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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

QUIETUDE É ALEGRIA



A não-ação do sábio não é a inação.
Não é estudada.
Coisa alguma a abala.
O sábio é quieto porque não se altera.
Não porque ele queira ser quieto.
A água parada é como um espelho.
Você pode olhar nele e ver os pelos em seu queixo.
Sua superfície é perfeitamente plana.
Um carpinteiro podia usá-lo.


Se a água é tão clara e sua superfície plana
Quanto mais o espírito do homem?
O coração do sábio está tranquilo.
É o espelho do céu e da terra.
O espelho de tudo.
É vazio, é quieto, é tranquilo, é sem sabor.


O silêncio, a não-ação: 
esta é a medida do céu e da terra.
Este é o perfeito Tao (o sentido da vida).
Os sábios encontram aqui seu lugar de repouso.
Repousando, estão vazios.
Do vazio vem o não-condicionado.
Daí, o condicionado, as coisas individuais.
Assim, do vazio do sábio surge a quietude.
Da quietude, a ação.
Da ação, a realização.
Da sua quietude vem sua não-ação, 
que é também ação
E é portanto, sua realização.


Pois a quietude é alegria.
A alegria é isenta de preocupações,
Fértil por muitos anos.
A alegria faz tudo despreocupadamente:
Porque o vazio, o quieto, o tranqüilo, 
o silêncio é a não-ação,
Eis a raiz de todas as coisas.
 
 
Chuang Tzu
Fonte:ventosdepaz
 

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

POSSUIR E DESFRUTAR


 
Era um dia bonito. O céu estava claro e a temperatura suavemente agradável, de modo que o sábio resolveu dar uma volta.

Por acaso, seu passeio o conduziu até uma casa luxuosa, que pertencia a um homem rico que o sábio conhecia bem. Em sua frente havia um belo jardim com muitas flores exóticas importadas de terras distantes.

À medida que o sábio se aproximava viu que muitas dessas flores estavam no auge do florescimento. Ele ficou maravilhado pela sua beleza. As cores eram tão vivas e brilhantes que pareciam se separar das pétalas em seu esplendor.

O sábio se maravilhou com a habilidade humana que foi capaz de transplantar estas flores de tão longe - provavelmente de algum paraíso tropical que ele nunca visitara.

Ele ficou alguns minutos saboreando a vista. Respirou fundo para sentir a fragrância. Depois de algum tempo suspirou discretamente e seguiu seu caminho.

O sábio pensou sobre o homem rico. Há pouco tempo ele adoecera seriamente. Como eram amigos há muito tempo, o sábio estava muito preocupado.

O médico dissera que a doença foi causada por stress. O homem estava sujeito a muita tensão ao administrar seu negócio. O negócio era a origem de sua fortuna, mas ele pagou um alto preço por ele – sua saúde.

O problema era que o homem insistia em fazer tudo pessoalmente, assumindo cada vez mais responsabilidades. À medida que as pressões aumentavam, perdeu o apetite e não conseguia mais uma boa noite de sono. Estava sempre cansado e perdera o interesse pelos prazeres simples da vida.

O homem tinha ignorado o jardim por muitos anos. Ele não tinha tempo, energia e disposição para passear entre as belas flores de seu próprio jardim.

De repente, a ironia da situação se tornou manifesta. O homem rico tinha o jardim, mas não podia apreciá-lo. O sábio não o possuía, mas era capaz de desfrutá-lo plenamente.

Um dos erros mais comuns da vida envolve a relação da felicidade com o possuir e o desfrutar.

Esta confusão acontece porque usualmente imaginamos que devemos possuir para desfrutar. Compramos um DVD para ver filmes, um estéreo para ouvir música. Possuir e desfrutar parecem andar juntos, e assim pensamos que são correlacionados.

Na verdade, os dois são independentes. Apenas um deles está associado à felicidade, e não é a posse. O possuir não só é desnecessário para o desfrutar, como pode ser um obstáculo. Mas muitas pessoas não pensam assim, e associam a felicidade mais ao possuir do que ao desfrutar – exatamente o oposto da realidade.

Por exemplo, conheço uma senhora que associa a aquisição de joias à felicidade. Ela ama anéis, colares e braceletes. Ela tem muitos, mas nuca os usa, por medo de perda ou roubo. A coleção é muito preciosa para ser posta em risco!

