Translate

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

C   O   M   P   A   I   X   à  O,
O florescimento do amor supremo

Somente a compaixão é terapêutica, porque tudo o que é doença no homem é causado pela falta de amor. Tudo o que está errado com o homem, está de alguma forma associado ao amor. Ele não tem sido capaz de amar ou ele não tem sido capaz de receber amor. Ele não tem sido capaz de compartilhar o seu ser. Essa é a miséria. Isso cria toda sorte de complexos internamente.

Aquelas feridas internas podem vir à superfície de várias maneiras: elas podem se tornar doenças do físico e doenças mentais, mas no fundo o que o homem sofre é de falta de amor. Assim como o alimento é necessário para o corpo, o amor é necessário para a alma. O corpo não consegue sobreviver sem alimento e a alma não consegue sobreviver sem o amor. Na verdade, sem o amor a alma nunca nasce e nem há essa questão de sua sobrevivência.

Você simplesmente pensa que tem uma alma. Você acredita que você tem uma alma devido ao seu medo da morte. Mas você não a conheceu a não ser que você tenha amado. Somente no amor a pessoa vem a sentir que ela é mais do que o corpo, mais do que a mente.

É por isso que eu digo que a compaixão é terapêutica. O que é compaixão? Compaixão é a forma mais pura de amor. No sexo, o contato é basicamente físico, na compaixão o contato é basicamente espiritual. No amor, compaixão e sexo estão misturados. O amor está no meio do caminho entre sexo e compaixão.

Você também pode chamar a compaixão de prece. Você também pode chamar a compaixão de meditação. A forma mais elevada de energia é a compaixão. A palavra ‘compaixão’ é bela. Metade dela é ‘paixão’. De alguma forma a paixão se tornou tão refinada que ela não é mais como uma paixão. Ela se tornou compaixão.

No sexo, você usa o outro, você reduz o outro a um meio, você reduz o outro a uma coisa. É por isso que numa relação sexual você se sente culpado. Essa culpa nada tem a ver com ensinamentos religiosos, essa culpa é mais profunda que os ensinamentos religiosos. Numa relação sexual, enquanto tal, você se sente culpado. Você se sente culpado porque você está reduzindo um ser humano a uma coisa, a uma mercadoria para ser usada e jogada fora.

É por isso que no sexo você também tem uma sensação de escravidão, você também está sendo reduzido a uma coisa. E quando você é uma coisa, a sua liberdade desaparece, porque a sua liberdade somente existe quando você é uma pessoa. Quanto mais você for uma pessoa, mais livre será; quanto mais você for uma coisa, menos livre será.

Os móveis de seu quarto não são livres. Se você deixar o quarto fechado e voltar muitos anos depois, os móveis estarão nos mesmos lugares, com a mesma disposição, eles não se arrumarão numa nova disposição. Eles não têm liberdade. Mas se você deixar um homem num quarto, você não irá encontrá-lo do mesmo jeito, nem mesmo no dia seguinte, nem mesmo no momento seguinte. (…)

Para uma coisa, o futuro está fechado. Uma pedra permanecerá uma pedra. Ela não tem qualquer potencial para o crescimento. Ela não pode mudar, ela não pode evoluir. O homem nunca permanece o mesmo. Ele pode retornar, ele pode ir adiante, ele pode ir para o inferno ou para o céu, mas nunca permanece o mesmo. Ele segue se movendo, deste ou daquele jeito.

Quando você tem uma relação sexual com alguém, você reduz aquela pessoa a uma coisa. E ao reduzi-la, você também se reduz a uma coisa, porque isso é um acordo mútuo do tipo: ‘Eu lhe permito reduzir-me a uma coisa e você me permite reduzi-lo a uma coisa. Eu lhe permito usar-me e você me permite usá-lo. Nós usamos um ao outro. Nós ambos nos tornamos coisas’.

É por isso… Observe dois amantes: enquanto eles ainda não se acomodaram, o romance ainda está vivo, a lua de mel não termina e você vê as duas pessoas vibrando com a vida, prontas para explodir-se, prontas para explodir-se no desconhecido. E depois, observe um casal de marido e mulher, e você verá duas coisas mortas, dois cemitérios, lado a lado, ajudando um ao outro a se manter morto, forçando um ao outro a se manter morto. Esse é o conflito constante no casamento. Ninguém quer ser reduzido a uma coisa.

O sexo é a forma mais baixa daquela energia ‘X’. Se você é religioso chame isso de ‘Deus”; se você é um cientista, chame isso de ‘X’. Essa energia, X, pode se tornar amor. Quando ela se torna amor, então você começa a respeitar a outra pessoa. Sim, algumas vezes você usa a outra pessoa, mas você se sente agradecido por isso. Você nunca diz muito obrigado a uma coisa. Quando você está amando uma mulher e você faz amor com ela, você lhe diz: muito obrigado. Quando você faz amor com sua esposa, alguma vez você lhe disse muito obrigado? Não, você não dá valor algum. A sua esposa já lhe disse alguma vez obrigado? Talvez, muitos anos atrás, você consegue se lembrar de um tempo quando vocês ainda estavam indecisos, quando estavam experimentado, fazendo a corte, seduzindo um ao outro, talvez. Mas uma vez que vocês se acomodaram, ela disse alguma vez muito obrigado a você por alguma coisa? Você tem estado fazendo tantas coisas por ela, ela tem estado fazendo tantas coisas por você, vocês ambos têm vivido um para o outro… mas a gratidão desapareceu.

