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quinta-feira, 31 de março de 2016

O IDEAL É UMA MANEIRA HIPÓCRITA 
DE VER A VIDA
 
Observar, ver — essa é a coisa principal; ver o que realmente somos e não o que achamos que deveríamos ser; observar nossa avidez, inveja, ambição, ansiedade, medo, TAIS COMO EXISTEM REALMENTE, E SEM INTERPRETAÇÃO, NEM JULGAMENTO. Nesse estado de observação não há esforço algum. Temos que compreender isso claramente, porque estamos condicionados para fazer esforço. Tudo o que fazemos envolve esforço, luta. Se desejo mudar, se por exemplo, desejo deixar de fumar, tenho de lutar, de forçar-me, de manter minha resolução e, assim, talvez eu acabe deixando de fumar, mas minha energia terá se esgotado nessa batalha. 

Pode-se abandonar alguma coisa sem esforço? O fumar é uma coisa muito trivial. Abandonar o prazer, em todas as suas formas, porque o prazer sempre produz dor, eis um problema exteriormente complexo. O que no momento nos interessa é isto: Se temos de possibilidade de abandonar alguma coisa, de agir sem esforço. Porque paz é isso, vocês não acham? A paz alcançada por meio de uma batalha interior não é paz, porém, exaustão, pois a paz de modo nenhum pode ser um resultado de esforço. Só vem quando há COMPREENSÃO. Esta é uma palavra um pouco difícil. Compreensão não significa "compreensão intelectual". Quando dizemos que compreendemos alguma coisa, em geral entendemos uma apreensão intelectual, conceitual. Só pode verificar-se a percepção, quando há atenção total. A atenção total só é possível quando "NOS ENTREGAMOS" completamente. A mente, o corpo, os nervos, todo o nosso ser fica então sobremodo ativo. Só então há compreensão. 

Temos de compreender nossa vida de entes humanos. Para nós, a vida é uma caótica contradição. Não a estamos descrevendo sentimental, emocionalmente ou noutro sentido qualquer, porém, tão só, em sua realidade. Vemo-nos confusos, aflitos, ansiosos, aterrorizados, desesperados. Esse medo e sofrimento estão sempre a inquietar-nos. Tal é a nossa vida, e, no final de tudo e inevitavelmente, a morte. Só isso sabemos. Podemos imaginar coisas, ter muitos ideais, fórmulas e fugas, mas, quanto mais fugimos, tanto maior a contradição, tanto mais profundo o conflito. 

Podemos observar nossa vida, tal como realmente é e não como deveria ser? Os ideais são de todo em todo fúteis. Não têm nenhuma significação. São como o ideal dos que acreditam na não-violência e, na realidade, são violentos. Isso é um fato. Os entes humanos SÃO violentos. Demonstram-no em suas palavras, em seus gestos, em seus atos e sentimentos. Cultivaram o IDEAL de "não ser violento" — que representa um estado de paz, de ausência da violência. Há o FATO e o que "deveria ser". Entre O QUE É e o "desejável", entre o fato e a ideia, a utopia, "o que deveria ser", acha-se o intervalo de tempo. No esforço para alcançar "o que deveria ser", estamos sempre a semear violência. O ideal é uma maneira hipócrita de olhar a vida. Certamente, não há nenhuma necessidade de ideal, se sabemos olhar o fato e dele libertar-nos. Porque não sabemos olhar os fatos e LIBERTAR-NOS deles, pensamos que com um ideal os resolveremos. Em verdade, o ideal, a utopia é uma fuga da realidade. Sabendo-se olhar a violência, talvez se torne possível uma ação de espécie diferente. 

