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terça-feira, 30 de junho de 2015

AUTODEFESA

Ele era um homem bem conhecido e estava em posição de prejudicar outros, o que não hesitava em fazer. Era astutamente superficial, desprovido de generosidade, e trabalhava e benefício próprio. Disse que não gostava muito de discutir os assuntos, mas as circunstâncias o tinham forçado a fazê-lo, e aqui estava ele. Por tudo que disse e deixou de dizer, ficou bastante claro que era muito ambicioso e moldava as pessoas a seu redor; ele era cruel quando valia a pena e amável quando queria algo. 
 
Tinha consideração pelos que estavam acima dele, tratava seus iguais com tolerância condescendente e ignorava completamente aqueles que estavam abaixo dele. Não fez mais do que olhar de relance para o motorista que o trouxera. Seu dinheiro o tornara desconfiado e ele tinha poucos amigos. Falava de seus filhos como se fossem brinquedos para diverti-lo, e não suportava ficar sozinho, disse. 
 
Alguém o prejudicara e ele não pode retaliar porque a pessoa estava além de seu alcance; dessa forma, estava descontando naqueles que ele podia alcançar. Era incapaz de entender porque estava sendo desnecessariamente brutal porque queria prejudicar aqueles que dizia amar. Enquanto falava, lentamente começou a se descontrair e a se tornar quase simpático. Era a simpatia do momento, cujo calor seria cortado instantaneamente se fosse frustrado ou se algo lhe fosse exigido. Como nada estava sendo pedido, estava livre e temporariamente afetuoso.
 
O desejo de ferir, de prejudicar os outros, seja por uma palavra, por um gesto ou mais profundamente, é forte na maioria de nós; é comum e assustadoramente prazeroso. O próprio desejo de não ser ferido dá origem ao ferir os outros; prejudicar os outros é uma maneira de se defender. Essa autodefesa adota formas peculiares, dependendo das circunstâncias e tendências.
 
Como é fácil ferir o outro, e quanta bondade é necessária para não ferir! Ferimos outros porque nós mesmos estamos feridos, estamos muito machucados por nossos próprios conflitos e sofrimentos. Quanto mais somos interiormente torturados, maior o impulso de sermos exteriormente violentos. A agitação interior nos impele a buscar proteção externa; e quanto mais a pessoa se defende, maior o ataque sobre os outros.
 
O que é que defendemos, que protegemos tão cuidadosamente? Certamente, é a ideia de nós mesmos, em qualquer que seja o nível. Se não protegêssemos a ideia, o centro de acumulação, não haveria o “eu” e o “meu”. Estaríamos assim totalmente sensíveis e vulneráveis aos mecanismos de nosso próprio ser, tanto o consciente quanto o oculto; mas como a maioria não deseja descobrir o processo do “eu”, resistimos a qualquer interferência na ideia de nós mesmos. Esta é inteiramente superficial; mas como a maioria vive na superfície, satisfazemo-nos com ilusões.
 
O desejo de fazer mal a outro é um instinto profundo. Nós acumulamos ressentimento, o que proporciona uma vitalidade estranha, um sentimento de ação e vida; o que é acumulado deve ser gasto através de raiva, insulto, depreciação, obstinação e seus opostos. É essa acumulação de ressentimento que necessita de perdão – o que se torna desnecessário se não houver armazenamento da mágoa.
 
Por que armazenamos lisonjas e insultos, ofensas e carinhos? Sem esse acúmulo de experiências e suas reações nós não somos; nós somos nada se não temos um nome, um apego, uma crença. É o medo de ser nada que nos compele a acumular; e é esse mesmo medo consciente ou inconsciente que, apesar de nossas atividades acumuladoras, produz nossa desintegração e destruição. Se conseguirmos estar atentos à verdade desse medo, então essa verdade é que nos libertará dele, e não nossa determinação intencional de ser livres.
 
