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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O AMOR ESTÁ NO FIM 
DA NEGAÇÃO



Pergunta: O que significa "aceitar o que é"? Como difere da resignação?

Krishnamurti: Que é aceitação? Qual é o processo da aceitação? Aceito o sofrimento; — que significa isso? Sofro pela perda de um amigo, irmão ou filho. A aceitação desse sofrimento, pela explicação, é resignação, não acham? Digo que a morte é inevitável, e o sofrimento desaparece; racionalizo, ou volto-me para o karma, ou reencarnação, e aceito. Aceitação é processo de reconhecimento, não é verdade? Não definam a palavra, mas percebam a significação que ela encerra. Isto é, aceito para estar em paz. Resigno-me a um acontecimento, uma circunstância, um incidente. Aceito-os porque, então,  fico em paz, livre do estado de conflito. Há outro motivo na resignação, do qual não posso estar cônscio. Muito profundamente, inconscientemente, desejo estar em paz, não quero perturbação. Mas a perda, causa perturbação, que chamamos dor. E, a fim de fugir ao sofrimento, explico, justifico, e depois digo: "resigno-me ante o inevitável, ao karma". Essa é a maneira mais tola de reagir, não acham? Nunca trará compreensão alguma.

Se sou capaz de olhar o que é — isto é, aquilo que aconteceu, a morte de alguém, um incidente — sem nenhum processo mental, se posso observá-lo, estar cônscio dele, segui-lo, estar em comunhão com ele, amá-lo, não há então resignação, aceitação. Terei de aceitar o fato. Fato é fato. Mas se puderem se abster de o traduzir, de o interpretar, de o justificar, de o colocar num lugar que lhes seja conveniente, se estão conscientes desse fato, e o colocam de parte, naturalmente, sem esforço, poderão ver o que é inteiramente diferente, o que tem significação. Essa coisa começará então a revelar-se, limitadamente, superficialmente, no princípio. Mas assim que ela começar a se revelar, vai se revelando mais e mais, tal como acontece quando lemos um livro. Mas se já tiraram uma conclusão sobre o livro, se já sabem o seu fim, não estão lendo.

A compreensão do que é não pode vir por meio de justificação, condenação, ou pelo se identificar com o que é. Perdemos o caminho do amor. Eis porque existe todo esse processo superficial. Não perguntem o que é o amor. estão sempre falando de amor, — mas o que entendem por "amor"? Não se pode descobrir o que é o amor pela negação. Como levamos uma vida de negação, não pode haver amor. Sendo a nossa vida sumamente destrutiva, a nossa maneira de vida, a nossa maneira de comunhão é egocêntrica. Aquilo que tudo abraça só poderá ser compreendido quando a negação tiver cessado. A compreensão do que é só pode vir quando estamos em plena comunhão com o que é.


 
Krishnamurti em, Quando o Pensamento Cessa
Fonte:pensarcompulsivo 
 

O DESAPEGO E O CASAMENTO

 

 


Geralmente se encara o desapego no casamento como falta de interesse e falta de compromisso.
 
É justamente o contrário !
 
Com relação ao outro, o desapego é a maior forma de amor e respeito que se pode ter com uma pessoa.

Praticar o desapego em relação ao outro, é respeitar a sua individualidade, amá-lo como ele realmente é, amar a sua manifestação em liberdade, amar a sua essência divina, e se tornar cúmplice desta grande aventura que é a vida.

No desapego a lealdade vira amor e o compromisso vira cumplicidade.

O apego é um vampirismo, um vínculo energético destrutivo que prejudica as duas partes. De um lado o doador de energia fica cada vez mais fraco e submisso. Do outro lado, o sugador da energia se torna dependente do seu doador, gerando um relacionamento doentio.

O dominado perde sua individualidade pouco a pouco, vai sendo massacrado e abafado, se torna fraco e dependente e sofre uma morte lenta e gradual, até se transformar em uma massa amorfa, moldada às expectativas do vampiro. E quando isto acontece, já não oferece mais atrativo, pois se torna uma cópia pobre e mal feita do molde que lhe foi imposto. Está totalmente sem vida.

O amor é alimentado pelas diferenças, pelo que nos complementa. Tentar aprisionar e modificar o que amamos é matar pouco a pouco o objeto do nosso amor.

Quem se submete a este massacre de apego é fraco e precisa de ajuda, pois não se ama. Não se reconhece como Ser perfeito, como manifestação divina, como o Deus que é. Pensa que ama e se submete pelo amor que pensa possuir, mas não ama verdadeiramente porque ninguém pode amar sem se amar primeiro.

Da mesma forma, quem pratica este massacre também precisa de ajuda, pois busca desesperadamente olhar no outro o que lhe falta internamente. Não aprendeu a olhar para dentro e encontrar em seu interior o seu Ser perfeito. Busca desesperadamente fora de si o que lhe falta, e nunca vai encontrar. Está condenado a ser insatisfeito e a continuar destruindo tudo que encontra.