Sou violento e percebo que qualquer forma de fuga à realidade, ao fato de que sou violento, TODA E QUALQUER FUGA — bebida, ideais, etc. — DIMINUI A ENERGIA de que necessito para olhar o fato. Preciso dessa energia para olhar, para manter-me completamente ATENTO. Isso também é um fato simples. Se vocês desejam OLHAR qualquer coisa que seja, necessitam de muita energia. Se só estão incompletamente atentos, porque possuem ideais que não deviam ter, então estão dissipando a energia de vocês e, por conseguinte, são incapazes de olhar. Olhar é uma operação que requer TODA atenção de vocês. Só se pode OLHAR quando não se está querendo alcançar nenhum ideal, nem desejando alterar O QUE É. 

Só aparece o desejo de alterar O QUE É quando o fato é desagradável. Quando agradável, não desejamos alterá-lo. Nossa preocupação é perseguir o ideal e evitar a dor. Nosso maior interesse é o prazer e não a violência ou a não-violência, a bondade, etc. Queremos prazer, e para alcançá-lo estamos dispostos a tudo. Enquanto estivermos a olhar o fato com a intenção de alterá-lo, não teremos possibilidade de alterá-lo, porquanto nosso principal interesse é modificar o fato, para termos prazer — ainda que seja um prazer muito nobre. 
 
Devemos perceber isso muito claramente, porque os nossos valores morais, éticos e religiosos estão todos baseados no prazer. Eis o fato verdadeiro. Não é um fato imaginário, como veremos, se NOS SONDARMOS MUITO PROFUNDAMENTE e OLHARMOS TODOS OS VALORES QUE ESTABELECEMOS. Quando existe esse princípio do prazer, tem de haver inevitavelmente dor. Olhamos a violência com o fim de transformá-la num prazer e passamos deste a um prazer maior; por isso somos incapazes de alterar o fato de que somos violentos. Consideramos a vida com a mira no prazer. 

No fundo os entes humanos são violentos por várias razões. Uma das razões fundamentais é que todas as suas atividades se concentram em perpetuar o EU, o EGO. A atividade egocêntrica é uma das causas da violência. Por outro lado, a fim de realizar uma revolução radical, tenho de compreender o princípio do prazer. Amo os meus desuses; isso me proporciona enorme satisfação. Vocês amam os seus deuses, suas fórmulas, a nacionalidade e a bandeira de vocês. O mesmo faço eu. Tudo isso se baseia no prazer. Posso dar-lhe diferentes nomes, mas não importa; este é o fato. Ora, é possível considerarmos a violência sem procurarmos transformá-la em prazer; posso observar simplesmente o fato de que sou violento? 

Quando podemos olhar a violência, sem tecer a respeito dela nenhuma imagem, qual é o estado da mente ou do cérebro que está a olhar? Para nos libertarmos da imagem, temos de investigar muito profundamente a questão da formação de imagens e, uma vez feito esse exame, com máximo de escrúpulo e atenção, o cérebro não fica "em branco", num estado de entorpecimento. Ao contrário, torna-se sumamente ativo, porém não estará em atividade o "formador de imagens". Com essa atenção pode-se OLHAR.

 
Krishnamurti

quarta-feira, 30 de março de 2016

A PROFUNDA URGÊNCIA 
EM BUSCAR

A vida é uma busca, uma busca constante, uma busca desesperada, uma busca sem esperança... uma busca por algo que não se sabe o que é. Há uma profunda urgência em buscar, mas não se sabe o que se está buscando. E há um certo estado de mente no qual seja o que for que você consiga, acaba não lhe dando nenhuma satisfação. 

A frustração parece ser o destino da humanidade, pois tudo o que se consegue torna-se insignificante no momento em que se consegue. Você começa de novo a buscar. A busca continua, consiga você alguma coisa ou não. Parece irrelevante o que você consegue e o que não consegue — de qualquer maneira a busca continua. O pobre está buscando, o rico está buscando, o doente está buscando, o são está buscando, o poderoso está buscando, o fraco está buscando, o estúpido está buscando, o sábio está buscando e ninguém sabe exatamente o que. 

