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sexta-feira, 30 de junho de 2017

UMA SAÍDA PARA 
UM BECO SEM SAÍDA
 Segunda Parte


Dói saber que seu valor não é muito, que não sentirão a sua falta, que um dia você vai desaparecer e, logo depois, aquelas pessoas que ainda se lembram de você irão também desaparecer. E então, será como se você nunca tivesse estado ali. Simplesmente pense em tal dia. Você vai desaparecer... Sim, por um certo tempo as pessoas irão se lembrar, o seu namorado irá se lembrar de você, seus filhos irão se lembrar, talvez uns poucos amigos também. Mas, pouco a pouco, a memória que eles têm de você vai perder as cores, vai se enfraquecer e começará a desaparecer. Talvez, enquanto estiverem vivas, aquelas pessoas com as quais você teve um certo tipo de intimidade, irão lembrar-se de você, de vez em quando. Mas uma vez que elas também tenham ido, você simplesmente desaparecerá, como se nunca tivesse existido. Então não haverá qualquer diferença se você esteve aqui ou não.

A vida não lhe dá um único respeito. Isto é muito humilhante. Isto leva você para um buraco onde você nada mais é que um dente na engrenagem, um dente no vasto mecanismo. Isto faz de você um anônimo.

A morte pelo menos é única. E o suicídio é ainda mais único que a morte. Por quê? Porque a morte acontece a você e o suicídio é algo que você faz. A morte está além de você, quando ela chega, simplesmente chega. Mas o suicídio você pode dirigir, você não é uma vítima. Com a morte você será uma vítima, com o suicídio você estará no controle. O nascimento já aconteceu. Você nada pode fazer quanto a isto, e você não fez coisa alguma para nascer. O nascimento foi um acidente.

Existem três coisas na vida que são vitais: nascimento, amor e morte. O nascimento já aconteceu; não há nada mais para se fazer a respeito. Você não foi sequer consultado se queria nascer ou não. Você é uma vítima. O amor também acontece; você nada pode fazer a respeito, você está desamparado. Um dia você se apaixona por alguém e nada consegue fazer quanto a isto. Se você quiser se apaixonar por alguém, não há como controlar isso, é impossível. E se você se apaixonar por alguém e não quiser que essa paixão aconteça, será muito difícil sair de tal situação. O nascimento é um acontecimento, e assim também é o amor. Agora resta apenas a morte a respeito da qual algo pode ser feito: você pode ser uma vítima ou pode decidi-la por si mesmo.

Um suicida é alguém que decide e diz, ‘Deixe-me pelo menos fazer uma coisa nesta existência onde eu sou quase que acidental: eu vou cometer suicídio. Existe pelo menos uma coisa que eu posso fazer.’ O nascimento é impossível fazer; o amor não pode ser criado, se ele já não estiver ali; mas a morte tem uma alternativa. Ou você pode ser uma vítima ou pode ser quem decide.

Esta sociedade tirou-lhe toda a dignidade. É por isto que as pessoas cometem suicídio. O suicídio lhes dá uma certa dignidade. Eles podem dizer a Deus, ‘Eu renunciei ao seu mundo e à sua vida. Eles não tinham valor.’ As pessoas que cometem suicídio são quase sempre mais sensíveis que as outras que continuam vivendo e se arrastando. Mas eu não estou lhe dizendo para cometer suicídio. Eu estou lhe dizendo que existe uma outra possibilidade muito mais elevada. Cada momento da vida pode ser muito lindo, individual, sem imitação e sem repetição. Cada momento pode ser muito precioso! Então não há necessidade alguma de cometer suicídio. Cada momento pode trazer tantas bênçãos e pode defini-lo como único – porque você é único. Nunca existiu alguém como você antes, e nunca existirá depois.

Mas a sociedade o obriga a ser parte de um grande exército. A sociedade não gosta de uma pessoa que segue o seu próprio caminho. A sociedade quer que você seja parte da multidão: seja um hindu, seja um cristão, seja um judeu, seja um americano, seja um indiano – mas seja parte de uma multidão; não importa qual multidão, mas seja parte de uma multidão. Nunca seja você mesmo. E aqueles que querem ser eles mesmos, o sal da terra, estas são as pessoas de maior valor nesta terra. A terra tem um pouco de dignidade e fragrância devido a estas pessoas. Mas elas cometem suicídio.

O sannyas e o suicídio são alternativas. Esta é a minha experiência: você pode se tornar um sannyasin somente quando chegar a um ponto em que, se não for o sannyas, então só lhe resta o suicídio. O sannyas significa, ‘Eu tentarei tornar-me um indivíduo enquanto estou vivo. Eu viverei a minha vida do meu próprio jeito. Eu não serei dominado, não aceitarei que me ditem o que fazer. Eu não funcionarei como um mecanismo, como um robô. Eu não terei ideais nem metas. Eu viverei cada momento, na excitação de cada momento. Eu serei espontâneo e arriscarei tudo por isto.’

O sannyas é um risco.

