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quinta-feira, 30 de abril de 2020

INDICAÇÕES SIMPLES, 
PORÉM PROFUNDAS 
 

Você faz a Diferença: Na simplicidade de uma flor está o amor.
MORRA ANTES DA MORTE E VOCÊ VIVERÁ PARA SEMPRE

O tipo de desapego que realmente dura vem da compreensão do sofrimento e de suas causas. Baseia-se de forma segura no conhecimento concreto de que todas as coisas deste mundo são momentâneas e passageiras e que qualquer apego a elas está fadado a tornar-se uma fonte de dor..
 
O amor pode atingir aquilo que o intelecto não pode nem suspeitar.

Apenas dizer 'eu quero ver Deus' ou 'eu quero realizar Deus' é semelhante a uma formiga dizendo 'eu quero tornar-me um elefante!' Meras palavras não têm nada em si. O coração deve ter sede de buscar a Deus.

Algo além da sua capacidade necessariamente mudará a sua capacidade, porque enquanto tudo está dentro dos seus limites, você não sabe o que está além deles. E tudo a respeito de Deus e da Realização de Deus está além dos limites. Dessa forma, ser afligido por problemas terríveis e por grande sofrimento é benéfico.
 
Uma vez que você abrir suas asas para voar, você deve voar em linha reta, como o cisne. Não voe de árvore em árvore como o pardal, ou muitas coisas vão distraí-lo no caminho e a viagem é longa. 
 
As pessoas devem dar e receber. Dê primeiro e então você terá tudo. Mas em vez disso, as pessoas querem primeiro ter tudo e depois pensar em dar. Essa não é a maneira certa.
 
Anseie pelo que é real. E você então não terá tempo para se preocupar com o que pode nunca acontecer."
 
Mais feliz é aquele que não espera nenhuma felicidade dos outros. O amor se encanta e glorifica em dar, não em receber. Então aprenda a amar e a dar e a não esperar nada dos outros.


Meher Baba
http://ricardo-yoga.blogspot.com
 
O    P R O B L E M A   D O   S E X O

Adão tinha tudo para dar certo: não tinha sogra, nem parentes, nem ... 
O sexo é decididamente um dos problemas mais importantes com o qual a mente humana é confrontada no domínio da dualidade. É um dos elementos na composição da natureza humana com o qual temos de lidar. Como tudo na vida humana, o sexo passa a ser julgado através de opostos, que são necessariamente criações da mente limitada.
 
Assim como a mente tenta ajustar a vida em um esquema de alternativas, tal como alegria ou dor, bom ou ruim, solidão ou companhia, atração ou repulsão, em relação ao sexo ela tende a pensar em indulgência e repressão como alternativas das quais não há escapatória para ela. Parece como se a mente tivesse de aceitar uma alternativa ou a outra. Contudo, ela não pode aceitar sem restrições nenhuma delas. Quando tenta a repressão, ela fica insatisfeita com sua situação e com saudade pensa na indulgência.Quando tenta a indulgência, torna-se consciente de sua escravidão aos sentidos e busca a liberdade, voltando à repressão mecânica. A mente continua insatisfeita com as duas alternativas, e assim, surge um dos problemas mais importantes e complicados da vida humana. Para resolver o problema do sexo, a mente precisa primeiro entender que ambas as alternativas são igualmente criação da imaginação que trabalha sob a influência ilusória do desejo. O desejo está implicitamente presente na repressão do sexo, bem como na sua gratificação. Ambos resultam em viciar a consciência através da concupiscência (luxúria) ou pelo desejo de sensações. A mente fica, portanto, inevitavelmente inquieta em qualquer das alternativas. Assim como quando há nuvens no céu, há escuridão e falta de sol esteja chovendo ou não, também quando a mente humana está envolta pelo desejo há uma diminuição de ser e uma falta de felicidade verdadeira, seja esse desejo satisfeito ou não.
 
A mente, quando agitada com o desejo, cria uma ideia ilusória de felicidade na satisfação do desejo e, em seguida, sabendo que a alma continua insatisfeita mesmo após a satisfação do desejo, busca a liberdade através da repressão. Assim, em busca da felicidade e da liberdade, a mente fica presa nos opostos da indulgência e da repressão, os quais ela acha igualmente decepcionantes. Uma vez que ela não tente ir além destes opostos, seu movimento é sempre de um oposto para o outro e, consequentemente, de uma decepção para outra.

Dessa forma o desejo falsifica o funcionamento da imaginação e apresenta a mente a opção entre as alternativas de indulgência e repressão, que se revelam igualmente decepcionantes em sua promessa de trazer felicidade. No entanto, apesar das decepções repetidas e alternadas na indulgência bem como na repressão, a mente normalmente não renuncia a causa da infelicidade, a qual é o desejo. Desse modo, enquanto experimenta a decepção na repressão, ela é facilmente suscetível à falsa promessa de gratificação e enquanto experimenta a decepção na gratificação, fica facilmente suscetível à falsa promessa de repressão puramente mecânica. Isso é como mover-se dentro de uma gaiola. A porta de entrada para o caminho espiritual da renúncia interna e espontânea do desejo permanece fechada para aqueles que não têm a sorte de serem despertados por um Mestre Perfeito. O verdadeiro despertar é a entrada no caminho da sabedoria, que, no decorrer do tempo, certamente leva à liberdade e à felicidade duradoura da vida eterna. 
 
A renúncia interna e espontânea do desejo é tão diferente da repressão mecânica quanto é diferente da indulgência. A mente se volta para a repressão mecânica do desejo por causa da decepção, mas ela se volta para a renúncia interna e espontânea do desejo por causa da desilusão ou do despertar. A necessidade de indulgência ou de repressão mecânica surge apenas quando a natureza do desejo não é claramente compreendida. Quando os aspirantes despertam totalmente para escravidão e o sofrimento inevitáveis decorrentes de desejo, eles começam voluntariamente a se livrar do fardo do desejo através da compreensão inteligente. A questão de indulgência ou repressão só surge quando há desejo. A necessidade de ambos desaparece com o completo desaparecimento do desejo. Quando a mente está livre do desejo, ela já não pode ser movida pelas falsas promessas de indulgência ou repressão mecânica. No entanto, deve-se ter em mente que a vida de liberdade está mais perto da vida de contenção do que da vida de indulgência (embora em termos de qualidade seja essencialmente diferente de ambas). Dessa forma, para os aspirantes uma vida de celibato rigoroso é preferível à vida de casado, se a retenção chega a eles facilmente sem um sentido indevido de auto repressão. Tal restrição é difícil para a maioria das pessoas e às vezes impossível, e para eles a vida conjugal é, decididamente, mais útil do que uma vida de celibato. Para as pessoas comuns, a vida conjugal é sem dúvida aconselhável a menos que eles tenham uma aptidão especial para o celibato.

Assim como a vida de celibato exige e suscita o desenvolvimento de muitas virtudes, a vida conjugal por sua vez também alimenta o crescimento de muitas qualidades espirituais de extrema importância. O valor do celibato está no hábito de contenção e do sentido de desprendimento e independência que ela dá. Mas, enquanto a mente não está totalmente livre do desejo, não há verdadeira liberdade. Da mesma forma, o valor do casamento está nas lições de ajustamento mútuo e no sentido de unidade com o outro. A verdadeira união ou dissolução da dualidade é possível, entretanto, somente através do amor divino, que nunca pode alvorecer enquanto houver a menor sombra de luxúria ou de desejo na mente. Somente ao trilhar o caminho da renúncia interior e espontânea do desejo é que é possível alcançar a verdadeira liberdade e unidade.
 
