquezas, mas como grandes e solitários homens como Beethoven e Nietzche. Em seus mais altos ramos, o mundo farfalha. Suas raízes descansam no infinito, mas elas não se perdem de si mesmas ali, elas lutam com todas as forças de suas vidas por uma coisa apenas: preencher a si mesmas em acordo com suas leis, construindo e erguendo suas próprias formas que melhor representem o que elas verdadeiramente são. Nada é mais sagrado, nada é mais exemplar que uma bela e forte árvore. 
 
Quando uma árvore é cortada e revela seu tronco nu e cortado ao sol, alguém pode ler sua história no luminoso e inscrito disco do seu tronco: nos anéis, seus anos, suas cicatrizes, todos os seus esforços, todos os seus sofrimentos, todas as suas doenças, toda a felicidade e prosperidade ali, verdadeiramente escritas, tempos de escassez entremeados nos tempos fartos, os ataques que suportou e as tempestades a que resistiu. E todo o jovem fazendeiro sabe que a mais rara e nobre madeira, tem os anéis mais apertados, que a altura das montanhas e seus permanentes perigos, no que têm de mais indestrutível e forte, dão as condições ideais para o seu crescimento.

Árvores são santuários: quem quer que saiba falar com elas, ouví-las, pode aprender a verdade. Elas não pregam lições e preceitos. Elas pregam, sem temer particularidades, as antigas leis da vida.

Uma árvore diz: um grão está escondido em mim, uma faísca, um pensamento, eu sou vida, da vida eterna. A tentativa e o risco da mãe eterna me conceber é única, única na textura e veias da minha pele, única no menor brincar das folhas nos meus ramos, única na menor das cicatrizes na minha casca. Eu fui feita para dar forma e revelar o eterno no menor dos meus mais especiais detalhes.

Uma árvore diz: minha força é confiável. Eu não sei nada sobre os meus pais, não sei nada sobre as centenas de crianças que todo ano saltam de mim. Eu trago à vida, os segredos contidos nas minhas sementes à sua mais última finalidade e não me importo com nada mais. Eu confio que Deus está em mim. Eu confio que meu trabalho é sagrado. Tudo o que vem desta confiança, eu vivo.

Quando somos atacados e não podemos mais afirmar nossas vidas, então uma árvore tem algo a nos dizer: Acalme-se! Acalme-se! Olhe pra mim! A vida não é fácil, a vida não é difícil. Estes são pensamentos infantis… Seu Lar não é aqui ou lá. Seu Lar está dentro de você ou não está em nenhum lugar.

Meu coração anseia soltar suas lágrimas quando ouço o farfalhar nas àrvores à janela durante a noite. Se alguém ouví-las silenciosamente por um bom tempo, o anseio revela seu grão – sua essência, e seu significado. Isso não é tanto uma maneira de fugir do sofrimento de alguém, ainda que pareça. Isso é o anseio por um lar, pela memória da mãe, por novas metáforas da vida. Isso leva ao lar. Cada jornada conduz de volta ao lar, cada passo é um nascimento, cada passo é uma morte, cada sepulcro é uma mãe.

Então, a árvore farfalha à noite quando nos colocamos desconfortavelmente diante dos nossos pensamentos infantis. Árvores têm duradouros pensamentos, duradouros e restauradores respirares, e tão duradouras suas vidas quanto são as nossas. Elas são mais sábias do que nós somos, até que comecemos a ouví-las. Mas quando aprendemos a ouvir as árvores, então, a brevidade, a rapidez, a inocência precipitada dos nossos pensamentos encontrarão incomparável alegria. Quem quer que aprenda a ouvir as árvores, acaba querendo ser como as árvores: não irão querer ser outra coisa senão o que realmente são. Aí está o Lar. Aí está a felicidade.