Jane, eu gostaria de lhe dizer: eu olhei em seus olhos; a possibilidade de suicídio está aí também. Mas não pense que você terá que cometer suicídio – o sannyas cuidará disso. Você é muito mais afortunada que as quatro pessoas de sua família que cometeram suicídio. Na verdade, qualquer pessoa inteligente tem a capacidade de cometer suicídio, somente os idiotas nunca cometem. Você já ouviu falar de algum idiota que cometeu suicídio? Ele não se preocupa com a vida, por que cometer suicídio? Somente uma inteligência rara começa a sentir a necessidade de fazer alguma coisa, porque a vida como está sendo vivida não vale a pena. Assim, ou faça alguma coisa ou mude a sua vida, dê a ela uma nova forma, uma nova direção, uma nova dimensão. Por que continuar carregando esse fardo de pesadelos, dia após dia, ano após ano? E isso vai continuar... A ciência médica está ajudando as pessoas a continuarem por mais tempo ainda – cem anos, cento e vinte anos. E agora essas pessoas estão dizendo que o homem pode viver facilmente até perto dos trezentos anos. Simplesmente imagine se as pessoas tiverem que viver por trezentos anos: a taxa de suicídio irá subir muito, porque mesmo as mentes medíocres começarão a refletir sobre a falta de sentido da vida.

Inteligência significa ver as coisas em profundidade. A sua vida tem algum sentido? Ela tem alguma alegria? Há alguma poesia nela? Há alguma criatividade? Você se sente agradecido por estar aqui? Você se sente agradecido por ter nascido? Você pode agradecer ao seu Deus? Você pode dizer com todo o seu coração que esta vida é uma bênção? Se você não pode, então por que continuar vivendo? Faça de sua vida uma bênção ou desapareça. Por que continuar carregando seu peso nesta terra? Algum outro pode ocupar o seu espaço e fazer as coisas de um jeito melhor. Este é o pensamento que vem naturalmente a uma mente inteligente. É uma idéia muito natural quando você é inteligente. Pessoas inteligentes cometem suicídio. E entre as pessoas inteligentes, aqueles que são os mais inteligentes tomam sannyas. Eles começam a criar um sentido, uma significância, eles começam a viver. Por que perder esta oportunidade? (...)


OSHO – The Heart Sutra
Tradução: Sw. Bodhi Champak
 

Fonte: http://oshobrasil.com.br
UMA SAÍDA PARA 
UM BECO SEM SAÍDA

 Primeira Parte

Pergunta: "Querido Osho, Eu venho de uma família na qual ocorreram quatro suicídios no lado materno, incluindo minha avó. Como isto afeta a morte de uma pessoa? O que pode ajudar a superar essa perversão da morte que é um tema presente na família? "

O fenômeno da morte é um dos mais misteriosos e assim também é o fenômeno do suicídio. Não defina o suicídio a partir da sua superfície. Ele pode significar muitas coisas. A minha compreensão é que as pessoas que cometem suicídio são as mais sensíveis no mundo, elas são muito inteligentes. Por causa de sua sensibilidade e de sua inteligência, elas têm dificuldade para conviver com este mundo neurótico.
 
A sociedade é neurótica. Ela existe sobre bases neuróticas. Toda a sua história é uma história de loucuras, de violência, guerras e destruições. Alguém diz, ‘Meu país é o maior do mundo’. Isto é uma neurose. Um outro diz, ‘Minha religião é a maior e a mais evoluída do mundo’. Esta é outra neurose. E estas neuroses já entranharam no sangue e nos ossos e as pessoas tornaram-se muito embotadas e insensíveis. Elas tiveram que se tornar assim, caso contrário a vida ficaria impossível.
 
Você tem que se tornar insensível para conviver com essa vida dura ao seu redor. Senão, você ficará fora de sintonia. Se você não estiver em sintonia com a sociedade, ela declara que você está louco. A sociedade é louca, mas se você não estiver ajustado a ela, você é declarado louco. Assim, ou você se torna louco ou tem que encontrar um jeito de sair da sociedade. O suicídio é isto: a vida se torna intolerável. Parece ser impossível conviver com tantas pessoas ao seu redor, sendo todas elas insanas. (...)
 
Neste mundo neurótico, se você for sadio, sensível e inteligente, ou ficará louco ou cometerá suicídio – ou você terá que se tornar um sannyasin. Que outra possibilidade existe?
 
Quem formulou esta pergunta foi a Jane Ferber. Ela é esposa do Bodhicitta. Ela veio a mim na hora certa. Ela pode tornar-se uma sannyasin e evitar o suicídio.
No Oriente não acontecem tantos suicídios, porque o sannyas é uma alternativa. Você pode abandonar tudo com muito respeito. O Oriente aceita isto. Você pode começar a fazer as suas próprias coisas, o Oriente tem respeito por isto. É de cinco vezes a diferença entre a Índia e os Estados Unidos, para cada indiano que comete suicídio, cinco americanos fazem o mesmo. E o fenômeno do suicídio está crescendo nos Estados Unidos. A inteligência está crescendo, a sensibilidade está crescendo, enquanto a sociedade está ficando mais embotada. E a sociedade não provê um mundo inteligente. Então, o que fazer? Continuar sofrendo desnecessariamente?

