Translate

domingo, 31 de outubro de 2021

 MOMENTOS DE REFLEXÃO


A felicidade esteve no que esteve.
O que esteve deixou de estar.
E a felicidade também.

Agora, a felicidade está no que está.
O que está deixará de estar.
E a felicidade também.

A felicidade estará no que vier a estar,
Mas cessará com o cessar do que estará.

A felicidade, que esteve, está e estará,
Se tornará sempre esteve
Na medida em que o tempo passar.

Felicidade que ESTÁ não É.

A felicidade que sempre É,
é porque EU SOU.

EU SOU porque DEUS É.


Olhe-se no espelho. 
Aí está quem poderá ajudá-lo no caminho redentor.
aí está quem poderá frustrá-lo no esforço por libertar-se.
Procure conhecer esse que o espelho mostra.
Ele poderá protegê-lo ou traí-lo
Não o perca de vista.
Vigie, principalmente, os motivos que o levam a agir
e os disfarces com os quais tenta enganar.


Enquanto ansiamos pela paz não a alcançamos.
Ansiedade e paz são antíteses. Nunca se juntam.

Como é frágil a paz de quem se acovarda 
diante da perspectiva de vir a perdê-la.

Na ansiedade pela paz infinita, 
o homem chega a perder a limitada paz que já tem.

Viver é para quem, mesmo na solidão, não se sente só, 
e até mesmo sem nada fazer não se sente vazio e inútil. 


Desiludir-se não é negativo.
É libertar-se. É nascer. É encaminhar.
Os iludidos, ou irão para o inferno ou já estão lá.
Só as desilusões desimpedem a estrada.
Deus abençoe minhas redentoras desilusões. 
 

 
Triste mundo onde ainda quase todos vivemos 
insensíveis à miséria dos ricos: 
à fragilidade dos violentos: 
à torpeza dos valentes: 
à ignorância dos eruditos; 
ao tédio dos eróticos, 
à indigência espiritual dos malvados; 
à dúvida dos dogmáticos; 
à insegurança dos opulentos; 
à tragédia das meretrizes; 
ao desalento dos fortes; 
à imaturidade dos corruptos; 
às lágrimas que os sorrisos em vão tentam esconder; 
aos dramas que as comédias disfarçam...

Que mundo triste esse, no qual nos distraímos com as aparências, iludimo-nos com as máscaras, divertimo-nos com as fantasias e pantomimas que todos representam.


Temer a dor é covardia,
Tentar fugir, tolice.
Fazê-las nos outros sadismo.
Alimenta-la em si mesmo, masoquismo.
Revoltar-se, imprudência.
Compreende-la, amacia-la em aceitação é sabedoria, fortaleza, redenção.


Amigo, vamos cantar a canção universal, juntos, em uníssono, 
como se fôssemos Aquilo que somos __ UM SÓ? 
Ela germina do silêncio.

Do silêncio que a paz gerou... e gera.

E gera amor, que é a implosão da discordância, da dissonância, 
da discrepância que a distância produziu e nutre.

O amor é o fim de todos os ismos tétricos, trágicos, patéticos, esdrúxulos, que degradam, envergonham 
e ensanguentam a humanidade.

Unidos, vamos cantar a Canção Universal, 
mergulhados no bem-aventurado silêncio da paz?

Só a alma tranquila, acalentando o silêncio, pode,
 em sublime clamor se expressar pela sacralidade do silêncio 
mais profundo e mais fecundo.

Entoemos a  partitura de silêncio da Canção que brota do coração, 
que se alegra e se expande.

Embalemos com a sagrada Canção a humanidade que começa
 a se agitar na aflição da premonição que rumoreja 
no negrume do horizonte do horror.

Cantemos a Canção, que é oração em favor das multidões 
rebeladas contra Deus, mas robotizadas 
pelos pseudo-poderosos desse mundo.

Oremos para que todos desconfiem do poder
 e do prazer, da posse e da violência.

Que os homens, des-iludidos dos falsos valores, 
finalmente descubram a felicidade que não cessa, 
a inerente do Ser; a Paz que transcende os parcos limites estreitos 
da razão; a segurança que não está nas armas, 
na força, no poder, no dominar...

Tomara que o silêncio-partitura de almas puras comece 
a ser ouvido acima do sussurro 
das calúnias, 
das promessas hipócritas, 
das maldições cruéis, 
das propostas dos demagogos, 
dos ais dos injustiçados, 
dos gemidos dos carentes, doentes perdidos, 
acima do estampido das bombas terroristas, 
dos clamores da publicidade entorpecente, 
do uivo das multidões alienadas, 
dos decibéis cruéis da música neurótica, 
do horror dos noticiários, 
acima do rá-tá-tá das metralhadoras assaltantes, 
acima da serra elétrica arrasando floresta indefesa e inocente.