Ela só fica realmente feliz imediatamente antes e depois de uma aquisição. Comprar joias lhe dá um fugaz momento de excitação, seguido pelo volta do desejo de comprar, levando-a implacavelmente a uma nova compra.

Você provavelmente conhece alguém assim. Talvez um aficionado por carros antigos, que tem um na garagem. Não poupa esforços para consertos e ajustes, nunca se cansa de limpar e polir, mas nunca o dirige.   
 
Ou então alguém que tem uma vasta coleção de gravações de músicas, mas ouviu apenas uma pequena fração delas. Por que? Porque está muito ocupado procurando novos Cds para a coleção.

Talvez você conheça alguém que acabou de mobiliar a sala com sofás e almofadas novas, num tecido da moda, e as mantém cobertas com capas plásticas, porque não quer os móveis novos fiquem manchados, ou sequer empoeirados. Quando você a visita e senta em sua sala, está sentando literalmente em móveis de plástico, e tem de ser cuidadoso com seus movimentos para não causar muito barulho.

Ou então tem um conhecido com um relacionamento baseado em possuir o outro, em lugar de apreciá-lo. Você sabe que o relacionamento vai fracassar se continuar nesse caminho.

Pode ser que o elemento comum em todos os exemplos acima é a ênfase em possuir em lugar de desfrutar. Se olhar à sua volta com espírito observador, verá muitos outros exemplos.

Quando olho para minhas estantes vejo muitos livros de meus autores favoritos. Cada um é uma bela flor de sabedoria, esperando para ser saboreada. O que eu já possuo é um jardim cheio com essas flores, mas da mesma forma que o homem rico, estou negligenciando-o. Em lugar de desfrutá-lo, continuo indo às livrarias para comprar outros. A aquisição contínua tornou-se um hábito.

Fazemos um enorme favor a nós mesmos quando quebramos esse padrão habitual. O tempo e a energia que desperdiçávamos antes agora estão liberados para que possamos usar e desfrutar aquilo que já temos. Com isto, melhoramos a qualidade da vida e tomamos a chave da felicidade em nossas mãos.

Há muitos “jardins” em sua vida. Pode-se possuir alguns ou muitos deles, mas este é um detalhe sem importância. O que é importante – e a única coisa importante – é que você pode desfrutá-los se realmente quiser.

Vamos dirigir nossa atenção para as flores desses jardins. Quando respira sua fragrância e se contempla suas cores brilhantes, você não pode senão se maravilhar com milagre da existência humana. É um milagre que trouxe uma parte do paraíso celestial para o plano mortal. É o Tao.


 
Derek Lin
Fonte:http://www.taoism.net

terça-feira, 29 de agosto de 2017

VIVENDO O TAO - 
VIVENDO NO MOMENTO 



Você as vezes se sente incapaz de abandonar fatos do passado, ou de para de se preocupar com o futuro? Quando me sinto assim, eu lembro uma excelente história Zen:

Um dia, andando na selva, um homem encontrou um tigre feroz. Ele correu para salvar sua vida, perseguido pelo tigre.

O homem chegou à beira de um precipício, e o tigre estava quase alcançando-o. Sem opção, ele se agarrou a uma parreira com suas duas mãos, e desceu.

No meio do precipício, olhou para cima e viu o tigre no topo, arreganhando os dentes. Ele olhou para baixo, e viu outro tigre, rugindo e esperando sua chegada. E ficou preso entre os dois.

Em seguida, apareceram dois ratos sobre o precipício, um branco e outro preto. Como se ele não tivesse com preocupações suficientes, os ratos começaram a roer a parreira.

Sabia que se os ratos continuassem a roer, chegaria um ponto em que a parreira não poderia suportar seu peso, causando sua queda. Tentou espantar os ratos, mas eles voltavam e continuavam a roer.

Neste momento, ele observou um morangueiro crescendo na parede do precipício, não muito longe dele. Os morangos pareciam grandes e maduros. Segurando-se na parreira com apenas uma das mãos, com a outra colheu um morango.

Com um tigre acima, outro abaixo, e com os ratos continuando a roer a parreira, o homem comeu o morango e achou-o absolutamente delicioso.