No amor existe gratidão, existe uma profunda gratidão. Você sabe que a outra pessoa não é uma coisa. Você sabe que o outro tem uma grandeza, uma personalidade, uma alma, uma individualidade. No amor você dá liberdade total ao outro. Na verdade você dá e você recebe, é uma relação de dar e receber, mas com respeito.

No sexo há uma relação de dar e receber, mas sem respeito. Na compaixão, você simplesmente dá. Não há qualquer ideia, em lugar algum em sua mente, de receber algo em troca. Você simplesmente compartilha. Não que nada retorne. Mil desdobramentos retornam, mas espontaneamente, simplesmente como uma consequência natural. Não há qualquer espera por isto.

No amor, se você dá alguma coisa, no fundo você fica esperando aquilo que deve vir em troca. Se aquilo não vem, você percebe uma reclamação interna. Você pode não dizer, mas de mil e uma maneiras você pode insinuar que você não está satisfeito, que você está se sentindo traído. O amor parece ser uma barganha sutil.

Na compaixão, você simplesmente dá. No amor, você está agradecido porque o outro deu alguma coisa a você. Na compaixão você está agradecido porque o outro recebeu alguma coisa de você, porque o outro não rejeitou você. Você veio com energia para dar, você veio com muitas flores para compartilhar e o outro lhe permitiu, o outro estava receptivo. Você está agradecido porque o outro estava receptivo.

A compaixão é a mais elevada forma de amor. Muita coisa vem em troca, mil desdobramentos eu digo, mas esse não é o ponto, você não fica esperando por isto. Se não vier, não há qualquer reclamação. Se vier, você simplesmente fica surpreso. Se vier, isso será inacreditável. Se não vier, não há qualquer problema, você nunca dá o seu coração a alguém por qualquer barganha. Você simplesmente distribui porque você tem. Você tem tanto que se você não distribuir, você se sentirá sobrecarregado. É exatamente como uma nuvem carregada que tem que chover. E da próxima vez quando uma nuvem estiver chovendo observe atentamente e você sempre ouvirá; quando a nuvem estiver chovendo e a terra tiver absorvido, você sempre ouvirá a nuvem dizendo à terra ‘muito obrigado’. A terra ajuda a nuvem a se descarregar.

Quando uma flor desabrocha, ela tem que compartilhar a sua fragrância ao vento. Isso é natural. Não é uma barganha, não é um negócio. Isso é simplesmente natural. A flor está repleta de fragrância. O que fazer? Se a flor mantiver a fragrância para si mesma, ela irá se sentir muito, muito tensa, em angústia profunda. A maior angústia na vida é quando você não pode expressar, quando você não pode comunicar, quando você não pode compartilhar. O homem mais pobre é aquele que nada tem a compartilhar, ou aquele que tem algo a compartilhar mas que perdeu a capacidade, a arte, a maneira de como compartilhar, aí o homem é pobre.

O homem sexual é muito pobre. Em comparação, o homem amoroso é mais rico. O homem de compaixão é o homem mais rico, ele está no topo do mundo. Ele não tem qualquer confinamento, qualquer limitação. Ele simplesmente dá e segue o seu caminho. Ele nem mesmo espera você lhe dizer um muito obrigado. Com tremendo amor ele compartilha a sua energia.

É isso que eu chamo terapêutico. (…)

Para ser compassivo é preciso que se tenha, em primeiro lugar, compaixão por si mesmo. Se você não amar a si mesmo, você nunca será capaz de amar um outro alguém. Se você não for amável consigo mesmo, você não conseguirá ser amável com ninguém mais. Os seus chamados santos, que são muito duros consigo mesmos, estão simplesmente fingindo que são amáveis com os outros. Isso não é possível. Psicologicamente isso é impossível. Se você não puder ser amável consigo mesmo, como você poderá ser amável com os outros?

Qualquer coisa que você for consigo mesmo, você será com os outros. Deixe que isso seja um ditado básico. Se você se detesta, você irá detestar os outros. E foi-lhe ensinado detestar a si mesmo. Ninguém jamais disse a você ‘ame a si mesmo’. Essa própria idéia parece absurda: amar a si mesmo? A própria idéia não faz sentido: amar a si mesmo? Nós sempre pensamos que, para amar, nós precisamos de uma outra pessoa. Mas se você não aprender consigo mesmo, você não será capaz de praticar com os outros.