Pretensões irracionais, anti-científicas, quiméricas!...

Podem assim pensar os medíocres, 
alienados no grande mercado, 
vagando sem rumo, 
embora suponham que sabem o que são e o que querem. 
Podem assim, falar os que ainda não escutaram a lição 
da verticalidade da raça humana.

Eles, acomodados na horizontalidade medíocre, 
supondo que sabem e querem, 
se deixam arrastar, manipular, massificar, esvaziar, robotizar, manobrar, mesmificar, embrutecer, degradar...
Pobres consumidores-consumidos! 
 
Vamos, amigo, fazer nosso silêncio, nossa paz; 
fazer nossa Canção mais audível. 
Nossos irmãos __ os normais! __, sem saber e sem querer, 
estão sofrendo, e acreditando que gozam, 
desprovidos mas supondo possuir, 
escravizados mas imaginando serem livres...
Eles precisam de nós.

A Canção salvadora não é obra de homens.

Milênios e séculos assistem à sua composição. 
Vem sendo composta e proposta pelos luzeiros do céu.

RAMA,

KRISHNA,

MOISÉS,

BUDA,

BABAJI,

SÓCRATES,

JESUS,

MAOMÉ,

SANKARA,

CAITANYA,

RAMAKRISHNA,

RAMANA,

SÃO FRANCISCO,

SIVANANDA,

SATHYA SAI BABA...

As estrelas cintilam seu divino silêncio e balbuciam a Canção, 
pedindo que a acompanhemos. 
Vamos tentar aceitar seu convite? 
Vamos criar e manter o tesouro do silêncio?

Pelo menos você e eu seremos dois somente 
a mergulhar na bendita paz da Felicidade Incondicional, 
que é escutar e cantar e, tenho certeza, 
alguém, neste imenso mundo 
será menos infeliz e menos aflito.
 
 
JOSÉ HERMÓGENES
http://nilvamelhor.blogspot.com 

sábado, 30 de outubro de 2021

O DIÁRIO DE KRISHNAMURTI - V  


Apelamos para Deus como refúgio, ajuda ou um remédio qualquer, e assim, a igreja, os sacerdotes e as religiões, adquirem enorme significado, quando, na realidade, nenhum significado têm. Para atender nossas íntimas necessidades psicológicas, fazemos uso de tudo, das pessoas, máquinas, técnicas, sem que tenhamos nenhum amor por elas; só por nosso interesse egoísta. E assim é nosso dia-a-dia. Daí porque há tanto conflito e sofrimento em nossa vida.

Só existe amor quando não há nenhuma forma de utilização, exploração ou dependência. As exigências psicológicas, com sua inconstância e sua eterna busca, que levam à substituição de uma dependência por outra, de uma crença por outra, de um compromisso por outro, é a própria essência do “eu” (é o que forma e o que é o “eu”). Adotar uma ideia, um método, um dogma, ou pertencer a alguma seita - o que mostra, como se supõe, desprendimento e altruísmo -, é a origem e a essência do eu. Isso não passa de disfarce, de máscara. O homem atinge a maturidade ao libertar-se de todas essas exigências psicológicas. Dessa liberdade nasce uma paixão pura; pura porque livre de motivo e de busca de recompensa.

A maioria questiona apenas o superficial. Outros vão mais longe, e outros negam tudo. Contestar certos fragmentos da existência é relativamente fácil: a igreja com seus deuses, a autoridade e o poder que dela emanam, o político, com suas atividades egocêntricas. Podemos ir longe na contestação de valores que aparentam ter importância, como as relações sociais, os absurdos praticados pela sociedade e pelos governos, o conceito do belo firmado pelos críticos ou pelos que julgam saber. Mas, é possível deixar de dar atenção, abandonar tudo isso e ficarmos sozinhos, não no sentido de isolamento e frustração, mas por termos compreendido o seu significado, sem esforço ou sentimento de superioridade, na certeza de termos esgotado a questão, de termos investigado cada coisa até o fim.

