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domingo, 31 de janeiro de 2016

OS TRES GRAUS DO HOMEM

"A natureza não dá saltos". É necessário que haja uma passagem gradual da consciência simples para a autoconsciência e dessa para a Consciência Cósmica. É necessário que haja um caminho de passagem gradual. É absolutamente certo que a passagem da consciência simples para a autoconsciência e dessa para a Consciência Cósmica normalmente se dá por um súbito e, muitas vezes, terrível salto. Mas as condições não se devem atropelar e passar umas por sobre as outras.

Possuindo apenas a consciência simples, o homem ainda não tingiu a sua condição de homem; ele é simplesmente um alalus-homo. A autoconsciência lhe confere a condição pela qual o conhecemos. Com a Consciência Cósmica, ele é o que realmente vemos dele (ou melhor, o que dele não vemos, pois qual de nós realmente vê a esses homens?) em Jesus, Maomé, Balzac, Whitman. Quando a raça tiver atingido a Consciência Cósmica, como no passado remoto atingiu a autoconsciência, terá início uma nova partida ou um novo nível. O homem entrará na posse de sua herança e de sua verdadeira obra.

O homem que vive completamente, ou quase completamente, no plano da consciência simples flutua na corrente do tempo tal como o fazem os animais, levado pelas estações, pela comida, pela sobrevivência, etc., tal como uma folha é levada pela corrente, não com autodeterminação, mas conduzida por outras influências e ao sabor das forças naturais, como ocorre aos animais e plantas. 

O homem totalmente autoconsciente conduz o seu destino. Ele sente que é um ponto fixo. Julga todas as coisas em referência a esse ponto. Mas, fora dele não há nada que seja fixo. Ele confia em quem chama de Deus e não confia em si próprio; é um deísta, um ateu, um cristão, um budista. Crê na ciência, mas a ciência muda constantemente e dificilmente lhe dirá algo, em qualquer caso, que não seja conhecido. Então, ele está fixado a um ponto e nele se move livremente. 

O homem que possui a Consciência Cósmica, estando consciente de si mesmo e consciente do Cosmo, de seu sentido e de sua direção, está fixado simultaneamente dentro e fora em "suas essência e propriedades". A criatura com consciência simples é apenas um ramo que flutua, que se move livremente sob qualquer influência. O homem autoconsciente é um ninho, pivotado pelo seu centro, fixado a um ponto, mas movendo-se livremente nele. O homem com Consciência Cósmica é o mesmo ninho, mas magnetizado. Ele ainda está fixado ao seu centro, mas fora dele encontrou algo REAL e PERMANENTE.

Quando a raça por inteiro tiver atingido a Consciência Cósmica, nossa ideia de Deus se realizará no homem.

A "ressurreição" não é em relação à assim denominada morte, mas em relação à vida que está "morta", no sentido de jamais ter penetrado na vida verdadeira.


Richard Maurice Bucke





"O homem de consciência cósmica é, necessariamente, a mais sublime expressão do homem: o elo que liga o visível aos mundos superiores. Ele age, vê e sente através de seu ser interior. O abstrativo pensa. O instintivo simplesmente age. Eis aqui três graus de homem. Enquanto instintivo ele fica abaixo do nível; como abstrativo ele o atinge e como Consciência Cósmica, o ultrapassa. A Consciência Cósmica abre ao homem sua verdadeira vocação: o Infinito chega ao seu alcance. Ele apreende um relance do seu destino". — Balzac 
PERGUNTARAM A KRISHNAMURTI



O senhor refere que, no que concerne às questões espirituais, uma pessoa deve crer por si mesma. Se realmente é isso que defende, porque razão perde o seu tempo a dar conferências?

K - Senhor, porque razão derrama a flor o seu perfume? Ela não pode evitar de perfumar o ambiente. Quando percebe alguma coisa com clareza, não sentirá desejo de partilhar essa clareza com os demais? Eu refiro isto porque pessoalmente não posso impedir-me de o fazer. Eu não falo com a intenção de ajudar os outros; isso seria ser demasiado condescendente. Falo simplesmente porque existe uma canção no meu coração. E desejo expressar esse canto sem me preocupar em saber se alguém se esforça por escutar aquilo que digo. Uma flor desabrocha porque se regozija; trata-se da sua função, do seu dharma. A flor não se preocupa em saber se quem passa goza o seu perfume ou o ignora.