Foi-lhe dito constantemente, você foi condicionado, que você não tem qualquer valor. De todas as direções lhe foi mostrado, lhe foi dito que você é sem valor, que você não é o que deveria ser, que você não é aceito como você é. Existem muitos ‘deves’ pendurados sobre a sua cabeça e todos esses ‘deves’ são quase impossíveis de serem satisfeitos. E quando você não consegue satisfazê-los, quando você tem um pequeno tropeço, você se sente condenado. Uma profunda raiva surge em você em relação a si mesmo.

Como você pode amar os outros? Tão cheio de ódio, onde você irá encontrar amor? Assim, você simplesmente finge, você simplesmente demonstra que está amoroso. No fundo você não está amoroso com ninguém, você não pode estar. Esses fingimentos são bons por uns poucos dias, depois o colorido desaparece, então a realidade se revela por si mesma.

Todo caso amoroso está em cima de pedras. Mais cedo ou mais tarde, todo caso amoroso se torna muito envenenado. E como ele se torna tão envenenado? Ambos fingem que estão amando, ambos seguem dizendo que amam. O pai diz que ama a criança, a criança diz que ama o pai, a mãe diz que ama a filha e a filha segue dizendo a mesma coisa. Irmãos dizem que amam um ao outro. Todo o mundo conversa a respeito de amor, canta canções de amor, e você poderia encontrar outro local tão destituído de amor? Nem uma pitada de amor existe, e montanhas de falatórios, um Himalaia de poesias a respeito do amor.

Parece que todas essas poesias são apenas compensações. Porque nós não conseguimos amar, nós temos que acreditar de alguma maneira, através da poesia, da canção, que nós amamos. Aquilo que nos falta na vida, nós colocamos na poesia. O que nós vamos perdendo na vida, nós colocamos no filme, na novela. O amor está absolutamente ausente porque o primeiro passo ainda não foi dado.

O primeiro passo é: aceite-se como você é. Abandone todos os ‘deves’. Não carregue qualquer ‘deve’ em seu coração. Não é para você ser algo diferente do que é. Não é de se esperar que você faça algo que não pertença a você. Você existe para ser exatamente você mesmo. Relaxe e seja simplesmente você mesmo. Seja respeitoso para com sua individualidade e tenha a coragem de assinar a sua própria assinatura. Não siga copiando as assinaturas de outros.

Não é de se esperar que você se torne um Jesus ou um Buda ou um Ramakrishna. O que se espera é que você se torne simplesmente você mesmo. Foi bom que Ramakrishna nunca tentou se tornar alguma outra pessoa, assim ele se tornou Ramakrishna. Foi bom que Jesus nunca tentou tornar-se Abraão ou Moisés, assim ele se tornou Jesus. E é bom que Buda nunca tenha tentado tornar-se Patanjali ou Krishna. Foi por isso que ele se tornou Buda.

Quando você não está tentando se tornar um outro alguém, então você simplesmente relaxa e uma graça surge. Então você está cheio de grandeza, esplendor e harmonia, porque aí não existe qualquer conflito. Nenhum lugar para ir, nada pelo qual brigar, nada para forçar nem para obrigar-se violentamente. Você se torna inocente.

Em tal inocência, você sentirá compaixão e amor por si mesmo. Você se sentirá tão feliz consigo mesmo que ainda que Deus venha bater em sua porta e diga: ‘Você gostaria de se tornar uma outra pessoa?’, você dirá: ‘Você ficou louco? Eu sou perfeito! Obrigado, e nunca mais tente fazer isso, eu sou perfeito como sou.’ (…)

As rosas desabrocham tão lindamente porque elas não estão tentando se tornar lótus. E a flor de lótus desabrocha tão lindamente porque ela nunca ouviu as lendas a respeito das outras flores. Tudo na natureza segue tão belamente em harmonia porque ninguém está tentando competir com algum outro, ninguém está tentando se tornar algum outro. Tudo é do jeito que é.

Simplesmente veja o ponto! Seja apenas você mesmo e lembre-se de que você não pode ser alguma outra coisa, faça o que você fizer. Todo esforço é fútil. Você tem que ser simplesmente você mesmo.

Existem dois caminhos: um é: rejeitando, você pode permanecer o mesmo; condenando, você pode permanecer o mesmo. Ou, aceitando, entregando-se, curtindo, deliciando-se, você pode permanecer o mesmo. A sua atitude pode ser diferente, mas você vai continuar do jeito que você é, a pessoa que você é. Uma vez que você aceite, a compaixão surge. E então, você começa a aceitar os outros. (…)

Mova-se lentamente, alerta, observando, estando amoroso. Se você for sexual, eu não digo para abandonar o sexo; eu digo faça-o mais alerta, faça-o como uma prece, faça-o mais profundo, assim ele pode tornar-se amor. Se você está amando, então faça isso com mais gratidão, traga uma gratidão, uma alegria, uma celebração e uma prece mais profunda ao amor, traga meditação para ele, assim ele pode se tornar compaixão.

A não ser que a compaixão tenha acontecido para você, não pense que você viveu corretamente, ou que você viveu de alguma maneira. Compaixão é o florescimento. E quando a compaixão acontece para uma pessoa, milhões são curadas. Qualquer um que chegue ao seu redor será curado. A compaixão é terapêutica.