Pela lei das atrações, estes dois tipos sempre se aproximam, são duas vítimas, um caso de vampirismo clássico onde o vampirizado acaba morto e sem forças e o vampiro termina igualmente insatisfeito e parte para sua próxima vítima.

O amor desapegado é o amor verdadeiro, sem gaiolas e sem medos. O amor do respeito e da confiança, o amor da liberdade e à liberdade. É o grande amor que viemos praticar neste mundo, o amor que une realmente duas pessoas em todos os seus níveis energéticos. É o amor que une duas almas e dá sentido a vida.

Somente a liberdade pode unir verdadeiramente duas pessoas.

Meu desejo a você é que você viva este amor verdadeiro !


Prama Shanti
Fonte:https://pramashanti.wordpress.com

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

ESCUTA ATENTA É IR ALÉM 
DOS LIMITES DAS PALAVRAS



O que estou dizendo não é exatamente uma doutrina. Ao contrário, não estou transmitindo nada a seu intelecto, mas estou tentando fazer alguma coisa vibrar em sua intuição. Não é uma comunicação verbal. Ao lado da comunicação verbal, algo maior e mais profundo acontece entre eu e você: O NÃO-VERBAL. O dito não é a coisa real, e sim o NÃO-DITO, as pausas, os intervalos. Se você ouvir apenas minhas palavras, também estará perdendo o significado do que digo, que está mais nas pausas, nos silêncios. Por isso, você não tem que ouvir apenas as minhas palavras, mas também o silêncio que envolve as palavras. Isso só é possível numa profunda confiança e amor.

Apenas o silêncio também não serve. O silêncio é o primeiro requisito: ouvir meditativa e conscientemente; mas apenas isso não resolve. Você tem que ouvir com enorme confiança, amor e simpatia. Tem que participar comigo, pois o que estou dizendo não são silogismos ou afirmações lógicas. É uma canção, não um silogismo. Não é lógica, mas amor, o que estou derramando sobre vocês. Uma palavra bem ouvida, ou mesmo um momento de silêncio, pode levá-lo a um voo infinito.

Se você ouvir bem, o que estou dizendo não é uma filosofia, nem um dogma ou doutrina. Não estou tentando convencê-lo de nada; não sou absolutamente um professor. Meu trabalho é totalmente diferente, qualitativamente diferente. Todo esforço aqui é para que eu possa entrar em contato com a essência do seu ser. As palavras são usadas como um truque, uma ponte. Mas você não deve dar muita importância às palavras. Vá mais fundo, olhe os gestos. O que eu digo tem que ser ouvido, mas o que é deixado sem dizer tem que provocar uma VIBRAÇÃO em seu ser. Falo para criar ONDAS em sua consciência. As palavras estão sendo usadas como pedrinhas jogadas num lago, provocando ondas. Sua consciência está profundamente adormecida, por isso quero criar ondas, para que a vida volte à você, para que você comece a fluir, e uma dança interior se inicie... E tudo o que digo nunca é completo; não pode ser, por sua própria natureza.

(...) Tudo o que digo nunca está completo. É apenas uma indicação, uma empurradela, um dedo apontado para a lua. Esqueça o dedo e olhe para a lua; lá está a mensagem. Ela não está no dedo. Minhas palavra são indicadores do SILÊNCIO SEM PALAVRAS... e eu apenas começo, vocês completam.

Por isso muitas pessoas que se acostumaram demais com a lógica se sentem um pouco atordoadas comigo, perdidas... Elas sentem que eu nunca completo nada, que as conduzo a um caminho, mas nunca chego a conclusões, que começo alguma coisa e sempre paro no meio. E isso é verdade, pois não quero destruir sua criatividade. Eu gostaria de participar com vocês, ajudá-los a serem criativos. Não posso fazer o trabalho por vocês; isso não seria amigável nem compassivo. Posso começar, cantar uma canção, e vocês continuam cantando e completam a canção.


Osho
Fonte:pensarcompulsivo  

terça-feira, 28 de novembro de 2017

SOBRE O CASAMENTO, O SEXO 
E O HÁBITO DO SEXO



QUESTÃO: O casamento é uma necessidade ou um luxo?

KRISHNAMURTI: Examinemos o problema, a questão. Porque casamos? Primeiro, obviamente, devido à biológica necessidade, o ímpeto sexual, que a sociedade legalizou com o casamento. A sociedade quer proteger a criança de modo a não serem ilegítimas, porque olha para essas crianças com desdém. Sendo assim, legaliza-se o casamento. Mas certamente essa não é a única razão porque casamos. Devido às exigências psicológicas, por esse motivo, casamos. Eu preciso de um companheiro, alguém que eu possa possuir, dominar, alguém a que possa chamar meu. Posso fazer com a minha mulher aquilo que entender, ela é subordinada do homem – neste país que é a Índia, não na América. Aqui, o sistema do casamento fez da mulher uma escrava, para ser protegida, controlada, dominada, possuída. Não olhem para os outros senhores, todos estão envolvidos nisso. A mulher é uma possessão, assim como possuo uma propriedade, assim possuo a minha esposa. Possuo-a sexualmente e domino-a superficialmente.