Herman Hesse
https://estoriasvivas.wordpress.com 


domingo, 29 de setembro de 2019

UMA FEBRE CÁRMICA GLOBAL
 Os Obstáculos Existem Para Que Se
Fortaleça a Vontade de Fazer o Bem
 

“O Universo existe
apenas em função da alma.”
(Patañjali, II, 21)
 
“O sofrimento que ainda
não aconteceu deve ser evitado.”
(Patañjali, II, 16)
 
 

A nossa civilização como um todo parece viver os desafios do discipulado, que são metaforicamente descritos nas várias “jornadas do herói” do mundo antigo, desde o evangelho de Jesus até os 12 trabalhos de Hércules.

Cada buscador da verdade deve enfrentá-los de um modo ou de outro.

O conceito de “febre cármica” ou Febre do Compromisso, usado na teosofia moderna de Helena Blavatsky, é uma ferramenta para compreender melhor a história humana.

Uma vez que a alma entra em contato com a verdadeira sabedoria e se torna discípula, o seu horizonte se amplia tanto que o lixo subconsciente acumulado como fruto da ignorância individual e coletiva vem para a superfície de maneiras perturbadoras.

Então o bom senso parece ter sido perdido. Durante algum tempo, o absurdo se espalha. A velha maneira de viver já não funciona, e a nova ainda não parece estar disponível. Uma febre ocorre até que a alma se torna mais acostumada e compreende os horizontes mais amplos. Os tempos de transição são confusos. O número de coisas idiotas feitas durante o período de “testes” é às vezes difícil de calcular.

O processo da evolução é medido por eras, em teosofia, e não por dias ou semanas. A “febre do compromisso” da nossa humanidade e a presença de absurdos em sua História não são coisas recentes. No entanto, há diferentes fases na febre cármica do aprendizado que acompanha a jornada humana ao longo do tempo de vida do nosso globo.

Na primeira metade do século 21, a falsidade, o crime, a luxúria, a violência, a destruição do meio ambiente, o aborto e outras formas de desrespeito pela vida parecem dominar o Zeitgeist ou “espírito dos tempos atuais”. Estas doenças podem ser vistas como formas sociológicas de “reação à sabedoria”. Constituem uma febre cármica através da qual o organismo da nossa civilização se debate entre duas alternativas:

1) Purificar a si mesmo e alcançar a sabedoria através do autocontrole e da simplicidade voluntária; ou

2) Promover a adoração da irresponsabilidade e a multiplicação de ações destrutivas, preparando assim o seu próprio final, o que abrirá as portas do tempo para um novo e melhor renascimento.

Cada esforço na direção de uma ética planetária, começando pela nossa vida individual e pela relação do cidadão com sua própria alma, tem um efeito curativo.

As aparências de curto prazo enganam. É correto não prestar demasiada atenção a elas. Cada um constrói seu próprio lugar no futuro imediato ou de longo prazo.

Através de uma certa febre cármica e dos seus aparentes absurdos, um organismo que está destinado a viver expele substâncias indesejáveis, como a ignorância, purifica a si mesmo e se capacita para começar a viver de fato, em um novo ciclo.

Por esse motivo, quando as emoções, notícias e imagens que o rodeiam são negativas, cabe ao indivíduo contrabalançar concentrando a atenção com toda força no que é saudável.

As ideias erradas devem ser substituídas pelos seus opostos. (Patañjali, II, 33-34).

Se a futilidade vive hoje lado a lado com o desânimo, com a depressão psicológica e formas brutais de violência, chegou a hora para cada um pensar do modo mais nobre e mais correto possível, trabalhando pelo que é bom e eterno.

Quando ações perversas são apresentadas como normais e todo ato solidário se torna alvo de ceticismo, esse é o momento certo para pensar na santidade, agir conforme a ética e contemplar com força definitiva o ideal purificador da fraternidade sem fronteiras.

Há uma bênção em ter amor pela verdade em si, ainda que a nossa percepção dela seja imperfeita. As circunstâncias não definem quem somos. Os obstáculos existem para que a nossa vontade de fazer o bem ganhe a força necessária.
 
 
Carlos Cardoso Aveline
https://www.filosofiaesoterica.com
 
DEPOIS DE TUDO - DESAPRENDER...