Esta história é sobre viver o momento. Apesar de sua situação desesperadora, o homem escolheu não deixar que os perigos potenciais o paralisassem. Ele continuou capaz de aproveitar o momento e saboreá-lo.

A história está cheia de metáforas. Todos os elementos importantes da história são representações que possuem um significado mais profundo.

O topo do precipício representa o passado. É onde o homem esteve e de onde ele vem. Em termos de sua história pessoal, esta metáfora representa todas as experiências e memórias da vida que você já viveu.

Subir pela parreira em direção ao topo do precipício seria revisitar o passado. O tigre no topo representa o perigo de insistir no passado. Se ficarmos constantemente nos punindo por não ter feito certas coisas tão bem como deveríamos, ou se chafurdamos em arrependimento e vergonha sobre os erros que cometemos, então o tigre nos está abocanhado com suas presas afiadas. Se não pudermos abandonar as experiências negativas do passado que nos tornam tímidos e medrosos, ou se nos sentimos vítimas por termos tido um passado traumático ou de abusos, então o tigre está conseguindo dar um mordida dolorosa.

O tigre também representa a impossibilidade de voltar no tempo para corrigir alguma coisa. Algumas vezes gostaríamos de voltar o relógio e refazer algumas coisas. Talvez você pense na resposta perfeita muito depois do momento ter passado; talvez tenha existido alguém muito especial no colégio, de quem você deveria ter se aproximado, mas não o fez; talvez tenha dito algo ofensivo a uma pessoa que amava, e faria qualquer coisa para voltar atrás. Infelizmente, o caminho do tempo não tem volta - o tigre assustador vigia o topo do precipício, e nós, meros mortais, não podemos passar.

A base do precipício representa o futuro. É uma terra desconhecida, um capítulo não escrito. O futuro contém todos os seus sonhos e medos, aspirações e desapontamentos, vitórias potenciais e possíveis fracassos. É o misterioso e incerto domínio do amanhã.

Descer pela parreira, para mais perto da base do precipício é olhar para o frente e especular sobre o futuro. O tigre na base representa o perigo de ficar excessivamente preocupado com o que está por vir - particularmente se isto custar nossa habilidade de agir ou manter a paz de espírito.

Muitos de nós tivemos a experiência de preocupação exagerada com uma futura palestra, exibição ou entrevista de emprego. Pensamos em tudo o que pode dar errado. Não pudemos ter uma boa noite de sono porque estávamos muito nervosos sobre o próximo dia.

E o que acontece quando o evento chega? Nossa inabilidade em relaxar nos desconecta do gênio criativo do Tao. Não conseguimos dar o melhor de nós. Não temos como conduzir todo esse nervosismo para uma ação efetiva; ele se expressa como tensão e stress. Nos descemos muito na parreira, ficamos muito perto do tigre, permitindo que nos morda.

O tigre na base representa também a morte. A morte espera pacientemente por todos nós no futuro. Ela sabe que mais cedo ou mais tarde estaremos ao seu alcance. Quando o tigre ruge para nós, sentimos o vento gelado da morte.

A posição do homem entre os dois tigres representa o presente. Observe que ele está suspenso no meio do precipício. Da mesma forma, também vivemos suspensos entre o passado e o futuro,

O que chamamos de "agora" ou "momento presente" pode ser um conceito bastante difícil de precisar. Assim que se aponta para um instante e o definimos como "agora", ele passa e não é mais o presente. Outro instante, igualmente fugaz, toma o seu lugar. Por mais que se esforce, não conseguirá fixá-lo.

O presente, como o Tao, desafia uma definição. Por mais que possamos medir o tempo com grande precisão, essa precisão técnica não nos ajuda a isolar uma fatia infinitesimal de duração zero. Apesar de termos a tecnologia para construir um relógio atômico com margem de erro menor que dez bilionésimos de segundo, todos os relógios atômicos do mundo não podem capturar a mágica do momento presente.

Apesar de capturar um instante estar além de nosso alcance, o paradoxo da existência é que o presente é o que temos. Mais: é tudo que podemos ter. Não se pode ter o passado ou o futuro; um já passou irremediavelmente, e o outro ainda está por vir. O presente está aqui e agora, e o possuímos completa e incondicionalmente. Ninguém pode tirá-lo, e só você tem o poder de decidir como usá-lo.