Osho
https://www.refletirpararefletir.com.br 

domingo, 30 de dezembro de 2018

SEJA COMO UMA FLOR

"A vida deve florescer como uma flor 
oferecendo-se para o Divino".


A Mãe nós diz :

Seja como uma flor . Uma pessoa deve se tornar como uma flor : aberta , sincera , equânime , generosa e gentil . 

Você sabe o que isto significa ? Uma flor está aberta a tudo que a cerca . Natureza , luz , os raios do sol , o vento , etc. Ela exerce uma influência espontânea sobre tudo que a cerca . Ela irradia alegria e beleza . Ela é sincera : ela nada esconde de sua beleza e deixa isso fluir sinceramente para fora de si . 

O que está dentro , o que está em suas profundezas , ela deixa mostrar para que todos vejam . Ela é equânime : não tem preferência . Todos podem sentir prazer em sua beleza e seu perfume , sem competição . Ela é equânime e a mesma para todos.

Não existe diferença de qualquer ordem . Também é generosa : sem reservas ou restrições, dando sua misteriosa beleza e seu mais íntimo perfume . 

Sacrifica-se inteiramente por nosso prazer , mesmo com o sacrifício de sua vida , para expressar a beleza e o segredo das suas intimidades . E generosa : ela é tão delicada e tão meiga , tão próxima a nós, tão amável . Sua presença enche-nos de contentamento . 

Ela está sempre alegre e feliz . Feliz é aquele que pode mudar suas qualidades para a das flores . Tente cultivar em si as refinadas qualidades da flor.

 
Mirra Alfassa, A Mãe - Flowers, Their Spiritual Significance
https://todavidaeyoga.blogspot.com

 

sábado, 29 de dezembro de 2018

JOGUE FORA TODAS AS RESOLUÇÕES


O amor é a meta. A vida, a viagem.


Pergunta: Osho, se você fosse para tomar uma única resolução de ano novo, qual você sugeriria?  

Esta e só esta pode ser a resolução de ano novo: Eu resolvo nunca fazer qualquer resolução porque todas as resoluções são restrições do futuro.

Todas as resoluções são prisões.
 
Você decide hoje em vez de amanhã?
 
Você destruiu o amanhã.

Permita que o amanhã tenha sua própria existência.
 
Deixe que ele venha à maneira dele!
 
Deixe-o trazer seus próprios presentes.

Resolução significa que você irá permitir apenas isso e que você não irá permitir aquilo.

Resolução significa que você gostaria que o sol nascesse no oeste e não no leste. Se ele nasce no leste, você não vai abrir as suas janelas, você vai manter as janelas abertas para o oeste.

O que é resolução?

Resolução é luta.
 
Resolução é ego.

Resolução é dizer: "Eu não posso viver de forma espontânea."
 
E se você não pode viver de forma espontânea, você absolutamente não vive - você só finge.

Então, deixe apenas uma resolução estar lá: eu nunca vou fazer quaisquer resoluções.

Jogue fora todas as resoluções!
 
Deixe a vida ser uma espontaneidade verdadeira.
 
A única regra de ouro é que não existem regras de ouro.


Osho, em "Walk without Feet, Fly without Wings and Think without Mind"
 
http://www.decoracaoacoracao.blog.br

 
DECISÕES PARA O ANO NOVO


O Modo Certo de Reiniciar um Ciclo da Vida
 
 
Robert Crosbie


“… A nossa vontade opera na verdade
em todas as partes da nossa vida física, embora
talvez não possamos perceber e compreender o processo.”



Todos indubitavelmente já tomaram decisões alguma vez na época do Ano Novo, e todos, sem dúvida, já falharam ao tentar cumpri-las. Deve haver alguma razão para as nossas falhas, assim como para o fato de que em certa época do ano temos uma inclinação a tomar decisões.

Estas razões estão ocultas nas profundezas do nosso próprio ser.

Talvez, sem que saibamos, nós tenhamos uma percepção natural da lei oculta ao olharmos para este período específico do ano. Os antigos celebravam o chamado “nascimento do Sol”, ou o retorno do Sol, que começa – no hemisfério norte do planeta – dia 21 de dezembro. [1] Eles sabiam que todas as forças ocultas da natureza têm uma tendência a crescer e a elevar-se a partir do retorno do Sol. Quando os raios solares ficam mais quentes e mais fortes, todas as outras forças que acompanham o Sol e que estão presentes em nós se fortalecem em nosso interior. [2] Na onda crescente de renovação psíquica e espiritual, tudo o que desejamos fazer ganha um impulso maior do que nas outras épocas do ano.