A busca — o que é e porque existe — tem que ser entendida. Parece que há um hiato no ser humano, na mente humana; na própria estrutura da consciência humana parece haver um buraco, um buraco negro. Você vai jogando coisas dentro dele e elas vão desaparecendo. Nada parece enchê-lo, nada parece ajudar a preenchê-lo. É uma busca febril. Você busca neste mundo, busca no outro mundo; às vezes busca no dinheiro, no poder, no prestígio, e às vezes busca em Deus, na graça, no amor, na meditação, na prece, mas a busca continua. Parece que o homem está doente com a busca.

A busca não permite que você esteja aqui e agora porque ela sempre o leva para algum outro lugar. A busca é uma projeção, é um desejo; em algum outro lugar está o que se precisa; existe em algum outro lugar, não aqui onde você está. Certamente existe, mas não está neste momento, não agora, mas em outro lugar qualquer. Existe no depois, lá, nunca aqui e agora. Isso vai importunando-o, vai empurrando-o, puxando-o, atirando-o, para uma loucura cada vez maior; deixa-o louco e jamais satisfeito.

Você já perguntou a si mesmo o que está procurando? Já fez disso um ponto de profunda meditação, saber o que está procurando? Não. Mesmo que em alguns vagos momentos, em momentos de sonhos, você tenha algum pressentimento do que está buscando, ele nunca é preciso, nunca é exato. Você ainda não o definiu. Se tentar definir, quanto mais definido se tornar, mais você sentirá que não há necessidade de buscá-lo. 
 
A busca só pode continuar num estado de incerteza, num estado de sonho; quando as coisas não estão claras, você simplesmente continua buscando, empurrado por alguma urgência interna, puxado por alguma necessidade interior. Uma coisa você sabe: precisa buscar. Esta é uma necessidade interior. Mas você não sabe o que está buscando.

E a menos que saiba o que está buscando, como poderá encontrar? É vago — você pensa que é dinheiro, poder prestígio, respeitabilidade. Mas então vê as pessoas respeitáveis, poderosas, também procurando. Vê as pessoas que são tremendamente ricas — elas também estão buscando. Até o fim de suas vidas, estão buscando. A riqueza então não vai adiantar, o poder não vai adiantar. A busca continua a despeito do que você tem. A busca tem que ser por alguma outra coisa. Esses nomes, esse rótulos — dinheiro, poder, prestígio — são para satisfazer a sua mente. Só são para ajudá-lo a sentir que está buscando por alguma coisa. Essa coisa ainda é indefinida, um sentimento muito vago. 

A busca só existe quando você está dormindo; só existe quando você não está atento; a busca só existe na sua desatenção. A desatenção cria a busca. Dentro não há luz. E por não haver luz e consciência dentro, é claro que você continua buscando do lado de fora — porque o lado de fora parece mais claro. Tudo o que está disponível a você abre-se do exterior; todos os cinco sentidos movem-se extrovertidamente. Você começa a buscar lá onde você vê, sente, toca — a luz dos sentidos incide no exterior. E o buscador está dentro. 

Esta dicotomia precisa ser entendida. O buscador está dentro, mas como a luz está fora, o buscador começa a mover-se de uma maneira ambiciosa, tentando encontrar alguma coisa fora que o satisfaça. Isso nunca irá acontecer pela própria natureza das coisas — porque a menos que você tenha buscado o buscador, toda a sua busca será insignificante. A menos que você venha a saber quem você é, tudo o que buscar será fútil, pois você não conhece aquele que busca. Sem conhecer o buscador, como poderá se mover na dimensão certa, na direção certa? É impossível. As primeiras coisas devem ser consideradas antes.

Portanto, estas duas coisas são muito importantes; primeiro, deixe absolutamente claro para si mesmo qual é o seu objeto. Não fique tateando na escuridão. Enfoque a sua atenção no objeto — o que você está realmente buscando. Porque às vezes você quer uma coisa e sai buscando alguma outra; e, mesmo que seja bem-sucedido, não conseguirá ficar satisfeito. Você já viu as pessoas bem-sucedidas? Pode encontrar maiores fracassados em algum outro lugar? Um homem bem-sucedido é sempre atirado para si no final, e então sofre as torturas do inferno, porque desperdiçou toda a sua vida. Buscou e buscou, arriscou tudo o que tinha, obteve sucesso — e agora seu coração está vazio e sua alma insignificante, sem fragrância, sem bênção.