 Mas tem vindo a falar há muitos anos e, no entanto, o mundo ainda não mudou. Comente esta reflexão, por favor.

K - As pessoas vão junto do rio e tomam a água na quantidade que necessitam. Alguns vão lá com um jarro; outros não bebem mais do que uns goles. Por isso a questão não é realmente do quanto é oferecido mas sim tomado. O rio está cheio de água mas você só toma uma pequena quantidade, dependendo  da satisfação provisória das suas necessidades imediatas. Você satisfaz-se com facilidade e não sente aquele profundo descontentamento. Não tem a sede necessária para beber grandes quantidades de água pura.




Não é fácil mudar. As bitolas de comportamento impostas pela sociedade, os condicionamentos aos quais nos moldamos supondo serem os mais eficazes para conquistar um lugar perfeito na família, no trabalho, enfim, na vida, vão se afirmando e confirmando, transformando-se  em véus espessos, que amontoam-se à frente de nossa visão e, seguimos como marionetes, aperfeiçoando cada vez mais esses procedimentos; cegos, impotentes espiritualmente, pois é esse lado da vida que deveríamos eleger como prioritário. Quando encontramos algum texto que nos arrebate desse miasma que nos alimenta, ou quando nos deparamos com alguém de grande sabedoria, sentimo-nos virados pelo avesso... Se a curiosidade nos anima a continuar - algo lá no fundo mandou um sinal - então, não foi possível evitar o perfume da flor, caminhamos até o rio e tomamos uma porção apenas para satisfazer as necessidades (curiosidades) imediatas. Porém, aquela voz interior começa a falar mais alto e um descontentamento surge pelo modo que estamos vivendo e percebendo o mundo; uma outra realidade, aos poucos, vai se fazendo perceptível, os véus antes espessos já estão mais transparentes facilitando a nossa compreensão e, quando isso acontece não há mais volta. O caminho vai se estreitando, as provas vão acontecendo, entretanto "o tamanho da dificuldade é igual ao tamanho da facilidade". Sejamos, pois, como as flores elas "não se preocupam em saber se quem passa goza o seu perfume ou o ignora". KyraKally


sábado, 30 de janeiro de 2016

A SAÚDE DAS EMOÇÕES
Preservando o Equilíbrio
Entre Corpo, Mente e Sentimento

Carlos Cardoso Aveline

Seja qual for nossa idade ou classe social, a saúde é uma condição decisiva para que tenhamos êxito e felicidade na vida. É um capital tão valioso e único que o mínimo que se pode dizer é que deve ser bem administrado. Em meio às pressões do mundo atual, esta tarefa nem sempre é simples. Como aplicar bem o capital chamado saúde, diante das oscilações do mercado? Como empregar corretamente nossa energia vital, de modo que nosso bem-estar e poder de ação aumentem, e não tenhamos um déficit na contabilidade energética?

O bem-estar físico, emocional e mental é, na verdade, um único processo dinâmico. O equilíbrio e a harmonia das nossas forças começam em nossa vida emocional. Na primeira metade do século 20, a medicina pareceu esquecer a relação entre mente e corpo, mas agora ela está sendo renovada por uma visão integrada da vida. O ser humano é visto como um todo inseparável do cosmo. Nem o espírito, nem a mente, muito menos a emoção ou o corpo físico podem ser compreendidos isoladamente.

A nova noção de saúde é sobretudo preventiva e não violenta. Ela admite procedimentos invasivos apenas como último recurso.

Saúde é a boa administração da energia vital que passa por nós. A meditação, a prática moderada de exercícios físicos, a vida afetiva equilibrada, a inteligência emocional, a definição de objetivos claros na vida e a prática da solidariedade na profissão e nos relacionamentos humanos podem manter-nos perfeitamente saudáveis, sem o sofrimento físico ou emocional desnecessário.

A única utilidade possível de alguma doença que tenhamos é fazer-nos repensar o rumo da nossa vida e o modo como estávamos usando a energia vital que flui por nós. A doença é um alerta. Uma dor de cabeça, um cansaço, um desânimo ou uma gripe têm mensagens para nós: significam que houve alguma falha em nosso equilíbrio emocional. São as emoções que estabelecem a relação prática entre corpo e alma. A dieta, certa ou errada, também resulta da vida emocional e dos desejos que alimentamos.

