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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

POR FAVOR, ME CHAME PELOS
MEUS VERDADEIROS NOMES

 
Em Plum Village, onde vivo na França, recebemos muitas cartas dos campos de refugiados de Cingapura, da Malásia, Indonésia, Tailândia e das Filipinas. Centenas a cada semana. E muito triste ler essas cartas, mas temos de fazê-lo, temos de nos manter em contato. Fazemos o possível para ajudar, mas o sofrimento é tamanho que às vezes desanimamos. Dizem que metade dos refugiados que fogem em barcos morre no mar. Só metade chega às costas do sudeste da Ásia, e mesmo nesse caso eles podem não estar em segurança.

Muitas meninas, dos refugiados em barcos, são violentadas por piratas. Muito embora as Nações Unidas e muitos países tentem ajudar o governo da Tailândia a acabar com essa pirataria, os piratas continuam a infligir muito sofrimento aos refugiados em barcos. Um dia recebemos uma carta de um refugiado que nos contava a história de uma menina num pequeno barco que foi violentada por um pirata tailandês. Ela só tinha doze anos. Jogou-se no oceano e morreu afogada.

Quando você ouve uma história dessas pela primeira vez, você sente raiva do pirata. Naturalmente toma o partido da menina. A medida que examinar o assunto com maior profundidade, verá tudo de um modo diferente. Se você tomar o partido da menina, é fácil. Basta pegar uma arma e matar o pirata. No entanto, não podemos agir assim. Na minha meditação, vi que, se eu tivesse nascido na aldeia em que o pirata nasceu e tivesse sido criado como ele foi, haveria uma grande probabilidade de que eu me tornasse pirata também. Vi que muitos bebês nascem nas costas do golfo do Sido, centenas a cada dia. Se os educadores, os assistentes sociais, os políticos e outras pessoas não fizerem algo para mudar sua situação, daqui a vinte .e cinco anos uma quantidade deles vai ser pirata. Isso é líquido e certo. Se você ou eu nascêssemos hoje numa daquelas aldeias de pescadores, dentro de vinte e cinco anos poderíamos nos tornar piratas. Quem pega a arma e mata o pirata está matando a todos nós, porque todos nós até certo ponto somos responsáveis por esse estado de coisas.

Depois de uma longa meditação, escrevi o seguinte poema. Nele, há três pessoas: a menina de doze anos, o pirata e eu. Será que podemos olhar um para o outro e nos reconhecer no outro? O título do poema é "Por favor, me chame pelos meus verdadeiros nomes", porque eu tenho muitos nomes. Sempre que ouço um desses nomes, tenho de dizer, "Sim".

Não diga que amanhã partirei pois mesmo hoje eu ainda estou chegando.

Olhe profundamente: eu chego a cada segundo para ser o botão num ramo de primavera, para ser o pequeno pássaro, com suas asas ainda frágeis,aprendendo a cantar em meu novo ninho, para ser a lagarta no coração da flor, para ser a joia oculta numa pedra.

Continua a chegar para rir e chorar, para ter medo e esperança. O ritmo de meu coração são o nascimento e a morte de tudo o que vive.

Eu sou o inseto que se transforma na superfície do rio, e sou o pássaro que, quando chega a primavera, surge à tempo de comer o inseto.

Eu sou o sapo nadando alegremente na água clara do poço, e sou também serpente d’água que, aproximando-se em silêncio, engole o sapo.

Eu sou a criança de Uganda, toda pele e ossos, minhas pernas finas como palitos de bambu, e sou o mercador que vende armas mortais para Uganda.

Eu sou a menina de 12 anos refugiada no pequeno barco, que se atira no oceano depois de violentada pelo pirata, e eu sou o pirata, meu coração ainda incapaz de enxergar e amar.

Eu sou um membro do Politburo com muitos poderes nas mãos, e sou o homem que tem que pagar seu “débito de sangue” a seu povo, morrendo lentamente num campo de trabalho forçado.

Minha alegria é como a primavera, calorosa e que faz brotarem flores em todos os campos da vida. Minha dor é como um rio de lágrimas, tão caudaloso que inunda os quatro oceanos.

Por favor, me chame pelos meus verdadeiros nomes, para que eu possa ouvir os meus prantos e risos agora, para que eu veja minha alegria e minha dor como sendo uma só.

Por favor, me chame pelos meus verdadeiros nomes, para que eu possa acordar, e assim a porta de meu coração permaneça aberta, a porta da compaixão.
 
 

Thich Nhat Hanh
 https://obudaemmim.blogspot.com
 
 

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

OS PROBLEMAS SURGEM 
PELA FALTA DE ENTENDIMENTO
 
 
Pergunta: Por favor, dizei, tendes as vossas dificuldades?

Krishnamurti: É muita gentileza da parte de quem pergunta fazer-me esta interrogação. Eu a aprecio. Sinto dize-lo, mas não tenho dificuldades. Não encaro a vida como um problema. Não existe coisa que se pareça com problemas para o homem que verdadeiramente compreende. Os problemas surgem pela falta de entendimento. Uma vez que tenhais chegado a compreender, essa compreensão morará em vosso coração. Atuareis, então, em ritmo com a vida, não em oposição, mão em desarmonia com ela. Sei que isto é desapontador para os que encaram a vida como um problema formidável e que se acercam de todas as coisas a partir do ponto de vista de um problema! Quando sentirdes amor pela realidade, pela vida em si mesma, todos os problemas cessarão de existir; porém, essa realidade tem que ser, primeiro, alcançada por meio do conflito, através da luta contínua, e isto exige determinação, vigilância, acautelamento a todo o instante do dia.


Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com 
 
 

 O PROBLEMA É UM TÔNICO PARA O EGO

 
O ego não se sente bem, à vontade, com montículos; ele quer montanhas. Mesmo se isso for uma miséria, não deve ser um montículo, deve ser um Everest. Mesmo que isso seja miserável, o ego não quer ser ordinariamente miserável; ele quer ser extraordinariamente miserável.

As pessoas continuam sempre criando grandes problemas do nada. Eu tenho conversado com milhares de pessoas sobre os problemas delas e realmente não encontrei ainda um problema real! Todos os problemas são falsos – você os cria porque sem problemas você se sente vazio. Não há nada para fazer, nada com o que lutar, nenhum lugar para ir. As pessoas vão de um guru para outro, de um mestre para outro, de um psicanalista para outro, de um grupo de encontros para outro, porque se não forem, eles se sentem vazios e subitamente, sentem que a vida é insignificante. Você cria os problemas para que você possa sentir que a vida é um grande trabalho, um crescimento, e que você precisa lutar muito.

O ego só pode existir quando existe luta, lembre-se – quando ele luta. E se lhe digo, ‘Mate três moscas e você ficará iluminado, você não irá acreditar em mim. Você dirá, ‘Três moscas? Isso não parece muito. E ficarei iluminado? Isso não parece ser inverossímil. Se eu disser que você terá que matar setecentos leões, é claro que isso parece mais! Quanto maior o problema maior o desafio...E com o desafio surge seu ego, ele paira nas alturas. Você cria os problemas. Eles não existem.

Os padres, os psicanalistas e os gurus – eles estão felizes porque todo o negócio deles existe por sua causa. Se você não criar montículos do nada e você não transformar seus montículos em montanhas, qual o sentido de gurus lhe ajudarem? Primeiro você precisa estar na condição de ser auxiliado.

Os mestres verdadeiros dizem outra coisa. Eles dizem, “Por favor, vejam o que você está fazendo, que bobagem você está fazendo. Primeiro você cria um problema, depois você vai em busca de uma solução. Apenas veja que você está criando o problema, exatamente no princípio, quando você estiver criando o problema, essa é a solução – não o crie!” Mas isso não lhe agradará porque então você está subitamente voltando para si mesmo. Nada para fazer? Nada de iluminação? Nada de satori? Nada de samadhi? E você está profundamente cansado, vazio, tentando preencher-se com qualquer coisa.

Você não tem nenhum problema; somente isso precisa ser entendido. Agora mesmo você pode deixar todos os problemas porque eles são criações suas. Dê outra olhada nos seus problemas: quanto mais profundamente você olhar, menores eles parecerão. Continue olhando para eles e aos poucos, eles começarão a desaparecer. Prossiga olhando e subitamente você descobrirá que há uma vacuidade... Uma bela vacuidade lhe cerca. Nada para fazer, nada para ser, porque você já é isso.
 
Iluminação não é algo a ser alcançado, é somente para ser vivido. Quando digo que alcancei a iluminação, estou simplesmente dizendo que decidi viver isso. Já chega! E desde então tenho vivido-a. É uma decisão de que agora toda essa besteira de criar problemas e encontrar soluções acabou.

Toda essa bobagem é um jogo que você está jogando consigo mesmo: você mesmo está escondendo e você mesmo está procurando, você é ambas as partes. E vocês sabem disso! Eis porque quando digo isso vocês riem, dão risadas. Não estou falando sobre alguma coisa ridícula; vocês o compreendem. Vocês estão rindo de si mesmos. Apenas observem a si mesmos rindo, apenas olhem para seus próprios sorrisos; vocês o compreendem! Isso tem que ser assim porque é seu próprio jogo: você está escondendo e esperando que você mesmo seja capaz de procurar e encontrar a si mesmo.

Você pode encontrar a si mesmo agora porque é você que está escondendo. Eis porque os mestres Zen prosseguem batendo. Sempre quando alguém chega e diz, “Eu gostaria de ser um Buda”, o mestre fica muito zangado. Porque ele está pedindo uma bobagem, ele é um Buda. Se Buda chegar para mim e perguntar como ser um Buda, que devo fazer? Irei bater na cabeça dele. “A quem você pensa que está enganando? Você é um Buda!”

Não crie problemas desnecessários para você. E o entendimento descerá sobre você se você observar como você torna um problema cada vez maior, como você o engendra, e como você ajuda a roda a girar cada vez mais rápido. Assim de repente, você está no topo da sua miséria e você está necessitando da simpatia do mundo inteiro.

O ego precisa de problemas. Se você compreender isso, na própria compreensão as montanhas viram montículos novamente, e então os montículos também desaparecem. Subitamente há vacuidade, pura vacuidade por toda parte. Isso é tudo o que a iluminação é – um profundo entendimento de que problemas não existem. Assim, sem nenhum problema para resolver, o que você vai fazer? Imediatamente você começa a viver. Você irá comer, irá dormir, irá amar, irá bater papo, irá cantar, irá dançar. O que tem mais para fazer? Você se tornou um deus, você começou a viver!
 
Se as pessoas pudessem dançar um pouco mais, cantar um pouco mais, serem um pouco mais malucas, a energia delas estaria fluindo mais, e os problemas delas irão desaparecer aos poucos. Daí eu insistir tanto na dança. Dance até o orgasmo; deixe que toda a energia se torne dança e subitamente, você verá que você não tem nenhuma cabeça. A energia presa na cabeça se move ao redor, criando belos padrões, pinturas, movimentos. E quando você dança chega um momento que o seu corpo não é mais uma coisa rígida, se torna flexível, fluido. 
 