Portanto, a primeira coisa é saber exatamente o que você está buscando. Insisto nisso porque quanto mais você focar seus olhos no objeto de sua busca, mais ele começará a desaparecer. Quando seus olhos estão absolutamente fixos, subitamente não há nada para buscar; imediatamente seus olhos começam a voltar-se para você mesmo. Quando não há objeto de busca, quando todos os objetos desapareceram, há o vazio. E nesse vazio acontece a conversão, a volta. De repente, você começa a olhar para si mesmo. Não há nada a procurar e um novo desejo surge em conhecer o buscador. 

Se existe algo a ser buscado, você é um homem mundano; se não há nada a buscar, e a questão "Quem é este buscador?" tornou-se importante para você mesmo, então você é um homem religioso. É assim que defino o mundano e o religioso. Se você ainda está buscando alguma coisa — talvez na outra vida, na outra margem, no céu, no paraíso, não faz nenhuma diferença — você ainda é um homem mundano. Se toda a busca cessou subitamente você percebeu que agora só há uma coisa para conhecer — "Quem é este buscador em mim? O que é esta energia que quer buscar? Quem sou eu?" —, há então uma transformação. De repente, todos os valores mudam. Você começa a mover-se para dentro. 

Por vidas a fio você esteve do lado de fora, no sol quente, no mundo, e ao entrar esqueceu-se completamente de como entrar e reajustar seus olhos. A meditação nada mais é que um reajustamento da sua visão, um reajustamento da sua faculdade de ver, dos seu olhos. Aos poucos, a escuridão não é mais tão escura; uma luz sutil e difusa começa a ser sentida. Aos poucos, quando você tiver se ajustando à luz interior, verá que você é a própria fonte. 
 
O buscador é o buscado. Verá que o tesouro está dentro e o problema todo consistia que o estava buscando do lado de fora. Estava buscando por ele em algum outro lugar fora e ele sempre esteve aí dentro de você, sempre esteve aí com você. Você estava buscando na direção errada, só isso. 
 
Tudo está disponível para você, assim como está disponível para qualquer um. Nada irá satisfazê-lo, porque nada pode ser conseguido no mundo exterior que se compare ao tesouro interior, à luz interior, à graça interior. 

 
Osho – A arte de morrer
 
 
 

 

terça-feira, 29 de março de 2016

A ESCURIDÃO ME BASTA


Senhor, é quase meia-noite e estou Te esperando na escuridão e no grande silêncio.
 
Lamento todos os meus pecados.
 
Não me deixe pedir mais do que ficar sentado na escuridão, sem acender alguma luz por conta própria, nem me abarrotar com os próprios pensamentos para preencher o vazio da noite na qual espero por Ti.
 
Deixa-me virar nada para a luz pálida e fraca dos sentidos, a fim de permanecer na doce escuridão da Fé pura.  
 
Quanto ao mundo, deixa-me tornar-me para ele totalmente obscuro para sempre.
 
Que eu possa, deste modo, por esta escuridão, chegar enfim à Tua claridade.
 
Que eu possa, depois de ter me tornado insignificante para o mundo, estender-me em direção aos sentidos infinitos, contidos em Tua paz e Tua glória.
 
Tua claridade é minha escuridão.
 
Eu não conheço nada de Ti e por mim mesmo nem posso imaginar como fazer para Te conhecer.
 
Se eu te imaginar, estarei errado.
 
Se Te compreender, estarei enganado.
 
Se ficar consciente e certo que Te conheço, serei louco.
 
A escuridão me basta.


 
Thomas Merton

OLHAR DE ÁGUIA

 

Cada pessoa tem uma história...
uma longa história tecida com o fio da vida... de muitas vidas...