Psicologicamente, possuir dá-me conforto, segurança: a minha propriedade, a minha mulher, os meus filhos – o horror disso tudo. Tratamos os seres humanos como se fossem materiais, sem consideração alguma, porque, assim que possuo legalmente, encontram-se debaixo meu domínio.

Então, a sociedade legaliza o casamento com o intuito de perpetuar a raça, para segurá-la sob determinados limites; mas psicologicamente, internamente, posso fazer aquilo que me apetecer. Vocês conhecem toda essa coisa que acompanha a existência, os horrores, as agonias, as misérias, aqueles que são casados e que não se amam. Como pode haver amor se existe a vontade de possuir? E se não casarem, o que acontece? Tenho visto isso em muitos países; existe aquilo a que se pode chamar casamento por conveniência. Não fiquem chocados. Se não existe amor, o casamento por conveniência revela ser um bom motivo, um escapismo para o apetite sexual e irresponsabilidade.

Então, sem amor, ambos são um horror. Mas a sociedade não quer saber, não quer saber, se existe amor ou não; e como a maior parte de nós está tão concentrada, absorvida com tanto interesse no seu negócio, emprego, seja ele de qualquer natureza, em ganhar dinheiro ou seja lá o que for impiedosa e cruelmente, assim também no mundo, como pode assim haver amor por alguém no lar? Não se pode, por um lado, explorar o vizinho, até ao tutano, sugar tudo dele, para depois ir para casa e ser afectuoso para com a mulher. Não senhores, não se pode fazer ambas as coisas.

Mas é isso mesmo que estão a tentar fazer e é por causa disso que não há amor. É por isso que o casamento em qualquer parte do mundo é uma irresponsabilidade miserável.

O casamento é também uma forma de auto-perpetuação. Eu quero continuidade através dos meus filhos. Assim sendo, os filhos revelam-se muito importantes, não por eles mesmos, mas para a minha própria continuidade – o meu nome, a minha classe, a minha casta. Vocês conhecem essa realidade.

E naturalmente, quando se está meramente a usar os filhos para a própria continuidade, não há amor.

Como pode haver amor se estão mais interessados na própria continuidade através deles, do que a amá-los, como eles são?

Assim, a tradição e o nome são mais importantes, porque eles são os meios de se perpetuar através da descendência.

Para compreender este problema, para descobrir o que está envolvido, temos que o estudar, mergulhar no assunto. Ao estudar surge a inteligência, e só a inteligência e o amor podem lidar com este problema, não a mera legislação.

No momento em que possuo uma pessoa, ela torna-se uma prostituta; isto é, a pessoa é mais importante, não por ela, mas porque eu mesmo estou vazio, com fome, feio, sou insuficiente, pobre, então eu uso a outra pessoa – a minha mulher, o meu empregado, o que quer que seja – para esconder o meu vazio interno.

Assim, o possuído, revela-se muito importante como um meio de escapar à minha própria solidão, e naturalmente cresce o ciúme e a inveja quando o outro, que me ajuda a escapar de mim mesmo, olha para outra pessoa.

Para compreender, todo este processo humano, que é extremamente complexo e sutil, tem de haver inteligência. Inteligência é também amor e não meramente o intelecto; e não há amor se por um lado somos impiedosos no nosso emprego e nas relações da vida do dia a dia, e por outro tentarmos ser gentis, carinhosos e misericordiosos.

Não se pode ser ambas as coisas, não se pode ser um rico ambicioso e ser carinhoso e gentil. Não se pode ser o comandante de uma indústria ou um importante político e ser misericordioso. Ambos não se complementam, não se dão um com o outro. E é apenas quando há amor, carinho, misericórdia, tolerância – que é inteligência, a mais alta forma de inteligência – que este problema é resolvido. Somos seres humanos, quer sejamos homem ou mulher, estamos vivos, somos sensíveis, não somos chão para sermos pisados, usados sexualmente ou mentalmente para autogratificação. No momento em que olhamos uns para os outros como seres humanos, como indivíduos, não como algo para ser possuído, então existe uma possibilidade de compreensão e de ir além do conflito que existe entre duas pessoas no casamento.

 
QUESTÃO: Quem é aquele que nos alimenta senão um explorador? Como estar livre da exploração se exploramos quem nos explora?

KRISHNAMURTI: O que queremos dizer com exploração? Obviamente, utilizar outro para nosso próprio bem, prazer, gratificação, principalmente a nível psicológico. Quando uso outro psicologicamente, então estou seguramente a explorá-lo; e a maior parte da nossa forma de explorar no mundo – os ricos que exploram os pobres, o líder que explora os subordinados, os seguidores que exploram o líder e por aí em diante – é essencialmente baseada em exigências internas, na pobreza psicológica do ser humano, em sermos pobres psicologicamente. Não existirá exploração externa do homem pelo homem quando cessa essa interna e inteiramente psicológica necessidade de usar o outro – quer seja a minha mulher, o empregado, o homem ou mulher que trabalha conosco – como um meio de auto-expansão; estamos contentes com tão pouco, com as necessidades da vida, quando somos ricos interiormente, quando não dependemos de outro como um meio para cobrir, para esconder o nosso vazio e as consequentes exigências psicológicas. Então, explorar, obviamente começa quando usamos outro psicologicamente como um meio de auto-expansão, auto-engrandecimento.