E, como é importante negar! Negar sem desejar recompensa, sem alimentar a amargura ou a esperança nascidas da experiência e do saber. Negar é ficar só, sem preocupar-se com o amanhã. É fundamental ficar só, livre de qualquer padrão ou método, qualquer experiência, qualquer dependência; é o único meio de libertar a consciência da escravidão ao tempo. Rejeitar a experiência e o conhecido é penetrar no desconhecido. O negar é de efeito imediato, explosivo; não se trata de exercício intelectual; no próprio ato de negar há energia, energia da compreensão, energia que jamais cede diante do medo e do conformismo. É devastadora a negação; ela não mede consequências, nem exprime uma reação, não sendo, pois, o oposto da afirmação. Na contestação não há escolha e, assim, ela não surge do conflito dos opostos. Escolha é conflito e vem da imaturidade. A nossa libertação do conhecido decorre da completa negação do pensamento, da ideia e da palavra, do ‘eu’. O amor nasce da total negação e da total recusa à emoção, à imaginação e ao sentimentalismo.

Pouca gente admira as montanhas, as flores, as nuvens, o pôr do sol, as estrelas, a lua. A maioria olha, sem ver, e passa adiante. O ato de ver exige humildade e inocência. Lá está aquela montanha iluminada pelo sol, e poder vê-la como se jamais a tivéssemos visto, vê-la com o olhar livre do passado, livre da memória acumulada, é uma maravilhosa experiência. A palavra experiência aqui é inadequada, pois é, erradamente, impregnada de emoção, saber, reconhecimento e da idéia de continuidade; mas não se trata de nada disso. Referimo-nos a alguma coisa totalmente original, nova. Para vermos o novo é necessária a humildade jamais contaminada pelo orgulho ou vaidade; a humildade que faz surgir a inocência.

A humildade não é uma virtude cultivável, nem pertence ao campo da moral social ou da respeitabilidade. Mesmo os santos a desconhecem, pois aceitam louvores por sua santidade. Aquele que adora uma imagem ou um ser mais elevado não é humilde pois está, sempre, a pedir, a implorar, a mendigar. O acúmulo de bens, experiências ou aptidões, nega a humildade.

O ato de aprender está livre do processo de acumulação, mas a aquisição de conhecimentos não está. O saber, o adquirir conhecimentos, é de natureza mecânica; o aprender é de instante a instante. Havendo comparação (avaliação, medição, julgamento, conceituação, classificação), cessa o ato de aprender, que é fruto de percepção imediata e instantânea, fora dos limites do tempo, e que, por ser instantâneo, não tem a interferência do eu.

A humildade não admite comparação; é impossível cultivá-la e não se pode falar em mais ou menos humilde. A moral e a técnica podem ser cultivadas e avaliadas. Mas a humildade, como o amor, está além dos limites do cérebro e, portanto, nele não pode estar; está além do ego.

A meditação é fenômeno extraordinário desde que seja sem direção e sem propósito, sem causa ou motivo, sem método preestabelecido (espontânea, sem esforço e inconsciente). É a morte sem retorno, ação devastadora que atinge todos os recantos mais secretos do pensamento e da memória. Na meditação o tempo cessa; não existe o amanhã. Isso é meditação e não essa tola e calculista atividade do cérebro que busca segurança. A meditação destrói toda segurança. Nela existe grande beleza, não a beleza criada pelo homem ou pela natureza, mas a beleza vinda do vazio, de onde surgem todas as coisas. Toda e qualquer operação mental, dentro do espaço-tempo, tem de cessar. Meditação significa risco e destruição para aqueles que querem levar uma vida acomodada, superficial, de ilusão e sonho.

A morte é inevitável. Podemos tentar esquecê-la, racionalizá-la, ou acreditar na reencarnação ou na ressurreição. Mas, quer busquemos refúgio nas religiões, nos livros, ou onde for, ela estará presente em todos os momentos da vida. É necessário conviver com a morte para conhecê-la. Nosso medo impede que ela se revele. De nada serve o acúmulo de conhecimentos. Há sempre um limite, mas não para a morte. Amar não significa aceitarmos a morte; não podemos habituar-nos com a destruição. Para nós é impossível amar o desconhecido (pois não o conhecemos). Mas, na verdade, nada conhecemos, nem a nós mesmos, nem os seres mais íntimos. Entretanto, é preciso amar o desconhecido. Porém, só amamos aquilo que nos traz segurança e conforto. Temos aversão à insegurança e ao desconhecido, pois temos medo deles. Podemos apreciar o perigo, dar a própria vida por alguém, matar em defesa da pátria, mas nada disso é amor. Há sempre, nessas ações, o desejo de recompensa, de reconhecimento e, sobretudo, de satisfação pessoal.