Um homem veio a Ramana Maharshi e disse: "Eu vim de muito longe, de algum lugar da Alemanha e eu vim para aprender com você". Ramana respondeu: "Então você deve ir para outro lugar, porque aqui nós ensinamos a desaprender. A aprendizagem não é o nosso caminho. Você tem que ir para outro lugar".

Ele pode ter sido um alemão estudioso, ele pode ter conhecido os Vedas, Upanishads, e pode ter sido por causa da sua aprendizagem que ele ficou interessado em Ramana. Lendo os Upanishads, o desejo surge por encontrar um homem que sabe. Movendo-se através das páginas dos Vedas qualquer um fica encantado, marcado, magnetizado, hipnotizado. Aí começa a procurar um homem que é um vidente de quem os Vedas falam, um homem do calibre dos videntes dos Upanishads – um homem que sabe. Ele pode ter vindo por causa das escrituras.
Mas você não conhece um homem que sabe. Ele está sempre contra as escrituras.

As escrituras podem levá-lo a ele, mas ele irá dizer-lhe para esquecer todas as escrituras. A escada através da qual você veio - ele vai dizer: "Jogue-a! Agora que você chegou a mim, não há necessidade de Vedas, Upanishads e Korans, deixe-os! Agora estou aqui, vivo".

Jesus diz: "Eu sou a verdade, não há necessidade de trazer escrituras aqui. Ramana disse: "Então vá para outro lugar, porque aqui nós ensinamos a desaprender. Se você está pronto para desaprender, é aqui que você deve ficar. Se você veio para aprender mais, então este não é o lugar certo. Vá para outro lugar – existem universidades para a aprendizagem. Quando você vem a mim, venha para desaprender. Esta é uma universidade para desaprender, uma universidade para criar a não-mente, uma universidade onde tudo o que você sabe vai ser tirado de você".

Todo o seu conhecimento tem que ser descartado para que você se torne um aprendiz e se encaminhe na busca de uma perfeição, de uma clareza, para que seus olhos não fiquem cheios de teses ou teorias, de conceitos e preconceitos, para que seus olhos tenham uma clareza absoluta e transparente, de modo que você possa ver. A verdade já está lá. Ela sempre esteve lá.


Osho, Just Like That
 https://www.osho.com
 
 
A ótica que utilizamos para olhar a vida está repleta de camadas - semelhantes àquelas lentes espessas que afiguram-se a um fundo de garrafa - vemos através das nossas tristezas, das nossas invejas, da nossa religião, da nossa educação, de tudo que aprendemos... e muitas outras perspectivas... a nossa ação de ver encontra-se deformada, pois olhamos através do órgão da visão humana, que é condicionado pela mente e não por meio da alma, que revela a completude do ser, sem julgamentos ou críticas. Não lutemos para compreender seja lá o que for... Cortemos a cabeça da serpente e ela não nos fará mais nenhum mal... O veneno está na cabeça... A cabeça é dedutiva e vai atrapalhar, confundir... A sabedoria vai se fragmentar ao passar pelas camadas da cebola - a mente. Krishnamurti disse que 'sempre há um conflito entre o que é e o que deveria ser... viver é descobrir por si mesmo aquilo que é verdadeiro e só se pode fazer isso quando há liberdade, quando existe uma constante revolução interna'. É necessário que desaprendamos e, então, poderemos compreender.

sábado, 28 de setembro de 2019

A ILUSÃO DE IMRI


Conto Teosófico Narra
a Derrota da Ignorância
 
 
John Garrigues

 
Imri, trilhando o Caminho, entrou na neblina da desorientação. Este é sempre um lugar onde dois caminhos se encontram. Uma estrada parecia a mais agradável. Ela ia longe, suave e bela, avançando estável até um céu brilhante, e no nível mais alto ele podia ver a si mesmo, glorificado, tendo como joia a luz, um farol orientador das multidões humanas.