Daí, a pessoa começa a pensar, ‘Por que não abandonar tudo isto? Por que não acabar com tudo? Por que não devolver o bilhete de entrada para Deus?’ Se o sannyas tornar-se um grande movimento nos Estados Unidos, a taxa de suicídio vai começar a cair porque as pessoas terão uma alternativa muito melhor e mais criativa do que abandonar tudo. Você já observou que os hippies não cometem suicídio? É no mundo quadrado, no mundo convencional, que o suicídio predomina. O hippie abandonou tudo. Ele é um tipo de sannyasin, ainda não totalmente alerta quanto ao que está fazendo, mas está no rumo certo; movimentando-se, tateando no escuro, mas indo na direção certa. O hippie é o começo do sannyas. Ele diz, ‘Eu não quero fazer parte desse jogo podre, eu não quero fazer parte desse jogo político. Eu vejo como as coisas são, mas gostaria de viver a minha própria vida. Eu não quero tornar-me escravo de alguém. Eu não quero morrer numa guerra. Eu não quero combater, pois existem coisas muito mais bonitas para serem feitas.’

Mas para milhões, nada existe. A sociedade tirou todas as suas possibilidades de crescimento. Eles estão amarrados. As pessoas cometem suicídio porque elas estão se sentindo amarradas e não veem algum jeito de sair dessa situação. Elas chegaram a um beco sem saída. E quanto mais inteligente você for, mais cedo você chegará a esse beco sem saída, a esse impasse. Então, o que se espera que você faça? A sociedade não lhe dá alternativa alguma nem permite uma sociedade alternativa.
 
O sannyas é uma sociedade alternativa. Parece estranho que na Índia a taxa de suicídio seja a mais baixa do mundo. Logicamente deveria ser a mais alta, porque as pessoas estão sofrendo, são miseráveis, estão famintas. Mas este estranho fenômeno acontece em todo lugar: o povo pobre não comete suicídio. Eles não têm um motivo para viver, nem para morrer. Uma vez que eles estão famintos, a sua ocupação é com comida, abrigo, dinheiro, coisas assim. Eles não podem se dar o luxo de pensar em suicídio; eles não têm ainda essa abundância. Os Estados Unidos têm tudo enquanto a Índia nada tem.
 
Há poucos dias, eu estava lendo um texto que dizia, ‘Os americanos têm um risonho Jimmy Carter, Johnny Cash e o Bob Hope, enquanto os indianos têm um seco, insensível e morto Morarji Desai, nenhum dinheiro (cash) e muito pouca esperança (hope).’
 
Mas, ainda assim, as pessoas não cometem suicídio. Elas continuam vivendo e curtindo a vida. Mesmo os mendigos estão vibrantes e excitados. Não há motivo algum para excitação, mas eles têm esperança.
 
Por que o suicídio acontece tanto nos Estados Unidos? Os problemas comuns da vida desapareceram, a mente está livre para elevar-se além da consciência comum. A mente pode elevar-se além do corpo, além dela mesma. A consciência está pronta para abrir suas asas, mas a sociedade não o permite. Em cada dez suicídios, nove são de pessoas sensíveis. Vendo a falta de sentido na vida, a indignidade que a vida impõe, os compromissos que têm que assumir em troca de nada, vendo toda a melancolia, olhando ao redor e vendo essa ‘história contada por um idiota, sem qualquer significado’, eles decidem livrar-se do corpo. Se eles pudessem ter asas no corpo, eles não teriam tomado tal decisão.
 
O suicídio tem também um outro significado, e isto tem que ser entendido. Na vida tudo parece ser comum, simples imitação. Você não pode ter um carro que os outros não têm. Milhões de pessoas têm o mesmo carro que você tem. Milhões de pessoas estão vivendo a mesma vida que você, vendo o mesmo filme, o mesmo programa de TV, lendo o mesmo jornal. A vida é tão comum, nada de único é deixado para você fazer, para você ser. O suicídio parece ser um fenômeno único: somente você pode morrer por si mesmo; ninguém mais pode morrer por você. A sua morte será a sua morte, não será a morte de ninguém mais. A morte é única.
 
Veja este fenômeno: a morte é única. Ela o define como indivíduo, ela lhe dá individualidade. A sociedade tirou a sua individualidade; você é apenas um dente na engrenagem, substituível. Se você morrer, ninguém irá sentir sua falta, você será substituído. Se você é um professor universitário, um outro professor universitário irá substituí-lo. Mesmo se você for o Presidente da República, no momento em que não for mais, um outro se tornará Presidente, imediatamente. Você é substituível.

 
 
OSHO – The Heart Sutra
Tradução: Sw. Bodhi Champak
 
 
Fonte: http://oshobrasil.com.br 
 

quinta-feira, 29 de junho de 2017

APRENDA A SER PACIENTE


Última Parte

Para se movimentar no mundo interior você terá que fracassar muitas vezes porque você nunca se movimentou ali antes. Toda a sua habilidade e eficiência tem sido nos movimentos externos, na extroversão. Você não sabe como se movimentar internamente. As pessoas escutam as palavras 'movimente-se internamente, vá para dentro', mas isso não faz muito sentido para elas. Tudo o que elas sabem é como ir para fora, é como ir para o outro. Elas não conhecem qualquer caminho de volta para si mesmas. Por causa dos seus velhos hábitos, é muito provável que você fracasse muitas vezes. Não perca as esperanças. A maturidade chega vagarosamente. É certo que ela chega, mas isto leva um tempo. E lembre-se: para cada pessoa ela chegará num ritmo diferente, por isso não compare, não comece a pensar: 'alguém está se tornando tão silencioso, e tão feliz, e eu ainda não alcancei isto. O que está acontecendo comigo?' Não se compare com quem quer que seja, porque cada um viveu de uma maneira diferente em suas vidas passadas. Mesmo nesta vida, as pessoas têm vivido diferentemente. Por exemplo, um poeta pode ter mais facilidade em ir para dentro que um cientista; seus treinamentos são diferentes. Todo o treinamento científico é para ser objetivo, para se preocupar com o objeto, para observar o objeto, para esquecer a subjetividade. Para ser um cientista é preciso colocar-se completamente ausente do seu experimento. Ele não pode estar envolvido no experimento, não pode haver qualquer envolvimento emocional. É preciso estar completamente desapegado, como um computador. Ele não deve ser um humano, de jeito algum. Só assim ele será um verdadeiro cientista e será bem sucedido na ciência.
 