Você é nada. Você pode ter seu nome e título, sua propriedade e conta bancária, ter poder e ser famoso; mas, apesar de todas essas garantias, você é como nada. Você pode estar totalmente inconsciente desse vazio, desse nada, ou pode simplesmente não querer estar cônscio dele; mas ele existe, faça você o que quiser para evitá-lo. Você pode tentar escapar dele de maneiras tortuosas: por meio de violência pessoal ou coletiva, de adoração individual ou coletiva, de conhecimento ou diversão, mas quer você esteja adormecido ou acordado, ele está sempre lá. 
 
Você só pode enfrentar sua relação com esse nada e seu medo estando atento às fugas de uma forma desprovida de escolha. Você não está relacionado a ele como uma entidade separada, individual; você não é o observador assistindo a isso; sem você, o pensador, o observador, isso não existe. Você e o nada estão unidos; você e o nada são um fenômeno conjunto, não dois processos separados. Se você, o pensador, estiver com medo disso e for abordá-lo como algo oposto e contra você, então qualquer ação que puder realizar deverá, inevitavelmente, levar à ilusão e a mais conflito e sofrimento. 
 
Quando existe a descoberta, a experimentação daquele nada sendo você, aí o medo – que existe apenas quando o pensador está separado de seus pensamentos e assim tenta estabelecer uma relação com eles – afasta-se inteiramente. Somente então é possível que a mente silencie; nessa tranquilidade, a verdade toma forma.
 
 
Krishnamurti
 
 
 
 
Enquanto nos sentirmos superiores ou inferiores aos outros estaremos criando ilusões. Não somos isso nem aquilo; somos nada. Títulos, diplomas, cargos, riqueza, pobreza... são meios utilizados para que possamos experimentar a vida, nada mais que isso. Chegamos aqui com nada e sairemos daqui com nada. Levaremos apenas as lições aprendidas ou não aprendidas. Retornaremos para exercitar aquelas não compreendidas ou refutadas. As posses, os apegos, o egoísmo... apenas ilusões, porém se desejamos tanto algo ou alguém, então soframos! Que seja assim! Mas um dia compreenderemos a efemeridade das coisas. KyraKally

segunda-feira, 29 de junho de 2015

O BUDA REBELDE
- Parte III -


Imagine que olhamos para a nossa mão, 
certo dia, e reparamos que ela está fechada, 
formando um punho. Está segurando algo tão vital 
que não conseguimos largar. O punho está tão fechado 
que a mão chega a doer. A dor na mão viaja até o braço 
e a tensão se espalha pelo corpo. E isso segue por anos a fio.

Às vezes, tentamos tomar uma aspirina, 
assistir à televisão ou saltar de paraquedas. 
A vida segue, um dia esquecemos o que era tão importante 
e, então, a mão se abre: não há nada ali. 
Imagine a surpresa.

O Buda ensinou que a causa raiz de nosso sofrimento — a ignorância — é o que dá surgimento a essa tendência
 de agarrar. A questão que deveríamos nos colocar é: 
“A que estou me agarrando?” 
Deveríamos olhar bem fundo esse processo 
para ver se realmente há algo ali.

De acordo com Buda, estamos nos agarrando a um mito. 
É só um pensamento que repete “eu” tantas vezes,
 que cria um eu ilusório, tal como um holograma 
que tomamos por sólido e real.
 
A cada pensamento, a cada emoção, esse “eu” 
aparece como o pensador e também como aquele
 que vivencia, e ainda assim é apenas outra fabricação 
da mente. É um hábito muito antigo, tão arraigado 
que esse próprio agarrar se torna também, 
ele próprio parte da nossa identidade. 
Se não estivéssemos nos agarrando 
a esse pensamento de eu, poderíamos sentir 
que algo muito familiar — como um amigo próximo — 
está faltando e, assim, uma dor crônica
 repentinamente desapareceria.