Agora, a pergunta dizia se eu estou ou não, a explorar o explorador. Não creio que esteja. Sou alimentado por ele, assim como seria se eu o abandonasse e ganhasse o meu dinheiro. Não estou a usá-lo como uma necessidade psicológica, nem estou a usá-los, vocês, audiência, o indivíduo, de modo a expandir-me. Assim sendo, não sou vosso líder nem vocês me seguem. Eu não preciso de vocês interiormente, psicologicamente, e eu testei isso por mim próprio, não subindo a uma plataforma e cessar de falar. Então, assim como sairia para ganhar dinheiro para as minhas necessidades, assim eu falo; e por isso eu sou vestido e alimentado. Mas como a sociedade está construída no presente momento, a sua total estrutura é baseada na exploração, que é usar outro psicologicamente como um meio para auto-expansão; e apenas existem algumas poucas pessoas que não estão interessadas em usar o outro como um meio para auto-expansão, assim a exploração termina. Certamente, a exploração significa muito mais do que explorar o empregado. A base de toda a exploração é a necessidade psicológica de utilizar outro como um meio para o auto-engrandecimento e expansão, como um meio de agressão e auto-perpetuação. Então, onde não existe auto-expansão, onde não existe o abuso psicológico, não existe exploração. Isso significa que estão contentes com pouco, não por causa de um ideal, mas sim porque interiormente existe um tesouro, existe beleza, êxtase. Sem essa simplicidade interior, procurar experiências, coisas diferentes, excentricidades, isso tudo não tem significado algum; porque exteriormente podemos ser ricos, mas interiormente usamos e exploramos os outros.

Muita importância damos à exploração externa; o comunista, o socialista, todos tentam travar a exploração externa. Não significa que esteja errado; mas deveríamos ver e compreender as causas internas que levam à exploração, que são muito mais complexas, mais sutis e isso não pode ser feito através da mera legislação. É por isso que é muito importante para o indivíduo transformar-se.

A transformação do indivíduo, vocês e eu, não é uma questão de tempo. Tem de ser feita agora, já. Quando nos transformamos, o mundo é transformado. O mundo é o lugar onde vivemos, é as nossas relações, os nossos valores; e isso pode ser afetado imediatamente quando existe uma profunda, interna revolução em nós. Esta revolução interna pode ter lugar unicamente quando nós como indivíduos não estamos a usar outros para auto-expansão, para a nossa gratificação, para nosso conforto.

 
QUESTÃO: Não será a quietude da mente o pré-requisito para a solução de um problema, e não é a dissolução dum problema sintoma mental de quietude?

KRISHNAMURTI: Duas questões estão envolvidas aqui, então veremos uma por uma. “ Não será a tranquilidade da mente o pré-requisito para a solução de um problema?” Tudo depende daquilo a que se chama mente. A mente não é apenas a camada superficial; consciência não é meramente aquela falta de clareza e vivacidade da mente. Obviamente, quando existe um problema que é criado pela mente superficial, essa mente tem de permanecer quieta por forma a compreender. Já se faz isso no dia a dia. Quando existe um problema no trabalho o que é que se faz? Desliga-se o telefone, pedimos para não nos interromperem, e observamos, estudamos o problema – o que significa que a mente se encontra livre de outras preocupações. A mente superficial está preocupada com o problema, o que significa que se tornou quieta. Mas a mente superficial não inclui a totalidade da mente. A totalidade da consciência não se aquietou; apenas a camada superficial que está constantemente agitada, está temporariamente quieta.

 
QUESTÃO: E não é a dissolução de um problema sintoma mental de quietude?
 
KRISHNAMURTI: Obviamente. É apenas quando cada problema é completamente entendido – o que significa que o problema não deixa resíduo, nenhuma cicatriz, nenhuma memória – que a mente se aquieta. Consciência, como dissemos, é um processo de experienciar, nomear ou classificar, guardar, o que é memória. Então, consciência é um processo de desafio e resposta, nomear e guardar, memória. Esse é o processo total da consciência. O guardar, o nomear, a experiência, podem ser suprimidos, remetidos para as profundezas da consciência; mas até que essa supressão emerja, tanto através dos sonhos, da ação, ou através de descobrir, investigar e revelar o que está escondido, não poderá haver uma mente quieta. Uma mente que tenha compartimentos escondidos com inúmeros fantasmas suspensos pela vontade, pela negação, pela supressão, como pode essa mente ser quieta? Essa mente pode ser controlada, ajustada pela vontade; mas será isso quietude? Como pode tal mente ser calma, quieta, rica? Um homem que seja torturado pela ambição, com a frustração inerente a isso, que tenta eliminar essa mesma frustração por todos os meios possíveis de escape, como pode tal ser humano ter uma mente calma e quieta? Quando a ambição é compreendida, quando os problemas da ambição, com as suas frustrações, conflitos, rigidez, foram totalmente compreendidos, a mente se aquieta. Olhando profundamente para nós mesmos, abrindo todos os compartimentos, todos os fantasmas e compreendendo-os, a mente se aquieta. Não pode haver quietude na mente, com portas fechadas. Pode-se aquietar a mente pela vontade, que é um escape fácil; mas a mente que foi feita quieta pela ação da vontade é uma mente morta, insensível, foi brutalizada pela ação da vontade. Apenas quando damos total liberdade para todo e qualquer movimento do pensamento, compreendendo-o – o que não significa dolorosas ações, promiscuidade – só compreendendo o total conteúdo do ser, a mente se aquieta. Então não é feita quieta; tranquilidade surge naturalmente, facilmente, suavemente. É como um lago que serenou, sem ondas, quando a brisa desaparece. Assim, a mente é extraordinariamente quieta, sem movimento, absolutamente calma, quando os problemas são dissolvidos.