Um poeta tem uma habilidade totalmente diferente, ele fica envolvido. Quando ele observa uma flor, ele começa a dançar ao redor dela. Ele participa, ele não é um observador desapegado. Um dançarino pode vivenciar isto ainda com mais facilidade porque ele e a sua dança são apenas um e a dança é tão interna que o dançarino pode movimentar-se em seu espaço interior mais facilmente. Então, nas velhas e misteriosas escolas de mistérios do mundo, a dança era um dos métodos secretos. A dança era o fenômeno mais religioso, mas ela perdeu o seu significado tão completamente que ela quase caiu na polaridade oposta. Ela tornou-se um fenômeno sexual; a dança perdeu a sua dimensão espiritual. Mas lembre-se, tudo o que é espiritual, se fracassar, pode se tornar sexual; e tudo o que é sexual, se elevar-se, pode se tornar espiritual. Espiritualidade e sexualidade são irmãs gêmeas. Um músico pode ter mais facilidade que um matemático para entrar na meditação. Vocês têm habilidades diferentes, mentes diferentes e condicionamentos diferentes.
 
Por exemplo, um cristão pode ter mais dificuldade para meditar que um budista, porque com vinte e cinco séculos de meditação constante, o budismo criou uma certa qualidade em seus seguidores. Assim, quando um budista vem a mim, ele pode entrar em meditação muito facilmente. Quando um cristão vem, a meditação lhe é muito estranha, porque o cristianismo esqueceu-se completamente da meditação; ele só conhece prece.
 
A prece é um fenômeno totalmente diferente. Na prece, é necessário o outro; ela nunca pode ser independente. A prece é mais como o amor: ela é um diálogo. A meditação não é um diálogo; ela não é como o amor; ela é exatamente o oposto ao amor. Na meditação você fica totalmente só, nenhum lugar para ir, ninguém com quem se relacionar, nenhum diálogo, porque o outro não existe.Você é simplesmente você mesmo, totalmente você. Esta é uma abordagem completamente diferente.
 
Assim, tudo depende de suas habilidades, de sua mente, de seu condicionamento, de sua educação, da religião na qual você foi criado, dos livros que tem lido, das pessoas com as quais tem vivido, da vibração que criou dentro de si mesmo. Tudo dependerá de mil e uma coisas, mas é certo que ela chegará. Tudo que se precisa é paciência, trabalho silencioso, trabalho paciente e o centramento acontece e a maturidade chega. Na verdade, a pessoa madura e a pessoa centrada são apenas dois aspectos de um mesmo fenômeno. É por isto que a criança não consegue estar centrada, elas estão constantemente se movimentando, elas não conseguem ficar em um ponto, fixas. Tudo as atrai - um carro que passa, um pássaro que canta, o riso de alguém, o rádio do vizinho, uma borboleta voando - tudo, o mundo inteiro lhe atrai. Elas simplesmente pulam de uma coisa para outra. Elas não conseguem estar centradas, elas não conseguem viver com uma coisa tão totalmente que tudo o mais desapareça e se torne não existencial.
 
Com a maturidade, o centramento surge. Maturidade e centramento são dois nomes para uma mesma coisa. Mas a primeira coisa a ser lembrada é que ela chega gradualmente. Não compare e não tenha pressa.


OSHO - The Secret of Secrets vol. II - Cap. 1 
Tradução: Sw. Bodhi Champak

Fonte: http://www.oshobrasil.com.br 

APRENDA A SER PACIENTE


"Aprenda a ser paciente, assim o seu trabalho gradualmente se tornará concentrado e maduro".
                                            

O caminho do Tao não é o da iluminação repentina. Ele não é como o Zen. Zen é iluminação repentina, Tao é crescimento gradual. O Tao não acredita em mudanças repentinas e abruptas. O Tao acredita em respeitar o ritmo da existência, permitindo que as coisas aconteçam por elas mesmas, sem forçar o seu caminho, sem forçar o curso do rio. O Tao diz: não há necessidade de estar com pressa porque a eternidade está disponível para você. Plante as sementes no tempo certo e espere; a primavera virá; ela sempre vem. E quando a primavera vier, as flores aparecerão. Mas espere, não tenha pressa.
 
Não comece a puxar a árvore para cima, para que ela possa crescer mais rápido. Não tenha esse tipo de mente que pede para que tudo seja como café instantâneo. Aprenda a esperar, porque a natureza tem um movimento muito vagaroso. É devido a esse movimento vagaroso que existe graça na natureza. A natureza é muito feminina, ela se movimenta como uma mulher. Ela não corre nem fica apressada. Ela vai muito devagar, uma música silenciosa. Existe grande paciência na natureza e o Tao acredita no caminho da natureza. 'Tao' significa exatamente natureza. Assim o Tao nunca está com pressa; isto tem que ser entendido.
 