A parreira representa a vida no mundo material. Da mesma forma que o homem segura a parreira com as duas mão, apegamo-nos teimosamente à vida física. Nosso instinto de sobrevivência nos compele a agarrá-la, e não a abandonaremos sem luta.

Descer pela parreira não é uma atividade opcional. O homem, mesmo ameaçado pelo tigre, não tem escolha senão descer. Da mesma forma, assim que nascemos neste mundo não temos escolha senão viver nossa vida de momento para momento. Assim a parreira pode ser vista como o componente principal da samsara - o ciclo da vida e da morte.

Os dois ratos representam a passagem do tempo. São branco e preto apenas para simbolizar o dia e a noite.

Os ratos roem a parreira, fazendo com que fique cada vez mais fraca. isto representa como cada ciclo de dia e noite nos aproxima da morte. Quando a parreira se rompe, o homem cai para uma condenação certa. Da mesma forma, quando um número suficiente de dias e noites tiver passado, a vida a que nos prendemos se romperá, e será o tempo para encontrar inevitabilidade da morte. Não teremos opção senão confrontar o tigre.

Da mesma forma que o homem tenta espantar os ratos, tentamos retardar o envelhecimento e evitar as doenças. Temos indústrias inteiras voltadas a nos manter jovens e saudáveis, ou pelo menos a manter a aparência de juventude e saúde. Considere as vitaminas, suplementos alimentares, tratamentos, spas, terapias de reposição hormonal, operações plásticas, lipoaspirações, transplante de cabelos, outros implantes ...

Mas da mesma forma que os ratos voltam o tempo avança e não se retarda para ninguém. Apesar de nossos esforços, nosso tempo neste plano mortal continua limitado.

O morango representa a beleza inesperada, a bem-aventurança, a energia e a vitalidade do momento presente. Está sempre aqui, sempre disponível para os que tem a habilidade de vê-la e fruí-la.

Por exemplo, neste mesmo momento você pode estender sua percepção e sentir o milagre da comunicação que permite que pensamentos e idéias passem entre nós. Você pode sentir como é surpreendente que esta conexão interpessoal seja possível. É um prodígio e uma maravilha, bem aqui, e que não pode ser facilmente expressa em palavras.

Saia e se ponha em comunicação com a natureza. Seja uma testemunha silenciosa do gênio do Tao em ação. Perceba a natureza como interação sem fim de forças naturais, turbilhonando a sua volta e dentro de você. Sinta como os processo naturais se conduzem, do microcósmico ao macrocósmico, regulados por uma inteligência intrínseca muito além de nosso alcance.

Há tanta beleza e bondade em cada momento presente e em cada instante infinito, que seriamos completamente esmagados pela sensação se absorvêssemos muito de uma vez. Na linguagem da nossa história, podemos dizer que o morango está cheio de um suco incrivelmente delicioso.

Colher o morango é aproveitar o momento. Quando o fizer, estará sendo consciente do presente, dirigindo sua atenção para o fluxo que se move através de você, e escolhendo imergir inteiramente no rio do eterno agora.

Provar o morango é saborear inteiramente o aroma da realidade. Quando o fizer, começará a apreciar o milagre da existência e a observar a beleza que está sempre presente, onde quer que olhe, o que encherá seu coração de alegria e gratidão.

Colher e provar o morango é uma coisa mais fácil de falar do que de fazer. Na maior parte do tempo, temos dificuldade em penetrar num forte estado de atenção que nos permite captar o momento e saborear a realidade. Há vários obstáculos no caminho.

O primeiro obstáculo, que a maioria dos cultivadores do Tao já superou, é a falta de atenção ao presente. Muitas pessoas vivem cada dia olhando para o passado ou preocupando-se com o futuro, sem atentar para o tesouro do presente que já possuem. Nos termos da história, é como se o homem estivesse tão ocupado olhando para cima e para baixo que nunca observasse o fruto suculento próximo a ele.

O segundo obstáculo é mais difícil de superar, e a maioria de nós o encontra de tempos em tempos. Considere um cenário em que o homem vê o morango, mas como está muito preocupado com o tigre acima, e temeroso do tigre abaixo, não tem apetite. Apesar de saber muito bem onde o morango está, não tem interesse em pegá-lo.