A consciência mais ampla que agora renova a noção de saúde é bastante antiga.  Milhares de anos atrás, os sábios ocidentais afirmavam que a arte mais divina é a arte de curar. E ela deve ocupar-se tanto da alma como do corpo, pois nenhum ser pode ser inteiramente saudável enquanto sua natureza interior estiver sofrendo.

Cada ser humano pode ser visto como uma espécie de aparelho receptor de energia cósmica. Recebemos o tempo todo diferentes variedades de energia do cosmo.  Nossa função é expressar criativamente esta energia nas várias dimensões da vida, participando da evolução de tudo o que entra em contato conosco. A doença é apenas um bloqueio deste fluxo energético. A boa saúde física, emocional e mental consiste no fluxo correto da vida energética, que deve ser ao mesmo tempo livre e harmônico, espontâneo e organizado.

Durante a década de 80, o médico norte-americano Bernard Siegel desenvolveu um sistema de abordagem dos seus novos pacientes com algumas perguntas básicas que rompiam os limites da medicina convencional: [1]

1) Você deseja viver até os 100 anos?
(Para saber se há uma forte vontade de viver.)

2) O que significa a doença para você?
(Ela deve ser vista como um desafio positivo e uma lição útil.)

3) Por que você precisa da doença?
(A doença foi uma forma inconsciente de buscar amor, cuidados, atenção?)

4) O que aconteceu em sua vida algum tempo antes de adoecer?
(As emoções têm tudo a ver com as mudanças na saúde pessoal.)

Esta última pergunta visava mostrar que uma doença geralmente surge em determinada situação emocional que a torne possível ou até necessária, e, portanto, é, em parte, responsabilidade da própria pessoa. Devemos assumir responsabilidade pelo que nos ocorre, para assumirmos também responsabilidade pela cura que ocorrerá no futuro.



O Poder Curativo do Carinho

 

O médico Larry Dossey exemplifica no livro “Aspectos Espirituais das Artes de Curar”: [2]

“Minha percepção do seu carinho ou insensibilidade para comigo gera uma avalanche de alterações bioquímicas em meu próprio corpo. Processos neurológicos e hormonais se sucedem, como uma cascata, em consequência do modo como sinto nossa interação. Não se trata de questões filosóficas remotas ou abstratas, mas de consequências fisiológicas concretas. Sinto que isto tem sido extremamente subestimado, passando geralmente despercebido pelos filósofos, cientistas e médicos”.  

“Se eu o trato com delicadeza e compaixão”, diz o médico, “isto poderá suscitar em você um estado geral mais saudável”.

A saúde, conclui ele, é uma questão de relações humanas. As agressões sutis podem levar à doença alguém que não saiba preservar a paz interior condicional. Mas o respeito mútuo produz boa saúde e bem-estar para todos. “Devido às nossas associações íntimas com os outros e com o mundo, não vejo como deixar de invocar conceitos de ética e responsabilidade em uma teoria global sobre a saúde e a doença”, diz ele. Para Dossey, nossas interações são tão complexas que é impossível determinar tudo o que fazemos ou causamos uns aos outros. Como, então, agir corretamente para preservar a saúde a longo prazo? Dossey responde:

“A chave pode estar simplesmente em ter bons propósitos, ter em mente que realmente afetamos uns aos outros e que a interação é a regra geral. Minha esperança é que compreender isto fará com que tenhamos cuidado e consideração pelo nosso próximo, pelos outros seres humanos, fator menosprezado em um modelo isolacionista (individualista) de saúde.”

Qualquer cidadão pode fazer experiências práticas para comprovar este ponto de vista. Basta sorrir mais e ser sinceramente mais amável com as pessoas para observar que uma interação fraterna faz com que nos sintamos melhor, inclusive fisicamente.

Práticas como a meditação e a oração, que afastam nossa mente do mundo das coisas pequenas e nos aproximam do que é vasto e eterno, são instrumentos poderosos para a melhora e a manutenção da saúde, própria e alheia.  O nosso equilíbrio vital depende da nossa capacidade de viver tendo presente o que é bom e sagrado. Se tivermos estas duas coisas, estaremos bem. É recomendável revisar regularmente nosso estado de espírito. O preço da desatenção pode ser a ambição desmedida ou a decepção e a tristeza, dois extremos que realimentam um ao outro. A virtude e a felicidade estão no caminho do meio da serenidade.

