FÁBULA DA CONVIVÊNCIA
Durante uma glaciação muito remota,
quando parte do globo terrestre estava coberto
por densas camadas de gelo, muitos animais
não resistiram ao frio intenso e morreram,
indefesos, por não se adaptarem
às condições do clima hostil.
Foi então, que uma grande vara de porco-espinho,
numa tentativa de se proteger e sobreviver,
começou a se unir, a juntar-se mais e mais.
Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro e, juntos, bem unidos agasalhavam-se mutuamente,
aqueciam-se, enfrentando por mais tempo
aquele inverno tenebroso.
Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um
começaram a ferir os companheiros mais próximos,
justamente aqueles que lhes forneciam mais calor,
aquele calor vital, questão de vida ou morte.
Afastaram-se feridos, magoados, sofridos.
Dispersaram-se por não suportarem mais tempo
os espinhos dos seus semelhantes.
Doíam muito… Mas, essa não foi a melhor solução.
Afastados, separados, logo começaram a morrer congelados.
Os que não morreram voltaram a se aproximar,
pouco a pouco, com jeito, com precaução,
de tal forma que, unidos, cada qual conservou
uma distância do outro, mínima mas o suficiente
para conviver sem ferir, para sobreviver sem magoar,
sem causar danos recíprocos.
Assim suportaram-se, resistindo à longa era glacial. Sobreviveram.
É fácil trocar palavras, difícil é interpretar os silêncios.
É fácil caminhar lado a lado, difícil é saber como se encontrar.
É fácil beijar o rosto, difícil é chegar ao coração.
É fácil apertar as mãos, difícil é reter o seu calor.
É fácil sentir o amor, difícil é conter a sua torrente.
Autor Desconhecido