Para aqueles que são celibatários, bem como para as pessoas casadas, o caminho da vida interior é o mesmo. Quando os aspirantes são atraídos pela Verdade, não anseiam por mais nada e conforme a Verdade chega cada vez mais dentro do seu alcance, eles gradualmente se livram do desejo. Seja no celibato ou no casamento, eles não são mais seduzidos pelas promessas enganosas de indulgência ou repressão mecânica e praticam a renúncia interna e espontânea do desejo até que sejam libertados dos opostos enganosos. O caminho da perfeição está aberto aos aspirantes tanto no celibato quanto no casamento, e se eles começam a partir do casamento ou do celibato vai depender de seus sanskaras e dos laços karmicos do passado. Eles alegremente aceitam as condições que suas vidas passadas determinaram para eles e utilizam essas condições para o avanço espiritual à luz do ideal que vieram a perceber.

Os aspirantes devem escolher um dos dois cursos que estão abertos para eles. Devem levar a uma vida de celibato ou a uma vida de casado e devem evitar a todo custo uma conciliação barata entre os dois. Promiscuidade na gratificação sexual está fadada a aportar os aspirantes no caos mais lastimável e perigoso da luxúria ingovernável. Dessa forma, a luxúria difusa e desgovernada vela os valores mais elevados, perpetua o enredamento e cria no caminho espiritual dificuldades inultrapassáveis à renúncia interna e espontânea do desejo. O sexo no casamento é totalmente diferente do sexo fora do casamento. No casamento, os sanskaras de luxúria são muito mais leves e capazes de serem removidos mais facilmente. Quando um relacionamento sexual é acompanhado por um senso de responsabilidade, amor e idealismo espiritual, as condições para a sublimação do sexo são muito mais favoráveis do que quando ele é mais barato e promíscuo. Na promiscuidade a tentação de explorar as possibilidades de mero contato sexual é formidável. É somente pela restrição máxima do âmbito do mero sexo que os aspirantes podem chegar a qualquer compreensão real dos valores atingíveis através da transformação gradual do sexo em amor. Se a mente tenta entender o sexo com a ampliação do escopo do sexo, não há fim para as ilusões para as quais ela torna-se presa, pois não há fim para a ampliação de seu escopo. Na promiscuidade as sugestões da luxúria são necessariamente as primeiras a se apresentarem à mente e os indivíduos ficam condenados a reagirem às pessoas dentro das limitações dessa perversão inicial e, assim, fecham a porta para experiências mais profundas.
 
A verdade não pode ser compreendida ao saltarmos sobre a superfície da vida e multiplicarmos os contatos superficiais. É necessária a preparação da mente, que pode centrar suas capacidades sobre experiências selecionadas e livrar-se de suas características limitantes. Esse processo de discriminação entre o superior e o inferior e da transcendência do inferior em favor do superior, torna-se possível através de uma concentração plena e de um interesse real e sério na vida. Essa concentração plena e interesse real é necessariamente excluída quando a mente se torna escrava do hábito de correr pela tangente e vagar entre muitos possíveis objetos de experiência semelhante.
 
Na vida conjugal o alcance da experiência a ser experimentada em companhia do parceiro é tão grande que as sugestões da luxúria não são necessariamente as primeiras a se apresentar à mente. Há, portanto, uma real oportunidade para os aspirantes de reconhecer e anular os fatores limitantes na experiência. Através da eliminação gradual da luxúria e da progressão através de uma série de experiências cada vez mais ricas de amor e sacrifício, eles podem finalmente chegar à Infinidade.


Meher Baba
http://ricardo-yoga.blogspot.com

quarta-feira, 29 de abril de 2020

O      E   G   O   Í    S   M   O

Como seriam nossas vidas se fôssemos menos egoístas?

O egoísmo vem à existência devido à tendência dos desejos de encontrarem satisfação na ação e na experiência. É nascido da ignorância fundamental a respeito de nossa natureza verdadeira. A consciência humana está obscurecida pelo acúmulo dos vários tipos de impressões depositadas pelo longo curso da evolução da consciência. Essas impressões expressam-se como desejos e o alcance de operação da consciência está estritamente limitado por esses desejos. Os Sanskaras, ou impressões, formam um invólucro em torno do possível campo da consciência. O círculo de sanskaras constitui aquela área limitada na qual a consciência individual pode ser focalizada.
 
Com alguns dos desejos a ação é apenas latente, mas outros podem realmente traduzirem-se em ação. A capacidade de um desejo de encontrar expressão no comportamento depende da intensidade e da quantidade de sanskaras ligados a ele. Usando uma metáfora geométrica, podemos dizer que quando um desejo passa para ação, ele percorre uma distância que é igual ao raio de um círculo que descreve o limite de sanskaras ligados a ele. Quando um desejo reúne força suficiente, ele projeta-se em ação a fim de obter satisfação. A extensão do egoísmo é igual à extensão dos desejos. Devido ao impedimento dos desejos múltiplos, torna-se impossível para a alma encontrar a expressão livre e plena de seu verdadeiro ser, e a vida se torna autocentrada e estreita. A vida inteira do ego pessoal está constantemente sob o domínio do querer, ou seja, uma tentativa de buscar a satisfação dos desejos através de coisas que mudam e desaparecem. Mas não pode haver verdadeira satisfação através de coisas transitórias. A satisfação derivada de coisas passageiras da vida não é duradoura e as necessidades do homem continuam não atendidas. Há, portanto, um sentimento geral de insatisfação acompanhado de todos os tipos de preocupações.

As formas principais em que o ego frustrado encontra expressão são a cobiça, luxúria e a raiva. A luxúria é muito parecida com a cobiça em muitos aspectos, mas difere na forma de sua realização, que está diretamente relacionada à esfera grosseira. A luxúria encontra a sua expressão por meio do corpo físico e está preocupada com a carne. É uma forma de se enredar com a esfera grosseira.* A cobiça é um estado de inquietação do coração e consiste principalmente no desejo por poder e posses. Posses e poder são procurados para poderem satisfazer os desejos. O homem fica só parcialmente satisfeito em sua tentativa de ter a satisfação de seus desejos, e essa satisfação parcial ventila e aumenta a chama do desejo, em vez de extingui-la. Assim, a cobiça sempre encontra um campo infinito de conquista e deixa o indivíduo eternamente insatisfeito. As principais expressões da cobiça estão relacionadas com a parte emocional do homem. É uma forma de se enredar com a esfera sutil.
 