As emoções equilibradas são mais que uma questão de saúde: são, também, uma questão de inteligência. As tensões emocionais típicas do cidadão da sociedade industrial suprimem as relações profundas entre as pessoas, desumanizando-as e causando prejuízos à percepção racional das coisas. “Quando emocionalmente perturbadas, as pessoas não se lembram, não acompanham, não aprendem nem tomam decisões com clareza”, escreve Daniel Goleman em seu livro “Inteligência Emocional”[3], antes de citar palavras de um consultor na área da administração de empresas: “A tensão idiotiza as pessoas.”



Trocando a Raiva Pelo Amor


A raiva, explica Goleman, provoca circuitos energéticos e bioquímicos destrutivos no corpo e nas emoções. A teosofia ensina que a raiva destrói a substância da alma mortal na sua relação com a alma imortal. O amor altruísta, em compensação, cura as feridas e funciona como uma fábrica de bem-estar interior. A ciência das emoções, aliada da nossa dimensão espiritual, abre caminho para a felicidade e constitui uma chave para a serenidade e a saúde física.  

A saúde é a capacidade de estar em unidade dinâmica com a vida. O otimismo cura. A transmutação de ansiedade em paz, de depressão em ânimo, de tristeza em alegria e de solidão em solidariedade é um processo alquímico revolucionário, capaz de esvaziar consultórios médicos.

Um programa de saúde pública voltado para a nova era da civilização global poderia ter como meta, em primeiro lugar, um maior autoconhecimento dos cidadãos. Isto faria com que as pessoas tomassem suas vidas mais diretamente em suas próprias mãos em áreas como a qualidade dos seus pensamentos e sentimentos,  quantidade e qualidade de exercícios físicos, dieta alimentar, ou relaxamento físico e emocional.  

Em segundo lugar, um programa de saúde para a nova era poderá ter como objetivo o estímulo à criação de relações humanas baseadas na boa vontade recíproca, desmascarando os mecanismos de manipulação psicológica, de mentira e de chantagem emocional, entre outros. Assim se eliminará a necessidade de doenças físicas como um modo pelo qual o Carma leva as pessoas a pararem e avaliarem melhor suas vidas. Será importante o estímulo à inofensividade e à solidariedade com todos os seres. Plantar o bem é o caminho para colher o bem.

Em terceiro lugar, a medicina da nova era poderá combinar em grande escala os avanços tecnológicos da medicina convencional com o que há de melhor nas medicinas tradicionais. Um país em que seja adotado um programa de saúde deste tipo não produzirá só bens materiais. Produzirá também “o tesouro que está nos céus”. Plantará felicidade, colherá paz, e seus cidadãos expressarão, ao viver, uma síntese prática e harmônica entre terra e céu, estabilidade e transcendência, o humano e o divino, o finito e o infinito.

Esta estratégia de saúde não é só coletiva. Ela é também individual, e a possibilidade de colocá-la em prática está constantemente diante de nós: é sempre agora. A verdadeira saúde vem de dentro de cada ser consciente, e elimina, ou reduz, as causas do sofrimento.



Meditação Sobre a Relação Mente-Sentimento-Corpo

 

Para concluir este estudo, façamos uma experiência prática.

Sentado calmamente em lugar arejado, dê de presente para si mesmo 10 minutos de sossego. Deixe de lado as preocupações de curto prazo e relaxe.

Pense por um instante como a vida pode ser breve, mas é fascinante. Sinta seu coração bater, com fidelidade infalível, e agradeça a ele mentalmente. Perceba o fluxo sempre renovado de sangue pelo seu corpo todo,  e agradeça.

Respire fundo, com calma, e congratule-se pelo fato de estar vivo e atento, acordado e alerta.

Reconheça que a vida é preciosa demais para ser gasta em conflitos. Faça um voto incondicional de viver em paz com todos os seres. Estar vivo e atento é uma experiência tão vasta e significativa que não há motivo para ficar alimentando pequenas decepções e ilusões pessoais.

Durante os próximos dias, sorria mais para as pessoas. E para si mesmo. Solte-se e sorria agora mesmo para seu próprio coração e para o centro de paz que há em você.