Os problemas são criados pelo pensador quando se separa do pensamento, o ator da sua ação, dando importância ao pensador, ao ator.

A quietude revela-se na mente apenas e através de conhecer por nós mesmos – não através da negação do ego ou da aceitação do ego, mas pela compreensão de todo o movimento, cada pensamento, cada sentimento, tanto o grande como o pequeno. O grande e o pequeno são uma falsa divisão que a mente criou. Existe apenas pensamento, que se divide como o grande e o pequeno; e para entender o pensamento, todo o seu processo, temos de conhecer por nós próprios. Isso significa que cada pensamento deve ser compreendido, sentido, sem condenação. Deve existir uma silenciosa e imediata percepção; e desse conhecer por nós mesmos surge uma extraordinária quietude, uma calma que é criativa, uma calma na qual a realidade se revela ao ser. Mas perseguir a quietude e cultivar a tranquilidade destrói essa realidade criativa, porque se procura, exercendo a vontade para ficar tranquilo como um meio para atingir um resultado, de obter algo. O ser humano que procura um resultado, um fim à vista, que tenta adquirir a verdade forçando a mente, de a fazer quieta, nunca encontrará essa realidade. Ele apenas se auto-engana e sem brilho, escapa dos fantasmas que o compõe. É apenas e quando se convida a tristeza que se pode compreender a realidade e não escapando das tribulações.
 
 
Fonte:https://percepcaounitaria.wordpress.com 
 
LEIA ANTES DO 'SIM'


É uma tolice descartar o casamento por causa das distorções do passado, da mesma forma que é uma tolice tornar-se um ateu por causa dos erros da religião. Antes que muitos começassem a duvidar da validade do casamento enquanto instituição, a atitude em relação a ele já tinha começado a mudar de forma considerável, especialmente nas últimas décadas. Os indivíduos começaram a escolher livremente os seus parceiros, motivados geralmente pelo amor.

Isso também, com frequência, levou a erros. Indivíduos que eram muito jovens e imaturos para formar uma união realmente significativa escolheram o casamento baseado na atração superficial, sem um conhecimento profundo de si mesmos e do parceiro. Não espanta que esses casamentos não pudessem durar. Mas esse estágio era necessário antes que a maturidade pudesse ser conquistada.

Assim como o indivíduo a consciência coletiva não pode aprender a menos que cometa erros. Ambos têm que tentar maneiras novas antes que a alma possa alcançar a sabedoria e a verdade.

A liberdade de escolher a forma independente, de experimentar o prazer sexual e erótico, de cometer erros e aprender com eles, de formar relacionamentos diferentes e mais maduros como parte do processo de crescimento, sem condenar os menos maduros, tudo isso é necessário para aprender o real significado do casamento.

Os encontros sexuais fugidios não devem ser vistos como o estado final da liberação. Eles são, no máximo, uma fase muito temporária e limitada. Ninguém que tenha experimentado esse estágio jamais foi verdadeiramente satisfeito, nem mesmo no nível puramente físico.

A mulher do novo estado de consciência combina independência, responsabilidade própria e a total capacidade da idade adulta com a suavidade e a flexibilidade que eram antes associadas apenas à parasita dependente do sexo masculino. Por sua vez, o homem do novo estado de consciência combina os seus sentimentos do coração, a sua suavidade, sua gentileza com sua força e suas capacidades, não da mesma forma que a mulher, mas de modo complementar: assim os dois podem formar o casamento da Nova Era.

O casamento dos novos tempos não será formado na juventude e, caso os participantes sejam jovens, eles terão atingido uma considerável maturidade como resultado de um trabalho interior intenso e genuíno (…). O casamento da nova era é um núcleo de força, com os parceiros revigorando-se mutuamente, e também a outros, em uma tarefa assumida em comum para a Causa Maior.