A raiva é a emanação de uma mente irritada. É causada pela frustração dos desejos. Ela alimenta o ego limitado e é utilizada para a dominação e a agressão. Destina-se a remover os obstáculos existentes na realização dos desejos. O frenesi da raiva alimenta o egoísmo e a vaidade, e é o maior benfeitor do ego limitado. A mente é a sede da raiva e suas manifestações são principalmente através das atividades da mente. A raiva é uma forma de se enredar com a esfera mental. Luxúria, ganância e raiva, respectivamente, tem o corpo, o coração e a mente como seus veículos de expressão. O homem experimenta desapontamento através da luxúria, da cobiça e da raiva; e o ego frustrado, por sua vez, busca a gratificação adicional através da luxúria, da cobiça e da raiva. A consciência é, assim, apanhada num círculo vicioso de decepção sem fim. A decepção vem à existência quando, ou a luxúria, ou a ganância ou a raiva são frustradas em sua expressão. É, portanto, uma reação geral de aprisionamento grosseiro, sutil e mental. É uma depressão causada pelo não satisfação da luxúria, da cobiça e da raiva, que, juntos, são co-extensivos com o egoísmo. O egoísmo, que é a base comum desses três vícios ingredientes, é, portanto, a causa final das decepções e preocupações. Ele derrota a si mesmo. Busca satisfação através de desejos, mas só consegue chegar numa insatisfação interminável.
 
O egoísmo leva inevitavelmente à insatisfação e à decepção, pois os desejos são infinitos. O problema da felicidade é, portanto, o problema de abandonar nossos desejos. Os desejos, porém, não podem ser efetivamente superados através da repressão mecânica. Eles podem ser aniquilados somente através do Conhecimento. Se você mergulhar profundamente no reino dos pensamentos e pensar seriamente por poucos minutos, você vai perceber o vazio dos desejos. Pense no que você tem desfrutado todos esses anos e o que você sofreu. Tudo que você desfrutou durante a vida é hoje nulo. Tudo o que você sofreu ao longo da vida também não é nada no presente. Tudo era ilusório. É o seu direito ser feliz, e ainda, você cria sua própria infelicidade por querer as coisas. Querer é a fonte da inquietação permanente. Se você não consegue a coisa que quer, você fica decepcionado. E se consegue, você quer mais e mais daquilo e se torna infeliz. Diga "eu não quero nada" e seja feliz. A realização contínua da futilidade dos desejos eventualmente o levará ao Conhecimento. Este Auto-conhecimento dará a você a liberdade dos desejos que leva ao caminho da felicidade permanente. Os desejos devem ser cuidadosamente distinguidos das necessidades. O orgulho e a ira, a cobiça e a luxúria, são todos diferentes das necessidades. Você pode pensar: "eu preciso de tudo que eu quero", mas isso é um erro. Se estiver com sede em um deserto, o que você precisa é de água de boa qualidade e não de limonada.

Enquanto a pessoa tiver um corpo, haverá algumas necessidades e é necessário atender essas necessidades. Mas os desejos são um resultado da imaginação apaixonada. Eles devem ser escrupulosamente mortos para poder haver alguma felicidade. Como a própria essência do egoísmo consiste de desejos, a renúncia dos desejos torna-se um processo de morte. Morrer no sentido comum significa romper com o corpo físico, mas morrer no verdadeiro sentido significa a renúncia dos desejos baixos. Os sacerdotes preparam as pessoas para a falsa morte pintando retratos sombrios do inferno e do céu, mas sua morte é ilusória, pois a vida é uma continuidade ininterrupta. A morte real consiste na cessação dos desejos e ela vem por etapas graduais. O alvorecer do amor facilita a morte do egoísmo. Ser é morrer através do amor. Se você não pode amar ao próximo, como poderá amar até mesmo quem lhe tortura? Os limites do egoísmo são criados pela ignorância. Quando uma pessoa percebe que pode ter a satisfação mais gloriosa alargando a esfera de seus interesses e atividades, ele se encaminha para uma vida de serviço. Nesta fase ela entretém muitos bons desejos. Quer fazer os outros felizes ao aliviar seu sofrimento e ao ajudá-los. E embora mesmo em tais bons desejos muitas vezes haja uma referência indireta e latente à própria pessoa, o egoísmo estreito não tem controle sobre as boas ações. Mesmo bons desejos podem, em certo sentido, serem considerados uma forma de egoísmo esclarecido e estendido, pois, como os desejos ruins, eles também se movem dentro do domínio da dualidade. Mas conforme a pessoa entretém bons desejos, seu egoísmo abraça uma concepção maior que eventualmente traz sua própria extinção. Em vez de apenas tentar ser ilustre, aprisionador e possessivo, ele aprende a ser útil aos outros.

Os desejos que entram na constituição do ego pessoal não são nem bons nem ruins. Os maus desejos são normalmente referidos como formas de egoísmo e bons desejos são referidos como formas de altruísmo.
 
No entanto, não há uma linha precisa dividindo o egoísmo do altruísmo. Ambos se movem no domínio da dualidade, e do ponto de vista final que transcende os opostos do bem e do mal, a distinção entre egoísmo e altruísmo é principalmente uma diferença de alcance. O egoísmo e o altruísmo são duas fases da vida do ego pessoal e essas duas fases são contínuas uma com a outra. O egoísmo surge quando todos os desejos estão centrados em torno da individualidade estreita. O altruísmo surge quando esta organização bruta dos desejos sofre uma desintegração criando uma dispersão geral dos desejos, com o resultado que eles abrangem um domínio muito mais amplo.
 
O egoísmo é o estreitamento dos interesses a um campo limitado; o altruísmo é a extensão de interesses ao longo de um vasto campo. Colocando paradoxalmente, o egoísmo é uma forma limitada de altruísmo e o altruísmo é a expansão do egoísmo em uma ampla esfera de atividade.
 
O egoísmo deve ser transmutado em altruísmo antes do domínio da dualidade poder ser completamente ultrapassado. O desempenho persistente e contínuo do de boas ações desgasta o egoísmo. O egoísmo expandido e expressado na forma de boas obras passa a ser o instrumento de sua própria destruição. O bom é o principal elo entre o egoísmo prosperar e morrer. O egoísmo, que no início é o pai de más tendências, torna-se através das boas ações, o herói de sua própria derrota. Quando as más tendências são completamente substituídas por boas tendências, o egoísmo é transformado em altruísmo, isto é, o egoísmo individual perde-se num interesse universal. Embora essa vida abnegada e boa esteja também vinculada aos opostos, a bondade é um passo necessário em direção à liberdade dos opostos. A bondade é o meio pelo qual a alma aniquila a sua própria ignorância. Do bom a alma passa para Deus. O altruísmo funde-se na individualidade universal, que é além do bem e do mal, da virtude e do vício e todos os outros aspectos duais de Maya (a ilusão ou a ignorância).
 
O cume do altruísmo é o início do sentimento de unidade com todos. No estado de Libertação não há nem o egoísmo nem o altruísmo no sentido comum, mas ambos são tomados e fundiram-se na sensação do 'Sentido de Ser' (Selfness) por todos. A Realização da unidade de tudo é acompanhada de paz e de alegria insondável. Ela não leva de maneira alguma nem à estagnação espiritual ou à obliteração de valores relativos. Esse (Selfness) 'sentido de Ser' para com todos traz uma harmonia imperturbável sem perda de discriminação, e uma paz inabalável sem indiferença para com o meio que nos cerca. Este (Selfness) 'Sentido de Ser' para com todos não é um resultado de mera síntese subjetiva. É resultado de uma real conquista da união com a Realidade última, que inclui tudo. Abra seu coração, desenraizando todos os desejos e abrigando um único anseio, o anseio pela união com a Realidade última.
 