O ensinamento fundamental do Tao é: aprenda a ser paciente. Se você puder esperar infinitamente, a iluminação pode  acontecer instantaneamente. Mas você não deve pedir para que ela aconteça instantaneamente: se você pedir, pode ser que nunca aconteça. O seu próprio pedido se tornará um obstáculo. O seu próprio desejo criará uma distância entre você e a natureza. Permaneça em sintonia com a natureza, deixe que a natureza tenha o seu próprio curso; e sempre que ela vem, ela é boa; sempre que ela vem, ela é rápida. Mesmo que ela demore séculos para chegar, ainda assim ela não está atrasada; ela nunca está atrasada. Ela sempre chega no momento certo.
 
O Tao acredita que tudo acontece quando é necessário; quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece. Quando o discípulo está finalmente pronto, Deus aparece. O seu valor, o seu vazio, a sua receptividade, a sua passividade tornam isto possível; não a sua pressa, não a sua correria, não a sua atitude agressiva. Lembre-se: a verdade não pode ser conquistada. É preciso entregar-se à verdade, é preciso ser conquistado pela verdade.
 
Mas toda a nossa educação, em todos os países, ao longo dos séculos tem sido de agressividade e de ambição. Nós tornamos as pessoas muito rápidas. Nós as tornamos muito medrosas. Nós lhe dizemos: 'tempo é dinheiro e é muito precioso. Se o tempo for perdido uma vez, ele ficará perdido para sempre, por isso corra; tenha pressa.'
 
Isto tem levado as pessoas à loucura. Elas correm de um ponto a outro; elas nunca curtem lugar algum. Elas correm ao redor do mundo de um hotel intercontinental a outro hotel intercontinental. E eles são todos iguais, não há diferença, esteja você em Tóquio, em Mumbai, em Nova York ou em Paris. Esses hotéis intercontinental são todos iguais, e as pessoas continuam correndo de um para o outro, pensando que elas estão viajando através do mundo. Elas poderiam ter se hospedado em apenas um hotel intercontinental e não haveria necessidade de ir a nenhum outro mais. Todos eles são iguais. E elas pensam que estão indo a algum outro lugar. A rapidez está tornando as pessoas neuróticas.  
 
 
O Tao é o caminho da natureza, do jeito que as árvores crescem e os rios correm e os pássaros e as crianças... exatamente do mesmo jeito crescemos para Deus.
 
Não tenha pressa e não se desespere. Se você fracassar hoje, não perca as esperanças. Se você fracassar hoje, isto é natural. Se você continuar fracassando por alguns dias, isto é natural.
 
As pessoas têm tanto medo de fracassar que, devido a este medo, elas nunca arriscam fazer tentativas. Existem muitas pessoas que nunca se apaixonaram porque elas têm medo. Quem sabe? Elas podem ser rejeitadas, por isso elas decidiram permanecer sem amar, assim ninguém jamais as rejeitará. As pessoas têm tanto medo de fracassar que elas nunca tentam qualquer coisa nova. Quem sabe? Se elas fracassarem, o que poderá ocorrer?



 
OSHO - The Secret of Secrets vol. II - Cap. 1
Tradução: Sw. Bodhi Champak
Fonte: www.oshobrasil.com.br
 
 
       
NÃO FAÇA DA VIDA 
UM LENTO SUICÍDIO


 
Pare de cumprir as expectativas dos outros, porque essa é a maneira de você cometer suicídio. Você não está aqui para satisfazer as expectativas de ninguém e ninguém está aqui para satisfazer suas expectativas. Nunca torne-se uma vítima das expectativas dos outros e não faça qualquer um vítima das suas expectativas.

Isto é o que eu chamo de individualidade. Respeite sua própria individualidade e respeite a individualidade dos outros. Nunca interfira na vida de ninguém e não permita que ninguém interfira na sua vida. Só então um dia você vai crescer em espiritualidade.

Caso contrário, noventa e nove por cento das pessoas simplesmente cometem suicídio. Toda a sua vida nada mais é que um suicídio lento. Cumprindo essa expectativa, aquela expectativa... um dia era o pai, outro dia era a mãe, um dia era a esposa, marido, em seguida vêm as crianças – elas também tem expectativas. Então a sociedade, o padre, o político. Todo mundo tem expectativas. E pobre de você, apenas um pobre ser humano – e o mundo inteiro esperando por você para fazer isso e aquilo. E você não pode satisfazer todas as expectativas, porque elas são contraditórias.

Você tem tentado loucamente cumprir as expectativas de todos e você não satisfez ninguém. Ninguém está feliz. Você está perdido e ninguém está feliz. As pessoas que não estão felizes com elas mesmas, não podem ser felizes. Tudo o que você fizer, elas vão encontrar maneiras de estar infeliz com você, porque elas não podem ser felizes.

A felicidade surge quando você se sente útil, quando sente que sua vida tem sentido, que tem uma razão de ser, quando sente que sem você as coisas seriam diferentes.
 
A felicidade é uma arte que tem que ser aprendida. Não tem nada a ver com o seu fazer ou não fazer. Em vez de agradar, aprenda a arte da felicidade. 
 