Quando você dança chega um momento quando sua fronteira não está mais tão clara; você se funde e se dissolve com o cosmos, as fronteiras ficam misturadas. Assim você não cria qualquer problema.
 
Viva, dance, coma, durma, faça as coisas tão totalmente quanto possível. E lembre-se sempre: quando você flagrar a si mesmo criando algum problema, dê o fora dele, imediatamente.

Osho, Ancient Music in the Pines
https://www.osho.com/pt
 

terça-feira, 28 de agosto de 2018

SÓ A ÉTICA PODE SALVAR 
O HOMEM E O MUNDO


Se lhe parece exagerada e dogmática tal afirmação, saiba que não está só. Eu estou com você. Sim a sentença acima parece mesmo dogmática, rígida e, portanto, discutível. Vamos tentar, juntos discuti-la, para ver se é mesmo bombástica e ousada ou apenas parece ser.

Será que efetivamente a ética salvará o homem e o mundo? Ora, diariamente, você, eu e qualquer um, ao tomar conhecimento, das notícias da mídia, já está indiscutivelmente constatando que a generalizada imoralidade está precipitando uma tragédia descomunal, devorando o mundo e o homem. É admissível que alguns não concordem que a ética poderá salvar o homem e o mundo, mas haverá alguém que se negue a reconhecer que a falta de ética é o que está martirizando nossa vida, arruinando os indivíduos, a sociedade, a humanidade e o planeta? Será que alguém pode ser tão cego a ponto de negar essa evidência?

Todo sofrimento que desaba sobre nós é gerado por homens e organizações que, em proveito próprio, estão perversamente transgredindo os princípios éticos fundamentais. A falta de ética é a causa única de todas as lágrimas que jorram abundantemente no rosto e na alma das pessoas, da humanidade inteira. O homem sem ética está se destruindo e destruindo o planeta.

Já tentamos mostrar que uma lei Eterna (Sanathana Dharma) rege todos os numerosos e variados sistemas que formam o Universo. A correta obediência a ela garante a cada sistema continuar sadiamente existindo. O desrespeito a tal Lei produz sofrimento, doença decadência e extinção.

Os animais e as plantas, sistema biológicos, têm também de obedecer à “lei” particular que rege a espécie de cada um. O instinto é o que lhes assegura saúde e vida. Por si mesmos, eles não transgridem seu dharma, seu instinto, a lei apropriada à sua espécie. É assim que se conservam sadios e vivos. Mas os homens inconsequentes, sem mínima consideração, interferindo sem ética, perturbam a harmonia e o equilíbrio, o cumprimento da “lei”. É isso que explica tantas enfermidades e anomalias neles mesmos, nos animais, nas plantas e em todos os ecossistemas… O homem é o único elemento bagunceiro em todo o Universo porque desfruta do arriscado e poderoso privilégio de se rebelar e infringir, tornando-se assim o responsável único por todo o sofrimento individual e coletivo.

Tomara que o grande bagunceiro não tarde em se convencer de que, a cada instante, ele mesmo e o único lar que tem para se abrigar – o planeta – pioram, se degradam e resvalam para a ruina total, para a terrível hecatombe que ele teme, para a extinção da vida. O homem só se tornará ético quando começar a compreender a sabedoria e a essencialidade do dharma, da Lei eterna, que mantém o equilíbrio, a harmonia e a beleza de tudo.

Que o homem se convença, antes que seja tarde, de que tem de parar de destruir e simultaneamente, começar a reconstruir. Sua tecnologia já alcançou dimensões gigantescas na capacidade de interferir e atrapalhar a natureza. Isso é imensamente preocupante. Eticamente, o ser humano ainda é um primata e, tecnicamente um supergênio, frio, indiferente ao “bem” e ao “mal”. É assim que vejo o mito cientista louco.

É inadiável que o homem compreenda e pratique a ética que poderá preservar e até melhorar o Megassistema do Universo e o miniuniverso que é ele mesmo, com seu organismo, suas energias, suas emoções, seus pensamentos, seu desempenho pessoal, profissional, social, espiritual… Que você, eu e os demais consigamos nos tornar éticos e possamos deter nosso buliçoso desvario irresponsável e predominantemente destrutivo, para finalmente nos empenharmos na reconquista do “ Paraíso Perdido”, no retorno à casa paterna, no acesso ao Reino de Deus, na plenificação de nosso potencial divino, no resgate da beleza e do amor.


Prof. Hermógenes - Setas no caminho de volta
http://www.hermogenesyoga.com.br 

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A  C  E  I  T  A  Ç  à O
 "Nós não podemos mudar nada 
sem que primeiro a aceitemos".
(Carl Jung)

As coisas não estavam fluindo como eu esperava em determinada situação, e... segundo a minha visão do que deveria acontecer em determinado tempo, eu diria que as coisas não estavam "dando certo".

Fazia Ho'oponopono e nada mudava... Até que uma noite, lendo o livro "As sete leis espirituais do sucesso" li sobre a aceitação... e aquilo serviu como uma luva, era tudo que eu precisava ouvir.

"Hoje aceitarei pessoas, situações, circunstâncias, todos os fatos como eles se manifestarem". Saber que o momento é como deve ser. Dizer a si mesmo: "minha aceitação será total e completa; verei as coisas como são no momento em que ocorrerem e não como eu gostaria que fossem".