A Realidade última não deve ser procurada nas coisas mutáveis do meio externo, mas no nosso próprio ser. Toda vez que sua alma tem a intenção de entrar no seu coração humano, ela encontra a porta fechada e o interior demasiadamente cheio de desejos. Não mantenham as portas dos seus corações fechadas. Em toda parte existe a fonte da felicidade duradoura e ainda assim, todos são infelizes por causa de desejos nascidos da ignorância. O objetivo da felicidade duradoura brilha plenamente apenas quando o ego limitado, com todos os seus desejos, encontra a sua extinção completa e definitiva.
 
A renúncia dos desejos não significa o ascetismo ou uma atitude meramente negativa para com a vida. Qualquer negação da vida desse tipo tornaria o homem desumano. A divindade não é desprovida de humanidade. A espiritualidade deve tornar o homem mais humano. É uma atitude positiva de liberar tudo que é bom, nobre e belo no homem. Também contribui para tudo o que é gracioso e amável no meio ambiente.
 
A espiritualidade não exige a renúncia externa das atividades mundanas ou o evitar de deveres e responsabilidades. É necessário apenas que, durante a realização das atividades mundanas ou o cumprimento das responsabilidades decorrentes do lugar específico e da posição do indivíduo, o espírito interior deve permanecer livre do fardo dos desejos.

A perfeição consiste em manter-se livre dos embaraços da dualidade. Essa liberdade dos embaraços é o requisito mais essencial da livre criatividade. Mas essa liberdade não pode ser alcançada ao fugirmos da vida por medo de nos embaraçarmos. Isso significaria a negação da vida. A perfeição não consiste na diminuição das expressões duais da natureza. A tentativa de escapar do emaranhamento implica medo da vida. A espiritualidade consiste em enfrentar a vida de forma adequada e plena, sem ser dominado por opostos. É preciso afirmar a sua soberania sobre todas as ilusões, não importa o quão atraentes ou potentes. Sem evitar o contato com as diferentes formas de vida, um Homem Perfeito funciona com desprendimento completo no meio de intensa atividade.
 
Meher Baba 
http://ricardo-yoga.blogspot.com


D A    C A B E Ç A    A O    C O R A Ç Ã O

Reflexões Bíblicas*: Sinta Com O Coração, Mas Não Perca A Cabeça
 A distância mais longa é aquela 
entre a cabeça e o coração.
(Thomas Merton)


O primeiro objetivo: experimente ser acéfalo. Visualize a si mesmo como acéfalo; aja como se fosse. Essa sugestão parece ridícula, ilógica, mas é um dos exercícios mais importantes. Experimente e entenderá. Caminhe sentindo-se como se não tivesse cabeça. No princípio será apenas “como se”. Quando começar a sentir que não tem cabeça, achará esquisito e estranho. Mas em pouco tempo você estará se acomodando no coração.

Existe uma lei. Você talvez tenha notado que uma pessoa que é cega tem uma audição mais sensível, um ouvido mais musical. As pessoas cegas possuem uma sensibilidade para a música mais profunda. Por quê? A energia que normalmente circula pelos olhos, no caso, não pode passar por eles, então escolhe um caminho diferente que passa pelas orelhas.

Os cegos têm maior sensibilidade no tato. Se um cego lhe tocar, você sentirá a diferença, porque normalmente exercemos grande parte do nosso tato usando os olhos: costumamos nos tocar uns aos outros por meio dos olhos. Um cego não tem como exercer o tato com os olhos, assim a energia corre pelas mãos dele. Um cego é mais sensível que qualquer outra pessoa cujos olhos sejam sadios. Há exceções, mas geralmente é assim. A energia começa a circular a partir de outro centro se determinado centro não estiver atuante.

Assim sendo, experimente este exercício de que estou falando -o exercício de acefalia - e sentirá uma coisa estranha: será como se, pela primeira vez, você estivesse no coração. Caminhe sem cabeça. Sente-se para meditar, feche os olhos e sinta que não há uma cabeça. Sinta: “A minha cabeça desapareceu.” No princípio será apenas “como se”, mas em pouco tempo você sentirá que a sua cabeça realmente desapareceu. Quando sentir que a sua cabeça desapareceu, o seu centro recairá sobre o coração, imediatamente! Você estará olhando para o mundo com o coração e não com a cabeça.

Quando os ocidentais chegaram pela primeira vez ao Japão, eles não conseguiam acreditar que, durante séculos, os japoneses tradicionalmente acreditavam que pensavam com a barriga. Se perguntarmos a uma criança japonesa que não tenha sido educada segundo o estilo ocidental: “Onde fica o seu pensamento?”, ela apontará para a barriga.

Séculos e séculos se passaram e o Japão tem vivido sem a cabeça. Isso é apenas um conceito. Se eu lhe perguntar: “Por onde você pensa?”, você apontará para a cabeça, mas um japonês apontará para a barriga. Esse é um dos motivos pelos quais a mente japonesa é mais calma, quieta e tranquila.

Atualmente já não é mais assim, porque o Ocidente se espalhou por toda parte. Hoje não existe mais Oriente, que permanece apenas em alguns indivíduos que são como ilhas, aqui e ali. Geograficamente, o Oriente desapareceu e o mundo inteiro é ocidental.

Pratique a acefalia. Medite em pé diante do espelho do banheiro. Olhe profundamente nos seus olhos e sinta que você estáolhando com o coração. Em pouco tempo o centro do coração começará a funcionar. E quando o coração funciona, ele muda totalmente a sua personalidade, todo o seu organismo, todo o seu modo de ser, porque o coração tem um estilo próprio.

Primeiro pratique a acefalia. Em seguida, seja uma pessoa mais carinhosa, porque o amor não funciona através da cabeça. É por isso que, quando uma pessoa está apaixonada, dizemos que “perdeu a cabeça”: é como se tivesse ficado louca. Se não estiver apaixonado e maluco, você não está realmente apaixonado. E preciso perder a cabeça. Se ela não for afetada, se estiver funcionando normalmente, não é possível amar, porque para amar é preciso que o coração funcione e a cabeça não. Essa é uma função do coração.

É difícil descer do pedestal. Torna-se uma postura rígida. Se você é um empresário, continua sendo até na cama. É difícil acomodar duas pessoas internamente e não é fácil mudar o seu modo de ser radicalmente, imediatamente, no momento em que você decidir. Sei que é difícil, mas, se estiver apaixonado, terá de descer do alto de sua cabeça.

Para essa meditação, experimente ser uma pessoa mais carinhosa. Quando digo isso, estou lhe dizendo para mudar o caráter de seus relacionamentos: faça com que sejam baseados no amor. Torne-se mais carinhoso não só com seu parceiro, seus filhos ou seus amigos, mas em relação à vida como um todo. É por isso que Mahavir e Buda falavam sobre a não-violência: para criar uma atitude de carinho em relação à vida.

Quando Mahavir anda ou faz qualquer movimento, ele permanece atento para não matar nem mesmo uma formiga. Por quê? A formiga não é a questão. Mahavir sai da cabeça e vai para o coração, criando uma atitude de carinho em relação à vida como um todo.

Quanto mais os seus relacionamentos se basearem no amor, mais o seu centro do coração irá funcionar. E quando esse centro funcionar, você verá o mundo com outros olhos, porque o coração tem a sua própria maneira de ver o mundo. A mente não consegue ver dessa maneira, ela só consegue analisar! O coração sintetiza, enquanto a mente disseca e divide. Só o coração produz a unidade.