Este era o reflexo do Imri de sonhos, projetado sobre a tela do tempo; e era causado pela luz da Alma fragmentada e dividida nos milhares de desejos do coração. Imri não sabia disso. Cheio de boa vontade, tratando de ser útil a todas as almas, mantinha seu olhar voltado para fora e pensava que as outras almas estavam separadas de si.

Imri conhecia os traidores ilusionistas que confundem os passos dos seres humanos. Ele os tinha visto iludindo pessoas e alertava constantemente sobre eles, indicando a todos o caminho para o Ser Uno. Mas como não existe mesmo separação alguma, estes traidores ilusionistas estavam também no coração de Imri, divertindo-se à vontade com a chama viva da devoção sentida por ele. E isso era ignorado por Imri. Só aqueles que estão acordados no Eu Superior sabem dos fatos. Para quem está sonhando, o caminho do sonho é o caminho real. Belo e pleno é para eles o caminho do sonhar, mas o caminho do real lhes parece um sonho confuso.

Imri falou ao instrutor, cujos passos o acompanhavam: “Este é o caminho.” E Imri virou à esquerda.

Quando fez esta escolha e entrou no caminho, o Guru caminhou atrás dele. Depois de algum tempo, Imri percebeu que o Guru o seguia.

“Mestre, como é isto? No começo, quando o encontrei pela primeira vez, era você quem caminhava à frente. Mais tarde, lembro que caminhamos lado a lado durante algum tempo. E agora, embora o caminho seja belo e amplo, você fica para trás e sou eu que abro o caminho.”

“Este caminho é sua escolha, não minha. Eu apenas acompanho você até certo ponto.”

“Não é este o caminho do Eu Superior?”

“Todos os caminhos são do Eu Superior”, respondeu o mestre. “O eu superior em cada um escolhe o seu próprio caminho. Não há outro rumo.”

Imri ficou perturbado e pensou que seu instrutor estava cometendo um erro. “Não entendo você. Estas frases suas são obscuras. Você, que é meu instrutor, deveria esclarecer as coisas. Eu só desejo aprender.”

“Este é o caminho do aprendizado”, disse o Guru, sem responder à crítica.

Imri ficou irritado em sua consciência. Pensou que o Guru não estava sendo solidário, que estava cansado de caminhar, ou que talvez o tivesse entendido mal. Disse a si mesmo que quando falta boa vontade as pessoas se tornam impacientes, e a falta de paciência as faz entender mal os outros. Ele sentiu que perdoava o instrutor. A irritação abandonou sua alma e ele se voltou com simpatia para o Guru, dizendo palavras amáveis.

Mas o instrutor estava bastante longe. Então Imri ficou esperando que o instrutor se aproximasse outra vez. Embora ele esperasse, o Guru não parecia aproximar-se. A irritação surgiu de novo no coração de Imri, chamando sua atenção para o atraso na viagem e sugerindo que seria melhor prosseguir, de modo a preparar abrigo para o instrutor no final do dia. Com este pensamento Imri sentiu um brilho de satisfação, e retomou a caminhada.

Quando veio a noite, Imri olhou outra vez para o ponto mais alto do eu que sonha. Ele estava coroado e radiante mas mais alto no céu que no início, e quando olhava, parecia mais distante do que nunca. Ele tinha marchado o dia inteiro com todo vigor e isso parecia estranho, porque o caminho tinha sido belo e sem altos e baixos.

Apressou-se a preparar um abrigo para a noite, pensando em modos de desculpar o seu instrutor, preparando perguntas a serem feitas durante o repouso noturno. Mas quando a escuridão fechou as cortinas da noite, o instrutor ainda não havia chegado.

Então Imri teve medo de que uma desgraça tivesse ocorrido ao seu instrutor. De imediato uma ansiedade em relação ao seu bem-estar abriu as portas da memória. Imri fez uma busca com seu pensamento pela trajetória percorrida durante o dia; em seguida examinou rapidamente as suas peregrinações anteriores até o momento do seu primeiro encontro com o Guru. Reencontrou a paz mergulhando na memória da ajuda recebida. Diante do fogo vivo da gratidão, os traidores ilusionistas fugiram apressadamente.

