O
bem-estar físico, emocional e mental é, na verdade, um único processo
dinâmico. O equilíbrio e a harmonia das nossas forças começam em nossa
vida emocional. Na primeira metade do século 20, a medicina pareceu
esquecer a relação entre mente e corpo, mas agora ela está sendo
renovada por uma visão integrada da vida. O ser humano é visto como um
todo inseparável do cosmo. Nem o espírito, nem a mente, muito menos a
emoção ou o corpo físico podem ser compreendidos isoladamente.
A nova noção de saúde é sobretudo preventiva e não violenta. Ela admite procedimentos invasivos apenas como último recurso.
Saúde
é a boa administração da energia vital que passa por nós. A meditação, a
prática moderada de exercícios físicos, a vida afetiva equilibrada, a
inteligência emocional, a definição de objetivos claros na vida e a
prática da solidariedade na profissão e nos relacionamentos humanos
podem manter-nos perfeitamente saudáveis, sem o sofrimento físico ou
emocional desnecessário.
A
única utilidade possível de alguma doença que tenhamos é fazer-nos
repensar o rumo da nossa vida e o modo como estávamos usando a energia
vital que flui por nós. A doença é um alerta. Uma dor de cabeça, um
cansaço, um desânimo ou uma gripe têm mensagens para nós: significam que
houve alguma falha em nosso equilíbrio emocional. São as emoções que
estabelecem a relação prática entre corpo e alma. A dieta, certa ou
errada, também resulta da vida emocional e dos desejos que alimentamos.
A
consciência mais ampla que agora renova a noção de saúde é bastante
antiga. Milhares de anos atrás, os sábios ocidentais afirmavam que a
arte mais divina é a arte de curar. E ela deve ocupar-se tanto da alma
como do corpo, pois nenhum ser pode ser inteiramente saudável enquanto
sua natureza interior estiver sofrendo.
Cada
ser humano pode ser visto como uma espécie de aparelho receptor de
energia cósmica. Recebemos o tempo todo diferentes variedades de energia
do cosmo. Nossa função é expressar criativamente esta energia nas
várias dimensões da vida, participando da evolução de tudo o que entra
em contato conosco. A doença é apenas um bloqueio deste fluxo
energético. A boa saúde física, emocional e mental consiste no fluxo
correto da vida energética, que deve ser ao mesmo tempo livre e
harmônico, espontâneo e organizado.
Durante
a década de 80, o médico norte-americano Bernard Siegel desenvolveu um
sistema de abordagem dos seus novos pacientes com algumas perguntas
básicas que rompiam os limites da medicina convencional: [1]
1) Você deseja viver até os 100 anos?
(Para saber se há uma forte vontade de viver.)
2) O que significa a doença para você?
(Ela deve ser vista como um desafio positivo e uma lição útil.)
3) Por que você precisa da doença?
(A doença foi uma forma inconsciente de buscar amor, cuidados, atenção?)
4) O que aconteceu em sua vida algum tempo antes de adoecer?
(As emoções têm tudo a ver com as mudanças na saúde pessoal.)
Esta
última pergunta visava mostrar que uma doença geralmente surge em
determinada situação emocional que a torne possível ou até necessária,
e, portanto, é, em parte, responsabilidade da própria pessoa. Devemos
assumir responsabilidade pelo que nos ocorre, para assumirmos também
responsabilidade pela cura que ocorrerá no futuro.
O Poder Curativo do Carinho
O médico Larry Dossey exemplifica no livro “Aspectos Espirituais das Artes de Curar”: [2]
“Minha
percepção do seu carinho ou insensibilidade para comigo gera uma
avalanche de alterações bioquímicas em meu próprio corpo. Processos
neurológicos e hormonais se sucedem, como uma cascata, em consequência
do modo como sinto nossa interação. Não se trata de questões filosóficas
remotas ou abstratas, mas de consequências fisiológicas concretas.