Quando for capaz de ver com o coração, o universo inteiro parecerá um todo único, uma unidade. Quando você observa com a mente, o mundo inteiro se torna atômico. Não existe unidade: só átomos e átomos e átomos. O coração proporciona a sensação da unidade. Ele reúne e a síntese final é Deus. Se for capaz de ver com o coração, o universo inteiro será um e essa unidade será Deus.

É por isso que a ciência nunca consegue encontrar Deus. É impossível, porque o método aplicado nunca consegue alcançar a suprema unidade. O método característico da ciência é a razão, a análise, a divisão. Desse modo, a ciência chega a moléculas, átomos, elétrons, e eles continuam a ser divididos. Eles não podem nunca chegar à unidade orgânica do todo. É impossível ver o todo com a cabeça.


Osho, em "Meditação: A Primeira e Última Liberdade"
https://blogluzevida.blogspot.com
 

terça-feira, 28 de abril de 2020

OS PRIMEIROS PASSOS NO CAMINHO

O longo caminho do Sofrimento: O que acontece quando a minha fé ... 

Uma Carta Sobre Renúncia e Concentração 
 
 
Robert Crosbie
 
Afirma-se, sobre o caminho do verdadeiro Ocultismo, que “o primeiro passo é o sacrifício”. Isso significa “sacrifício” desde o ponto de vista mundano – o ponto de vista do qual nós começamos. O fato de que nós nos libertamos com alegria do peso de coisas indesejáveis mostra o funcionamento do verdadeiro eu.

Não tema o oceano da Vida: ele o apoiará. Eu frequentemente penso na passagem que diz: “Todas as coisas trabalham em conjunto pelo bem daquele que ama o Senhor”. Sua compreensão deste ditado será mais ampla que a comum.

Você fala de um sentido da verdade que é mais seguro do que qualquer forma de raciocínio. Esta é a ação de Buddhi – a cognição direta – a meta de toda filosofia correta e de toda vida correta. Em nossos esforços sinceros, nós às vezes podemos ter vislumbres deste nível de consciência. O grande resultado seria ter a contínua cooperação de Manas e Buddhi – a mente superior e o conhecimento espiritual; trabalhar como o homem divino, perfeito em todas as suas partes, ao invés da operação fragmentada que se obtém atualmente.

Você talvez se lembre de que no livro “A Voz do Silêncio” são mencionadas duas doutrinas. A Doutrina do Olho é a consciência cerebral, composta em grande parte de impressões externas. A Doutrina do Coração é a consciência espiritual do Eu Superior. Ela não é percebida pela consciência cerebral enquanto o pensamento correto e a ação correta – que mais cedo ou mais tarde acompanha o pensamento correto – não entram em sintonia com certos centros no cérebro cujo funcionamento se dá em unidade com a vibração espiritual. Seria correto ler “A Voz do Silêncio” e meditar sobre o que a obra diz. Você desenvolveu muito o lado intelectual. Deveria haver um desenvolvimento igual do lado devocional. O desejável é o despertar da consciência espiritual, da intuição – Buddhi – e isso não pode ser feito a menos que os pensamentos adotem esta direção com força e com propósito.

Você pode, se quiser, separar uma meia hora, logo antes de dormir e depois de levantar-se – tão cedo quanto possível, e antes de comer. Concentre sua mente nos Mestres como ideais e como fatos – como seres vivos, ativos, benéficos, que trabalham no plano das causas. Medite exclusivamente sobre isso, e tente chegar até Eles em pensamento. Se você vê que a mente se distraiu, traga-a de volta para o tema de meditação. A mente se distrairá mais ou menos, no início, e talvez durante um longo tempo no futuro, mas não desanime com os resultados aparentes, se eles forem insatisfatórios do seu ponto de vista. Os reais resultados não são imediatamente perceptíveis, mas o trabalho não é perdido, ainda que seja invisível. É mais do que provável que o trabalho nesta direção será percebido mais pelos outros do que por você mesmo. Não se preocupe com o passado, porque você está ingressando em algo que constitui um mundo novo para você como pessoa. Você colocou os seus pés no caminho que leva ao real conhecimento.

Não tente abrir contato consciente com seres em outros planos. Esta não é a época correta, e o perigo está à espreita neste caminho, devido ao poder que o estudante tem de criar suas próprias imagens, e por causa da força e da intenção das forças antievolutivas de simular seres de Luz, que podem inutilizar os seus esforços para alcançar a meta.

Quando os materiais estiverem prontos o Arquiteto aparecerá, mas não busque por ele; busque apenas estar pronto. Faça o melhor que puder a cada dia, não tema coisa alguma, não alimente dúvidas, coloque toda sua confiança na Grande Lei, e tudo irá bem. Com a atitude correta, o conhecimento virá.

Lamento que ocorram tantas coisas desagradáveis no começo. Posso entender muito bem tudo isso: calor, poeira, cansaço, em contraste com aquilo que se abandonou. É necessário ter coragem e resistência, e estas são qualidades desejáveis, assim como as qualidades que um Kshatria [1] deve ter. Isso, porém, não torna menos importante o discernimento: não é possível fazer tudo ao mesmo tempo.

Mas, como nós todos desejamos uma luta que possa preparar-nos da melhor forma possível, podemos sorrir interiormente enquanto contemplamos os esforços da natureza para anular as nossas decisões. Todos nós temos as nossas batalhas, e se estamos neste exército podemos ter certeza de que o Eu Superior provocará tantas provações quantas forem necessárias para a nossa natureza peculiar. Penso que as coisas ficarão um pouco melhor depois de algum tempo – elas sempre ficam.

É a personalidade que não gosta de desconforto, mas ela se acostuma com as coisas depois de algum tempo. Assim, seja qual for a situação no futuro, é sábio lutar ao longo das mesmas linhas, como se esse fosse o trabalho das suas vidas. Quando a batalha estiver vencida, a necessidade cessará, porque o Eu Superior não desperdiça esforços. É fácil dar conselhos, e é mais difícil segui-los, mas é a prática que se necessita. Todas estas coisas devem constituir necessariamente testes e treinamento – pelo menos, eu penso que este é o modo correto de olhar para elas.

A analogia de “A Doutrina Secreta” mostra que cada mudança é precedida de uma rápida recapitulação de processos anteriores da evolução. Me parece que poderíamos usar isso em nossos próprios processos mentais e ser, possivelmente, capazes de compreender a nossa posição no ciclo. Poderíamos conseguir que só a mente passasse pelos processos preliminares, entrando em ação quando se chega ao ponto adequado, usando a busca do mais alto como uma motivação. Deveríamos buscar o mais alto desde novos níveis a cada momento. “Não é assim que se consegue subir montanhas?”

À medida que nos elevamos, de vez em quando temos vislumbres do lugar de onde começamos; e, ainda que às vezes pareça que estamos descendo de novo, podemos perceber que, na média, nos elevamos. Assim, estando preparados para tais coisas, nós aproveitamos cada oportunidade para aumentar a subida e evitar precipícios – porque dizem que em tais questões as regiões montanhosas existem em grande número.

Lembre também de que há muitos restos não gastos de Carma passado – “depósitos mentais”, segundo Patañjali – que você evocou para incluir na sua contabilidade. Alguns deles já vieram e outros ainda virão. Tenha cuidado para não contrair novas dívidas, postergando assim o acerto final de contas. Você sabe das dificuldades, e deveria fortalecer a si mesmo para passar por elas. Ninguém pode fazer isso por você, como sabe.