Imri ergueu-se e percorreu novamente os seus passos, movido por um sentimento de gratidão para com seu instrutor. Queria encontrá-lo e levá-lo até o abrigo. Nisso Imri não tinha outra ideia que não fosse a de agradecimento. Embora as aspirações pessoais ainda estivessem ocultas em seu coração, Imri não sabia disso, e portanto nem suspeitava que havia-se afastado do Caminho através de escolhas erradas. Durante o sonho, o caminho dos sonhos parece o caminho real. O caminho real é o caminho do despertar. No entanto, o caminho do despertar existe no mundo do sonho. Como poderia ser diferente, se a vida dos homens é um sonho? Imri não sabia que a escada para despertar dos sonhos é feita de gratidão. Ele apenas sentia gratidão, sem pensar e sem saber onde ela leva.

Shukra, a estrela vespertina, iluminou o seu caminho. Sob esta estrela Imri encontrou seu instrutor. Imri pensou que ele havia acelerado seus passos, encontrando-o rapidamente. Isso não era verdade, porque o instrutor permanecia no mesmo lugar. Só Imri havia caminhado até longe e voltado. O peregrinar de quem encontrou o Caminho ocorre sem movimentação externa. Mas longa é a viagem daqueles que procuram pelo Caminho. O desejo pessoal havia levado Imri a fazer a marcha do dia. A gratidão indicou, como se usasse uma espada, o caminho do retorno. Imri encontrara o guru outra vez através da gratidão.

“Pensei que havia perdido você, Mestre. Onde é que esteve o dia todo? Devemos apressar-nos até o abrigo que preparei para mim e para você. Deixe-me ajudá-lo durante o resto do caminho.”

“Veja”, disse o instrutor, sorrindo afetuosamente.

Imri sentiu um grande cansaço ao lado do alívio por haver encontrado o instrutor depois da sua longa marcha. Ele olhou para onde o guru estava olhando, ao longo do caminho que havia percorrido e pelo qual havia voltado. Olhando pelo olhar do instrutor, todas as coisas eram claras na escuridão da noite, e claras também no torpor exausto de Imri.

Neste momento Imri viu que o caminho que havia seguido era o caminho dos milhares de desejos escondidos no coração, que se tornam dourados devido à luz da alma. O ponto mais alto dos seus sonhos era o egotismo da cabeça, desejando posição de destaque. As multidões para quem ele havia parecido ser um farol orientador eram outros seres humanos que seguiam sonhos como ele mesmo. Cada membro da multidão via a si próprio como Imri havia visto a si. Cada um buscava o caminho, e cada um pensava ser um grande líder.

Então a humildade surgiu no coração de Imri. A dor de todas as almas se tornou sua dor. Viu que o caminho que havia seguido levava sempre para baixo. A maior parte dos seres humanos, compreendeu ele, avança neste rumo, seguindo seus sonhos e pensando que seus sonhos são o caminho.

“Veja mais além”, disse Guru com voz amável.

Imri viu uma coisa estranha.

Constantemente, a cada passo à frente dado pelos seres da multidão, abriam-se dois caminhos, um deles, amplo, pleno e belo na aparência, apontando diretamente para a frente na linha do que desejavam; o outro, íngreme, apontava bruscamente para o alto, e parecia terminar na escuridão ou ser engolido por ela. Poucos sequer olhavam para o caminho áspero. A maior parte das pessoas seguia de imediato pelo caminho belo, que parecia reto, mas dobrava à esquerda.

“Mestre, diga o significado deste símbolo. Por que todos escolhem o caminho suave, e ninguém tenta a trilha irregular?”

“Os sonhos nascem dos desejos que estão escondidos no coração. Quase todos querem ingressar no caminho, mas seguem a voz do desejo que é doce, dourado e encantador, e ilude os humanos. Este caminho está a serviço da alma. Quando os humanos aspiram ingressar no caminho, o desejo sonha com um caminho fácil.”