 
Nesse tecer vamos fazendo muitas coisas bonitas...
vamos aprendendo muitas coisas...
descobrindo sentimentos... amor...

 
Mas com esse mesmo fio tecemos coisas não tão bonitas...
 das quais mais tarde nos arrependemos...
 
É onde o tecido fica cheio de nós e nos
sentimos muito culpados por esses
pedaços da trama...

 
Tentamos até arrebentar o fio prá que ninguém
saiba desses pedaços que preferimos
esconder até da gente mesmo...

 
Só que o fio da vida não pode ser arrebentado...
ele fica tecido...

 
E nem tem como esconder essas partes das
quais nos arrependemos...
não tem como apagar esse pedaço da nossa história...

 
Mas existe uma coisa que podemos fazer...
Se olharmos prá nossas vidas e prá todas as
vidas com os olhos da águia...
que é o único pássaro que olha diretamente
para o Sol e que vê de cima,
com uma visão ampla, o plano maior...
Vamos ver que no tecido das nossas vidas
existe uma luzinha que está mais
forte em alguns pontos...
justo naqueles pontos onde demos os nós
que tanto nos fazem sentir culpados...

 
É que sempre onde tem sombra,
tem luz esperando pra ser liberada...

 
Então...
ao aceitarmos a nossa humanidade com Amor e Perdão... vamos aos poucos e com cuidado...
desfazendo aqueles nós e tirando o aprendizado
contido naquelas histórias...
Sempre com Amor...

 
E a partir daí...
com os fios que liberamos
vamos tecer uma linda história...
Um bonito tecido de luz e amor com aquele fio que
ficou então disponível pra um novo tecido...

 
Só que agora ele está enriquecido com
Sabedoria e Amor...

 
O fio da vida se tornou mais bonito pela
certeza de que tivemos a coragem de viver
o que era a nossa história...

 
O que vamos construir a partir daqui...
traz então um gosto de Esperança e um
cheiro de Amanhecer,
porque essa nova história é tecida por mãos
que agora relembram os caminhos do Amor...



Rúbia Dantés

segunda-feira, 28 de março de 2016

MANEIRAS DE VER A VIDA

"Caminhamos ao encontro do amor e do desejo. Não buscamos lições, nem a amarga filosofia que se exige da grandeza. Além do sol, dos beijos e dos perfumes selvagens, tudo o mais nos parece fútil. Quando a mim, não procuro estar sozinho nesse lugar. Muitas vezes estive aqui com aqueles que amava, e discernia em seus traços o claro sorriso que neles tomava a face do amor. Deixo a outros a ordem e a medida. Domina-me por completo a grande libertinagem da natureza e do mar".

"Um homem é mais homem pelas coisas que silencia do que pelas que diz. Vou silenciar muitas. Sabendo que não há causas vitoriosas, gosto das causas perdidas: elas exigem uma alma inteira, tanto na derrota quanto nas vitórias passageiras. Criar é viver duas vezes... Todos tentam imitar, repetir e recriar sua própria realidade. Sempre acabamos adquirindo o rosto das nossas verdades."

"Respiro a única felicidade que sou capaz - uma consciência atenciosa e cordial. Passeio o dia todo(...) cada ser que encontro, cada cheiro dessa rua, tudo é pretexto para amar sem medida. Jovens mulheres supervisionam uma colônia de férias, a trombeta do vendedor de sorvetes, as barracas de frutas, melancias vermelhas com caroços negros, uvas translúcidas e meladas - tantos apoios para quem não sabe ser só. Mas a flauta ácida e terna das cigarras, o perfume de águas e de estrelas que se encontram nas noites de setembro, os caminhos aromáticos entre as árvores de pistache e os juncos. tantos sinais de amor para quem é forçado a ser só".

"É-nos impossível saber com segurança se Deus existe ou não existe. Por isso, só nos resta apostar. Se apostarmos que Deus não existe e ele existir, adeus vida eterna, Alô, danação! Se apostarmos que Deus existe e ele não existir, não faz a menor diferença, ficamos num zero a zero metafísico"

"Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. - Acho que tudo está bem-, diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo está perdido, que nem tudo foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto das dores Inúteis. Faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe".