Alguém que esteja nessa situação poderá dizer "É muito interessante compreender as metáforas dessa história, mas há uma grande distância entre a compreensão e a prática. Eu posso até concordar que meu objetivo deva ser viver no momento, mas como é que se faz isto?

A história oferece uma sugestão. Quando o homem viu o morango, segurou-se na parreira com apenas uma das mãos, e moveu a outra na direção do morango. Esta ação incorpora dois elementos essenciais: abandonar e explorar.

O homem não poderia pegar o morango se insistisse em se segurar com as duas mãos. Com as duas mãos ocupadas, o máximo que poderia fazer seria ficar olhando o morango. Para conseguir o prêmio, precisou soltar uma das mãos.

A mesma coisa acontece na vida. A parreira representa nossa existência física neste plano material. Segurá-la com força é equivalente a ter forte apego às coisas materiais. Com este apego, não se pode abandonar. Este é um método seguro para evitar que se aproveite o presente.

Isto parece simples quando se fala, mas pense nas pessoa que conhece que estão tão focadas em ganhar e guardar dinheiro que nunca tem tempo para aproveitar a vida. Se observá-los, vai constatar que não conseguem relaxar nem quando exercem outra atividades. Por exemplo, não conseguem parar de pensar no escritório mesmo quando tiram férias. Nos termos da nossa história, essas pessoas estão fortemente agarradas à parreira.

Eu conheço um cidadão cujo apego é pela bolsa de valores. É um day-trader que observa a evolução da bolsa a cada minuto. Quando os amigos falam com ele ao telefone, podem sempre dizer quando os símbolos das suas ações passam pela tela do computador, porque de repente suas respostas se tornam muito mais lentas. É um caso claro onde seu forte apego a preocupações materiais bloqueiam completamente sua capacidade de apreciar uma conversa com velhos amigos - uma das melhores coisas da vida.

O outro elemento, igualmente importante, é expandir-se, explorar. Ficar na zona de conforto é obviamente confortável, mas não oferece nada de novo. Para pegar o morango, é preciso se aventurar além do familiar, para procurar por um prêmio que está a vista, mas ainda não ao alcance da mão.

O Tao se manifesta na vida, e a característica da vida é o crescimento. A vida está sempre explorando novos territórios, correndo riscos e indo a lugares em que nunca esteve. Se fizermos o mesmo, vamos descobrir que a vida é doce, excitante e cheia de possibilidades. Veremos que viver no presente é fácil e divertido.

Nossa história ensina que quando temos dificuldade em viver inteiramente no momento, apenas precisamos nos fazer perguntas como estas:
Quais são meus apegos? Quais são algumas coisas que não posso abandonar? Que apegos estou disposto a abandonar para viver a vida ao máximo?
Estou aprendendo algo novo? Encontrando outras pessoas? Quais são alguns assuntos interessantes que eu poderia estudar? Quais são alguns projetos interessantes que eu poderia realizar?

Suas respostas a questões desse tipo indicarão o caminho a seguir. Formule seus planos de acordo com elas.

À medida que segue seu plano de ação para viver conscientemente no momento, você achará cada vez mais fácil parar de chafurdar no passado ou se preocupar excessivamente com o futuro. Na medida que apreciar cada vez mais o presente, vai descobrir que lembranças desagradáveis ou mesmo dolorosas não mais o afetam; que preocupações ou mesmo medo das incertezas do futuro não mais o paralisam.
 
Descobrirá que o presente é literalmente um presente maravilhoso. É uma dádiva milagrosa cheia de paz, satisfação, energia e estímulos. É um caixa cheia de deliciosos morangos.
 
Você começará a constatar que a única exigência para merecer essa dádiva é que a aceite e a aprecie. Ficará surpreso de que existam pessoas que não a aceitem. Eles não a reconhecem como um direito nato, nem compreendem seu incrível valor.
 
Você se fecha em seus pensamentos. É tempo de se abrir para seu próprio presente.





Derek Lin
Fonte:unversomistico



Não persiga o passado.
Não se perca no futuro.
O passado já não existe.
O futuro ainda não veio.
Olhando a vida profundamente como ela é
exatamente no aqui e agora,
o praticante vive
em estabilidade e liberdade.