... uma ficha caiu... o "não estar dando certo" era o meu julgamento sobre a situação, um julgamento que poderia ser baseado em memórias equivocadas... e esse julgamento não estava dando espaço para nenhuma outra possibilidade além daquela que eu esperava... eu estava resistindo a tudo que não fosse aquilo.

Aceitei o momento... não resistindo ao presente, sabendo que tudo era como tinha que ser e que as coisas poderia estar dando certo... e eu que não estava percebendo. Me lembrei que o nosso desejo da personalidade pode não ser exatamente o que é o desejo da nossa Alma... e, mesmo que em alguns casos fosse, o nosso tempo é muito diferente do tempo natural... e com a nossa pressa... acabamos limitando a ação do Universo, querendo que tudo chegue a tempo e a hora... e quando não chega, logo pensamos que "não está dando certo", criamos resistência e com isso nos desligamos do fluxo natural.

Enfim... quando aceitei completamente a situação, fiquei calma, parece que saiu um peso enorme de dentro de mim que eu nem tinha percebido como estava me afetando.

Quando fazemos Ho'oponopono, somos inspirados a fazer determinada coisa ou somos levados ao que precisamos no momento... Entendi que a Divindade me guiou para ler sobre a aceitação para me mostrar algo que precisava naquela hora.

Alguns dias depois, as coisas fluíram e se manifestaram naquela situação da forma mais perfeita... sem esforço e com leveza... que nem em meus planos mais perfeitos eu poderia imaginar...

Muitas vezes, acreditamos que as coisas só acontecem se percorrerem determinados caminhos, e que leva um tempo certo para que elas aconteçam. Aprendemos assim... mas, para o Grande Mistério não existem limites nem condições.

Julgamos o tempo todo os acontecimentos tendo como referência as nossas experiências passadas, baseadas no que é conhecido, e com isso fechamos a porta para o novo... para o desconhecido.

Quando tomamos para nós a escolha de fazer as coisas do nosso modo, abrimos mão de todas as outras possibilidades, porque limitamos a ação do Universo, quando resistimos ao que Ele nos traz, se aquilo não se encaixa nos nossos planos.

O que chamamos "Milagre" pode fazer parte do nosso dia-a-dia quando estamos em sintonia com o que é natural e simples e podemos nos surpreender com coisas que pareciam impossíveis de acontecer, naturalmente acontecem em um tempo que nem cabe na nossa imaginação...

Aceitar o nosso momento presente é uma chave preciosa... só assim podemos transformar o que é para ser transformado e perceber o que está perfeito como é...


Rubia A. Dantés 
http://muitoalemdemim.blogspot.com 


"Aqueles que não aprendem nada sobre os fatos desagradáveis de suas vidas, forçam a Consciência Cósmica que os reproduza tantas vezes quanto seja necessário, para que aprendam o que ensina o drama do que aconteceu. O que negas te submete. O que aceitas te transforma". (Carl Jung) 


Quando o ego comanda é difícil ou quase impossível entregar-se ao fluir da vida. Aquele que se libertou dos apegos e desejos consegue permanecer sereno quando o barco está afundando. Porém, para outros que seguem presos aos vestígios da superfície,  que até agora  os atraem... gritam, agitam-se... porque resta algo para ser transcendido... ainda não estão livres para aceitar!

MATURIDADE 
É ESTAR LIVRE DO PASSADO

 
... precisamos saber o que se entende por “aprender”, “madureza” e “autoconhecimento”. Essas não são meras palavras, simples conceitos, cujo significado pode ser facilmente apreendido. Penetrar as palavras e perceber-lhes o real significado requer grande dose de compreensão. Por “compreensão” entendo aquele estado sem esforço, no qual a mente está consciente, livre de obstáculos, livre de tendências, sem nenhuma luta para compreender os dizeres do orador. O que o orador está dizendo tem, por si só, pouca significação. Verdadeiramente importante é que a mente esteja tão perceptiva, e sem esforço algum, que se encontre constantemente num “estado de compreensão”. Se não compreendemos e apenas nos limitamos a ouvir palavras, ao sairmos daqui levamos conosco, invariavelmente, uma série de conceitos ou ideias, com a qual estabelecemos um padrão a que tentaremos ajustar-nos em nossa vida diária ou nossa “chamada” vida espiritual.

... Desejo que estejamos, desde o começo, nesse estado de percebimento livre de esforço, de modo que juntos possamos penetrar a fundo no sentimento, no significado fundamental das palavras. Não há o “movimento do aprender” quando há aquisição de conhecimentos; as duas coisas são incompatíveis, contraditórias. O “movimento do aprender” implica um estado em que a mente não tem, guardada como conhecimento, nenhuma experiência. O conhecimento se adquire, ao passo que o aprender é um movimento constante, que não é mecanismo “aditivo” ou aquisitivo; por conseguinte, o “movimento do aprender” implica um estado em que a mente não segue nenhuma autoridade. Todo conhecimento supõe alguma autoridade, e a mente que se fortificou na autoridade do conhecimento, de modo nenhum pode aprender. A mente só pode aprender quando cessou de todo o mecanismo “aditivo”.