Como se segurássemos um objeto imaginário, 
nosso agarramento ao eu não nos ajuda muito. 
Ele apenas nos dá dores de cabeça e úlceras,
 e logo desenvolvemos muitos outros tipos de sofrimento 
com base nele. Esse “eu” passa a defender a todo custo
 os próprios interesses, porque imediatamente percebe 
um “outro”. E, no instante em que temos o pensamento 
de “eu” e “outro”, o drama de “nós” e “eles” se desenvolve.

Tudo acontece em um piscar de olhos: 
agarramos o lado do “eu” e decidimos se o “outro” 
está a nosso favor, contra nós ou se não faz diferença.
Enfim, estabelecemos as nossas intenções: 
com relação a um objeto, sentimos desejo 
e o queremos atrair; com relação a outro, 
sentimos medo e hostilidade e o queremos repelir;
 e com relação a mais um outro objeto, somos indiferentes 
ou apenas o ignoramos. Dessa forma, o nascimento 
das nossas emoções e dos nossos julgamentos neuróticos 
é resultado de nosso agarramento ao “eu” e ao “meu”.

No fim, não estamos livres nem mesmo 
frente aos nossos próprios julgamentos. 
Admiramos algumas de nossas qualidades e logo 
nos inflamos todos, desdenhamos outras qualidades e criticamos a nós mesmos, e assim ignoramos boa parte 
da dor que realmente sentimos, totalmente engajados 
nessa luta interna para sermos felizes com quem somos.
Por que persistimos nisso, quando nos sentiríamos 
melhor e mais relaxados se simplesmente soltássemos? 
A verdadeira natureza da nossa mente 
está sempre presente, mas, por não enxergá-la, 
acabamos nos apegando ao que conseguimos 
ver e tentando fazer dela algo que não é.

Complicações desse tipo parecem ser o único jeito 
que o ego tem para se manter, isto é, criando um labirinto
 ou uma sala de espelhos para nos confundir. 
Nossa mente neurótica se torna tão revolta 
e enredada que fica difícil para nós 
rastrearmos o que ela está fazendo.

Investimos nesse grande esforço 
apenas para nos convencer de que encontramos 
algo sólido dentro da natureza insubstancial de nossa mente: uma entidade separada e permanente — 
algo que podemos chamar de “eu”. 
Ainda assim, ao fazer isso, estamos indo na contramão 
da verdadeira natureza das coisas, da realidade. 
Estamos tentando congelar a experiência, criar algo sólido,
tangível e estável com algo que não tem essa natureza.
 É como pedir ao espaço que ele se torne terra 
ou para a água que se torne fogo. 

Pensamos que abandonar esse pensamento de um “eu” 
é uma loucura, pensamos que a nossa vida 
depende desse pensamento.
Mas, na verdade, a nossa liberdade 
depende de nós o abandonarmos.
 


Dzongchen Ponlop




São tantos conceitos, tantas definições que nos sentimos perdidos... praticamos um, não dá certo... praticamos outro, é uma encruzilhada, voltamos ao ponto de partida. Somos seres únicos dentro desse conjunto Universo, então cada um deve encontrar seu modo de ser e realizar em si a divindade. Naturalmente que é válido examinar as experiências dos outros, e muito mais importante é observar a si mesmo. Observar a vida e 'extasiar-se' com ela é uma grande liberdade de ser, porém agir com a vida requer uma grande responsabilidade; teríamos que perguntar sempre, a cada ação, se aquele movimento traria um efeito positivo para todos os envolvidos. Quanto mais estivermos no mundo sem pertencer ao mundo, apenas sendo viajantes, observadores, amantes incondicionais,  fraternos e conscientes de nossas atitudes, estaremos iniciando nossa verdadeira jornada com sabedoria e justiça. KyraKally

domingo, 28 de junho de 2015

O BUDA REBELDE
- Parte  II -

 Quando Buda ensinou sobre essa natureza impermanente 
e composta (ou agrupada) da mente relativa, 
ele o fez com o objetivo de apresentar a seus discípulos
 a natureza última da mente: a consciência imutável, 
pura e não fabricada.