(Theranama Sutra - Buddha)

domingo, 27 de agosto de 2017

O SONHO DA BORBOLETA



Era uma noite fresca na China antiga. Um amigo de Chuang Tzu foi procurá-lo numa estalagem local. Em lá chegando encontrou-o sentado à mesa, bebericando seu chá com um semblante contemplativo.
 
– Aí está você ! – disse o amigo de Chuang Tzu. – Achei que estivesse contando a todos mais uma de suas histórias. Por quê está tão calado?
 
– Há uma questão em minha mente – disse Chuang Tzu. – Uma questão sobre a existência.
 
– Entendo. Você quer que eu lhe deixe sozinho com seus pensamentos?
 
– Não, gostaria de compartilhá-la com você. Talvez você possa me ajudar com sua perspectiva.
 
– Minha perspectiva é de pouco valor, mas ficarei contente em ouvir – ele puxou uma cadeira.
 
– Saí para uma caminha no final da tarde –, começou Chuang Tzu. – Fui até um de meus lugares preferidos embaixo de uma grande e frondosa árvore. Ali sentei e comecei a pensar no significado da vida. Estava tão fresco e agradável que logo relaxei e peguei no sono. Comecei então a sonhar que estava sobrevoando um belo campo florido. Olhei para trás e vi que tinha asas. Elas eram grandes e bonitas e se agitavam rapidamente. Eu havia me transformado numa borboleta! Senti uma enorme sensação de liberdade e alegria ao voar suavemente em qualquer direção que quisesse. Tudo nesse sonho parecia completamente real em todos os sentidos, tanto que, depois de um tempo, eu me esqueci por completo que um dia fora Chuang Tzu. Eu era simplesmente uma borboleta e nada mais.
 
– Eu tive sonhos em que voava, mas nunca como uma borboleta – o amigo respondeu. – Esse sonho me parece uma experiência maravilhosa.
 
– E foi, mas como todas as coisas, cedo ou tarde teve que acabar. Lentamente, acordei e percebi que eu era novamente Chuang Tzu. Isso é que me intriga.
 
– O que há de tão intrigante? Você teve um belo sonho, só isso.
 
– E se eu estiver sonhando agora? Essa conversa que estou tendo com você parece real em todos os sentidos, assim como meu sonho. Eu achei que era Chuang Tzu que tivesse sonhado ser uma borboleta. Mas, e se sou uma borboleta que, agora mesmo, está sonhando ser Chuang Tzu?
 
– Bem, eu posso lhe afirmar que você é realmente Chuang Tzu e não uma borboleta.
 
Chuang Tzu sorriu: – Você pode ser simplesmente parte do meu sonho, nem mais nem menos real do que qualquer outra coisa. Assim, não há nada que você possa fazer para me ajudar a identificar a distinção entre Chuang Tzu e a borboleta. Essa, meu amigo, é a questão essencial sobre a transformação da existência. 
  
Primeira Lição: Unidade
Ao conectar-se com a borboleta, Chuang Tzu está dizendo que todas as coisas vivas estão unidas pela força de vida contida dentro delas. O esforço para sobreviver e prosperar em nós é o mesmo que existe em tudo, desde a maior das criaturas até o menor dos insetos. Quando reconhecemos isso, podemos começar a enxergar a nós mesmos como parte da natureza, ao invés de separados dela.   
 
Chuang Tzu escolheu a borboleta deliberadamente para enfatizar este ponto. Em termos de aparência, uma borboleta parece tão diferente de um ser humano quanto qualquer outra coisa pode ser. Todavia, em um nível fundamental, ela é exatamente como nós – uma manifestação da vida, e, assim sendo, do Tao no mundo material.
 
Se nós podemos dizer isso de uma borboleta, então podemos dizer sobre tudo. Portanto, uma das verdades mais básicas do mundo é que tudo é um.

 
Segunda lição: A vida é como um sonho
Chuang Tzu também aponta nessa história que um sonho pode parecer tão real quanto nossa vida desperta. Todas as visões, sons, sentimentos e emoções num sonho são tão vividos e intensos quanto nossa experiência em vigília.
 
Essa lição é um exercício de desprendimento em duas áreas de vida: obsessões emocionais e obsessões materiais. A chave dessa lição é o percebimento de que se podemos ver como os sonhos podem parecer completamente reais, a realidade também pode ser vista como um sonho.
 