A razão para o fracasso em nossas decisões pessoais está no fato de que não entendemos nossa própria natureza. Consequentemente, não somos capazes de usar a força e a influência que há em nosso interior, do ponto de vista físico, e nos parece difícil cumprir decisões de qualquer tipo. Nosso primeiro erro é tomar decisões negativas. Nós dizemos: “não vou mais ingerir bebidas alcoólicas”, “não vou mais mentir”, “não vou mais fazer isso ou aquilo”. Mas a decisão certa a tomar é – “eu vou fazer isso ou aquilo” – indo além da situação atual.

Neste caso fazemos uma afirmação direta da vontade, enquanto na outra forma adotamos uma posição apenas negativa. Talvez tenhamos pensado, em relação aos outros ou a nós mesmos, que não fazer uma série de ações questionáveis é suficiente para ser “bons”. Nesta situação, na verdade, apenas não seremos maus. É uma posição negativa. Mas a verdadeira bondade é uma posição positiva.

Para colocar em prática nossas decisões em relação ao novo ano, devemos evocar a vontade do ser humano, porque a vontade não pode ser bloqueada por qualquer forma de obstáculo. No entanto, aqui não estamos usando a palavra “vontade” no sentido convencional. Temos a tendência a pensar que uma pessoa muito determinada na busca dos seus próprios objetivos possui “uma vontade forte” e é muito definida em seu caráter, mas este tipo de pessoa mostra apenas uma forma de vontade. Este tipo de indivíduo tem desejos muito fortes, e é guiado por eles, mas não possui Vontade.

Há muitos aspectos da Vontade. Alguns deles são difíceis de reconhecer. O próprio desejo de viver é um aspecto sutil da Vontade. Se o desejo de viver não estivesse presente, não viveríamos. Não é o corpo físico que nos mantém aqui, mas o desejo de viver. Atrás da Vontade, há sempre o Desejo. De algum modo, cada um dos órgãos e processos corporais do ser humano tomou forma através de um esforço consciente. Até o processo de digerir, o processo de assimilar, o esforço das batidas do coração e as várias qualidades e funções de todos os órgãos foram produzidos como resultado de esforços conscientes. Hoje temos órgãos que trabalham automaticamente, enquanto focamos nossa consciência, nossa percepção e atenção em outras direções. Deste modo, a nossa vontade opera na verdade em todas as partes da nossa vida física, embora talvez não possamos perceber e compreender o processo. Há também uma fase mental da vontade que deve ser cultivada através da prática: a atenção fixa, ou concentração em determinada direção, de modo a produzir certos resultados desejados.

A real e verdadeira Vontade é conhecida como Vontade Espiritual. Ela voa como a luz e corta todos os obstáculos tal como uma espada afiada. É esta Vontade, surgindo da mais elevada parte espiritual da nossa natureza, que faz com que o ser humano seja um processo de evolução. A evolução avança de dentro para fora, através de todos os tipos de substâncias, e continua a produzir instrumentos neste estado material. Todos os poderes que existem ou que podem existir – ainda que expressos precariamente – estão presentes, em potencial, no plano espiritual da natureza. Nós aproveitamos nossa natureza espiritual em uma pequena medida porque a maior parte de nós tem suas ideias tão presas à existência material que enxerga a vida como se ela fosse apenas a existência material.

Houve um tempo em que tínhamos consciência da nossa natureza espiritual. À medida que fomos descendo através dos planos da matéria até a condição de hoje, fizemos um progresso intelectual às custas da percepção espiritual. Com nosso intelecto, sempre raciocinamos desde as premissas até as conclusões, enquanto que a natureza espiritual tem o poder de conhecer diretamente a natureza de qualquer coisa que seja observada. Assim, nosso ganho intelectual ocorreu ao lado da perda da percepção espiritual, e é inútil que a teologia, a ciência e a psicologia tentem avançar desde as percepções físicas e pessoais para obter uma compreensão do que o ser humano é na realidade: segundo tais campos de conhecimento, as causas psicológicas são apenas reflexos das ideias físicas. Na realidade, para compreender a nós mesmos, devemos começar desde o ponto mais alto da nossa natureza, reconhecendo em primeiro lugar que tal ponto existe, e em seguida mantendo a força de tal reconhecimento. Começamos a ver a luz através da própria afirmação da natureza espiritual.

Tal como estamos hoje, sempre usamos nossa vontade ao longo da linha dos nossos desejos e daquilo que gostamos e não gostamos, pensando erradamente que esta é uma base adequada para o pensamento e a ação. O realmente necessário é um alicerce verdadeiro para o nosso pensamento.

Devemos eliminar a falsa ideia de que se somos criaturas fracas, que tendem ao erro e possuem todas as falhas dos nossos pais e avós, isso ocorre porque nascemos assim.

É necessário destruir a ilusão mental de um criador externo. Devemos entender o propósito da vida e compreender que somos o produto de muitas das nossas próprias vidas anteriores.

Devemos reconhecer que a evolução ocorre de acordo com a lei. A lei reúne em si verdade e compaixão, e opera por toda parte. É porque esta lei funciona em um ciclo sempre renovado que nós tomamos decisões para o Ano Novo. Podemos colocar na prática estas decisões, se compreendermos e usarmos a lei da repetição cíclica. (….)