Em regra, é um tanto difícil diferenciar entre aprender e adquirir conhecimento. Pelo experimentar, pelo ler, pelo escutar, a mente acumula conhecimentos; esse é um mecanismo aquisitivo, um mecanismo de adicionar sempre mais alguma coisa ao que já se sabe, e baseados nesses conhecimentos, nós atuamos. Ora, o que geralmente chamamos “aprender” é exatamente esse mesmo mecanismo de adquirir novas informações e acrescentá-las ao “estoque” de conhecimentos que já possuímos. Uma pessoa, por exemplo, aprende uma língua a pouco e pouco, formando gradualmente o seu conhecimento da sintaxe, dos idiotismos, etc. — e é isso provavelmente o que a maioria de vós faz agora. Quando escutais um orador, aprendeis no sentido de adquirir conhecimento. Mas eu estou falando sobre algo totalmente diferente. Por “aprender” não entendo acrescentar ao que já se sabe. Só se pode aprender quando não há nenhum apego ao passado, como conhecimento, isto é, quando vedes uma coisa nova e não a traduzis em termos do “conhecido”.

Trataremos disso posteriormente, se não o tiverdes compreendido, pois considero importante diferenciar entre aprender e adquirir conhecimento. A mente que está aprendendo é uma mente “inocente”, ao passo que a mente que está apenas adquirindo conhecimentos é velha, estagnada, corrompida pelo passado. A mente “inocente” percebe instantaneamente, aprende a todas as horas, sem acumular, e só ela é amadurecida.

Mas, em geral, consideramos a madureza um mecanismo de amadurecimento em experiência, em conhecimento — é isso o que chamamos “madureza”. Uma pessoa amadurecida, dizemos, é aquela que teve uma grande quantidade de experiência, que se tornou sábia com os anos, que sabe ajustar-se às circunstâncias imprevistas, etc. Movendo-se no tempo, essa pessoa alcançou gradualmente um estado de plena maturidade. Pensamos que, com o tempo, a mente amadurece, libertando-se da ignorância — sendo ignorância a falta de conhecimento das coisas mundanas, a falta de experiência e de capacidade. Uma pessoa jovem, dizemos, necessita de tempo para “amadurecer”. Por volta dos sessenta anos ela terá sofrido; terá, através das premências, das tensões, das atribuições da vida, acumulado experiência, conhecimentos e, então, talvez, estará “amadurecida”.

Mas, para mim, a madureza é algo completamente diferente. Acho possível tornarmo-nos amadurecidos sem passar por todas as pressões e tribulações do tempo. Estar completamente amadurecido, qualquer que seja a idade do indivíduo, significa ser capaz de enfrentar e resolver imediatamente qualquer problema que se apresenta, e não “transportá-lo” para o dia seguinte. O “transportar” um problema de um dia para o outro é, essencialmente, falta de madureza. É a mente sem madureza que continua a existir com seus problemas de dia para dia. A mente amadurecida pode resolver de pronto os problemas, sempre que surgem; ela não concede aos problemas nenhum solo para lançarem raízes, e essa mente se acha num estado de “inocência”.

Assim, ser “amadurecido” é aprender e não “adquirir conhecimento”. A aquisição de conhecimento é essencial num certo nível. Uma pessoa precisa ter conhecimentos quando lida com coisas mecânicas, como, por exemplo, ao aprender a conduzir um carro. Adquire-se conhecimento no aprendizado de uma língua, no estudo de engenharia elétrica, etc. Mas achar-se no estado de madureza a que me refiro significa a pessoa ver-se tal como é realmente, de instante em instante, sem acumular conhecimentos a respeito de si própria; porque essa madureza implica rompimento com o passado, e o passado é, no fundo, um “acúmulo” de conhecimentos.

Que é o “eu”? Se uma pessoa observa realmente a si própria, percebe que o “eu” é uma massa de experiências acumuladas, de mágoas, de prazeres, ideias, conceitos, palavras. É o que somos: um feixe de lembranças.

Estamos examinando um assunto um tanto complexo, mas, se o aprofundarmos um pouco mais, talvez ele se torne claro para cada um de nós.

Todos nós somos, psicologicamente, o resultado de nosso ambiente educativo e social. A sociedade, com seus códigos de moralidade, suas crenças e dogmas, suas contradições, seus conflitos, suas ambições, sua avidez, sua inveja, suas guerras — é o que nós somos. Dizemos que, em essência, somos espírito, alma, uma parte de Deus, mas isso são meras ideias que nos foram inculcadas pela propaganda da igreja ou de alguma sociedade religiosa; ou recolhemo-las de livros, ou de nossos pais, que refletem o condicionamento de uma dada cultura. Dessa forma, o que realmente somos é um feixe de lembranças, um feixe de palavras.

Memória identificada com a propriedade, a família, o nome — eis o que cada um de nós é, mas não gostamos de descobrir por nós mesmos esse fato, pois nos é sumamente desagradável. Preferimos pensar acerca de nós próprios como seres extraordinariamente inteligentes; mas não somos nada disso. Podemos ter uma certa capacidade para escrever poesias ou pintar quadros; podemos ser bastante sagazes nos negócios, ou sutis no interpretar determinada teologia; mas em verdade somos um feixe de coisas lembradas — as mágoas, as dores, as vaidades, os preenchimentos e frustrações do passado. Apenas isso. Poderemos perceber superficialmente que somos esse resíduo do passado, mas dele não estamos profundamente inteirados, e agora o olhamos, — mas isso não significa aquisição de conhecimentos a nosso respeito. Notai, por favor, a diferença.

Desde que adquiris conhecimentos sobre vós, estais-vos consolidando no resíduo do passado. Perceber os fatos verdadeiros sobre nós mesmos, de momento em momento, e esse é o “movimento do aprender” — é estardes livre de qualquer conhecimento acerca de vossa pessoa. Não sei se me estou explicando claramente.