Seja mais amável com as pessoas nos próximos sete dias, buscando expressar com isso apenas sua alegria incondicional de viver.

Estabeleça uma atitude geral de satisfação com a-vida-como-ela-é  e com  as-pessoas-como-elas-são. Isso dá a você mais liberdade para administrar suas próprias energias: viver e deixar viver é um princípio da sabedoria teosófica.

E anote, a cada noite, alguma coisa dos resultados do dia. Abra seus diálogos com as pessoas através de um sorriso e observe o resultado. Observe a sua sensação física, seu estado mental e seu estado emocional quando você expressa uma atitude harmoniosa e sincera com os outros.

Seja firme quando necessário, porque firmeza é tão importante quanto flexibilidade; mas mantenha respeito e equilíbrio em todos os momentos. Deseje o bem dos outros, calma e deliberadamente, e veja como se sente depois. Reflita sobre as consequências desta atitude prática em relação à sua saúde, a curto, médio e longo prazo.

Ao final de uma semana de experiência, faça uma avaliação e decida se vale a pena ser mais amável com todos, independentemente dos altos e baixos da vida.

Ao fechar a meditação, lembre-se:

Felicidade não é ter seus desejos atendidos. É estar contente com a vida a cada momento, e usar para o bem, corretamente, a energia vital de que você dispõe hoje.
 


NOTAS:
[1] “Aspectos Espirituais das Artes de Curar”, de Dora van Gelder Kunz, organizadora; texto de Bernard Siegel e Barbara Siegel com título igual ao do livro, ver p. 65. O livro foi editado pela Editora Teosófica, de Brasília, e tem 308 pp.
[2] “Aspectos Espirituais das Artes de Curar”, obra citada, pp. 24-27.
[3] “Inteligência Emocional”, Daniel Goleman, Ed. Objetiva, RJ, 370 pp. ; ver p. 163. 


A meu ver livre arbítrio não significa liberdade de escolha e, sim, responsabilidade de escolha. Liberdade, para a maioria, é fazer tudo que lhe proporciona prazer; talvez seja por isso que grande parte da humanidade viva tão enferma. Doentes no físico, no emocional e no mental. Quando assumimos total responsabilidade   por todas as nossas atitudes, quando passamos a tratar com carinho e generosidade o nosso próximo... nossa colheita é sempre farta - semeamos o que plantamos, pois "A verdadeira saúde vem de dentro de cada ser consciente, e elimina, ou reduz, as causas do sofrimento". KyraKally

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

NÃO FORCE O RIO

Certo dia, alguém perguntou a Osho: É verdade que para tornar-se totalmente presente, para tornar-se uma nuvem branca, temos de viver todos os sonhos e fantasias?

E Osho disse:
A questão não é se vocês devem viver seus sonhos e fantasias ou não. Vocês vivem neles. Vocês já estão neles. Não é uma questão de escolha.
 
Você pode escolher? Pode abandonar seus sonhos? Pode abandonar suas fantasias? Se tentar abandonar seus sonhos, se tentar mudar suas fantasias terá de trocá-los por outros sonhos e fantasias.
 
Assim, o que deve ser feito? - aceite-os. Por que lutar contra os sonhos, por que tentar muda-los?
 
No momento em que você os aceita, eles desaparecem – porque a mente sonhadora vive de rejeição.
 
E você tem rejeitado muitas coisas – eis porque elas surgem inesperadamente em seus sonhos. Perceba... Você está andando por uma rua. Olha para uma bela mulher ou homem. O desejo surge. E, de repente, você o abandona: isto é errado! Você o rejeita. Tradição, cultura, sociedade, moralismo: isto não é bom.
 
Você pode olhar para uma bela flor, não há nada de errado nisso. Mas quando olha um belo rosto algo imediatamente fica errado – você o rejeita. A partir desse momento, essa face se tornará um sonho. Os desejos que você rejeitou se tornarão sonhos e fantasias. Quanto mais você rejeita, mais eles existem.
Então não rejeite, do contrário criará sonhos. Aceite. Seja lá o que for que aconteça, aceite como uma parte do seu ser. Não condene.
 
Quando você se torna mais receptivo, os sonhos se dissolvem. Uma pessoa que aceita sua vida totalmente deixa de ter sonhos. Tudo o que acontece, acontece por causa da natureza. Não existe nada anormal – não pode existir - tudo é natural.
 