"Não existe pátria para quem desespera e, quanto a mim, sei que o mar me precede e me segue, e minha loucura está sempre pronta. Aqueles que se amam e são separados podem viver sua dor, mas isso não é desespero: eles sabem que o amor existe. Eis porque sofro, de olhos secos, este exílio. Espero ainda. Um dia chega, enfim... "

"Já se disse que as grandes ideias vêm ao mundo mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com atenção, escutaremos, em meio ao estrépito de impérios e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança. Alguns dirão que tal esperança, jaz numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revivificada, alimentada por milhões de indivíduos solitários, cujos atos e trabalho, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história. Como resultado, brilha por um breve momento a verdade, sempre ameaçada, de que cada e todo homem, sobre a base de seus próprios sofrimentos e alegrias, constrói para todos".

"O erro é acreditar que é preciso escolher, que é preciso fazer aquilo que se quer, e que, para ser feliz, existem condições. A única coisa que conta é a vontade de felicidade, uma espécie de enorme consciência, sempre presente. O resto, mulheres, obras de arte ou sucessos mundanos, são apenas pretextos. É uma tela em branco que aguarda nossos bordados".

"Não há grandes dores, nem grandes arrependimentos, nem grandes recordações. Tudo se esquece, até mesmo os grandes amores. É o que há de triste e ao mesmo tempo de exaltante na vida. Há apenas uma certa maneira de ver as coisas, e ela surge de vez em quando. É por isso que, apesar de tudo, é bom ter tido um grande amor, uma paixão infeliz na vida. Isso constitui pelo menos um álibi para os desesperos sem razão que se apoderam de nós".

"Os intelectuais fazem a teoria, as massas a economia. Finalmente, os intelectuais utilizam as massas e através deles a teoria utiliza a economia.
Por isso é-lhes necessário manter o estado de sítio e a servidão econômica - para que as massas continuem a ser massas manobráveis. É bem certo que a economia constitui a matéria da história. As ideias contentam-se com conduzi-la".

"Assim como não concebia uma felicidade sobre-humana, também não conseguia conceber uma eternidade além da curva dos dias. A felicidade era humana e a eternidade quotidiana. Tudo resumia em saber humilhar-se, harmonizar o coração ao ritmo dos dias, em vez de obrigá-los a seguir a curva de nossa esperança. Da mesma forma que é necessário,em arte, saber parar, pois chega sempre um momento em que uma escultura não deve ser mais tocada, e que, para isso, a vontade da inteligência serve melhor ao artista do que os mais amplos recursos da clarividência, assim também é necessário um mínimo de inteligência para se conseguir uma existência feliz. E quem não a tiver, tem de conquistá-la".


Albert Camus




"Albert Camus  não é um filósofo preocupado com definições nem com um rigor conceitual. Para ele, a Filosofia sempre é vida e os parâmetros do filosofar são sempre subjetivos e ancorados na sua vida. Sua filosofia é um pensar sobre a existência, porém não desde seus aspectos teóricos ou conceituais, mas práticos e existenciais. Foi um homem de muitas faces: foi jornalista, romancista, dedicou-se ao teatro, foi militante político e polemista. Os sentimentos que lhe impulsionaram sua obra, agiam frente a um mundo que lhe era estranho, absurdo, mas também fraternal e cheio de sol".
 

domingo, 27 de março de 2016

OS TRES AMIGOS

Parte IV

Sutra:

Os homens podem viver juntos e não saber nada sobre a vida? Trabalhar juntos e não produzir nada? Eles podem voar pelo espaço e se esquecer de que existe o mundo sem fim? Os três amigos olharam uns para os outros e desataram a rir...


Perceba... Sempre que você faz uma pergunta profunda, nenhuma resposta é necessária. Tudo o que é necessário é ficar com a pergunta. Não se mova para lá e para cá, fique com a pergunta e espere. A própria pergunta se tornará a resposta.