O novo casamento é totalmente aberto e transparente. Nele não existem quaisquer segredos e os processos da alma dos parceiros são inteiramente compartilhados. Esse tipo de abertura e transparência tem que ser aprendido: ele é, por assim dizer, um caminho dentro do Caminho, a exposição da dificuldade em alcançar essa abertura ao invés da tentativa de negá-la ou escondê-la

Parte da abertura consiste em revelar o medo causado pela forte corrente espiritual, pelas forças libertadas pela unificação da sexualidade com o coração. Quando o medo é compartilhado – mesmo que não se seja ainda capaz de abandoná-lo – as obstruções serão eliminadas de forma relativamente rápida e um tipo de preenchimento vibrante nascerá do próprio ato de compartilhar.

No casamento da Nova Era, estar em um caminho de profundo autodesenvolvimento e de trazer a luz as partes ocultas do self são pré-requisitos para a realização em um relacionamento vivo e vibrante. Quando a vibração desaparece as causas precisam ser exploradas conjuntamente por ambos os parceiros. Pode haver um grande número de causas para a estagnação sem que nenhuma dela seja necessariamente má ou vergonhosa.

Quando todos os níveis de ambas as personalidades estiverem abertos um para o outro, quando se reunirem e, finalmente, fundirem-se, a intensidade e vibração do encontro sexual ultrapassarão qualquer coisa que se possa atualmente imaginar.

Você anseia profundamente por isso porque tal preenchimento é o seu direito inato e o seu destino. Ele só pode existir em uma parceria tal como descrevi acima.

Esse tipo de fusão não pode surgir facilmente, mas é produto de paciência, crescimento, mudança e transformação infinitos. Ela deve, porém, viver em sua visão como uma possibilidade que você pode de fato realizar um dia.

A fusão em todos os níveis da personalidade significa fusão de todos os corpos energéticos e tal coisa muito raramente ocorre. Você saberá quando a fusão ocorre apenas no nível físico e quando ocorre nos níveis emocional, mental e espiritual. Todos esses corpos energéticos existem na realidade e podem fundir-se ou não de acordo com as condições dominantes. Quando acontece a fusão em todos os níveis, você não apenas se torna um com o seu parceiro mas também com Deus. Você percebe Deus no seu parceiro e em você mesmo. Não surpreende, pois, que a corrente de força seja muito poderosa para ser suportada a menos que as personalidades envolvidas tenham atingido um elevado grau de desenvolvimento e purificação interiores.

A fusão complementar desses dois aspectos divinos – as forças masculina e feminina – criarão não apenas preenchimento total, êxtase e felicidade, mas também novos valores duradouros e uma verdadeira experiência da realidade divina, do Cristo no self e no outro.

A sexualidade enquanto força divina deve ser conhecida na Nova Era como a força total explosiva da tensão macho-fêmea que permeia toda a personalidade e transcende o finito. Ela com efeito espiritualiza o corpo e materializa o espírito, o que é a tarefa da evolução.

Com isto eu os abençoo, meus amados. O Cristo no seu Self mais profundo funde-se com o Cristo-Consciência e com aquelas energias que os cercam e os enchem de amor, força e bênçãos.



Palestra do Guia Pathwork 251
Fonte:https://criandoauniao.wordpress.com 

 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

POR QUE VOCÊ É CONTRA  
O CASAMENTO ?



Pergunta: Sei que você é contra o casamento, mas eu ainda quero me casar. Posso ter suas bênçãos?

 
Medite sobre a máxima de Murphy: Um tolo e sua calma logo ficam separados.

Medite sobre isso: um tolo e sua calma logo são separados. É o que o casamento vai ser. Só os tolos pensam em termos de legalidade; do contrário, amor é suficiente. E não sou contra o casamento – sou pelo amor. Se o amor se tornar seu casamento, ótimo; mas não espere que o casamento possa trazer amor. Isso não é possível. Amor pode tornar-se um casamento. Você precisa trabalhar bem conscientemente para transformar seu amor num casamento.

Geralmente, as pessoas destroem o amor delas. Fazem tudo para destruí-lo e então sofrem. E continuam dizendo, “Que deu errado?” Eles destroem – fazem tudo para destruí-lo. Existe um tremendo desejo e anseio por amor, mas amor necessita de grande consciência. Só assim é possível atingir seu mais elevado clímax – e o mais elevado clímax é o casamento. Isso não tem nada a ver com lei. É uma fusão de dois corações numa totalidade. É o funcionamento de duas pessoas em sincronia – isso é casamento.

Mas as pessoas tentam amar e devido a que elas estão inconscientes...o anseio delas é bom, mas o amor delas está repleto de ciúmes, cheio de possessibilidade, cheio de raiva, cheio de maldade. Logo eles o destroem. Conseqüentemente, por séculos eles dependeram do casamento. Melhor começar pelo casamento para que a lei possa lhe proteger de destruí-lo. A sociedade, o governo, a corte, o policial, o padre, todos eles irão lhe forçar a viver na instituição do casamento e você será apenas um escravo. Se o casamento for uma instituição, você vai ser um escravo nela. Só os escravos querem viver em instituições. O casamento é um fenômeno totalmente diferente: é um clímax do amor. Assim ele é bom.