Quando digo que tenho conhecimento acerca de mim próprio, que significa isso? Suponhamos que fui insultado ou lisonjeado. Essa experiência permanece em minha mente como memória. Com a memória dessa mágoa ou prazer, olho-me a mim mesmo, e interpreto o que vejo em função daquelas passadas reações. Interpretar a si próprio em termos do passado é simplesmente pôr-se num estado de pressão ou de exultação, e nesse estado não há possibilidade de aprender, porque não há o frescor e a espontaneidade da percepção. Mas, se a pessoa se vê realmente tal como é e não interpreta isso conforme o passado, se simplesmente observa o fato, ou seja o que é a cada minuto, tem então a possibilidade de aprender a respeito de si própria, sem acumulação.

Não é realmente muito difícil nos vermos como somos, simples e claramente, sem resistência. Se um homem é mentiroso, se é luxurioso, ávido, invejoso, ser-lhe-á relativamente fácil descobrir isso. Mas nós, em geral, quando descobrimos o que somos, tratamos imediatamente de interpretá-lo em relação com o que pensamos que deveríamos ser, e por essa razão nada aprendemos sobre o que somos. Estará claro?

Quando julgamos ou interpretamos o que em nós descobrimos, estamos adicionando isto ao que já sabemos, e dessa maneira fortalecemos o fundo “memorial”. Esse mecanismo de modo nenhum traz a liberdade — e só se pode aprender em liberdade. É-nos grato pensar que a essência do “eu” é o “não eu”, mas tal essência ou centro espiritual não existe; só há a memória das coisas pretéritas; e esse fundo de memória está sempre interpretando, julgando, condenando aquilo que realmente é. O estar livre desse fundo é o estado de imediata madureza, e estar “amadurecido” é esvaziar a mente de todo temor.


Krishnamurti, O homem e seus desejos em conflito
http://pensarcompulsivo.blogspot.com

domingo, 26 de agosto de 2018

ESPIRITUALIDADE DE PARAMAHANSA YOGANANDA
 
 

Liberdade significa a capacidade de agir guiado pela alma, e não compelido por desejos e hábitos.

Obedecer ao ego leva à escravidão; obedecer à alma leva à libertação.
 
Até você agir, você é livre, mas depois que agiu, o efeito da ação o perseguirá, quer queira ou não. Essa é a Lei do Karma. Você é uma pessoa que pode agir com liberdade, mas quando realiza determinado ato, deverá colher os frutos desse ato.

A libertação do homem pode ser definitiva e imediata, se ele assim o quiser; não depende de vitórias externas, mas internas.

O caminho que leva à libertação é o caminho do serviço; ajudando os outros.

O caminho para a felicidade é o caminho da meditação e da sintonia com Deus.
 
Derrube as limitações que seu ego lhe impõe; livre-se do egoísmo; liberte-se da consciência do corpo; esqueça-se de si mesmo; ponha fim a esta cadeia de encarnações; embeba o seu coração em tudo, seja uno com toda criação.
 
Você nem sabe quão privilegiado é por ter nascido na forma de um ser humano. Nisso você é mais abençoado do que qualquer outro ser vivente. O animal não é capaz de meditar e comungar com Deus. Você tem a liberdade de procurar o Senhor e não a utiliza.

A alma está presa ao corpo por uma corrente de desejos, tentações, problemas e preocupações, mas está sempre tentando libertar-se. Se você ficar puxando essa corrente que o prende à consciência mortal, qualquer dia a invisível Mão Divina intervirá, partirá os grilhões e você estará livre.

Poder fazer de tudo o que se queira não é o verdadeiro sentido da liberdade de acção. Você deve examinar até que ponto é livre e até que ponto está sendo influenciado pelos maus hábitos.

Sentir uma tentação não é pecado, mas ser capaz de resistir e vencer a tentação é força. Isto é liberdade, porque você está agindo por livre vontade e livre escolha.
 
Quando pelo discernimento e ação correta o homem torra todas as sementes das más tendências acumuladas na mente, cada célula microscópica do cérebro torna-se um trono para um brilhante rei de sabedoria, inspiração e saúde, que canta e proclama a glória de Deus para as células inteligentes do corpo. Os homens que alcançaram este estado são realmente livres. Estes seres liberados não serão tocados pelo karma nas futuras encarnações. Quando reencarnam, fazem-no exclusivamente para enxugar as lágrimas daqueles que ainda estão presos ao karma. Estes mestres liberados estão aureolados por uma invisível luz curativa. Eles espargem, por onde passam, a luz da prosperidade e da saúde.

Resolva que você não será mais afetado pelos problemas; que não será mais tão sensível; que não será mais vítima de hábitos e humores; resolva que você será livre como um pássaro.

Você não poderá ser livre enquanto não queimar as sementes das más ações passadas no fogo da sabedoria e no fogo da meditação.

Seja honesto consigo mesmo. O mundo não é honesto com você. O mundo adora a hipocrisia. Quando for honesto consigo mesmo, você encontrará o caminho para a paz interior.

Quando você olhar a criação, que parece tão sólida e tão real, lembre-se sempre de que são ideias na mente de Deus, cristalizadas em formas físicas.

Sua verdadeira personalidade começará a se desenvolver quando você, através da intuição profunda, for capaz de sentir que não é este corpo sólido, mas sim a divina e eterna corrente de Vida e Consciência que flui dentro do corpo.

Numa única sentença, os rishis* escreveram coisas tão profundas que os comentadores eruditos se ocupam delas geração após geração. Controvérsias literárias intermináveis são para as mentes vagarosas. Qual pensamento seria mais rapidamente libertador que "Deus é" ou simplesmente "Deus"?
 