Sinto que isto tem sido extremamente subestimado, passando geralmente
despercebido pelos filósofos, cientistas e médicos”.
“Se eu o trato com delicadeza e compaixão”, diz o médico, “isto poderá suscitar em você um estado geral mais saudável”.
A
saúde, conclui ele, é uma questão de relações humanas. As agressões
sutis podem levar à doença alguém que não saiba preservar a paz interior
condicional. Mas o respeito mútuo produz boa saúde e bem-estar para
todos. “Devido às nossas associações íntimas com os outros e com o
mundo, não vejo como deixar de invocar conceitos de ética e
responsabilidade em uma teoria global sobre a saúde e a doença”, diz
ele. Para Dossey, nossas interações são tão complexas que é impossível
determinar tudo o que fazemos ou causamos uns aos outros. Como, então,
agir corretamente para preservar a saúde a longo prazo? Dossey responde:
“A
chave pode estar simplesmente em ter bons propósitos, ter em mente que
realmente afetamos uns aos outros e que a interação é a regra geral.
Minha esperança é que compreender isto fará com que tenhamos cuidado e
consideração pelo nosso próximo, pelos outros seres humanos, fator
menosprezado em um modelo isolacionista (individualista) de saúde.”
Qualquer
cidadão pode fazer experiências práticas para comprovar este ponto de
vista. Basta sorrir mais e ser sinceramente mais amável com as pessoas
para observar que uma interação fraterna faz com que nos sintamos
melhor, inclusive fisicamente.
Práticas
como a meditação e a oração, que afastam nossa mente do mundo das
coisas pequenas e nos aproximam do que é vasto e eterno, são
instrumentos poderosos para a melhora e a manutenção da saúde, própria e
alheia. O nosso equilíbrio vital depende da nossa capacidade de viver
tendo presente o que é bom e sagrado. Se tivermos estas duas coisas,
estaremos bem. É recomendável revisar regularmente nosso estado de
espírito. O preço da desatenção pode ser a ambição desmedida ou a
decepção e a tristeza, dois extremos que realimentam um ao outro. A
virtude e a felicidade estão no caminho do meio da serenidade.
As
emoções equilibradas são mais que uma questão de saúde: são, também,
uma questão de inteligência. As tensões emocionais típicas do cidadão da
sociedade industrial suprimem as relações profundas entre as pessoas,
desumanizando-as e causando prejuízos à percepção racional das coisas.
“Quando emocionalmente perturbadas, as pessoas não se lembram, não
acompanham, não aprendem nem tomam decisões com clareza”, escreve Daniel
Goleman em seu livro “Inteligência Emocional”[3], antes de citar palavras de um consultor na área da administração de empresas: “A tensão idiotiza as pessoas.”
Trocando a Raiva Pelo Amor
A raiva, explica Goleman, provoca circuitos energéticos e bioquímicos
destrutivos no corpo e nas emoções. A teosofia ensina que a raiva
destrói a substância da alma mortal na sua relação com a alma imortal. O
amor altruísta, em compensação, cura as feridas e funciona como uma
fábrica de bem-estar interior. A ciência das emoções, aliada da nossa
dimensão espiritual, abre caminho para a felicidade e constitui uma
chave para a serenidade e a saúde física.
A
saúde é a capacidade de estar em unidade dinâmica com a vida. O
otimismo cura. A transmutação de ansiedade em paz, de depressão em
ânimo, de tristeza em alegria e de solidão em solidariedade é um
processo alquímico revolucionário, capaz de esvaziar consultórios
médicos.
Um
programa de saúde pública voltado para a nova era da civilização global
poderia ter como meta, em primeiro lugar, um maior autoconhecimento dos
cidadãos. Isto faria com que as pessoas tomassem suas vidas mais
diretamente em suas próprias mãos em áreas como a qualidade dos seus
pensamentos e sentimentos, quantidade e qualidade de exercícios
físicos, dieta alimentar, ou relaxamento físico e emocional.