Sim, vivemos sem saber o que é a vida. Sim, vivemos juntos sem saber o que é união. Sim, vivemos esquecendo completamente que existimos. Ficamos voando em círculos no céu sem saber para onde vamos nem por que.

Somente um tolo pode responder a essa pergunta.

A situação toda é tão absurda. Na realidade, vivemos sem saber o que é a vida; nós existimos sem nos dar conta da existência, nós empreendemos a jornada sem saber de onde viemos ou para onde vamos ou por que viajamos.

A vida é um mistério e sempre que você enfrentar um mistério, a risada irá surgir. Como você pode responder a um mistério?


Assim eles ficaram mais amigos do que antes.

Isso é lindo. Sempre que existe uma explicação, surge a inimizade, sempre que você acredita em algo você fica dividido. A crença cria o conflito. O mundo inteiro está dividido por causa da crença. Você é um hindu e alguém é muçulmano, e vocês são inimigos. Por que vocês são inimigos? Por causa da crença. A crença cria o conflito; explicações tolas, ideologias criam conflitos, guerras.

Veja só: se não existir uma explicação, quem é hindu e quem é muçulmano? E como vocês podem lutar? Para quê? Os homens sempre lutaram por causa de filosofias, derramando sangue, matando uns aos outros, apenas por crenças tolas.

E se você olhar as crenças, você pode ver a loucura – não das suas, mas das crenças dos outros. Sua crença é algo sagrado, mas aquelas de todas as outras pessoas parecem tolas.

Todas as crenças são tolas. Você não pode ver a sua própria porque está muito próxima. Na verdade, as explicações são tolas, estúpidas.


Eu ouvi...
Um bando de pássaros voava para o sul na época do inverno. Um pássaro na traseira perguntou a outro: “Por que é que nós sempre seguimos esse líder idiota?”
O outro disse: “Em primeiro lugar, todos os líderes são idiotas”. Caso contrário, quem iria liderar? Só os tolos estão sempre prontos para liderar. Um sábio hesita. A vida é tão misteriosa – não é um caminho pronto. Como você pode liderar? Então o pássaro disse: “Em primeiro lugar, todos os líderes são idiotas e, em segundo lugar, ele tem o mapa, então todos os anos temos que segui-lo”.

Mas perceba... A vida não tem mapa e não existe possibilidade de se fazer um mapa. Sem explicações, como você pode ficar dividido? Se não houver nenhuma explicação, o mundo será um só. Mas existem milhões de explicações, milhões de fragmentos.

Então, olhe para o mistério e ria, e a humanidade é uma só. E então não há necessidade de dizer que os cristãos são irmãos dos hindus, que os hindus são irmãos dos muçulmanos.

Em primeiro lugar, divida-os por crenças, deixe-os doentes e, em seguida, forneça remédios – todos vocês são irmãos. Você já viu irmãos? Eles brigam mais do que inimigos! Então, para que torna-los irmãos?

O homem briga por causa das explicações. Todas as brigas são tolas. O homem briga por suas bandeiras. Que tipo de loucura, que tipo de maluquice existe no mundo? Brigam por bandeiras, por crenças, por ideologias?

Se você quer realmente ser um amigo, não tenha explicações e nem conclusões, não acredite em nada. E então você não fica dividido, então a humanidade é uma só, então não há nenhuma barreira.  
E o amor existe não através da mente, ele existe através do sentimento.

Por isso eles riram. O riso vem do coração, o riso vem da barriga, o riso vem do ser total. Quando três pessoas riem, elas se tornam amigas. Quando três pessoas choram, elas se tornam amigas. Mas quando três pessoas debatem, tornam-se inimigas.

Osho


SOBRE OS HÁBITOS DO MEDO

O medo é também um hábito. O medo pode ser ensinado e de fato se ensina constantemente.

O medo se perpetua.

Quase todo o medo é o temor ao desconhecido. Portanto, qual é o remédio?