Mas, sabemos o que é o amor? Nós conhecemos a sensação de ter alguém, a emoção, o desejo, o sentimento e o processo mecânico de pensar nesse alguém, mas nada disso é amor. Dizemos amar nosso marido, nossa esposa, os filhos; odiamos a guerra ao mesmo tempo em que a fazemos. Nosso amor contém ódio, ciúme, inveja, ambição e medo; logo, isso não é amor. Amamos o poder, a fama, males que corrompem. Mas, o amor é o desconhecido com sua extraordinária beleza. Penetrar nesse desconhecido significa não mais estar no desespero ou na dúvida. É morrer para o passado e, portanto, viver na total incerteza do amanhã, pois saberemos que tudo é incerto. Para o amor e a morte não há continuidade. Somente a memória e o quadro na parede têm continuidade mas isso, como acontece com todas as coisas mecânicas, produz desgaste, dando lugar a novos quadros e novas memórias. Continuidade é deterioração, e esta não pode conter a morte, nem pode conter a vida.

“Do estado de absoluta atenção e silêncio surge o novo, surge a criação”.

A meditação não é atividade egocêntrica geradora de desatenção e conflito; nada tem em comum com a ausência de pensamento da criança absorta em seu brinquedo. Também não é recurso a ser usado para aquietar a mente. Está muito além disso. O auto-conhecimento é o princípio da meditação.

Viver é perceber a totalidade que contém o fragmento. Mas, o que acontece é exatamente o oposto: vivemos grudados ao fragmento, e com isso queremos atingir o todo, a totalidade. Só conhecemos o fragmento, que é sempre estreito, limitado, mas através dele buscamos, sem sucesso, o desconhecido, o absoluto. Jamais abandonamos o conhecido, pois nos traz a ilusão de segurança, quando, na verdade, tudo em que confiamos pode falhar, até as coisas mais simples, em particular no campo das relações humanas, das crenças e dos deuses de nossa criação, onde tudo é impermanente e imprevisível. Em face do receio da impermanência, vivemos numa incessante busca de segurança psicológica, o que constitui a essência do conflito. É importante compreender o mecanismo criador da ilusão de que existe segurança em alguma situação ou lugar, para que essa ilusão não se torne uma coisa real para nós.

Não se pode discutir com o fato. O que é falso deve ser posto de lado, não por desejarmos a verdade, mas por lhe percebermos a falsidade. Isso não é um ato de renúncia, mas um ato de inteligência.

Compreensão é maturidade, é ausência de conflito e de sofrimento.

Não há começo nem fim na meditação; nem bom êxito, nem insucesso; nem ganho, nem perda. É movimento livre de objetivos, pois nem mesmo pertence ao “eu”, já que ela está além do tempo e do espaço. A meditação não pode ser experimentada, pois o ato de experimentar pertence ao ‘eu’ e é limitado pelo tempo, espaço, memória e reconhecimento. A meditação ‘surge’ da observação passiva realizada pelo “eu” quando está livre da autoridade, da ambição e do medo. Sem liberdade e sem auto-conhecimento, não pode haver meditação. Enquanto existir escolha, não haverá auto-conhecimento, auto-compreensão e, por consequência, não há meditação. A compreensão vem “do que é” quando cessa o conflito da escolha. O romantismo, a fantasia, a poesia e a crença - tudo que desperta emoção - nega a meditação, pois a emoção distrai. O movimento da meditação nasce da atenção total.

A beleza da flor está na forma, no perfume, na cor, que se percebe de imediato; isso é a flor não contaminada, pura. Ter memória do que ela foi, associá-la com as imagens da memória, não é a verdadeira flor. A meditação é a beleza pura da flor, isto é, a percepção não contaminada, pura.

O conhecimento arquivado na memória é obstáculo ao percebimento do novo, é barreira à criatividade. Embora indispensável para a sobrevivência, ele não nos ‘salva’ porque pertence ao passado. E, além disso, jamais conduzirá à verdade, pois não existe método, artifício ou conhecimento capaz de fazer isso. Para que haja ordem no mundo caótico em que vivemos é necessária a virtude, que é ausência de conflito. Mas, nem a virtude extrema nos leva à imensidão do desconhecido. Para isso, é necessário esvaziar o cérebro do conhecimento e do pensamento, sem, contudo, esperar qualquer recompensa. É fundamental que o cérebro fique vazio. O método e a busca devem cessar, para que floresça o vazio criador, livre do centro (o ego) que calcula e avalia, mede e compara. Como o amor, o vazio daquela imensidão surgirá mansamente, sem princípio e sem fim, irradiando energia inesgotável.