Algumas Decisões a Tomar

Devemos, portanto, tomar uma grande decisão. Devemos decidir que buscaremos o conhecimento, e que pensaremos e agiremos corretamente.

Devemos decidir que obteremos algo daquele conhecimento que sempre existiu; o conhecimento de que o ser humano permanece sendo um ser espiritual através de todas as flutuações do reino da matéria.

À medida que confiamos cada vez mais no Eu superior, começamos a expressar e usar o poder que nós já temos; e este poder é muito maior do que imaginamos.

Podemos ajudar a nós mesmos colocando em prática as sugestões contidas nos ensinamentos teosóficos. Elas são sugestões dos Mestres. Assim, à medida que o poder estabilizador da vontade é mantido ao longo da linha em que desejamos agir, surge uma ajuda mais direta dos Irmãos Mais Velhos da nossa humanidade. A cada momento do dia e do ano, eles estão dispostos a encontrar aqueles que tiverem uma visão suficientemente clara para ver o seu verdadeiro destino, e que tiverem um coração suficientemente nobre para trabalhar pela grande órfã, a humanidade.

NOTAS:

[1] No hemisfério norte, a época do Natal marca a retomada de força por parte do Sol, após o período mais forte do inverno. No hemisfério sul, por outro lado, o período de 21 a 25 de dezembro corresponde ao momento em que a luz do sol, depois de chegar ao seu auge, passa lentamente a perder força, preparando o outono e o inverno. Há uma simetria entre os hemisférios norte e sul do planeta. Com o decréscimo cíclico da luz física, que começa na época de Natal no hemisfério Sul, a vida passa a se recolher. Este recolhimento abre espaço para a luz sutil da alma imortal – o sol interior.

[2] Além do ciclo solar, há o fator numerológico. Segundo a teosofia, os números têm poder oculto. Os primeiros dias do primeiro mês do ano possuem o dom de inaugurar tendências que abrirão caminho e durarão, potencialmente, por todo o ciclo de doze meses.
 
 
 Nota Editorial:

O artigo a seguir é traduzido do volume “The Friendly Philosopher”, de Robert Crosbie, Theosophy Company, Los Angeles, 1945, 415 pp., pp. 310-314. O texto conclui mencionando o fato de que, segundo os  Mestres de Sabedoria, a humanidade em seu conjunto é a grande órfã, já que poucos indivíduos pensam no bem dela como um todo. Muitos sofrem de grave ignorância espiritual e pensam apenas em si mesmos isoladamente. Acrescentamos duas notas explicativas. (Carlos Cardoso Aveline)

https://www.filosofiaesoterica.com

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

C  O  M  P  A  I  X  à O


Quando a mente está ativa, pode haver compaixão?
 
O que significa ser compassivo? Não apenas verbalmente, mas ser realmente compassivo? Será a compaixão uma questão de hábito, de pensamento, uma questão da repetição mecânica de ser bondoso, educado, gentil, afetuoso? A mente que está presa na atividade do pensamento com o seu condicionamento, a sua repetição mecânica, pode ser compassiva? Ela pode falar sobre o assunto, pode incentivar a reforma social, ser bondosa com os pobres pagãos, etc.; mas será isso compaixão? Quando o pensamento dá ordens, quando o pensamento está ativo, pode haver algum lugar para a compaixão? A compaixão é ação sem motivo, sem interesse pessoal, sem qualquer sentido de medo, sem qualquer sentido de prazer.

A compaixão não é sua nem minha
 
Você pode ser muito esperto nos seus estudos, no seu trabalho, ser capaz de argumentar engenhosamente, razoavelmente, mas isso não é inteligência. A inteligência acompanha o amor e a compaixão, e você não pode deparar-se com essa inteligência como indivíduo. A compaixão não é sua nem minha, tal como o pensamento não é seu nem meu. Quando há inteligência, não existe nenhum eu e tu. E a inteligência não vive no seu coração nem na sua mente. Essa inteligência que é suprema está em todo lugar. É essa inteligência que move a Terra e os céus e as estrelas, porque isso é compaixão.

Isso é compaixão?

Como pode ser compassivo se pertence a alguma religião, segue algum guru, acredita em algo, acredita nas escrituras, e por seguinte, apegado a uma conclusão? Quando aceita seu guru, você chegou a uma conclusão, ou quando acredita convictamente em deus ou num salvador, nisto ou naquilo, pode existir compaixão? Você pode trabalhar em assistência social, ajudar os pobres por piedade, por solidariedade, por caridade, mas será tudo isso amor e compaixão?

Compaixão… por todas as coisas da Terra

É totalmente e irrevogavelmente possível esvaziar todo o sofrimento e, portanto, amar, ter compaixão. Ter compaixão significa ter paixão por todas as coisas, não somente entre duas pessoas, mas por todos os seres humanos, por todas as coisas da Terra, os animais, as árvores, tudo que a Terra contém. Quando tivermos essa compaixão não espoliaremos a Terra como estamos fazendo agora, e não teremos guerras.