Aqui, o budismo se separa radicalmente de conceitos teológicos, como pecado original, que veem a humanidade 
como espiritualmente maculada por alguma 
violação herdada da lei divina. 

A visão budista afirma que a natureza de todos os seres 
é primordialmente pura e plena de qualidades positivas.
Quando acordamos o suficiente ao ponto de ver 
além de nossa confusão, percebemos que mesmo 
os nossos pensamentos e emoções problemáticos são,
 no fundo, parte dessa consciência pura.

Reconhecer isso nos leva naturalmente a uma experiência 
de relaxamento, alegria e humor. Já que tudo 
o que vivenciamos no nível relativo é ilusório, 
não precisamos levar nada tão a sério. 
Do ponto de vista do estado último, é como 
um sonho lúcido, a vívida brincadeira da própria mente.
Quando estamos despertos em meio a um sonho, 
não levamos nada do que ocorre no sonho muito a sério.
 É como dar uma volta nas atrações do Disney World.
 
Um brinquedo nos leva até o céu noturno, 
onde nos vemos rodeados de estrelas, com as luzes 
de uma cidade lá embaixo. É muito bonito 
e nos cativa demais, mas nunca tomamos como sendo real. 
E, quando entramos na casa assombrada, 
 fantasmas, esqueletos e monstros podem nos surpreender
 por um instante ou um por um pouco mais de tempo, 
mas eles também são engraçados, porque sabemos 
que nada disso é de verdade.
 
Da mesma forma, quando descobrimos 
a verdadeira natureza da nossa mente, 
somos liberados de uma ansiedade fundamental, 
uma sensação básica de medo e preocupação 
sobre aparências e experiências da vida. 
A verdadeira natureza da mente diz:
 “Por que se estressar? Relaxe e se sinta bem 
consigo mesmo.” A escolha é nossa, a não ser que
 tenhamos uma tendência extraordinariamente forte 
de lutar o tempo todo. Desse modo, até mesmo 
o Disney World se torna um local horrível. 
E isso também é escolha nossa. Nosso mundo moderno 
é cheio de opções: onde quer que estejamos, 
podemos escolher uma forma ou outra.

Muitas pessoas perguntam 
como é esse tipo de consciência.

Seria a experiência dessa natureza verdadeira 
semelhante à de se tornar um vegetal, 
entrar em coma ou sofrer de Alzheimer? 
Não. De fato, não é nada disso. Nossa mente relativa 
passa a funcionar melhor. Quando damos uma folga
para o nosso hábito constante de rotular, 
o mundo se torna límpido. Ficamos livres para ver 
com clareza; pensar com clareza e sentir a qualidade viva 
e desperta de nossas emoções. A abertura, a amplidão 
e o frescor da experiência fazem com que este seja um local muito bonito de se viver. Imagine-se no pico 
de uma montanha olhando para o mundo 
em todas as direções, sem obstruções. 
 É a isso que chamamos 
de experiência da natureza da mente.

   
Dzongchen Ponlop
 
 
 
 
Lutamos o tempo todo  com a vida, queremos moldá-la a nosso modo, não permitimos que ela flua levando-nos às experiências que são necessárias para crescermos. Apegamo-nos as pessoas, aos fatos, aos objetos, ao 'falso' poder  que supomos ter... Desejamos parar o tempo e reviver sempre aquelas experiências que nos deixaram 'felizes'... a vida não para, é como um rio que segue seu curso sem se importar com os obstáculos que possam surgir pelo caminho... vai moldando seu próprio leito. Não temos capacidade para deter a vida, então, por que não seguimos com ela, observando o que ela tem para nos ensinar? Somos aprendizes quer queiramos ou não. Não coloquemos obstáculos no curso da nossa vida, só servirão para nos atrasar, aborrecer, estressar... ela nos conduzirá não importa quanto tempo levaremos para nos entregar... seu poder é maior. "A escolha é nossa, a não ser que tenhamos uma tendência extraordinariamente forte de lutar o tempo todo". KyraKally

sábado, 27 de junho de 2015

O BUDA REBELDE
- Parte I -
Quando ouvimos a palavra “buda”,
 o que nos vem à mente?