 
 
Osho
Fonte: blogdoosho
 
 
 
Hans Hofman disse muito sabiamente que 'a habilidade de simplificar significa eliminar o desnecessário para que o necessário possa se manifestar'. Complicamos bastante a nossa vida ao utilizar ferramentas desnecessárias para resolvê-la. A vida já está pronta. "A vida em si é neutra. Nós a fazemos bela, nós a fazemos feia; a vida é a energia que trazemos a ela. Não fique bravo com a vida. Não é a vida que está frustrando você, é você que não está escutando a vida". (Osho)

quarta-feira, 28 de junho de 2017

TODA A EXISTÊNCIA É AMOR



Assim, por que ser um mendigo? Você não é mais uma criança. Você está se comportando dentro de um padrão infantil.

Comece a amar. Quanto mais você amar, mais você verá que mais pessoas estão vindo até você para amá-lo, porque o amor atrai amor assim como o ódio atrai ódio.

Se você odiar, as pessoas o odiarão. Se você amar, as pessoas o amarão. Mas não se incomode se os outros o estão amando ou não. Simplesmente ame.   
 
Amar é uma atividade tão prazerosa – quem se importa se há algum retorno ou não? É como cantar. Você canta e se deleita. Se alguém aplaude, ótimo. Se ninguém aplaude, é uma questão deles. Você se deleita da mesma forma.

Comece a amar. E não peça amor. O amor será uma consequência natural; pode-se esquecer a respeito disso. E não pense em termos de primeiro ser merecedor. Ninguém o é. Se o amor tiver que ser merecido, ninguém será merecedor.
 
Ele é uma graça. É um presente. Ele vem porque toda a existência está cheia de amor. Não é porque você tem capacidade, não é porque você tem algum valor que ele vem para você. Não, ele vem para você porque toda a existência é cheia de amor.

A existência é feita da matéria chamada amor. É exatamente como o ar que o circunda. Você simplesmente inspira e expira e a coisa continua. Assim, esqueça sobre merecimento. Comece a amar, e você verá o amor chegando, florescendo. Ele vem mil vezes mais.
 
Simplesmente compartilhe e continue a meditar.


 
Osho, em The Passion for the Impossible
Fonte: ventosdepaz
 
CONVERSAS FÚTEIS



Nós, em geral, gostamos de conversas fúteis; e as conversas fúteis são extraordinariamente estimulantes, quer se trate de Mestres e devas, quer se trate de nossos vizinhos... Quanto mais embotados estamos, tanto mais adoramos uma conversa fútil. Quando estamos enfadados da tagarelice social, desejamos tagarelar a respeito de algo superior. Estamos interessados, não no problema da desigualdade, mas sim, nas guloseimas servidas nas conversas sobre estranhas entidades que não vemos, que nos proporcionam um meio de fugirmos à nossa superficialidade. Afinal de contas, os Mestres e os devas são nossa própria projeção;quando os seguimos, estamos seguindo nossas próprias projeções. Se eles nos disserem: “Abandonai o vosso nacionalismo, vossas sociedades, não sejais gananciosos, não sejais cruel”, trataríamos imediatamente de substituí-los por outros que nos dessem satisfação. Vós desejais que eu vos ajude a entrar em contato com os Mestres. A dizer a verdade, não tenho nenhum interesse pelos Mestres. Fala-se muito a respeito deles, e isso se tornou um meio engenhoso de explorar os outros. Criamos uma confusão no mundo, e queremos, agora, que um irmão mais velho venha ajudar-nos a sair dela. Há muita mistificação nisso. A divisão entre Mestre e discípulo, a ascensão da escada hierárquica do sucesso – isto é verdadeiramente espiritual? Toda essa ideia de transformação hierárquica, de luta para nos tornarmos o que chamamos espiritual, para alcançarmos a libertação – é espiritual isso? Quando nossos corações estão vazios, enchemo-los com imagens de Mestres, o que significa que não existe amor. Quando amamos alguém, não temos o sentimento de igualdade ou desigualdade. Por que vos ocupai tanto com a questão dos Mestres? Os Mestres são importantes para vós, por causa da vossa noção de autoridade, e vós atribuis autoridade ao que não tem autoridade alguma. Dais autoridade, porque vos grada; isso é auto-lisonja.
 
O problema da desigualdade é mais fundamental do que o desejo de entrar em contato com os Mestres. Há desigualdade de capacidade, de pensamento, de ação – desigualdade entre gênio e o néscio, entre o homem livre e o que está preso a uma rotina. Já se tem tentado quebrar essa desigualdade, com revoluções de todas espécie, no processo das quais outras desigualdades foram criadas. O problema é como transcender a noção da desigualdade, do inferior e do superior. Isso é espiritualidade verdadeira – e não a busca de Mestres, que implica a manutenção da noção de desigualdade. O problema não é de como implantar a igualdade, visto que a igualdade é uma impossibilidade. Vós sois inteiramente diferente de outro. Sois mais perspicaz, muito mais esperto do que outro; tendes uma canção no vosso coração, o outro tem o coração vazio, e para ele uma folha morta é uma folha morta, que se lança ao fogo. Algumas pessoas são dotadas de capacidade extraordinária, são ágeis e eficientes. Outros são tardos, obtusos, desatentos. É um nunca acabar de diferenças físicas e patológicas, e não podemos anulá-las – isso é uma impossibilidade. O mais que podemos fazer é proporcionar uma oportunidade aos de pouca inteligência, em vez de dar-lhes pontapés, e explorá-los.
 