Não sou contra o casamento – sou pelo casamento verdadeiro. Sou contra o falso, o pseudo, que existe. Mas isso é um arranjo. Ele lhe dá uma certa segurança, confiança, ocupação. Mantém você engajado. Do contrario, ele não lhe dá nenhum enriquecimento, nenhuma nutrição. Então se você quiser casar de acordo comigo, só então posso lhe dá minhas bênçãos. Aprenda a amar, e deixe tudo que vai contra o amor. É uma tarefa árdua. É a maior arte da existência, ser capaz de amar. A gente precisa de um tal refinamento, uma tal cultura íntima, tal meditação, para que a gente possa ver imediatamente como a gente vai destruindo.

Se você puder evitar ser destrutivo, se você se tornar criativo no seu relacionamento; se você o suporta, o alimenta; se você for capaz de compaixão pela outra pessoa, não só paixão... paixão somente não é capaz de sustentar o amor; compaixão é necessária. Se você for capaz de ser compassivo com o outro; se você for capaz de aceitar suas limitações, suas imperfeições; se você for capaz de aceitá-lo do jeito que ele ou ela for e ainda assim amar – então um dia o casamento acontece. Isso pode levar anos. Pode levar sua vida toda.

Você pode ter minhas bênçãos, mas para um casamento legal você não precisa de minhas bênçãos – e minhas bênçãos também não servirão de ajuda. E cuidado! Antes de você mergulhar nisso, pense nisso mais uma vez.

Uma mulher entra numa loja de brinquedos e vê um pássaro com um grande bico, “O que é esse pássaro que parece tão estranho?” ela pergunta ao proprietário. “Esse é o pássaro glutão”, ele responde. “Porque você o chama de pássaro glutão?” O homem fala para o pássaro, “Pássaro glutão, minha cadeira!” O pássaro imediatamente sai bicando e devora a cadeira toda. “Eu quero comprá-lo”, diz a mulher. O dono pergunta porque. “Bem” ela diz, “Quando meu marido chegar em casa ele irá ver o pássaro e perguntar, “Que é isso? 'Eu direi, ‘Um pássaro glutão’. Então ele dirá, ‘Pássaro glutão, meu pé!’

Apenas seja um pouco cônscio antes de mover-se! Minhas bênçãos não ajudarão. Casamento é uma armadilha e sua esposa mais cedo ou mais tarde irá encontrar um pássaro glutão.

A senhora Moskowitz gostava de sopa de galinha. Uma noite ela estava tomando a sopa quando três amigos do marido dela chegaram. “Senhora Moskowitz”. Um deles disse, “Estamos aqui para lhe dizer que seu marido, Izzy, foi morto num acidente de carro”. Mrs. Moskowitz continuou tomando sua sopa. Novamente eles contaram a ela. Ainda nenhuma reação. “Olhe”, disse o homem perplexo, “Estamos lhe dizendo que seu marido está morto!” Ela continuou com a sopa. “Cavalheiros”, ela disse com a boca cheia de sopa, “logo que eu acabe com essa sopa de galinha, vocês irão ouvir algum grito!

Casamento não é amor; é alguma outra coisa.

Uma mulher estava lamentando no túmulo do marido, “Oh, Joseph, já faz quatro anos que você se foi, mas eu ainda sinto sua falta!” Nesse momento Grossberg passava e viu a mulher chorando. “Desculpe”, ele disse, “Por quem você está lamentando?” “Meu marido”. Ela disse. “Sinto tanta falta dele!” Grossberg olhou na lápide e então disse, “Seu marido? Mas está escrito na lápide ‘Consagrado à memória de Golda Kreps’”, “Oh, sim, ele colocou tudo em meu nome”.

Assim fique atento antes de ser apanhado na armadilha! Casamento é uma armadilha: você será apanhado pela mulher e a mulher será apanhada por você. É uma armadilha mútua. E então legalmente vocês estão autorizados a torturar um ao outro para sempre. E particularmente nesse país, não só por uma vida, mas por vidas! O divórcio não é permitido nem após sua morte. Na próxima vida você terá a mesma esposa, lembre-se!

 
 
Osho, Extraído de: Ah This!, Chapter 6
Fonte:http://www.osho.com

VIVER NO ETERNO


Pergunta: Qual o exato significado de “viver no eterno?” É isto passível de realização por parte de alguém que esteja vivendo uma vida em família, a qual vem a ser uma limitação ao mesmo tempo que um cativeiro? Se é possível dizei quais as características externamente aparentes numa pessoa assim, mediante as quais ela se faça notar em sua vida diária?

Krishnamurti: Quereis que eu produza um padrão. Não vos deixeis colher pela ilusão das palavras. Procurai averiguar a significação da ideia que está para além das palavras. A exata significação do viver no eterno não pode ser expressa em palavras. A verdade é um assunto puramente individual; não pode ser traduzido por mim ou por quem quer que seja. Precisais de entende-la em vossa própria uniquidade. Fiz uso desta frase a fim de exprimir o significado do viver no agora, no presente com o futuro à vista. A vida como tal, a vida vastíssima, essa não tem futuro. Porém, a vida individual, enclausurada, aprisionada, tem seu futuro na libertação, que é eterna, pois que então se achará unida com a vida que não tem limites. Se estiverdes vivendo nesse futuro pelo contínuo ajuste, por um processo constante de equilíbrio, estareis vivendo no eterno.