Tristeza, doença e fracasso são consequências naturais de transgressões das leis de Deus. A sabedoria consiste em evitar tais violações e encontrar paz e felicidade em si mesmo, através de pensamentos e ações que estejam em harmonia com o seu verdadeiro Ser. Controle a sua mente com sabedoria, direcionando-a para os aspectos positivos da vida.

Não se satisfaça com as gotas de sabedoria das escassas fontes terrenas; antes, busque a sabedoria desmedida das mãos de Deus, tão generosas e que tudo possuem.

Todos os dias, você deve sentar-se calmamente e afirmar com profunda convicção: "Nascimento, nem morte, nem casta eu tenho; pai e mãe, não tenho também. Santo Espírito, Eu sou Ele. Eu sou a Felicidade Infinita." Se você repetir sempre essas palavras, dia e noite, finalmente perceberá o que você realmente é: uma alma imortal.

Portanto, aquele que ouvir estas minhas palavras e segui-las, eu o compararei ao homem sábio que construiu a sua casa sobre uma rocha: E veio a chuva, subiram as marés, o vento soprou e se abateu sobre aquela casa e não a derrubou, porque estava construída sobre uma rocha. Jesus Cristo, "Novo Testamento".

Devem os médicos proceder à sua missão de curar, aplicando à matéria as leis de Deus, dizia Sri Yukteswar. Mas exaltava a superioridade da terapia mental e repetia com frequência: "A sabedoria é o maior depurativo".

Você deve fazer um grande esforço. Esqueça o passado e confie mais em Deus. Nosso destino não é predestinado por Ele; nem o karma é o único fatos, apesar de nossas vidas serem afetadas pelos nossos pensamentos do passado e pelas nossas atividades do passado. Se você não está feliz com a maneira que a vida está se tornando, mude o padrão. Eu não gosto de ouvir pessoas atribuindo o fracasso do presente a erros do passado; fazer isto é preguiça espiritual. Ocupe-se e capine o jardim da sua vida.

Antes de iniciar um importante empreendimento, sente-se quietamente, acalme seus sentidos e pensamentos e medite profundamente. Você então será guiado pela grande força criativa do Espírito.

Você nasceu para realizar uma missão divina, a sua reunificação com Deus. Entenda como isto é tremendamente importante. Não permita que o seu pequeno ego seja um obstáculo à conquista de sua meta divina.

Não confunda compreensão com um vasto vocabulário. Os escritos sagrados são benéficos para estimular o desejo de realização interna, se um versículo de cada vez for lentamente assimilado. Do contrário, estudos intelectuais contínuos podem resultar em vaidade, satisfação falsa e conhecimento indigesto.

Não leve as experiências da vida tão a sério. Não deixe principalmente que elas o magoem, pois na realidade, nada mais são do que experiências de sonho... Se as circunstâncias forem ruins e você precisar suportá-las, não faça delas uma parte de você mesmo. Desempenhe o seu papel no palco da vida, mas nunca esqueça de que se trata apenas de um papel. O que você perder no mundo não será uma perda para sua alma. Confie em Deus e destrua o medo, que paralisa todos os esforços para ser bem sucedido e atrai exatamente aquilo que você receia.
 
 
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sábado, 25 de agosto de 2018

"PAI, PERDOA-LHES PORQUE 
NÃO SABEM O QUE FAZEM" 

Quem sabe o mal que faz não pode ser perdoado.

Quem não sabe o mal que faz pode ser perdoado.

É tão estranha esta verdade que muitos não a aceitarão de boa mente.

Antes de tudo, como pode alguém pecar sem saber o que faz? Como é possível um pecado por ignorância? Não é a ignorância precisamente aquilo que nos excusa do pecado? Por que o animal não peca? Por ser ignorante. Por que a criança não peca? Porque ainda é ignorante.

Todo pecado supõe algo de ciência e consciência. Logo, não se trata de uma ignorância total e absoluta, mas duma semi-ignorância e semiconsciência, espécie de penumbra, e não de treva total.

Por outro lado, como pode alguém pecar quando sabe o que faz? Não exclui a sapiência a pecabilidade, que é insipiência?

Evidentemente, onde há um saber completo não pode mais haver pecado nem pecabilidade, porque esse saber é luz integral, incompatível com treva, e até com penumbra. A pecabilidade como já dissemos, só é possível na zona da penumbra do semi-ignorar e do semi-saber.

Ora, é nessa zona de 'penumbra' que há 'perdão'.

E o não perdão? Existe pecado imperdoável? Se existe, não pode existir na zona da ignorância integral, nem na zona da sapiência total - nem nas trevas da meia-noite do inconsciente nem na luz do meio-dia da plena consciência, porque em nenhuma dessas duas zonas pode haver pecado, e, portanto, nem pecado perdoável nem pecado imperdoável. Jesus, porém, afirma explicitamente a existência de pecado tanto perdoável como imperdoável. "Quem pecar contra o filho do homem será perdoado; mas quem pecar contra o espírito santo não será perdoado, nem neste nem no outro mundo, mas será réu do pecado eterno."

Segue-se que, dentro da zona de penumbra da semiconsciência pode ocorrer pecado perdoável e pecado imperdoável

É perdoável o pecador que peca contra Deus em forma humanizada, personalizada, como no caso de Jesus Cristo, porque essa individualização de Deus é tão imperfeita que dificilmente pode dar ao homem uma ideia adequada do que ele faz quando se opõe a Deus. Possivelmente, é este o caso de todos, ou de quase todos os pecadores humanos, no presente plano de evolução. Se os próprios crucificadores do Nazareno, as autoridades civis e religiosas, são perdoáveis por ignorantes, isto é, semi-¬ignorantes, dificilmente haverá pecadores humanos imperdoáveis, porque não suficientemente ignorantes. Parece que o "pecado contra o espírito santo" não é frequente na presente humanidade, que conhece a Deus apenas através de algum "filho do homem", de alguma encarnação ou individualização da Divindade Universal.