Assim, não crie uma divisão; isso é natural e aquilo é anormal. Tudo o que existe é natural. Mas a mente vive de distinções e divisões. Não aceite as divisões, aceite tudo o que acontece e aceite sem qualquer análise.
 
E você pode sentar-se sob uma árvore e esquecer-se de si mesmo tão completamente que desaparecerá. Você pode dançar numa rua e ser absorvido pelo mantra Hare Krishna, pelo seu canto, tão totalmente que algo florescerá em você, e você desaparecerá. O segredo é a total absorção – sempre que ela acontece.
 
E ela acontece para diferentes pessoas de diferentes modos. Não podemos imaginar Buda dançando. Ele não era esse tipo, não era um tipo dançante. Mas é possível que você seja um tipo dançante – portanto, não force a si mesmo; do contrário, estará em apuros sob uma árvore bodhi. Forçar a si mesmo, paralisar a si mesmo, será violento. E o seu rosto não será o de Buda.
 
Descubra o modo pelo qual sua nuvem se move, por onde ela vagueia – e permita-lhe total liberdade para mover-se e vaguear. Vá onde for, ela encontrará o Divino. Então, não lute – flua. Não force o rio – flua com ele.
 
A dança é bela. Mas você deve estar totalmente nela – este é o ponto.

Não rejeite nada – rejeitar não é religioso. Aceite tudo – aceitar é orar.

A ENERGIA DA COMPAIXÃO
A Solidariedade Universal
Brota da Alma Como Algo Inevitável
 
Calos Cardoso Aveline

Usada com frequência e nem sempre bem compreendida, a palavra “compaixão” implica um “co-sentimento”, um “sentir junto”. Significa “experimentar o mesmo que o outro, quando o outro sofre”.  
 
Através deste sentimento o indivíduo transcende o egoísmo. Quando a compaixão é profunda, ela surge como algo inevitável: o cidadão derruba os muros separadores em seu coração e supera a ilusão egocêntrica segundo a qual ele está isolado do mundo.
 
Há uma beleza moral em experimentar a mesma dor dos seres próximos a nós, quando os vemos sofrer. O amor pessoal torna o ser humano solidário com a dor dos seus filhos e de todos os que fazem parte da sua vida diária. A compaixão universal vai mais longe, porque não está presa a individualidades.
 
O mundo das aparências é enganoso. A luta entre o pessoal e o impessoal é complexa. A fronteira entre as duas dimensões da vida nem sempre está demarcada. Pode haver egoísmo na relação de um indivíduo com aquilo que ele considera divino e espiritual. Pode haver uma boa dose de compaixão universal no modo como amo ou protejo um filho. Não é difícil ver que meu filho não é apenas alguém da minha família. É um resumo da humanidade e uma promessa para o futuro. Kahlil Gibran escreveu:
 
“Seus filhos não são seus filhos. São as filhas e os filhos da Vida em sua ânsia por si mesma. Eles não vêm de vocês, mas através de vocês, e podem estar com vocês, mas não lhes pertencem. Podem transmitir a eles o seu amor, mas não os seus pensamentos, porque eles têm seus pensamentos próprios.  Podem abrigar os corpos deles,  mas não as suas almas,  porque  suas  almas  moram na casa  do  amanhã ...”. 
 
O desafio evolutivo é olhar impessoalmente para os laços pessoais. Quando guiada por um sentido de justiça imparcial, a atitude solidária para com as pessoas próximas é um passo na direção da compaixão sem fronteiras. Os bons mestres veem seus alunos de modo objetivo. O mesmo princípio se aplica a todas as relações corretas entre pessoas. O amor sincero confia na verdade e por isso não distorce os fatos. Seu olhar é impessoal. Respeitando a voz da consciência, o sábio enxerga com clareza. Deste modo surge uma compreensão que elimina as causas da dor psicológica.
 
Quando o amor inegoísta supera o apego pessoal, a vida passa a ser guiada pela justiça, pela compaixão e pela percepção da verdade. Há algo muito específico que distingue o sentimento de solidariedade incondicional. Aquele que vive a compaixão vê o sofrimento humano, estuda as suas causas, experimenta-o como se fosse seu, sofre-o, e mesmo assim preserva a paz em seu coração. 
 