“Por que os Mestres e Gurus não os impedem de fazer isso, e não mostram a eles o caminho do dever?”

“É o Mestre no coração de cada um que oferece, a cada passo dado, o caminho áspero visto por você.”

“Os humanos não podem ver o caminho verdadeiro?”

“Eles veem, mas não pensam, por causa dos desejos ocultos no coração.”

“Por que os Mestres não falam, mostrando o caminho verdadeiro?”

“Em seus sonhos, o desejo, vestido com a luz de suas almas, parece a eles ser o Mestre, e a voz do Guru parece apenas um sonho difícil e sem sentimento.”

“Não se pode fazer alguma coisa para acordar estas almas envoltas pelas imagens do desejo?”

“Em seus sonhos eles escolhem sempre a estrada que parece bela e suave. Mas os milhares de desejos ferem seus pés. Então eles pensam, e escutam.”

“Ah”, disse Imri, “do mesmo modo como eu fiquei ferido e vim até você, meu Instrutor, no começo.”

“Eu estava com você, sempre”, respondeu o Guru, “porque seja qual for o caminho seguido pela humanidade, esse caminho é meu.”


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sexta-feira, 27 de setembro de 2019

A      F  E  L  I  C  I  D  A  D  E


Se você olhar para os pássaros, se você olhar para as estrelas, então verá que tudo está vibrando em tremenda felicidade. Parece que a felicidade é a matéria-prima com a qual a existência é feita. E somente o homem é infeliz. No fundo, alguma coisa está errada.
 
Buda não está enganado, nem está mentindo. E eu digo isso a você, não com base na autoridade da tradição; eu digo isso a você com base na minha própria autoridade. O homem pode ser feliz, mais feliz que os pássaros, mais feliz que as árvores, mais feliz que as estrelas, porque o homem tem algo que nenhuma árvore, nenhum pássaro, nenhuma estrela tem. O homem tem consciência.

Mas quando você tem consciência, então duas alternativas são possíveis: ou você pode tornar-se infeliz, ou você pode tornar-se feliz. A escolha é sua. E algo aconteceu com essa liberdade. Alguma coisa está errada. O homem está, de uma certa maneira, de cabeça para baixo.

Um homem feliz simplesmente vê Deus em todo lugar. E você precisa de olhos felizes para ver Deus. Se você quer ser feliz, então comece a fazer escolhas naturais. Há muitas ocasiões em que você terá que ser desobediente – seja! Haverá muitas ocasiões em que você terá que ser rebelde – seja! Não há nenhum desrespeito implícito nisso. Seja respeitoso com seus pais. Mas lembre-se de que a sua mais profunda responsabilidade é com o seu próprio ser.
 
Todo mundo está sendo empurrado e manipulado. Ninguém sabe qual é o seu destino. O que você realmente sempre quis fazer foi deixado de lado. E como você pode ser feliz? Alguém que poderia ter sido um poeta tornou-se simplesmente um emprestador de dinheiro. Alguém que poderia ter sido um pintor tornou-se um médico. Alguém que poderia ter sido um médico, um belo médico, é agora um homem de negócios. Todo mundo está fora do lugar. Todo mundo está fazendo alguma coisa que nunca quis fazer; daí a infelicidade.

A felicidade acontece quando a sua vida se encaixa com o que você é, quando se encaixa tão harmoniosamente que qualquer coisa que você fizer será pura alegria. Então, de repente, você descobrirá que a meditação segue você. Se você ama o trabalho que está fazendo, se você ama a maneira como está vivendo, então você está meditativo. Então nada irá desviar você.

Nós temos nos desviado por motivos não naturais: dinheiro, prestígio, poder. Ouvir o pássaro cantar não vai lhe dar dinheiro. Ouvir o pássaro cantar não vai lhe dar poder e prestígio. Observar uma borboleta não irá ajudá-lo economicamente, politicamente, socialmente. Essas coisas não lhe trarão remuneração, mas essas coisas irão fazê-lo feliz.