Uma estátua dourada? Um príncipe jovem sentado 
sob uma árvore suntuosa? Ou quem sabe Keanu Reeves
no filme O pequeno buda
Monges de cabelo raspado em suas vestes monásticas? 
Podemos fazer muitas associações ou nenhuma.
A maioria de nós está bem longe de qualquer 
conexão condizente com a realidade.

A palavra “buda”, no entanto, significa simplesmente “desperto” ou “acordado”. Não se refere a uma figura 
histórica particular, ou a uma filosofia ou religião.
Refere-se à própria mente. Sabemos que temos uma mente, 
mas como ela é? É desperta. E com isso não quero dizer
 apenas que ela “não está dormindo”. Quero dizer 
que a mente é realmente desperta, 
além de nossa imaginação.

Nossa mente é brilhantemente lúcida, aberta, 
espaçosa e cheia de qualidades excelentes: 
amor incondicional, compaixão e sabedoria, 
que nos fazem perceber as coisas como elas 
realmente são. Em outras palavras,
 nossa mente desperta é sempre uma boa mente, 
nunca está turva ou confusa. Nunca é atribulada 
por dúvidas, medos e emoções que muitas vezes 
nos torturam. Pelo contrário, nossa verdadeira mente
 é alegre, livre de todo sofrimento. 
É isso que realmente somos. Essa é a verdadeira 
natureza de nossa mente e da mente de todos os outros. 
Mas nossa mente não fica apenas parada sendo perfeita, 
sem fazer nada. Ela está brincando o tempo todo, 
criando os nossos mundos.

Se isso é verdade, então por que a nossa vida 
e todo o mundo não são perfeitos? Por que não somos 
felizes o tempo todo? Por que em um momento 
 estamos rindo e em outro estamos desesperados? 
E por que pessoas supostamente “despertas” 
discutiriam, brigariam, mentiriam, enganariam,
 roubariam e fariam guerras? O motivo é que, 
embora o estado desperto seja a verdadeira
 natureza da mente, a maioria de nós não o reconhece. 
Por quê? Algo se interpõe. 
Algo bloqueia a nossa percepção.

Claro, percebemos partes do estado desperto aqui e ali, 
mas, no momento em que o reconhecemos, 
repentinamente surgem outras coisas em nossa mente — 
Que horas são? Está na hora do almoço?
 Ah, veja, uma borboleta! — e, assim,
nosso discernimento se dissipa.

Ironicamente, o que bloqueia a nossa visão 
da verdadeira natureza da mente — nossa mente de buda
 é a própria mente, a parte dela que está sempre ocupada,
 que está constantemente envolvida em um fluxo contínuo 
de pensamentos, emoções e conceitos. Essa mente ocupada 
é o que acreditamos que somos. Ela é mais fácil de enxergar,
como o rosto de uma pessoa sentada bem à nossa frente.

Por exemplo, o pensamento que você está tendo agora 
pode ser óbvio para você, ainda que não o seja para a sua consciência. Quando você sente raiva, presta mais atenção 
ao que o irrita do que à própria fonte de sua irritação.

Em outras palavras, você percebe o que a sua mente 

está fazendo, mas não vê a própria mente. 
 Identificamo-nos com os conteúdos dessa mente ocupada — pensamentos, emoções e ideias — e acabamos pensando 
que todas essas coisas são nosso “eu” e que “somos assim”.

Quando fazemos isso, é como dormir e sonhar

 acreditando que as imagens no sonho são verdadeiras. 
Se, por exemplo, sonhamos que estamos sendo 
perseguidos por um desconhecido, isso nos é muito 
assustador e real. Porém, no momento em que acordamos,
tanto o desconhecido quanto os nossos sentimentos 
de medo simplesmente desaparecem 
e sentimos um grande alívio.
 Além disso, se já soubéssemos que estávamos 
apenas dormindo em nossa cama, 
não teríamos sentido medo algum.