Também é correto sentir que, em seu aparente isolamento, você não está sozinho. Este “sentimento” deveria ajudar você, e acho que ajuda. Mantenha-o por perto.

Sempre fraternalmente, R.C.
 
NOTA:

[1] Kshatria: um guerreiro.
 
https://www.filosofiaesoterica.com
 
AS TRES FONTES DIFERENTES DE ENERGIA QUE ALIMENTAM O HOMEM

Arquivos inteligência emocional - iCarreira 
A palavra “esforço”, quando utilizada em seu sentido espiritual, é, pelo que pude experienciar, a concentração persistente, inabalável e segura do ser no caminho que o leva a atingir sua meta evolutiva. Não é propriamente fazer força ou mesmo lutar por alguma coisa, mas permanecer, de maneira firme e incondicional, nesse caminho, sem ser dele demovido por nenhuma circunstância externa nem por crises interiores. O esforço, assim compreendido, reflete-se na vida cotidiana do homem pela manutenção de um ritmo organizado no serviço que ele presta aos semelhantes e ao mundo. Tal serviço é feito, entretanto, sem que ele tente segurar o curso das energias, ou seja, sem que, ao fazer tudo o que pode pelo outro, procure de alguma forma controlá-lo ou pretenda receber qualquer recompensa pelo benefício que concede.

Além da alimentação provida ao corpo físico e da conhecida energia sutil que o envolve e o penetra, a subsistência do homem é mantida por três fontes diferentes. A primeira delas está ligada à sua atividade, seja ela inconsciente, seja inteligente; a ação o leva a ter sensações “vitalizadoras”, e o próprio movimento gera energias que poderiam ser caracterizadas como quase físicas. Submetida a um jogo de atritos e de confrontos, a maioria dos seres humanos permanece ao sabor das causas e dos efeitos de seus atos, sentimentos e pensamentos, ou ao sabor do resultado da luta entre forças muitas vezes antagônicas. É principalmente disso que o homem comum retira forças para sua subsistência.

A segunda fonte, mais organizada, constitui-se de energias universais com as quais ele entra em contato quando começa a evoluir de modo consciente. São energias autoguiadas, que conhecem o Plano para a vida do homem e que se manifestam em conformidade com uma ordem superior. É por meio do fortalecimento progressivo de sua ligação com tal fonte que o indivíduo vai entrando numa esfera de proteção especial.

A terceira fonte abrange os níveis profundos e espirituais da própria consciência, que, com o exercício da aspiração, o homem vai pouco a pouco penetrando. Começa então absorver, a princípio inconscientemente, energias de qualidade ainda superior às acima descritas. Para muitos, o contato com essa fonte acontece apenas em raros momentos; mas, na época atual, os caminhos para alcançá-la estão bem mais abertos.

Qualquer que seja a fonte principal de nossa subsistência, o esforço deve ser sempre a tônica básica do ato de retirarmos dela a energia de que necessitamos. Sem esforço não há revitalização do ser nem alegria, pois essa não está ao alcance de pessoas acomodadas, mas daquelas que sabem vibrar em certo grau de tensão sadia. Na verdade, a alegria é fruto dessa tensão.

A consciência superior é regida por aspectos das leis diferentes daqueles que agem nos planos mais densos da vida. É necessário firmeza de decisão para que estejamos sempre atualizados, com respeito a todo progresso que possamos fazer, inclusive na visão que temos dos assuntos pertencentes ao mundo das qualidades e dos valores, mundo bem diferente do da matéria densa e dos resultados visíveis e quantitativos.
 

José Trigueirinho Netto
https://www.otempo.com.br
 
A    T  E  M  P  E  S  T  A  D  E

 
O pássaro e o homem têm essências diferentes.
 
O homem vive à sombra de leis e tradições por ele inventadas;  o pássaro vive segundo a lei universal que faz girar os mundos.
 
Acreditar é uma coisa; viver conforme o que se acredita é outra.
 
Muitos falam como o mar, mas vivem como os pântanos.
 
Muitos levantam a cabeça acima dos montes; mas sua alma jaz nas trevas das cavernas.

A civilização é uma arvore idosa e carcomida, cujas flores são a cobiça e o engano e cujas frutas são a infelicidade e o desassossego.
 
Deus criou os corpos para serem os templos das almas.
 
Devemos cuidar desses templos para que sejam dignos da divindade que neles mora.
 
Procurei a solidão para fugir dos homens, de suas leis, de suas tradições e de seu barulho.
 
Os endinheirados pensam que o sol e a lua e as estrelas se levantam dos seus cofres e se deitam nos seus bolsos.
 
Os políticos enchem os olhos dos povos com poeira dourada e seus ouvidos com falsas promessas.
 
Os sacerdotes aconselham os outros, mas não aconselham a si mesmos, e exigem dos outros o que não exigem de si mesmos.
 
Vã é a civilização. E tudo o que está nela é vão.
 
As descobertas e invenções nada são senão brinquedos com a mente se diverte no seu tédio.
 
Cortar as distâncias, nivelar as montanhas, vencer os mares, tudo isso não passa de aparências enganadoras, que não alimentam o coração e nem elevam a alma. 

Quanto a esses quebra-cabeças, chamados ciências e artes, nada são senão cadeias douradas com os quais o homem se acorrenta, deslumbrado com seu brilho e tilintar.

São os fios da tela que o homem tece desde o inicio do tempo sem saber que, quando terminar sua obra, terá construído a prisão dentro da qual ficará preso. 

Uma coisa só merece nosso amor e nossa dedicação, uma coisa só... 

É o despertar de algo no fundo dos fundos da alma.

Quem o sente não o pode expressar em palavras.
E quem não o sente, não poderá nunca conhecê-lo através de palavras. 

Faço votos para que aprendas a amar as tempestades em vez de fugir delas.


Khalil Gibran
http://www.vidaempoesia.com.br  

Timber Hawkeye diz que 'você não pode acalmar a tempestade, então pare de tentar. O que você pode fazer é acalmar a si mesmo. A tempestade irá passar.' Por isso ninguém sai de casa em tempos de tempestade... e quando se trata das tempestades psicológicas, das tempestades de ira, de disputas...? parece que esse tipo de turbulência atrai a maioria das pessoas para a atividade. Deveríamos permanecer em casa, não? Estes momentos requerem uma total concentração, uma total reflexão, um total silêncio... mesmo porque tudo passa...  "a dor mais forte, a ilusão mais linda". "Depois da tempestade vem a bonança". Interagir com a tempestade não é nada inteligente... Esperemos, pois, ela passar!

 

segunda-feira, 27 de abril de 2020

DEU RUIM... A CULPA É DE QUEM ? ...


Os hábitos obrigam você a fazer certas coisas; você é uma vítima. Os hindus dão a isso o nome de karma. Cada ato que você repete, ou cada pensamento — porque os pensamentos também são ações mentais sutis — fica cada vez mais forte. E então você fica sob o domínio dele. Fica preso ao hábito. Você passa a viver a vida de um prisioneiro, de um escravo. E esse aprisionamento é muito sutil; a prisão é feita de hábitos, de condicionamentos e de ações que você praticou. Tudo isso está em torno do seu corpo e você fica todo emaranhado, mas continua se fazendo de tolo, achando que é você quem está decidindo.

Quando fica zangado, você acha que é você quem decide ficar.
 