A compaixão atua através da inteligência

A própria natureza da inteligência é sensibilidade, e esta sensibilidade é amor. Sem esta inteligência não pode existir compaixão. Compaixão não é praticar atos caridosos ou fazer reforma social; ela está livre do sentimento, do romantismo e do entusiasmo emocional. É tão forte como a morte. É como uma grande rocha, imóvel no meio da confusão, da infelicidade e da ansiedade. Sem esta compaixão nenhuma cultura ou sociedade nova pode surgir. A compaixão e a inteligência andam de mãos dadas; não estão separadas. A compaixão atua através da inteligência, jamais pode atuar através do intelecto. A compaixão é a essência da totalidade da vida.

A paixão está livre do eu
 
A paixão é completamente diferente da luxúria, do interesse ou do entusiasmo. O interesse em alguma coisa pode ser muito profundo, e pode ser utilizado para obter proveito e poder, mas esse interesse não é paixão. O interesse pode ser estimulado por um objeto ou por uma ideia. O interesse é autocomplacência. A paixão está livre do eu. O entusiasmo é sempre acerca de algo. A paixão é uma chama por si mesma. O entusiasmo pode ser despertado por outro, por algo fora de você. A paixão é a soma da energia que não é o resultado de nenhum tipo de estímulo. A paixão está para além do eu.

Paixão sem causa

A paixão é algo que poucos de nós realmente sentiram. O que podemos ter sentido foi entusiasmo, que é ficar preso em um estado emocional acerca de qualquer coisa. A nossa paixão é por algo: pela música, pela pintura, pela literatura, pelo país, por uma mulher ou homem; é sempre o efeito de uma causa. Quando se apaixona por alguém, você fica em um grande estado de emoção, que é o efeito dessa causa particular; e do que eu estou a falar é de paixão sem causa. É ser apaixonado por tudo, não somente por algo, ao passo que a maior parte de nós é apaixonado por uma pessoa ou uma coisa específica. Penso que devemos ver claramente esta distinção.
 
No estado de paixão sem causa, há uma intensidade livre de todo o apego; mas quando a paixão tem uma causa, existe apego, e este apego é o começo do sofrimento.

Dor e paixão

Se você se mantiver sem um único movimento do pensamento, com aquilo a que chama de dor, acontece uma transformação naquilo a que chama de dor. Isso torna-se paixão. O significado original de “dor” é paixão. Quando foge dela, você perde aquela qualidade que advém da dor, que é paixão completa, e que é totalmente diferente de luxúria e desejo. Quando se tem uma compreensão da dor e se permanecer com isso completamente, sem um único movimento do pensamento, daí advém essa estranha chama de paixão. E você tem que ter paixão, caso contrário não consegue criar nada.
 
Da paixão advém a compaixão. Compaixão significa paixão por todas as coisas, por todos os seres humanos.

Compaixão significa paixão por todos
 
Qual é a relação da mente que compreendeu o sofrimento e portanto a terminação do sofrimento? Qual é a qualidade da mente que já não receia o final, que é a morte? Quando energia não é dissipada através da fuga, então essa energia transforma-se na chama da paixão. Compaixão significa paixão por todos. Compaixão é paixão por todos.
 
 

Arquivo de Citações Diárias de Krishnamurti 
http://legacy.jkrishnamurti.org
 

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

J U L G A M E N T O
 
 

Um dos exercícios mais praticados pela humanidade é o julgamento. Julgamos o outro, baseados em nosso código de valores, nossas percepções e naquilo que nossa imaginação cria a respeito de cada pessoa com a qual convivemos.

Ocorre que nem sempre esta avaliação se mostra correta e, por essa razão, ao julgar corremos o risco de cometer equívocos e praticar injustiças.
O pior que pode acontecer quando julgamos alguém é, sem dúvida, não levar em conta os sentimentos daquele que estamos criticando.

Por mais que não concordemos com as atitudes de uma pessoa, não podemos nos esquecer de que elas são motivadas, de um modo geral, pelas suas emoções e que agindo de modo rígido e inflexível também estamos nos deixando levar por nosso lado emocional.

Saber reconhecer quando estamos sendo influenciados por nossos conflitos internos no momento em que avaliamos as ações alheias, é o primeiro passo para que possamos abandonar a postura de juízes implacáveis e nos colocar no lugar de quem estamos julgando.

O sistema judiciário se baseia em leis pré-concebidas com o objetivo de garantir a convivência civilizada entre os seres humanos. Mas, fora desta esfera, nas atitudes cotidianas, nos arvoramos muitas vezes no papel de juízes implacáveis daqueles que não se enquadram em nossos hábitos e costumes.

Humildade, sabedoria e a capacidade de aceitar as diferenças de modo tolerante, constituem os melhores instrumentos para que escapemos da armadilha do julgamento.

“… Quando você diz que você se julga, isso é algo tomado emprestado. As pessoas julgaram-no, e você deve ter aceitado as idéias delas sem nenhuma investigação. Você está sofrendo de todas as espécies de julgamento das pessoas, e você está jogando esses julgamentos nas outras pessoas. E todo esse jogo desenvolveu-se além da proporção – a humanidade inteira está sofrendo disso.