O problema, pois, não é de como entrar em contato com Mestres e devas, e, sim, de como transcender a noção de desigualdade; a busca de contato com Mestres é ocupação de indivíduos extremamente obtusos. Quando conheceis a vós mesmo, conheceis o Mestre. Um Mestre verdadeiro não pode ajudar-vos, porque vós mesmos tendes de compreender-vos. Vivemos em busca de Mestres falsificados; buscamos conforto, segurança, e projetamos a espécie de Mestre que desejamos, esperando que esse Mestre nos dê tudo o que desejamos. Uma vez que não existe essa coisa chamada conforto, o problema é muito fundamental, isto é, trata-se de transcender essa noção de desigualdade. Sabedoria não é lutar para “vir a ser” mais e mais...
 
Não é de importância saber a maneira de entrar em contato com os Mestres, porque eles nenhuma significação tem na vida. O que importa é compreendermos a nós mesmo, pois o Mestre é uma ilusão. Pela vossa falta de compreensão própria, estais criando cada vez mais infelicidade no mundo. Olhai o que está acontecendo no mundo, e vede a estreiteza espiritual que ostentam os zelosos devotos da paz, dos Mestres, do amor e da fraternidade. Estais todos empenhados em vosso próprio proveito, embora disfarceis com belas palavras. Desejais que os Mestres vos ajudem a vos tornardes mais glorificados e mais egocêntricos.
 
...Já me tem escrito cartas, dizendo: “Sois muito ingrato para com os Mestres, que vos educaram”. É tão fácil dizer tais coisas. São palavras ocas. Cada um deve descobrir por si próprio que nenhum Mestre pode ajudá-lo. É ingratidão perceber aquilo que é falso e declará-lo falso? Quereis que eu seja grato à vossa ideia, à vossa formulação de um Mestre; e quando vossas ideias estão perturbadas, chamais-me de ingrato. O problema não é o de mostrar gratidão para com os Mestres, mas sim o de compreendermos a nós mesmos.
 
Há uma grande alegria no compreendermos e descobrirmos o que somos, o integral conteúdo de nós mesmos, minuto por minuto. O autoconhecimento é o começo da sabedoria. Sem autoconhecimento nada podeis conhecer – ou se conheceis algo, dele fareis mau uso. Seguir o Mestre é fácil; mas ter autoconhecimento, observar passivamente cada pensamento e cada sentimento, isso é difícil. Não podeis observar, se há julgamento ou identificação; porque a identificação e o julgamento impedem a compreensão. E observais passivamente, a coisa que observais começa a desdobrar-se, e há então compreensão, a qual se renova momento por momento.

 
 
Krishnamurti
Fonte: pensar compulsivo


A DÁDIVA, O ALIMENTO
E O TRABALHO


Um homem opulento disse: "Fala-nos da Dádiva."

E ele respondeu:

"Vós pouco dais quando dais de vossas posses.   É quando derdes de vós próprios, que realmente dais. Pois, o que são vossas posses, senão coisas que guardais por medo de precisardes delas amanhã? E amanhã, que trará o amanhã ao cão ultra prudente que enterra ossos nas areias movediças, enquanto segue os peregrinos para a cidade santa? E o que é o medo da necessidade senão a própria necessidade? Não é vosso medo da sede, quando vosso poço está cheio, a sede insaciável?

Há os que dão pouco do muito que possuem, e fazem-no para serem elogiados, e seu desejo secreto desvaloriza seus presentes.

E há os que pouco têm e dão-no inteiramente. Esses confiam na vida e na generosidade da vida, e seus cofres nunca se esvaziam.

E há os que dão com alegria, e essa alegria é sua recompensa.

E há os que dão com pena, e essa pena é seu batismo.

E há os que dão sem sentir pena nem buscar alegria e sem pensar na virtude: Dão como, no vale, o mirto espalha sua fragrância no espaço. Pelas mãos de tais pessoas, Deus fala, e, através de seus olhos, Ele sorri para o mundo.

É belo dar, quando solicitado; é mais belo, porém, dar sem ser solicitado, por haver apenas compreendido; E, para os generosos, procurar quem receberá é uma alegria maior ainda que a de dar.

E existe alguma coisa que possais conservar? Tudo que possuís será um dia dado. Dai, portanto, agora para que a época da dádiva seja vossa e não de vossos herdeiros.

Dizeis muitas vezes: "Eu daria, mas somente a quem merece." As árvores de vossos pomares não falam assim, nem os rebanhos de vossos pastos. Dão para continuar a viver, pois reter é perecer.

Certamente, quem é digno de receber seus dias e suas noites é digno de receber de vós tudo o mais. E quem mereceu beber do oceano da vida, merece encher sua taça em vosso pequeno córrego. E que mérito maior haverá do que aquele que reside na coragem e na confiança, mais ainda, na caridade de receber?

E quem; sois vós para que os homens devam expor seu íntimo e desnudar seu orgulho a fim de que possais ver seu mérito despido e seu orgulho rebaixado?

Procurai ver, primeiro, se vós próprios mereceis ser doadores e instrumentos do dom. Pois, na verdade, é a Vida que dá à Vida — enquanto vós, que vos julgais doadores, sois simples testemunhas.