Você racionaliza e diz que a situação exigiu esse comportamento: “Eu tive de ficar zangado, senão a criança ficaria malcriada. Se eu não ficasse zangado, as coisas dariam errado, o escritório ficaria um caos. Os empregados não ouviriam; tive de ficar zangado para pôr as coisas em ordem. Para colocar minha mulher em seu devido lugar, tive de ficar zangado.” Essas são as racionalizações — é assim que seu ego continua a pensar que você ainda está no comando. Mas você não está.

A raiva é fruto de velhos padrões, do passado. E, quando ela irrompe, você tenta achar uma desculpa para ela. Os psicólogos têm feito experiências e chegaram às mesmas conclusões que a psicologia esotérica oriental: o ser humano é uma vítima, não é senhor de si mesmo.

Os psicólogos deixaram as pessoas em isolamento, com todo conforto possível. Tudo o que lhes fosse necessário era proporcionado, mas elas não tinham contato nenhum com outros seres humanos. Viveram em isolamento numa cela com ar-condicionado — sem ter de trabalhar, sem ter nenhum problema, mas continuaram com os mesmos hábitos. Numa manhã, sem nenhuma razão — porque elas tinham todo conforto, não havia com que se preocuparem, nenhuma desculpa para ficarem zangadas —, um homem descobriu de repente que começava a sentir raiva.

Ela está dentro de você. As vezes, surge uma tristeza sem nenhuma razão aparente. E, às vezes, aflora um sentimento de felicidade, euforia ou êxtase. Um homem destituído de todos os relacionamentos sociais, isolado num ambiente com todo conforto, em que todas as suas necessidades são satisfeitas, passa por todos os estados de ânimo pelos quais você passa num relacionamento. Isso significa que alguma coisa vem de dentro e você a associa a outra pessoa. Isso é só uma racionalização.

Você se sente bem, você se sente mal e esses sentimentos borbulham da sua própria inconsciência, do seu próprio passado. Ninguém é responsável, exceto você. Ninguém pode deixar você zangado ou feliz. Você fica feliz por sua própria conta, fica zangado por sua própria conta e fica triste por sua própria conta. A menos que perceba isso, você continuará para sempre um escravo.

O domínio do seu próprio eu você conquista quando percebe: “Sou absolutamente responsável por tudo o que me acontece. Seja o que for que acontecer, incondicionalmente — sou inteiramente responsável.”

A princípio, isso o deixará extremamente triste e deprimido, porque, quando pode jogar a culpa nos outros, você fica tranquilo e certo de que não é você quem está errando. O que você pode fazer se a sua mulher está se comportando dessa forma tão desagradável? Você tem de ficar com raiva. Mas, veja bem, a sua mulher está se comportando dessa forma por causa dos seus próprios mecanismos interiores. Ela não está sendo desagradável com você. Se você não estivesse ali, ela seria desagradável com o filho. Se o filho não estivesse ali, ela seria desagradável com a pia cheia de louça; ela jogaria toda a louça no chão. Quebraria o rádio. Ela teria de fazer alguma coisa; esse sentimento afloraria nela.

Foi pura 'coincidência' o fato de você estar ali, lendo seu jornal, e ela ter sido desagradável com você. Foi pura 'coincidência' o fato de você estar ali, à disposição, no momento 'errado'.

Você está com raiva não porque sua mulher foi desagradável — ela pode ter criado toda a situação, mas isso é tudo. Ela pode ter lhe dado a oportunidade de ficar com raiva, uma desculpa para ficar com raiva, mas a raiva estava borbulhando. Se a sua mulher não estivesse ali, você teria ficado com raiva do mesmo jeito — com outra coisa, com alguma ideia, mas a raiva tinha de aflorar. Ela era algo que vinha do seu próprio inconsciente.

Todo mundo é responsável, totalmente responsável, pelo seu próprio ser e pelo próprio comportamento. No começo, essa constatação fará com que você fique muito deprimido, pois você sempre achou que quisesse ser feliz — então, como você pode ser responsável pela sua infelicidade? Você sempre almejou um estado de bem-aventurança, então como pode decidir ficar com raiva? É por causa disso que você joga a responsabilidade nas costas dos outros.

Se continuar a jogar a responsabilidade nas costas dos outros, lembre-se de que você vai continuar sendo sempre um escravo, pois ninguém pode mudar ninguém. Como é possível mudar outra pessoa? Será que, algum dia, alguém já conseguiu mudar outra pessoa? Um dos desejos mais insatisfeitos deste mundo é mudar o outro. Ninguém conseguiu fazer isso até hoje, é impossível mudar o outro, pois ele é dono da própria vida — você não pode mudá-lo.
 
A mudança básica precisa acontecer dentro de você.

Você continua a jogar a responsabilidade nas costas do outro, mas não pode mudá-lo. E como você continua a jogar a responsabilidade nele, você nunca verá que a responsabilidade básica é sua. A mudança básica precisa acontecer dentro de você.

Você cai numa armadilha: se começa a achar que você é responsável por todas as suas atitudes, por todos os seus estados de ânimo, a princípio, você é tomado por um sentimento de depressão. Mas, se conseguir vencer essa depressão, logo você sentirá luz, pois estará livre das outras pessoas. Agora poderá trabalhar em si mesmo. Poderá ser livre, poderá ser feliz. Mesmo que o mundo inteiro esteja infeliz e cativo, isso não vai fazer a mínima diferença. A primeira libertação é parar de pôr a culpa nos outros, a primeira libertação é saber que você é o responsável. Depois disso, muitas coisas passam a ser imediatamente possíveis.

Se continuar a jogar a responsabilidade nos ombros dos outros, não se esqueça de que será para sempre um escravo, pois ninguém pode mudar ninguém. Como é possível mudar outra pessoa? Alguém já conseguiu isso antes?

Independentemente do que esteja acontecendo com você — se estiver triste, simplesmente feche os olhos e observe sua tristeza. Procure saber aonde ela leva,mergulhe fundo dentro dela. Logo você encontrará a causa. Pode ser que você tenha de percorrer um longo percurso, pois toda a sua vida está envolvida nisso; e não só esta vida, mas muitas outras que você já viveu. Você encontrará muitas feridas em si mesmo, que machucam, e por causa dessas feridas você está triste — elas estão tristes; essas feridas não cicatrizaram ainda; ainda estão abertas.

O método de retroceder até a fonte, ir do efeito até a causa, curará essas feridas. Como curá-las? Por que curá-las? Qual é o fenômeno implicado nisso?

Sempre que faz uma retrospectiva, a primeira coisa que você deixa de lado é a mania de pôr a culpa nos outros, pois se faz isso você acaba se voltando para as circunstâncias externas. Nesse caso, todo o processo está errado: você tenta encontrar a causa em outra pessoa: “Por que minha mulher foi tão desagradável?” Aí a vontade de saber “por que” faz com que você continue a investigar o comportamento da sua mulher. Você errou o primeiro passo e todo o processo fracassará.

“Por que estou infeliz? Por que estou com raiva?” — feche os olhos e deixe que isso seja uma meditação profunda. Deite-se no chão, feche os olhos, relaxe o corpo e sinta a razão por que está com raiva. Simplesmente esqueça sua mulher; isso é só uma desculpa — A, B, C, D, seja o que for, esqueça a desculpa. Basta que mergulhe profundamente dentro de si, mergulhe na raiva.