A meditação não é um processo de concentração; esta implica resistência, exclusão, isolamento e conflito. Durante a meditação, pode acontecer que a mente se concentre, sem excluir ou resistir, mas a concentração inicial impede que a meditação venha. Meditação é movimento de liberdade natural, que cessa quando volta o observador. Na ausência do meditador, a meditação é veloz e imensurável movimento, que está além de qualquer símbolo, pensamento, sentimento, raciocínio ou emoção; além do espaço e do tempo.

http://obuscadordedeus.blogspot.com  

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

 A INFINITA VIDA UNA


Nós falamos sobre “sua vida” A, “minha vida, ou vida dele” ou “dela”, quando é bom lembrarmos que em todo o mundo existe SOMENTE UMA VIDA. Esta Vida não morre, não envelhece, não adoece, não sofre mudanças: é a expressão individual daquela Vida divina ÚNICA. Em outras palavras, nossa Vida é Vida divina individualizada. Não contém nenhum elemento da matéria, discórdia, desarmonia, decomposição ou decrepitude. Esta Vida de que somos expressão individual é composta da substância do Espírito, é infinita, eterna e harmoniosa.

“Aquele que vê a mim, vê aquele que me enviou”.

Se falarmos sobre você ou sobre mim, falaremos da Vida divina, individualmente expressa na totalidade de Sua harmonia e perfeição.

Esta Vida é Mente, e as faculdades são universal e imparcialmente expressas através da totalidade das ideias da Mente. Suas faculdades nunca dependem de condições materiais, ou circunstâncias de nascimento, idade ou maturidade.

Assim, aprendamos a descartar o que chamamos “minha” Vida, “minha” Visão, “minha” compreensão, “meu” suprimento, para pensarmos em termos de Vida, Visão, Compreensão e Suprimento, com tudo isso expresso individualmente através de mim e de você.

Inteligência, sabedoria, visão, poder, não são de natureza pessoal, mas sim impessoal, imparcial e universal.

Num Universo governado pelo Princípio divino, o homem nunca deixa o seu estado de paz, harmonia, saúde e segurança.

A Lei do Espírito, o Princípio divino, mantém perenemente o homem em seu lugar certo e com sua condição correta de ser.

Saúde, harmonia, integralidade, são o resultado direto da consciência. Não dependem de manipulação mental, mas de nossa consciência de harmonia, paz e liberdade da totalidade do universo de Deus. Tão logo percebamos que o Princípio da Vida somente pode se expressar harmoniosa, completa e imparcialmente, passamos a vivenciar isso tudo em nossa experiência humana.

Os erros não passam de sombras de crença atiradas sobre o pensamento humano sobre a tela da forma visível.

Tão logo percebamos que o Princípio da Vida pode somente Se expressar harmoniosa, completa e imparcialmente, passamos a vivenciar isso tudo em nossa experiência humana.

Os erros não passam de sombra de crenças, atiradas pelo pensamento humano sobre a tela da forma visível.

Não há realidade alguma no erro. O erro é sem substância, sem corpo, sem forma, sem lei que o sustente, sem mente para criá-lo, expressá-lo ou ser-lhe receptivo. O erro não tem canal para a sua transmissão. Não possui memória, e é destituído de poder para se perpetuar. Não possui existência alguma apartada da falsa crença que, no momento, está a sustentá-lo. Se nosso pensamento continuar permeado pela Verdade da Bíblia, ou algum escrito metafísico inspirado, estas verdades irão assumir o lugar anteriormente ocupado pelas crenças falsas.

A revelação do homem perfeito virá de forma natural, “não pela força, não pelo poder, mas por Meu Espírito”; e poderemos repousar na certeza de que “as palavras que vos falo são espírito e são vida”.

Os próprios pensamentos que tivermos serão constituídos da Palavra. Assim, devemos continuar a reconhecer que toda atividade do Bem, Deus, e infinitamente expressa em nós, assim como o faz em cada ideia divina.

Aprendamos a devotar alguma parte de cada dia para entrar em comunhão com Deus. Para cumprir a injunção da Escritura “orai sem cessar”, veremos ser útil reservar momentos específicos em que silenciosamente receberemos o influxo das ideias divinas, dos pensamentos de Deus.

Antes de nos retirarmos à noite, será bom dispormos de tempo suficiente em quietude, a fim de percebermos uma enorme sensação de paz. Nesses momentos, estaremos buscando a certeza da presença de Deus, nossa comunhão, e uma sensação de liberdade espiritual.