Nós podemos ficar emocionalmente obsessivos ao interagir com outros. Quando alguém diz algo positivo sobre nós, nos agarramos a seus elogios e aprovações; porém, quando alguma coisa negativa é dita, nos apegamos a sentimentos destrutivos de ser ofendido ou atacado.   
 
Peguemos o lado negativo como exemplo. Suponhamos que alguém tenha lhe dito algo extremamente insultante e você ficou zangado. É seu desejo recuperar a tranquilidade, mas sua raiva torna isso impossível. O que fazer?


Primeiro passo: lembre-se do alerta de Chuang Tzu sobre a equivalência entre o estado de sonho e a realidade. Se você experienciar o insulto num sonho, você também se sentirá magoado, ofendido e raivoso.
 
Segundo passo: perceba que você já tem a habilidade natural de lidar com tal situação. Se o evento ocorre num sonho, você simplesmente o coloca de lado ao acordar. É apenas um sonho, tudo está bem afinal. Todos nós já fizemos isso antes. Somos todos “experts” em lidar com sonhos ruins.
 
Terceiro passo: Aplique essa habilidade natural para lidar com suas emoções negativas. Embora o evento tenha realmente acontecido, sua reação emocional a ele é exatamente idêntica. Essa equivalência básica lhe dá a chave para lidar com sua raiva. Encare a negatividade como se fosse um pesadelo, e reflita sobre como, em alguns sentidos, isso é literalmente verdadeiro. Logo você descobrirá que deixar a raiva ir não é algo tão difícil quanto pensava.

Terceira Lição: Despertar a Consciência  Tornar-se totalmente desperto é uma poderosa metáfora no cultivo espiritual. A palavra “Buda” significa, literalmente, alguém que se tornou completamente desperto. Comparado a esse estado, nosso ordinário estado de consciência se assemelha ao sono, e tudo que consideramos real na vida parece não ter mais realidade do que um sonho que se desvanece em nada.
 
Isso pode ser difícil de entender. Afinal de contas, nesse exato momento você provavelmente se sinta bastante desperto. Por quê então alguém diz que você está dormindo quando você sabe que não está?
 
A verdade é que a grande maioria das pessoas opera num baixo nível de consciência na maior parte do tempo. Considere a última vez que você trancou a porta, foi embora e depois teve de voltar para verificar se a tinha realmente trancado. Ou pense em quando você entrou num quarto e não conseguiu se lembrar do motivo de ter entrado ali. Você estava procurando por algo? Se sim, o que era? A única chance de se lembrar foi refazer seus passos para se reconectar a seu intento original.
 
Se você já passou por alguma das experiências citadas acima, então você já compreende o que Chuang Tzu quer dizer. Ao passarmos pelos movimentos diários da existência, nós parecemos estar sonambulando a maior parte do tempo. De vez em quando temos um momento de claridade, como uma pessoa que dorme, e acorda apenas o suficiente para verificar o despertador, voltando logo depois ao seu sono.
 
Como podemos estar plenamente despertos? Isso é algo que requer um esforço persistente. Os cultivadores do Tao que focam esse aspecto da vida, praticam consistentemente o “estar presente”. Através de diligente repetição, eles desenvolvem o hábito de sempre se perguntarem “O que estou fazendo agora?” e “O que está acontecendo ao meu redor agora mesmo?”. 
 
Pessoas que assim procedem, invariavelmente, fazem descobertas surpreendentes. Eles pegam a si mesmos fazendo coisas sem o menor sentido, ou de repente ficam cônscios de algo significativo e óbvio que, de alguma forma, não haviam se dado conta antes. E quanto mais praticam estar “no momento”, mais naturalmente e com mais frequência isso ocorre.

Quarta lição: Transformação
A última lição de Chuang Tzu é também a mais importante. A borboleta é crucial na estória, pois representa a liberdade – um libertador estado de espiritualidade onde transcende-se o medo, assim como uma borboleta voando livre das limitações impostas pela gravidade. Um cultivador do Tao que atinge essa liberdade se torna um indivíduo ilimitado, não atado por apegos emocionais e materiais que restringe a maioria das pessoas.
 