Se você quiser livra-se disso, a primeira coisa é esta: não se julgue. Aceite humildemente sua imperfeição, seus fracassos, seus erros, suas faltas. Não há nenhuma necessidade de fingir outra coisa. Seja você mesmo: “É assim mesmo que eu sou, cheio de medo. Eu não posso andar na noite escura, não posso ir lá na densa floresta.”. O que há de errado nisso? – é humano.

Uma vez que você se aceite, você será capaz de aceitar os outros, porque você terá um clara visão interior de que eles estão sofrendo da mesma doença. E a sua aceitação deles, os ajudará a aceitarem-se.

Nós podemos reverter todo o processo: aceite-se. Isso o torna capaz de aceitar os outros. E porque alguém os aceita, eles aprendem a beleza da aceitação pela primeira vez – quanta tranqüilidade se sente! – e eles começam a aceitar os outros.

Se a humanidade inteira chegar ao ponto onde todo mundo é aceito como é, quase noventa por cento da infelicidade simplesmente desaparecerá – ela não tem fundamentos – e os seus corações se abrirão por conta própria e o seu amor estará fluindo.

Neste exato momento, como você pode amar? Quando você vê tantos erros, tantas fraquezas… – como você pode amar? Você quer alguém perfeito. Ninguém é perfeito, assim, você tem de aceitar um estado de não-amor, ou aceitar que não importa se alguém não é perfeito. O amor pode ser compartilhado, compartilhado com todas as espécies de pessoas. Não faça exigências.

O julgamento é feio – ele fere as pessoas. Por um lado, você vai machucando, ferindo-as; e por outro lado, você quer o amor delas, seu respeito. Isso é impossível.

Ame-as, aceite-as e, talvez, seu amor e respeito possa ajudá-las a mudar muitas de suas fraquezas, muitas de suas falhas – porque o amor lhes dará uma nova energia, um novo significado, uma nova força. O amor lhes dará novas raízes para se erguerem contra os ventos fortes, um sol quente, a chuva forte.

Se apenas uma única pessoa o ama, isso o faz tão forte, que você nem pode imaginar. Mas, se ninguém o ama neste vasto mundo, você fica simplesmente isolado; então, você pensa que é livre, mas você está vivendo numa cela isolada em uma cadeia. É que a cela isolada é invisível; você a carrega consigo.

O coração abrirá por si mesmo. Não se preocupe com o coração. Faça o trabalho preparatório.

 
OSHO, The Transmission of the Lamp.
https://ciclofemini.com.br
 
 
Apenas simples consciência!
 
Consciência de seus julgamentos, seus preconceitos, seus gostos e desgostos. Quando você vê alguma coisa, esse ver é o resultado de sua comparação, condenação, julgamento, avaliação, não é? Quando lê alguma coisa você está julgando, está criticando, condenando ou aprovando. 
 
Estar consciente é ver, no exato momento, a totalidade deste processo de julgar, avaliar, as conclusões, o conformismo, as aceitações, as negações. Agora, pode a pessoa estar consciente sem tudo isso? Presentemente tudo que conhecemos é um processo de avaliação, e essa avaliação é o resultado de nosso condicionamento, de nosso substrato, de nossas influências religiosas, morais, educacionais. 
 
Essa chamada consciência é resultado de nossa memória – memória como o “eu”, o holandês, o hindu, o budista, o católico, ou o que seja. É o “eu” – minhas memórias, minha família, minha propriedade, minhas qualidades – que está olhando, julgando, avaliando. Com isso estamos bastante familiarizados, se estamos de fato alertas. Agora, pode haver consciência sem tudo isso, sem o ego? É possível apenas olhar sem condenação, apenas observar o movimento da mente, da própria mente da pessoa, sem julgar, sem avaliar, sem dizer “Isto é bom” ou “Isto é mau”? 
 
A consciência que vem do ego, que é a consciência da avaliação e do julgamento, sempre cria dualidade, o conflito dos opostos – aquilo que é e aquilo que devia ser. Nessa consciência existe julgamento, existe medo, existe avaliação, condenação, identificação. Essa é a consciência do ego, do “eu” com todas as suas tradições, memórias e todo o resto. Tal consciência sempre cria conflito entre o observador e o observado, entre o que eu sou e o que eu devia ser. Agora, é possível estar cônscio sem este processo de condenação, julgamento, avaliação? É possível olhar para mim mesmo, quaisquer que sejam meus pensamentos, e não condenar, não julgar, não avaliar? 
 
Não sei se você alguma vez já tentou isto. É bastante trabalhoso – porque todo nosso treinamento desde a infância nos leva a condenar e aprovar. E no processo de condenação e aprovação há frustração, há medo, há dor corrosiva, angústia, que é o próprio processo do “eu”, do ego.
 
Krishnamurti
http://legacy.jkrishnamurti.org