OS PRIMEIROS PASSOS NO CAMINHO
Afirma-se, sobre o caminho do verdadeiro Ocultismo, que “o primeiro passo é o sacrifício”. Isso significa “sacrifício” desde o ponto de vista mundano – o ponto de vista do qual nós começamos. O fato de que nós nos libertamos com alegria do peso de coisas indesejáveis mostra o funcionamento do verdadeiro eu.
Não
tema o oceano da Vida: ele o apoiará. Eu frequentemente penso na
passagem que diz: “Todas as coisas trabalham em conjunto pelo bem
daquele que ama o Senhor”. Sua compreensão deste ditado será mais ampla
que a comum.
Você
fala de um sentido da verdade que é mais seguro do que qualquer forma
de raciocínio. Esta é a ação de Buddhi – a cognição direta – a meta de
toda filosofia correta e de toda vida correta. Em nossos esforços
sinceros, nós às vezes podemos ter vislumbres deste nível de
consciência. O grande resultado seria ter a contínua cooperação de Manas
e Buddhi – a mente superior e o conhecimento espiritual; trabalhar como
o homem divino, perfeito em todas as suas partes, ao invés da operação
fragmentada que se obtém atualmente.
Você
talvez se lembre de que no livro “A Voz do Silêncio” são mencionadas
duas doutrinas. A Doutrina do Olho é a consciência cerebral, composta em
grande parte de impressões externas. A Doutrina do Coração é a
consciência espiritual do Eu Superior. Ela não é percebida pela
consciência cerebral enquanto o pensamento correto e a ação correta –
que mais cedo ou mais tarde acompanha o pensamento correto – não entram
em sintonia com certos centros no cérebro cujo funcionamento se dá em
unidade com a vibração espiritual. Seria correto ler “A Voz do Silêncio”
e meditar sobre o que a obra diz. Você desenvolveu muito o lado
intelectual. Deveria haver um desenvolvimento igual do lado devocional. O
desejável é o despertar da consciência espiritual, da intuição – Buddhi
– e isso não pode ser feito a menos que os pensamentos adotem esta
direção com força e com propósito.
Você
pode, se quiser, separar uma meia hora, logo antes de dormir e depois
de levantar-se – tão cedo quanto possível, e antes de comer. Concentre
sua mente nos Mestres como ideais e como fatos – como seres vivos,
ativos, benéficos, que trabalham no plano das causas. Medite
exclusivamente sobre isso, e tente chegar até Eles em pensamento. Se
você vê que a mente se distraiu, traga-a de volta para o tema de
meditação. A mente se distrairá mais ou menos, no início, e talvez
durante um longo tempo no futuro, mas não desanime com os resultados
aparentes, se eles forem insatisfatórios do seu ponto de vista. Os reais
resultados não são imediatamente perceptíveis, mas o trabalho não é
perdido, ainda que seja invisível. É mais do que provável que o trabalho
nesta direção será percebido mais pelos outros do que por você mesmo.
Não se preocupe com o passado, porque você está ingressando em algo que
constitui um mundo novo para você como pessoa. Você colocou os seus pés
no caminho que leva ao real conhecimento.
Não
tente abrir contato consciente com seres em outros planos. Esta não é a
época correta, e o perigo está à espreita neste caminho, devido ao
poder que o estudante tem de criar suas próprias imagens, e por causa da
força e da intenção das forças antievolutivas de simular seres de Luz,
que podem inutilizar os seus esforços para alcançar a meta.
Quando
os materiais estiverem prontos o Arquiteto aparecerá, mas não busque
por ele; busque apenas estar pronto. Faça o melhor que puder a cada dia,
não tema coisa alguma, não alimente dúvidas, coloque toda sua confiança
na Grande Lei, e tudo irá bem. Com a atitude correta, o conhecimento
virá.
Lamento
que ocorram tantas coisas desagradáveis no começo. Posso entender muito
bem tudo isso: calor, poeira, cansaço, em contraste com aquilo que se
abandonou. É necessário ter coragem e resistência, e estas são
qualidades desejáveis, assim como as qualidades que um Kshatria [1] deve
ter. Isso, porém, não torna menos importante o discernimento: não é
possível fazer tudo ao mesmo tempo.
Mas,
como nós todos desejamos uma luta que possa preparar-nos da melhor
forma possível, podemos sorrir interiormente enquanto contemplamos os
esforços da natureza para anular as nossas decisões. Todos nós temos as
nossas batalhas, e se estamos neste exército podemos ter certeza de que o
Eu Superior provocará tantas provações quantas forem necessárias para a
nossa natureza peculiar. Penso que as coisas ficarão um pouco melhor
depois de algum tempo – elas sempre ficam.
É
a personalidade que não gosta de desconforto, mas ela se acostuma com
as coisas depois de algum tempo. Assim, seja qual for a situação no
futuro, é sábio lutar ao longo das mesmas linhas, como se esse fosse o
trabalho das suas vidas. Quando a batalha estiver vencida, a necessidade
cessará, porque o Eu Superior não desperdiça esforços. É fácil dar
conselhos, e é mais difícil segui-los, mas é a prática que se necessita.
Todas estas coisas devem constituir necessariamente testes e
treinamento – pelo menos, eu penso que este é o modo correto de olhar
para elas.
A
analogia de “A Doutrina Secreta” mostra que cada mudança é precedida de
uma rápida recapitulação de processos anteriores da evolução. Me parece
que poderíamos usar isso em nossos próprios processos mentais e ser,
possivelmente, capazes de compreender a nossa posição no ciclo.
Poderíamos conseguir que só a mente passasse pelos processos
preliminares, entrando em ação quando se chega ao ponto adequado, usando
a busca do mais alto como uma motivação. Deveríamos buscar o mais alto
desde novos níveis a cada momento. “Não é assim que se consegue subir
montanhas?”
À
medida que nos elevamos, de vez em quando temos vislumbres do lugar de
onde começamos; e, ainda que às vezes pareça que estamos descendo de
novo, podemos perceber que, na média, nos elevamos. Assim, estando
preparados para tais coisas, nós aproveitamos cada oportunidade para
aumentar a subida e evitar precipícios – porque dizem que em tais
questões as regiões montanhosas existem em grande número.
Lembre
também de que há muitos restos não gastos de Carma passado – “depósitos
mentais”, segundo Patañjali – que você evocou para incluir na sua
contabilidade. Alguns deles já vieram e outros ainda virão. Tenha
cuidado para não contrair novas dívidas, postergando assim o acerto
final de contas. Você sabe das dificuldades, e deveria fortalecer a si
mesmo para passar por elas. Ninguém pode fazer isso por você, como sabe.
Também
é correto sentir que, em seu aparente isolamento, você não está
sozinho. Este “sentimento” deveria ajudar você, e acho que ajuda.
Mantenha-o por perto.
Sempre fraternalmente, R.C.
Robert Crosbie
NOTA:
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