Porque o senhor Deus, o Santo de Israel, diz assim: Se vos voltardes e vos deixardes estar em paz, sereis salvos; a vossa fortaleza estará no silêncio e na esperança (Isaías 30: 15).

Joel S. Goldsmith

NOTA: Neste artigo, Joel S. Goldsmith assim escreve: “Não há estados materiais ou estágios de consciência, pois a Consciência que há é uma só – a Consciência espiritual – em que inexistem matéria e crenças materiais. Esta é a nossa única consciência: não há nenhuma substância material, nenhum corpo material e, nessa consciência, o homem é encontrado como espiritual, harmonioso e completo.

http://suprimentoinvisivel.blogspot.com
O DIÁRIO DE KRISHNAMURTI - IV  

A essência de seus ensinamentos 
 
A maturidade não resulta do tempo, nem é questão de idade ou de cultura. Nem livros, nem instrutores, nada e ninguém pode nos dar maturidade. Ela não é um fim em si mesma; e vem sem que o pensamento a procure; chega de súbito, imprevistamente. E é imprescindível haver, na vida, esse amadurecimento, que não resulta da doença ou do sofrimento, nem do esforço ou da esperança. Nele existe austeridade; não a austeridade da penitência ou do hábito religioso, mas da displicente e espontânea indiferença para com as coisas mundanas, frente a suas virtudes, seus deuses, sua respeitabilidade, esperanças e valores. Cumpre negar tudo isso para que nasça a austeridade contida no estar só. Estar só é viver livre de qualquer influência (de livros, gurus, crenças, opiniões). Essa solidão é a essência da austeridade, e surge quando o cérebro funciona com clareza, não perturbado por traumas psicológicos causados pelo medo e pelos conflitos.

Todo conflito destrói a sensibilidade e a energia do cérebro; a ambição, com seu incessante esforço de vir-a-ser algo mais, provoca desgaste do seu delicado mecanismo; a avidez e a inveja o perturbam através do prazer e da frustração. É essencial uma atenção sem escolha, uma percepção livre da ideia de receber ou de ajustamento a um padrão. Também, comer em excesso ou deleitar-se com alguma coisa, perturba o corpo e deixa o cérebro insensível.

“A coisa vem quando o cérebro não a está buscando, quando nem sequer estamos pensando nela...”.

A imaginação não tem qualquer valor e é perigosa; só o fato tem valor. A fantasia e a imaginação podem dar prazer, mas sempre decepcionam. Importa compreender a fantasia e a imaginação pois, no próprio ato de compreender, elas desaparecem. O cérebro deve cessar com sua incessante e habitual tagarelice do certo e do errado, do bom e do mau, do interpretar e comparar.

Experimentar sem o experimentador é algo completamente novo; nessa condição é que surge a ‘luz’. Não se trata de intuição, na qual o observador aceita, interpreta e obedece, de modo racional ou cego. Não é desejo, ânsia, que interpretamos como intuição ou “voz de Deus”. É preciso abandonar, duma vez, tudo isso que impede a compreensão desse sentimento, dessa percepção, desse estado de atenção; estado de atenção, pois “sentir” exige o rigor da lucidez, de um cérebro livre de qualquer confusão ou conflito.

Só se pode sentir a essência das coisas quando há humildade para investigar, até o fim e sem desvios, o sofrimento, a inveja, o medo, a violência, a ambição. O cérebro, porém, não possui essa humildade. Essa investigação requer a mais elevada forma de simplicidade, não aquela de vestir a roupa do mendigo ou de fazer apenas uma refeição por dia. É necessária a destruição de nossas defesas psicológicas, das resistências, das crenças e de seus deuses. Sem isso, nunca viremos a conhecer aqueles mistérios que são a vida e a morte, o amor e a beleza absolutos.

Meditação é a atenção em que existe um estado de consciência (de atenção) sem escolha no movimento de todas as coisas - o canto dos pássaros, o serrote cortando a madeira, a agitação das folhas, o vento, o barulho do riacho, o menino gritando, os sentimentos, os motivos, os pensamentos contraditórios e, indo mais fundo, a percepção da consciência total. Nessa atenção, o tempo deixa de existir, e as distorções, interferências e movimentos da consciência (mente) se aquietam e silenciam. Nesse silêncio existe um movimento incomparável e imenso, imperceptível, que constitui a própria essência do sagrado e da vida total.