E vós que recebeis — e vós todos recebeis — não assumais nenhum encargo de gratidão, a fim de não pordes um jugo sobre vós e vossos benfeitores. Antes, erguei-vos juntos com eles, sobre asas feitas de suas dádivas; pois se ficardes demasiadamente preocupados com vossas dívidas, estareis duvidando da generosidade daquele que tem a terra liberal por mãe e Deus por pai."


Um velho estalajadeiro disse: "Fala-nos do Comer e Beber."

E ele respondeu:

"Pudésseis viver do perfume da terra e, como uma planta, nutrir-vos da luz. Mas, já que deveis matar para comer e roubar do recém-nascido o leite de sua mãe para saciar vossa sede, fazei disso um ato de adoração.

E que vossa mesa seja um altar onde os puros e os inocentes da floresta e da planície são sacrificados àquilo que é ainda mais puro e mais inocente no homem.

Quando matardes um animal, dizei-lhe no vosso coração: "Pelo mesmo poder que te imola, eu também sou imolado, eu também servirei de alimento para outros; Pois a lei que te entregou às minhas mãos me entregará a mãos mais poderosas. Teu sangue e meu sangue nada são senão a seiva que nutre a árvore do céu."

E quando morderdes uma maçã, dizei-lhe no vosso coração: "Tuas sementes viverão no meu corpo, E os brotos de teus amanhãs florescerão no meu coração, E teu perfume será meu hálito, E, juntos, regozijar-nos-emos em todas as estações."

E no outono, quando colherdes a uva de vossos vinhedos para o lagar, dizei-lhe no vosso coração: "Eu também sou um vinhedo, e minha fruta será recolhida para o lagar, E, como um vinho novo serei guardado em vasos eternos."

E no inverno, quando beberdes o vinho, que haja no vosso coração uma canção para cada taça; E que haja na canção um pensamento para os dias do outono, para ovinhedo e para o lagar."


Então, um lavrador disse: "Fala-nos do Trabalho."

E ele respondeu, dizendo:

"Vós trabalhais para acompanhar o ritmo da terra, e da alma da terra. Porque ser indolente é tornar-se um estranho às estações e afastar-se do cortejo da vida, que avança com majestade e orgulhosa submissão rumo ao infinito.

Quando trabalhais, sois uma flauta através da qual o murmúrio das horas se transforma em melodia. Quem de vós aceitaria ser um caniço mudo e surdo quando tudo o mais canta em uníssono?

Sempre vos disseram que o trabalho é uma maldição; e o labor, uma desgraça. Mas eu vos digo que, quando trabalhais, realizais parte do sonho mais longínquo da terra, desempenhando assim uma missão que vos foi designada quando esse sonho nasceu.

E, apegando-vos ao trabalho, estais na verdade amando a vida. E quem ama a vida através do trabalho, partilha do segredo mais íntimo da vida.

Mas se, em vossas dores, chamais o nascimento uma aflição e a necessidade de suportar a carne, uma maldição inscrita na vossa fronte, então eu vos direi que só o suor de vossa fronte lavará esse estigma.

Disseram-vos que a vida é escuridão; e no vosso cansaço, repetis o que os cansados vos disseram. E eu vos digo que a vida é realmente escuridão, exceto quando há um impulso.

E todo impulso é cego, exceto quando há saber.

E todo saber é vão, exceto quando há trabalho.

E todo trabalho é vazio, exceto quando há amor.

E quando trabalhais com amor, vós vos unis a vós próprios e uns aos outros, e a Deus.

E que é trabalhar com amor?

É tecer o tecido com fios desfiados de vosso próprio coração, como se vosso bem-amado tivesse que usar esse tecido.

É construir uma casa com afeição, como se vosso bem-amado tivesse que habitar essa casa.

É semear as sementes com ternura e recolher a colheita com alegria, como se vosso bem-amado fosse comer-lhe os frutos.

É pôr em todas as coisas que fazeis um sopro de vossa alma. E saber que todos os abençoados mortos vos rodeiam e vos observam.

Muitas vezes ouvi-vos dizer como se estivésseis falando em sonho: "Aquele que trabalha no mármore e encontra na pedra a forma de sua alma, é mais nobre do que aquele que lavra a terra. E aquele que agarra o arco-íris e o estende na tela em formas humanas, é superior àquele que confecciona sandálias para nossos pés."

Porém eu vos digo, não em sono, mas no pleno despertar do meio-dia, que o vento não fala com maior doçura aos carvalhos gigantes do que a menor das folhas da relva; E grande é somente aquele que transforma o ulular do vento numa canção tornada mais suave pelo seu próprio amor.

O trabalho é o amor feito visível.

E se não podeis trabalhar com amor, mas somente com desgosto, melhor seria que abandonásseis vosso trabalho e vos sentásseis à porta do templo a solicitar esmolas daqueles que trabalham com alegria.

Pois se cozerdes o pão com indiferença, cozereis um pão amargo, que satisfaz somente à metade da fome do homem. E se espremerdes a uva de má vontade, vossa má vontade se destilará no vinho como veneno.

E ainda que canteis como os anjos, se não tiverdes amor ao canto, tapais o ouvido do homem às vozes do dia e às vozes da noite."




 Khalil Gibran, em "O Profeta"