Em
segundo lugar, um programa de saúde para a nova era poderá ter como
objetivo o estímulo à criação de relações humanas baseadas na boa
vontade recíproca, desmascarando os mecanismos de manipulação
psicológica, de mentira e de chantagem emocional, entre outros. Assim se
eliminará a necessidade de doenças físicas como um modo pelo qual o
Carma leva as pessoas a pararem e avaliarem melhor suas vidas. Será
importante o estímulo à inofensividade e à solidariedade com todos os
seres. Plantar o bem é o caminho para colher o bem.
Em
terceiro lugar, a medicina da nova era poderá combinar em grande escala
os avanços tecnológicos da medicina convencional com o que há de melhor
nas medicinas tradicionais. Um país em que seja adotado um programa de
saúde deste tipo não produzirá só bens materiais. Produzirá também “o
tesouro que está nos céus”. Plantará felicidade, colherá paz, e seus
cidadãos expressarão, ao viver, uma síntese prática e harmônica entre
terra e céu, estabilidade e transcendência, o humano e o divino, o
finito e o infinito.
Esta
estratégia de saúde não é só coletiva. Ela é também individual, e a
possibilidade de colocá-la em prática está constantemente diante de nós:
é sempre agora. A verdadeira saúde vem de dentro de cada ser consciente, e elimina, ou reduz, as causas do sofrimento.
Meditação Sobre a Relação Mente-Sentimento-Corpo
Para concluir este estudo, façamos uma experiência prática.
Sentado
calmamente em lugar arejado, dê de presente para si mesmo 10 minutos de
sossego. Deixe de lado as preocupações de curto prazo e relaxe.
Pense
por um instante como a vida pode ser breve, mas é fascinante. Sinta seu
coração bater, com fidelidade infalível, e agradeça a ele mentalmente.
Perceba o fluxo sempre renovado de sangue pelo seu corpo todo, e
agradeça.
Respire fundo, com calma, e congratule-se pelo fato de estar vivo e atento, acordado e alerta.
Reconheça
que a vida é preciosa demais para ser gasta em conflitos. Faça um voto
incondicional de viver em paz com todos os seres. Estar vivo e atento é
uma experiência tão vasta e significativa que não há motivo para ficar
alimentando pequenas decepções e ilusões pessoais.
Durante
os próximos dias, sorria mais para as pessoas. E para si mesmo.
Solte-se e sorria agora mesmo para seu próprio coração e para o centro
de paz que há em você.
Seja mais amável com as pessoas nos próximos sete dias, buscando expressar com isso apenas sua alegria incondicional de viver.
Estabeleça uma atitude geral de satisfação com a-vida-como-ela-é e com as-pessoas-como-elas-são. Isso dá a você mais liberdade para administrar suas próprias energias: viver e deixar viver é um princípio da sabedoria teosófica.
E
anote, a cada noite, alguma coisa dos resultados do dia. Abra seus
diálogos com as pessoas através de um sorriso e observe o resultado.
Observe a sua sensação física, seu estado mental e seu estado emocional
quando você expressa uma atitude harmoniosa e sincera com os outros.
Seja
firme quando necessário, porque firmeza é tão importante quanto
flexibilidade; mas mantenha respeito e equilíbrio em todos os momentos.
Deseje o bem dos outros, calma e deliberadamente, e veja como se sente
depois. Reflita sobre as consequências desta atitude prática em relação à
sua saúde, a curto, médio e longo prazo.
Ao
final de uma semana de experiência, faça uma avaliação e decida se vale
a pena ser mais amável com todos, independentemente dos altos e baixos
da vida.
Ao fechar a meditação, lembre-se:
Felicidade
não é ter seus desejos atendidos. É estar contente com a vida a cada
momento, e usar para o bem, corretamente, a energia vital de que você
dispõe hoje.