“Íamos começar a almoçar, quando ela penetrou pela porta aberta da sala. Podíamos senti-la fisicamente qual uma onda a invadir o quarto. Tratava-se de uma intensa e crescente energia, de poder destruidor. As palavras não são a coisa, e a realidade é verbalmente inexprimível; ela deve ser vista, ouvida, sentida...”. “... não se tratava da morte do corpo; isso seria um acontecimento bem simples; mas a morte que destrói (o homem velho) dando lugar à criação...”

Aquilo que tem continuidade significa decadência, automatismo, ambição, hábito. Aí existe a corrupção, mas não a morte. A morte é o nada absoluto, é o vazio do qual desabrocham a vida e o amor. Sem a morte total, não há criação.

A meditação não é busca ou pesquisa. É uma explosão e um descobrimento. Não é o ajustamento do cérebro ou uma análise introspectiva. Também não é concentração, que acumula e escolhe. É uma coisa que vem naturalmente ao compreendermos, e em consequência abandonarmos, as afirmações e realizações positivas ou negativas. Só acontece com o total esvaziamento do cérebro. Nada o cérebro pode criar enquanto não estiver limpo de todas as coisas que acumula para proteger a existência egocêntrica. O importante é esse esvaziamento e não o que se encontra no vazio; só, então, se pode perceber esse vazio. Daí brotam todas as virtudes - não as virtudes aprovadas pela moralidade vigente, nem as virtudes da respeitabilidade social. Desse vazio brota o amor; do contrário não é amor. Esse vazio é o princípio e o fim de todas as coisas (é a ausência do ‘eu’; e, quando o ‘eu’ não está, ‘Deus’ está: ‘Aquieta-te e sabe: Eu sou Deus’).

Uma coisa é o silêncio mecânico provocado por nós; outra coisa é o silêncio do vazio. O silêncio provocado por nós é repetitivo, habitual, corruptor, forçado; o cérebro, quando exausto e em conflito, procura-o como refúgio. O silêncio do vazio é explosivo, criativo e nunca é o mesmo. Não podemos buscá-lo e ele jamais se repete; portanto, não oferece nenhuma segurança.

Porque essa luta incessante em busca da perfeição? Não se tratará, apenas, de uma ideia transmitida pelo sacerdote ou pelo guru a fim de que o homem se mantenha disciplinado e sociável? Na busca de perfeição o que na verdade se procura é segurança, conforto, aplausos e reconhecimento; assim, ela é sempre lucrativa para aquele que a busca. Um hábito mecânico, praticado repetidas vezes, acaba por atingir a perfeição. Mas, só se pode aperfeiçoar o hábito; pensar, acreditar sempre na mesma coisa, acaba por se tornar automático. Será essa a perfeição que todos desejam? A perfeição é uma forma ambicionada de bom êxito, e é exaltada pelos respeitáveis e pelos que atingem o sucesso. No entanto, a tentativa de atingir a perfeição significa, realmente, o desejo de chegar nos primeiros lugares, bater o recorde, como numa competição. É como estar competindo com o semelhante ou com os santos, para atingir a perfeição, e isso é, erradamente, considerado ato de fraternidade e amor, ato enaltecido pelos respeitáveis. Mas cada passo para se chegar à perfeição só produz frustração, e leva a confusão e sofrimento, o que aumenta o desejo individual de se tornar mais perfeito. Sempre desejamos ser perfeitos em algum sentido. Isso equivale a um meio de preenchimento (do vazio existente em nós), e o prazer resultante é vaidade, orgulho, de onde vai nascer mais frustração e sofrimento; pois o desejo de perfeição, exterior ou interior (que se assemelha à competição), nega o amor e, sem amor, não importa o que se faça, há sempre frustração e sofrimento.

O amor não é nem perfeito, nem imperfeito; só quando ele está ausente é que surgem estes dois opostos. O amor jamais busca a perfeição. Ele é chama límpida e pura, enquanto o desejo de atingir a perfeição é apenas fumaça que esconde a realidade ante nossos olhos. Desse modo, a perfeição está no esforço mecânico do hábito, na imitação e no medo crescente (medo de não atingir a perfeição, medo de ficar para trás, de ser menos que os demais). No mundo educa-se para a competição e para o sucesso; o objetivo, o motivo, adquire tanta importância que o amor, à coisa em si, desaparece. É como se um instrumento musical não seja usado por amor à melodia, mas por aquilo que representa para o músico em termos de fama, prestígio, lucro e poder.