Da mesma forma, em nossa mente comum, 

somos sonhadores que acreditam que os sonhos são reais. Acreditamos que estamos acordados, mas não estamos.
Pensamos que essa mente ocupada com pensamentos 
e emoções é quem realmente somos. Mas, quando 
acordamos, os enganos sobre quem somos — e 
o sofrimento que essa confusão cria — 
 desaparecem totalmente.


Dzongchen Ponlop



Quem já teve a experiência do "agora" está sempre nos convidando a observar nossos pensamentos, que na verdade são uma excelente ferramenta de ajuda, como também um grande entrave na nossa compreensão do Absoluto. Sendo o medo uma figura temporal existente apenas no passado e futuro, a qual utilizamos em nosso próprio malefício porque ignoramos a sua abrangência e dependência, pois nos movemos através de seus resultados fabricados pela mente pensante, essa mente onde se originam os nossos pensamentos e responde os nossos questionamentos de uma forma imediata, sem nos reservar tempo para reflexão, condicionando o nosso viver, influenciando as nossas atitudes... e pensamos que somos esses padrões. Não não somos, por isso precisamos estar atentos, precisamos ser 'observadores' de nós mesmos. Precisamos parar de sofrer. Deus não nos criou para isso. Ele nos fez a Sua imagem e semelhança.  "... nossa mente desperta é sempre uma boa mente, nunca está turva ou confusa. Nunca é atribulada por dúvidas, medos e emoções que muitas vezes nos torturam. Pelo contrário, nossa verdadeira mente é alegre, livre de todo sofrimento". Retornemos para essa mente. Estejamos sempre despertos! KyraKally
 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

DENTRO NÃO HÁ 
NOVIDADE ALGUMA

Osho, você poderia comentar sobre este poema 
de Rumi, que amo tanto:

'Lá fora, a noite fria e deserta.
Esta outra noite interior se faz tépida, em brasas.
Deixe a paisagem cobrir-se com uma crosta espinhosa.
Temos um jardim delicado aqui dentro.
Os continentes foram arrasados, cidades e aldeias,
 tudo se torna numa bola calcinada e escurecida;
As novidades que ouvimos estão cheias de pesar por este futuro.
Mas a verdadeira novidade aqui dentro
 é que não há novidade alguma.'


Osho - O poema de Mevlana Rumi é lindo. 
Como sempre, ele só diz palavras lindas.
Ele é um dos poetas místicos mais importantes. 
Essa é uma combinação rara; há milhões de poetas no mundo 
e há pouquíssimos místicos, mas um homem que seja ambos, 
 é raramente encontrado.

Rumi é uma flor muito rara. É igualmente grande como poeta 
e como místico. Por isso, sua poesia não é apenas poesia, não é apenas um lindo arranjo de palavras. Sua poesia contem imenso significado, e aponta para a suprema verdade.

Ele não é entretenimento, mas iluminação.

Ele está dizendo: "Lá fora, a noite fria e deserta.
Esta outra noite interior se faz tépida, em brasas."
O exterior não é o verdadeiro espaço para você estar. 
Fora, você é um estrangeiro; dentro você está em casa. 
Fora, é uma noite fria e deserta. 
Dentro, é tépido e aconchegante.  

Mas são muito poucos os afortunados que se movem 
do exterior para o interior. Eles esqueceram completamente que têm um lar dentro de si mesmos, eles o estão procurando, mas estão procurando no lugar errado. Procuram durante 
toda sua vida, mas sempre fora. Nunca param
 por um momento e olham para dentro.

"Deixe a paisagem cobrir-se com uma crosta espinhosa.
Temos um jardim delicado aqui dentro." Não fique preocupado como que acontece do lado de fora. Dentro há sempre um jardim pronto para acolhê-lo.