Uma pessoa verdadeira tem coragem de se voltar para as coisas que a fazem feliz. Se com isso ela permanecer pobre, ela permanecerá pobre; ela não reclamará disso, ela não guardará nenhum rancor. Ela dirá: ‘Eu escolhi o meu caminho, eu escolhi o cantar dos pássaros e as borboletas e as flores. Eu posso não ser rico, tudo bem, mas eu sou rico porque eu sou feliz’.
 
Esse tipo de homem não necessita de qualquer método para se centrar, por que não é preciso, ele está centrado. Seu centramento está por toda a sua vida.

Você sempre escolhe algo do lado de fora, e você barganha com algo do lado de dentro. Você perde o interior e ganha o lado de fora. Mas o que você vai fazer com isso? Mesmo se você tiver todo o mundo aos seus pés, mas se você tiver perdido a si mesmo; mesmo se você tiver conquistado todas as riquezas do mundo, mas se você tiver perdido seu próprio tesouro interior, o que você fará com tudo aquilo? Essa é a miséria.

Seja feliz! e a meditação virá em seguida. Seja feliz, e a religião virá em seguida. Felicidade é a condição básica. As pessoas se tornam religiosas somente quando elas estão infelizes; então a religião delas é falsa. Tente entender porque você está infeliz.
 
Tente entender a diferença na ênfase: Você não está errado! É só o seu padrão, a maneira de viver que você aprendeu é que está errado. As motivações que você aprendeu e aceitou como suas, não são suas. Elas não irão realizar o seu destino. Elas vão contra a sua essência, elas vão contra o que lhe é elementar.
 
Lembre-se disso: ninguém mais pode decidir por você. Todos os mandamentos deles, todas as ordens deles, todas as moralidades deles, são simplesmente para matar você. Você tem que decidir ser você mesmo. Você tem que tomar sua vida em suas próprias mãos. De outra maneira a vida vai seguir batendo em sua porta e você nunca estará lá; você estará sempre em algum outro lugar.

Sempre que eles encontram uma bela atmosfera meditativa circundando um homem, eles sempre descobrem que ele estava tremendamente feliz; vibrante com a alegria, radiante. Essas coisas se tornaram associadas. E eles pensam que a felicidade vem quando você está meditativo. E é exatamente o oposto: a meditação é que vem quando você está feliz.

Você tem que deixar de lado todos os padrões que foram impostos a você, e você tem que encontrar a sua própria chama interior. Não se preocupe muito com o dinheiro, porque ele é o maior desvio da felicidade. Eu não sou contra o dinheiro, lembre-se. Não me interprete mal. Eu não sou contra o dinheiro, eu não sou contra nada. Dinheiro é um meio. Se você for feliz e você tiver dinheiro, você se tornará mais feliz. Se você for infeliz e tiver dinheiro, você se tornará mais infeliz, por que o que você fará com o seu dinheiro?

Eu digo que as pessoas não são mundanas quando elas não mudam seus motivos por causa de dinheiro.

Mas em algum ponto do caminho, todo mundo se perdeu. Você foi educado por pessoas que não se realizaram. Você foi educado por pessoas que não tinham saúde. Você pode sentir pena delas. Eu não estou lhe dizendo para ser contra elas. Eu não as estou condenando, lembre-se. Simplesmente sinta compaixão por elas. Os pais, os professores do colégio e da universidade, os chamados líderes da sociedade, eles foram pessoas infelizes. Eles criaram um padrão infeliz em você.
 
E você ainda não assumiu a sua própria vida. Eles viveram segundo uma interpretação errada, e essa foi a miséria deles. E você também está vivendo segundo uma interpretação errada.
 
A meditação ocorre naturalmente a uma pessoa feliz. A meditação ocorre naturalmente a uma pessoa alegre. A meditação é muito simples para uma pessoa que pode celebrar, que pode curtir a vida.
 
Mas você tem tentado isso de uma outra maneira, e assim não é possível.


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