O importante é ser e não o vir-a-ser. Ao findar o esforço para vir-a-ser surge a plenitude do ser (Como diz Benoit, a salvação se efetiva quando abandonamos todo esforço em busca da salvação). O esforço para vir-a-ser deve cessar; daí nascerá aquilo que transcende os limites da moral e da virtude social.

A meditação é a ausência do eu, do ego, a morte; é o silêncio do vazio interior. O cérebro, o pensamento, não pode, de maneira nenhuma, gerar esse silêncio, que somente surge com o parar do funcionamento do cérebro, parar que deve ser espontâneo, sem motivo, sem esperança ou garantia de recompensa. Essa é a única maneira de o cérebro permanecer sensível, vivo e tranquilo. Faz parte da meditação a compreensão, pelo cérebro, de suas atividades superficiais e profundas, o auto-conhecimento; nisto consiste a base da meditação e sem o auto-conhecimento que a meditação pode trazer tudo se torna sem significado e conduz à auto-ilusão e à auto-hipnose.

A maturidade não vem com a idade ou com o tempo. Não existe um tempo entre o agora e o amadurecimento. A maturidade é aquele estado no qual cessou toda a escolha; só os imaturos escolhem e, assim, ficam conhecendo o conflito que nasce da escolha. Na maturidade só existe uma direção a ser seguida: aquela que não vem da escolha. Qualquer espécie de conflito revela imaturidade. Não existe amadurecimento psicológico; pois não existe evolução psicológica; o que existe é, apenas, esse processo orgânico e natural de crescimento, com a inevitável acumulação de conhecimentos, o que nos traz maior compreensão das coisas do mundo, mas não do intemporal. Maturidade é a compreensão que transcende todo e qualquer conflito, seja ele interior ou exterior.

O conflito, a frustração e o preenchimento formam um só movimento, tanto interior quanto exterior. O conflito deve ser compreendido em sua inteireza, não apenas intelectualmente, mas no contato vivo e real com sua essência. Esse contato emocional e direto com o conflito, com a crise, deixa de ocorrer se simplesmente nos limitarmos a aceitá-lo intelectualmente, ou a negá-lo de forma sentimental, ou a fugir dele. A aceitação ou a rejeição não alteram o fato, e nem o raciocínio ou a imaginação podem provocar a crise necessária para que o compreendamos em sua totalidade. Isso só vem com a percepção pura do fato. Essa percepção não acontece se houver identificação com o fato, condenação ou aprovação. Ela só é possível quando o cérebro cessa sua atividade, limitando-se a observar, deixando de classificar e interpretar, de julgar e avaliar. Existirá, necessariamente, conflito enquanto houver desejo de preenchimento, com sua inevitável série de frustrações; enquanto existir a ambição, com seu disfarçado espírito de competição, enquanto houver inveja e o enganador desejo de vir-a-ser.
 
A compreensão independe do tempo; está sempre no presente, nunca no amanhã; é agora ou nunca; deixada para depois, sofre a interferência do ‘eu’ e se deteriora. Desde que cesse no cérebro o julgamento e a interpretação do ato de “ver”, o ‘ver’, ter percepção, compreender, é instantâneo. O “ver”, isto é, o compreender profundamente, independe de raciocínio. Na maioria das vezes, é o medo que impede o “ver”, que impede a compreensão. O medo, com suas defesas e sua coragem, é origem de conflito. O “ver” não vem do cérebro; o “ver” não é nosso, é atemporal. E a percepção do fato, não contaminada, cria sua própria ação, sempre correta, completamente diferente da ação baseada no raciocínio ou no pensamento; esta provoca conflito sem fim.

Existe paixão quando não há nenhuma exigência interior. Roupa, alimento e abrigo são necessidades básicas de sobrevivência, não exigências psicológicas; estas se traduzem nos secretos desejos e anseios que conduzem ao apego. O sexo, a bebida, a fama, a idolatria, com toda sua complexidade; o desejo de auto-preenchimento, seguido da inevitável ambição e frustração; a busca dos deuses e da imortalidade, todas estas formas de íntimas exigências (psicológicas) geram o apego, origem do medo, do sofrimento e da solidão. A necessidade de auto-expressão através da música, literatura, pintura ou outro meio qualquer, conduz a desesperado apego a esse meio. O músico que usa seu instrumento para alcançar fama, ou glória, deixa de ser músico; ele não ama a música em si, mas sim o lucro que ela lhe dá. Utilizamos uns aos outros de acordo com nossas necessidades e disfarçamos essa mútua exploração com palavras agradáveis e melodiosas; e isso dá origem a mais conflito e a mais sofrimento.


http://obuscadordedeus.blogspot.com