"Os continentes foram arrasados, cidades e aldeias, 
tudo se torna numa bola calcinada e escurecida;
As novidades que ouvimos estão cheias 
de pesar por este futuro.
Mas a verdadeira novidade aqui dentro 
é que não há novidade alguma."

Essa última sentença vem de um antigo ditado que diz: 
A ausência de notícia é sinal de que tudo está bem. 
Nasci numa pequena aldeia onde o carteiro só vinha uma vez por semana. E as pessoas tinham medo de que ele
lhes trouxesse uma carta; ficavam contentes quando 
não havia carta alguma. E de vez em quando havia um telegrama para alguém. E simplesmente o boato de que
 alguém recebeu um telegrama era um choque tão grande
 para a aldeia, que todos se reuniam... e apenas um homem sabia ler. Todos  tinham medo: um telegrama? 
Isso significa uma má notícia. Senão, por que a pessoa deveria desperdiçar dinheiro com telegrama?

Aprendi desde minha infância, que a ausência de notícia 
é sinal de que tudo está bem. As pessoas ficavam felizes 
quando não recebiam notícia de seus parentes, 
de seus amigos ou de qualquer um. 
Isso significava que tudo ia bem.

Rumi está dizendo: As novidades que ouvimos
 estão cheias de pesar por este futuro. Mas, a verdadeira novidade aqui dentro é que não há novidade alguma. 
Tudo está silencioso e tudo está indo, tranquilo,
 exatamente como sempre esteve. 
 Não há mudança alguma, portanto, não há novidade.

Dentro é um eterno êxtase, sempre.

Vou repetir mais uma vez para que essas linhas possam se tornar uma realidade em sua vida. Antes que isso aconteça, você deve atingir dentro de si esse lugar,
 onde nenhuma novidade jamais aconteceu,
 onde tudo é eternamente o mesmo, onde a primavera 
nunca vem e vai, mas sempre permanece onde as flores estiveram desde o começo ...se já houve algum começo... 
e haverão de estar até o fim... se houver algum fim. 
Na verdade, não há começo e não há fim, e o jardim 
é exuberante, verte e repleto de flores.

Antes que o mundo exterior seja destruído pelos políticos, penetre em seu mundo interior. Essa é a única segurança
 que resta, o único abrigo contra as armas nucleares, 
contra o suicídio global, contra todos os idiotas 
que têm tanto poder de destruição.

Você pode pelo menos, salvar a si mesmo.

Eu tinha esperança, mas à medida que os dias
 foram passando, fui conhecendo cada vez mais 
a estupidez do homem.. ainda tenho esperança, 
mas somente por um velho hábito; na realidade
 meu coração aceitou o fato de que apenas algumas pessoas podem ser salvas. A totalidade da humanidade está determinada a se autodestruir, e essas pessoas...
 se você lhes diz como podem ser salvas, 
elas irão crucificá-lo, irão apedrejá-lo até a morte.

Percorrendo o mundo, ainda estou rindo, 
mas há uma tristeza sutil nisso. Ainda danço com vocês, 
mas já não é com o mesmo entusiasmo de dez anos atrás.

Parece que os poderes superiores da consciência 
são impotentes contra os poderes mais baixos e feios 
dos políticos. O mais elevado é sempre frágil,
 como uma rosa; você pode destruí-la com uma pedra. 
Isso não significa que a pedra se torne mais elevada 
que a rosa, mas simplesmente que a pedra 
está inconsciente do que está fazendo.

As multidões estão inconscientes do que estão fazendo, 
e os políticos fazem parte da multidão. 
São seus representantes, e quando pessoas cegas 
estão conduzindo outras pessoas cegas, 
é quase impossível acordá-las, porque a questão 
não é apenas o sono... elas são cegas também.

Há tempo suficiente para despertá-las, mas não há tempo suficiente para curar seus olhos. Assim, agora me limitei completamente ao meu povo. Esse é meu mundo, 
porque sei que aqueles que estão comigo podem estar adormecidos, mas não são cegos. Eles podem ser acordados.
 
 
 
Osho