Que tem o casamento ou o não casamento que ver com isto? Fazeis do casamento um embaraço, em vez de um auxílio; tende-lo como um cativeiro. No fim de tudo ele é um processo de assimilação de experiência, não um cativeiro que vos force. Sei que, na maioria dos casos, ele vos aprisiona, porque não sabeis como utilizar, como assimilar a experiência dele. Vós o tendes com um cativeiro, como algo terrível, tirânico, não digno do homem, porque não vos apercebeis de que vossas esposas e filhos são companheiros vossos na assimilação das experiências em vista do processo de crescimento. Tratai a todos que vos rodeiam como amigos, por intermédio de quem e com quem cresceis. O casamento não é um cativeiro. Nada do que vos proporcione experiência, nada que vos amplie, que continuamente vos capacite a vos ajustardes a vós mesmos, que vos proporcione força, é cativeiro. Se, porém, meramente atuardes em face do medo da moral estabelecida, então se vos tornará em cativeiro.
 
Pergunta: Dissestes ontem que o casamento é apenas o desejo de escapar do isolamento. Parece ser isto uma concepção muito negativa das relações recíprocas que oferecem um campo rico de experiência, desde que se combine a união física com o mundo do amor. Não é, pois, tal relação recíproca de grande valor, mesmo para aqueles que buscam a libertação e não meramente a sensação ou um meio de fugir da solidão?

Krishnamurti: A qualidade do verdadeiro amor, do amor puro, não conhece distinções tais como as de esposa e esposo, filho, pai, mãe. Porém, geralmente, acontece quando vos casais, dais o vosso amor ao uno e negais aos muitos — no entanto podeis ser casados e ter a todo o mundo em vosso coração e mente, indistintamente. Um amor tal é eterno.

O casamento é cooperação para experiência mutua. Necessitamos de ter o casamento — não necessariamente o casamento em sua forma presente, — em a qual duas pessoas podem crescer mediante a experiência comum, de modo que esta conduza à verificação de que não existe a separação do verdadeiro amor. Este é, no fim de tudo, o resultado essencial da experiência: o reconhecer a realidade em todas as coisas, não em uma, porém em todas as pessoas, dedicar amor, não ao uno, porém aos muitos. Se o casamento conduzir a isto, então, será ele essencial para o homem. Se, porém, ele for meramente uma divisão, achar-se matizado pela tristeza. 
 
 
 

Jiddu Krishnamurti    
Fonte:pensarcompulsivo
 

domingo, 26 de novembro de 2017

O JULGAMENTO FALHO 
DOS HOMENS SUPERFICIAIS


Os sábios perfeitos da antiguidade eram misteriosos, sobrenaturais, penetrantes, profundos demais para serem compreendidos pelos homens.

Não podendo ser compreendidos, errônea será toda descrição. O que deles podemos dizer é apenas uma pálida aproximação da realidade.

Eram atentos como o homem que cruza o tormentoso rio em pleno degelo depois do inverno.

Prudentes como se temessem os seus vizinhos.

Formais como aquele que é hóspede de alguém muito cerimonioso. Evanescentes como o gelo ao derreter.

Despretensiosos como a madeira bruta, que não recebeu qualquer forma das mãos humanas.

Livres como o vale!

Turvos como a água enlameada.

Quem pode, pela serenidade, purificar pouco a pouco, o que é impuro?

Quem pode tornar-se calmo assim e assim para sempre permanecer?

Aquele que segue o Caminho Perfeito não deseja estar cheio de coisa alguma e por não estar cheio (de si mesmo) pode parecer que está gasto, inútil e desprovido de perfeição temporal dos homens.




Lao Tsé em, Tao Té Ching


Comentário


O sábio, o homem perfeito, o mestre, o guru, é o homem totalmente realizado, que brilha como uma estrela, fugindo aos padrões normais de julgamento. Imaginamos esses seres como supremamente belos, calmos, limpos, verdadeiras estátuas ambulantes, com sorrisos que conquistam o coração dos homens, profundos olhos azuis e longas barbas. O Tao Té Ching afirma que esses homens perfeitos são profundos demais para serem compreendidos pelas criaturas comuns. Pelos homens-máquina, que perderam a flexibilidade interna dos puros de coração. Dos que veem a face de Deus.

O Caminho Perfeito não é um caminho, no conceito usual de uma estrada, onde há a sequência de uma marcha no espaço e no tempo. o Tao é sutil demais para ser trilhado pelos que estão cheios de si mesmos. O homem perfeito é inútil no julgamento falho dos homens superficiais, que têm toda sua atividade regulada pelo princípio básico do aumento de posses e da afanosa conquista de posições. Os que estão cheios de si, cheios de memórias de tempos mortos, de marcas dos encontros nos caminhos da vida, não poderão jamais chegar a um absoluto despojamento: a uma abertura total à natureza das coisas.

Fonte:pensarcompulsivo