Enquanto vive a dor, permanece livre de sentimentos masoquistas. Não precisa glorificar a si mesmo através da visão do seu próprio sofrimento. Não é escravo de sentimentos de culpa. Não desempenha o papel de “sofredor” nem de “salvador” como meio de obter a aprovação ou aplauso da sua própria consciência.
 
Ele está livre, também, de sentimentos sádicos. Não sente alívio ou prazer diante da dor dos outros. Não precisa do sofrimento alheio para fugir da sua própria dor e não busca a ilusão da vingança. Sente como sua a dor dos outros, mas faz isso sem cair nos círculos viciosos de lamentação e de rancor.
 
Aquele que vive a compaixão está livre do sadomasoquismo emocional porque transcendeu o apego ou rejeição à sua própria dor.* Está sereno, mas não é indiferente. Ele se dedica a combater a origem do sofrimento dos outros, que reconhece como sendo essencialmente seu próprio. Ele vive a felicidade interior por um motivo muito amplo. Seu foco de consciência principal está instalado em ciclos maiores de Carma e Espaço-Tempo,  nos quais a Bem-Aventurança é corretamente reconhecida como a inexorável Lei da Vida. 
 
Enquanto vive a dor própria e a dor dos outros, o sábio experimenta a bem-aventurança. Seu olhar está no alto. A impessoalidade brota como uma bênção do coração profundo. Ele não perde tempo ou energia com raiva e lamentações.
 
Sabe em primeira mão que a felicidade é real, embora seja aparentemente invisível. Conhece o fato de que o sofrimento é ilusório e não passa de um pesadelo, embora seja vivido intensamente por muitos no plano pessoal da consciência. Sabe que a tarefa das pessoas de boa vontade, seja qual for o país em que vivem, é despertar umas às outras do pesadelo do sofrimento desnecessário. Através dos seus atos, ele mostra aos outros que fazer o bem e combater a origem da dor é a bênção libertadora que surge do altruísmo.

A Prática e a Teoria

A filosofia não é compreendida por sepulcros caiados que falam do que não conhecem.
 
O sentimento de compaixão se situa no coração e não no cérebro. Ideias corretas sobre a vida universal podem revelar a sua presença no coração, talvez; mas não serão capazes de fabricá-lo, e ele não pode ser ensinado ou aprendido no plano verbal.  
 
Sentimentos solidários não constituem um verniz a ser colocado por cima do egoísmo. A compaixão nasce como carne viva quando o coração de alguém desperta e se identifica com a dor alheia, para em seguida perceber como é difícil ser efetivamente útil.
 
Cada um deve despertar  por si mesmo e por mérito próprio. E mesmo assim a ajuda mútua é fundamental. A alma do sábio é um espelho mágico em que se reflete o potencial sagrado do aprendiz.
 
A substância última da Compaixão não tem nome.
 
Ela é a energia altruísta que move e impulsiona todas as ações éticas. Através do universo inteiro ela mantém as galáxias vivas, movimenta-as e as faz evoluir. Em linguagem geométrica, a compaixão universal se expressa pela lei da simetria. Ela é a lei da proporção harmoniosa. É a justiça universal que corrige os erros e compensa todo sofrimento. Ela é a origem da solidariedade entre os seres humanos e faz brotar a cooperação entre diferentes espécies.  É a amizade incondicional que expressa o despertar da Alma. Constitui o primeiro passo e o último no caminho da sabedoria, e é inseparável do equilíbrio, da moderação e do discernimento.  
 
 

 * Muitos são os que se apegam ao seu sofrimento, preferindo a dor que conhecem ao invés da felicidade com a qual não estão familiarizados. 
 
 
 
Eu compreendo a compaixão como ação não como um armazenamento de amor, também "não é ter o coração transbordante de piedade para com os outros". Talvez seja por essa razão que "o caminho do inferno está cheio de boas intenções". Há ocasiões em que fisicamente nada podemos fazer pelo outro - cada um tem de passar pelo que é preciso, porém ao tocar-lhe as mãos, ao abraçar-lhe ou mesmo estender-lhe à distância a nossa energia de compaixão, estamos contribuindo com a sua cura. Jesus curava com  o toque de Suas mãos; naquele momento Ele depositava toda a Sua compaixão. Como diz Osho: "Compaixão é um amor tão profundo que você está disposto a fazer o que for preciso para trazer luz a uma situação". KyraKally