Familiarizar-se com aquilo que se teme.

Alguns temores podem proceder de experiências em vidas anteriores.

Estes são tratados da mesma maneira. Familiarizando-se com as coisas que se teme.

Uma Meditação Eficiente

Gostaria de compartilhar esta pequena meditação com você. 

Primeiro, concordamos que a proteção de Deus nos rodeia. Compreenda que é um formoso filho de Deus, sempre nas mãos de Deus.

Aceite Deus... aceite a proteção divina... na verdade não há nenhum problema a temer. Saiba que não é o traje de argila. Saiba que você não é a natureza centrada em si mesmo que governa sua vida inutilmente. Saiba que você é a natureza centrada em Deus. O Reino de Deus no seu interior. O Cristo que mora em você. Eterno e indestrutível. Identifique-se com o verdadeiro eu.

Paz ... permaneça em silêncio ... e conheça ... que sou Deus

Paz ... permaneça em silêncio ... e conheça ... que sou.

Paz ... permaneça em silêncio ... e conheça.

Paz ... permaneça em silêncio.

Paz ... permaneça.

Paz...

Paz...

Paz.

Em todas as pessoas que conheço - ainda que alguns possam estar regidos pela natureza centrada em si mesmos, e talvez desconheçam totalmente seu potencial - vejo a chispa divina, e é nisso que me concentro. Todas as pessoas parecem-me lindas; vejo-as como luzes brilhantes. Sinto-me sempre agradecida por esta gente linda que caminha na terra comigo.


Fazendo da Oração um hábito - Formas de Oração

Todo dia podemos imaginar a luz divina e enviá-la a alguém que a necessite. Sua natureza divina deve estender-se e tocar a natureza divina do outro. Dentro de nós está a luz do mundo, a qual deve ser compartilhada com a humanidade.

Imagine uma luz dourada dentro de você e propague-a. Primeiro àqueles ao seu redor - seu círculo de amizades e familiares - e depois gradualmente ao mundo. Siga imaginando a luz dourada de Deus rodeando nossa Terra.

Se alguém tem uma grande dificuldade e essa pessoa surge em minha mente, algumas vezes emprego a oração através da imaginação, que tem sido sempre muito natural para mim; mas compreendo que não é assim para todos. Estendo-me - minha natureza divina se estende para fazer contato com a natureza divina dos demais. Logo tenho a sensação de elevá-los, elevá-los, elevá-los, e tenho o sentimento de estar trazendo a luz divina até eles. Trato de imaginá-los banhados na luz divina, e por último os vejo parados, estendendo os braços banhados na luz dourada. Nesse ponto deixo-os nas mãos de Deus.

Se você tem um problema, leve o assunto a Deus numa oração e imagine-o nas mãos de Deus. Depois deixe-o, com o conhecimento de que está nas melhores mãos possíveis e volte sua atenção para outros assuntos.

Existe também uma oração constante de agradecimento - eu estou constantemente agradecida. O mundo é lindo, agradeço. Tenho uma energia infinita, agradeço. Estou conectada com a fonte de Abastecimento Universal, agradeço. Estou conectada com a fonte de Verdade Universal, agradeço.

Tenho este sentimento constante de agradecimento, o qual é uma oração. Orar sem cessar não é um rito, nem sequer existem palavras. É um constante estado de consciência da unidade com Deus; é uma busca sincera do bom; é uma concentração naquilo que se busca, com a fé de poder alcançá-lo. 

Toda oração correta tem um bom efeito, portanto quando dedicamos nossa vida à oração, seu poder se multiplica... Na realidade ninguém conhece o poder completo da oração.

É claro que existe uma relação entre a oração e a ação. A oração receptiva dá como resultado um receber interior, o qual motiva a ação correta.

A parte mais importante de uma oração é o que sentimos, não o que dizemos. Passamos muito tempo dizendo a Deus o que queremos que Ele faça, mas não suficiente tempo esperando em silêncio para que Deus nos diga o que fazer. 


Peregrina da Paz