A transformação a qual Chuang Tzu se refere nessa história, em conjunção com a borboleta, formam uma imagem poderosa que representa o processo completo do cultivo do Tao. Nós começamos fazendo lento progresso, aprendendo uma lição após outra, assim como a lagarta rastejando lentamente, comendo e fazendo seu caminho através das folhas.
 
Após suficiente acúmulo de conhecimento durante um longo período, a mente começa a processar a informação, extraindo sabedoria da alma. Essa é uma época de meditação, reflexão e quietude, bastante parecida ao completo crescimento da lagarta evoluindo ao estágio da crisálida.
 
Assim começa a metamorfose mágica. Pequeninas asas, quase imperceptíveis, se expandem rapidamente tornando-se cada vez maiores. Uma transformação espetacular acontece, e uma bela criatura emerge da crisálida. A criança tornou-se adulta.
 
Do mesmo modo, alguém que passa pela metamorfose do Tao se transforma em uma nova pessoa. O cultivador do Tao se transformou num sábio. As asas da espiritualidade se expandiram e ficaram muito maiores, mais coloridas e belas.
 
Agora podemos ver ainda mais claramente que Chuang Tzu escolheu a borboleta com cautelosa deliberação. Está também bastante óbvio o motivo de a borboleta representar Chuang Tzu na cultura chinesa. Cada peça do quebra-cabeça se encaixa tão perfeitamente que não poderia ser colocada de outra forma.
 
Chuang Tzu quer nos dizer com essa história que todos temos o potencial de nos transformar em borboleta?
 
Sim, mas não sem primeiro passar pelo estágio da larva e da pupa. Saltar diretamente para o estágio da borboleta pode apenas ser um sonho que logo acaba. Se você encontrar pessoas que afirmam serem iluminadas, tenha cuidado, pois muito provavelmente são apenas lagartas, não muito diferentes de você ou eu. Elas até podem estar convencidas de que são borboletas, mas isso ocorre porque estão sonhando.
 
O que Chuang Tzu nos deu foi um vislumbre do que podemos alcançar através do cultivo do Tao. Se tivermos paciência, diligência e fé enquanto procuramos e consumimos folhas nutritivas, virá o dia em que entraremos no estágio da crisálida e finalmente emergiremos dali. Daí então, descobriremos que a alegre liberdade da borboleta não é mais apenas um sonho!


 
Por Derek Lin
Tradução do inglês por Anderson Taira
Fonte: conscienciaearesposta.blogspot.com.b

GERADOS NO AMOR



Viemos girando do nada
espelhando estrelas como pó.
As estrelas puseram-se em círculos 
e nós ao centro dançamos com elas.


Como a pedra do moinho, 
em torno de Deus gira a roda do céu.
Segura um raio dessa roda e terás a mão decepada.


Girando e girando essa roda 
dissolve todo e qualquer apego.
Não estivesse apaixonada, 
ela mesma gritaria - Basta!
Até quando há de seguir esse giro?


Cada átomo gira desnorteado, 
mendigos circulam entre as mesas,
cães rondam um pedaço de carne, 
o amante gira em torno do seu próprio coração.


Envergonhado ante tanta beleza, 
giro ao redor da minha vergonha.
Vem ouve a música do sama.


Vem unir-te ao som dos tambores!
Aqui celebramos
Somos todos a verdade.
Em êxtase estamos.


Embriagados sim, 
mas de um vinho que não se colhe na videira.
O que quer que pensem de nós, 
nada parecerá com o que somos.


Giramos e giramos em êxtase.
Esta é a noite do sama.
Há luz agora.
- Luz! Luz!


Eis o amor verdadeiro que diz a mente: adeus.
Adeus! Adeus!


Todo coração que arde nesta noite 
é amigo da música.
Ardendo por teus lábios, 
meu coração transborda de minha boca.


Silêncio!
És feito de pensamentos, afeto e paixão.
O que resta é nada além de carne e ossos.
Porque nos falam de templos de oração, 
de atos piedosos?


Somos o caçador e a caça, 
outono e primavera, noite e dia, 
o visível e o invisível.
Somos o tesouro do espírito.
Somos a alma do mundo, 
livres do peso que vergasta o corpo.


Prisioneiros não somos do tempo, 
nem do espaço.
nem mesmo da terra que pisamos.


No amor fomos gerados.
No amor nascemos..."


 
Rumi
Fonte:ventosdepaz