A plena sapiência espiritual, na zona supra-humana, torna impossível o pecado, porque essa sapiência é luz integral.

A plena insipiência material, na zona infra-humana, impossibilita o pecado, porque e treva total.

Somente a semi-sapiência, que é também semi-insipiência, é que torna possível o pecado, por ser um misto de luz e de treva, uma penumbra matutina ou vespertina, equidistante da treva total da meia-noite e da luz integral do meio-dia.

Essa penumbra, zona da pecabilidade, é o plano do intelecto, que é a serpente ou lúcifer. (o "porta-luz", mas não a "luz do mundo").

Nessa zona de penumbra da intelectualidade há numerosos graus e possibilidades várias.
 
O pecado é perdoável na zona inferior dessa penumbra, onde prevalecem as trevas sobre a luz; mas é imperdoável no plano superior da intelectualidade, onde a luz é notavelmente mais abundante do que as trevas, embora estas ainda continuem a existir. Se nessa zona não houvesse mais treva alguma, não seria possível o pecado.

Quer dizer que a gravidade do pecado é diretamente proporcional ao grau de luz intelectual que o pecador possua, e inversamente proporcional ao grau de trevas que nele dominarem. Com a intensificação do inteligir, cresce a gravidade do pecado, e com a sua diminuição ela decresce; porquanto "a quem muito foi dado muito lhe será exigido, e a quem pouco foi dado pouco lhe será exigido."

Quando a semi-luz intelectual se funde e integra na pleni-luz racional cessa todo o pecado, e, portanto, a perdoabilidade, porque nada há que perdoar. Mas, quando a semi-luz intelectual de lúcifer atinge elevado grau, e não se integra na luz racional do Cristo, então passa a perdoabilidade do pecado para a imperdoabilidade, porque, nessa elevada zona termina a ignorância necessária para poder haver perdão do pecado.

À primeira vista, parece estranho que uma creatura que aboliu grande parte da ignorância ainda possa pecar, e até entrar muna zona de pecado imperdoável. Mas esse "mistério de iniquidade” é possível, porque onde impera a liberdade há ilimitadas possibilidades de escolha. E, em face disto, parece justificada a filosofia de Schopenhauel, Nietzsche e dos outros pensadores “volicionistas", os quais, de encontro aos "intelectualistas", afirmam que a vontade domina o intelecto, e não vice-versa, como geralmente se admite. Pode uma vontade satanizada impedir que o intelecto, em elevado plano de intelectualização, se integre definitivamente na razão espiritual. E é precisamente aqui, no ápice do intelectualismo, que está a fatídica encruzilhada entre a vida eterna e a morte eterna, pois, que outra coisa seria um pecado imperdoável senão uma morte eterna? É possível que uma creatura de alta intelectualidade, sob o impacto da vontade livre, se recuse a aceitar a soberania da razão espiritual, procurando, por todos os modos, sobrepor-se a ela e proclamar a sua própria independência e autonomia individual anticósmica. Disse a Inteligência à Razão: "Prostra-te por terra e adora-me!”

Quando o lúcifer mental chega a essa altura de satanidade anticósmica, não volta mais atrás não mais se arrepende nem se converte; atingiu o mais alto ponto de "cristalização" ou "petrificação"; perdeu o último resto de elasticidade evolutiva que, no período da Ignorância, ainda lhe mantinha a porta aberta para a redentora integração na ordem cósmica do grande Todo. . . Agora essa fluidez acabou em rigidez, e com isto terminou a evolvibilidade desse ser. No zênite da sua evolução individual, não se integrou na Ordem Universal - que lhe resta ainda?

Evolução – impossível!
Integração? – possível, porém, recusada!
Involução? – é o único caminho que lhe resta.

Essa involução é um movimento descensional, que pode durar tanto quanto durou o movimento ascensional da evolução, milhares e milhões de anos, um "aion", uma "aeternitas", um vastíssimo ciclo evolutivo-involutivo.

Mas, todo movimento involutivo termina necessariamente no abismo do nada, isto é, na desintegração do indivíduo como indivíduo, na desindividuação ou, no dizer dos livros sacros, na "morte eterna", na "eterna perdição". O indivíduo que "morre", que se "perde" deixa de ser indivíduo, desindividua-se, desintegra-se porque não se integrou no grande Todo da única Realidade, sem a qual nenhum indivíduo pode conservar existência.

Não pode haver um eterno "negativo", uma evolução indefinida; a involução descensional acaba necessariamente no oposto ao Todo, que é o Nada, a extinção, o irreal, o não¬ existir.

Só pode haver um eterno "positivo", um Real, que é o Infinito, e um incessante realizar-¬se, que são os finitos em vias de crescente realização.

O não-existir individual (morte eterna) é um Ser Universal, mas esse Ser Universal não é o indivíduo, é o próprio Infinito, o Universal, o Eterno, o Todo, é Deus. O espírito de Deus não pode perecer, mas a sua forma individualizada no homem, ou em outro indivíduo, pode deixar de existir.

"Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
A cruz do Calvário tornou-se cátedra de suprema sapiência - cátedra coberta da púrpura sanguínea do maior Mestre da humanidade.


Huberto Rolhden
http://alvoradarohden.blogspot.com