Use a própria raiva como um rio; você flui dentro dessa raiva e ela o leva para dentro de si mesmo. Você descobrirá feridas sutis em seu interior. A sua mulher pareceu desagradável porque ela tocou numa ferida sutil que você tem, algo que ainda dói. Você nunca se achou atraente, nunca achou seu rosto bonito e existe uma ferida aí dentro. Quando sua mulher foi desagradável, ela fez com que você ficasse consciente do seu rosto. Ela diz; — Vá e se olhe no espelho! — isso dói. Você tem sido infiel à sua mulher e, quando quer ser desagradável, ela toca novamente nesse assunto: — Por que você estava rindo com essa mulher? Por que parecia tão feliz sentado ao lado dela? — ela toca uma ferida. Você tem sido infiel, sente-se culpado; a ferida está aberta.

Feche os olhos, sinta a raiva e deixe que ela aflore totalmente de modo que você possa ver como ela é. Então deixe que essa energia o ajude a voltar ao passado, pois a raiva vem do passado. Não pode vir do futuro, é claro. O futuro ainda não passou a existir. Ela também não vem do presente. É nisso que se baseia toda a teoria do karma, ela não pode vir do futuro porque o futuro ainda não existe; não pode vir do presente porque você nem sabe o que ele é. Só as pessoas que despertaram sabem o que é o presente.

Você vive exclusivamente no passado, portanto, essa raiva só pode ter vindo de algum lugar do seu passado. A ferida tem de estar em algum lugar da sua memória. Volte. Pode não haver apenas uma ferida, pode haver várias — pequenas, grandes. Mergulhe fundo e encontre a primeira ferida, a fonte original de toda a raiva. Você conseguirá encontrá-la se tentar, pois ela já está ali. Está ali; todo o seu passado está ali.

É como um filme, rodando e aguardando interiormente. Você faz com que ele rode, começa a assisti-lo. Esse é o processo de retroceder até a causa original. E essa é a beleza de todo o processo. Se você conseguir retroceder conscientemente, se conseguir sentir conscientemente uma ferida, ela imediatamente cicatrizará.

Por que ela cicatriza? Porque a ferida é criada pela inconsciência, pela falta de percepção consciente. A ferida faz parte da ignorância, do sono. Quando você volta ao passado com consciência e olha essa ferida, a consciência se torna uma força de cura. No passado, quando a ferida se abriu, isso aconteceu na inconsciência. Você ficou com raiva, foi possuído pela raiva, e fez alguma coisa. Matou um homem e teve de esconder esse fato do mundo. Você pode escondê-lo da polícia, pode escondê-lo dos tribunais e da justiça, mas como pode escondê-lo de si mesmo? — você sabe, isso dói. E, sempre que alguém lhe der a oportunidade de ficar com raiva, você vai ficar com medo, porque pode acontecer novamente, você pode matar sua mulher. Volte ao passado, pois nesse momento em que você assassinou um homem ou se comportou como um louco homicida, você estava inconsciente. Na inconsciência, essas feridas têm sido conservadas. Agora faça conscientemente uma retrospectiva.

Fazer uma retrospectiva significa voltar conscientemente às coisas que você fez na inconsciência. Volte — só a luz da consciência cura; ela é uma força de cura. Tudo o que você puder fazer conscientemente será terapêutico e não machucará mais.

O homem que volta ao passado se liberta dele. Como o passado deixa de interferir, ele passa a não ter mais poder sobre ele e chega a um ponto final. O passado não tem nenhum espaço no seu ser. E, quando o passado não tem nenhum espaço no seu ser, você fica disponível para o presente; nunca antes disso.

Você precisa de espaço — o passado está tão entranhado dentro de você — é um armário cheio de coisas mortas — que não há espaço para o presente entrar. Esse armário continua sonhando com o futuro, portanto, metade dele está cheia do que não existe mais e a outra metade está cheia com o que não existe ainda. E o presente? — está simplesmente esperando do lado de fora. É por isso que o presente nada mais é do que uma passagem, uma passagem do passado para o futuro, só uma passagem momentânea.

Liquide com o passado — a menos que liquide com ele, você vai viver uma vida fantasma. Sua vida não é verdadeira, não é existencial. O passado vive por seu intermédio, os mortos continuam assombrando você. Volte ao passado — sempre que tiver uma oportunidade, sempre que alguma coisa acontecer dentro de você. Felicidade, infelicidade, tristeza, raiva, ciúme — feche os olhos e faça uma retrospectiva.
 
Logo você vai aprender a viajar ao passado. Logo vai conseguir voltar no tempo e, então, muitas feridas irão se abrir. Quando essas feridas se abrirem dentro de você, não comece a fazer nada. Não é preciso fazer nada. Simplesmente observe, olhe, vigie. A ferida está ali — você simplesmente observa, concentra sua energia de atenção na ferida, olha para ela.

Olhe para ela sem fazer nenhum julgamento — pois, se julgar, se disser: “Isso é ruim, não deveria estar aqui”, a ferida se fechará novamente. Então ela terá de se esconder. Sempre que você condena, a mente tenta esconder as coisas. É assim que o consciente e o inconsciente são criados. Do contrário, a mente seria uma coisa só; não seria preciso nenhuma divisão. Mas você condena — então a mente tem de dividir e colocar as coisas no escuro, no porão, para que você não possa vê-las e não seja preciso condená-las.

Não condene, não avalie. Seja simplesmente uma testemunha, um observador imparcial. Não negue. Não diga: “Isso não é bom”, pois isso é uma negação e você começou a reprimir.

Seja imparcial. Só observe e olhe. Olhe com compaixão e a cura se efetuará.

Não me pergunte por que isso acontece, pois é um fenômeno natural — assim como a água evapora quando chega aos cem graus. Você nunca pergunta: “Por que a água não evapora quando chega aos noventa graus?” Ninguém pode responder a essa pergunta. Simplesmente acontece de a água só evaporar aos cem graus. Não há dúvida disso, e a dúvida é irrelevante. Se ela evaporasse aos noventa graus, você questionaria. Se evaporasse aos oitenta, você ia querer saber por quê. É simplesmente natural que a água evapore aos cem graus.

O mesmo vale para a natureza interior. Quando uma consciência imparcial, compassiva, toca uma ferida, essa ferida some — evapora. Não existe explicação para isso. É simplesmente natural, é como as coisas são, é o que acontece. Quando digo isso, falo por experiência própria. Tente e você constatará o mesmo. É fato.

Osho, em "Consciência: A Chave Para Viver em Equilíbrio"
 
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Q U A N D O   E U   E R A   P R I S I O N E I R O

Prisao mente Fotografias de Banco de Imagens, Imagens Livres de ... 

Lembras-te ainda, Mestre, do tempo quando eu estava encarcerado? E, mesmo por detrás das grades da minha voluntária prisão, cantava hinos à liberdade?...
 
É que eu chamava meu cárcere meu “palácio”, porque havia dourado habilmente as suas barras de ferro.
 
E por detrás dessas grades douradas cantava hinos à liberdade que julgava possuir – eu, o prisioneiro de mim mesmo...
 
Lembras-te ainda, Mestre, daquela gloriosa manhã de primavera em que tu abriste a minha prisão dourada? E como eu, a princípio, tinha medo de trocar a minha fagueira escravidão pela austera liberdade de hoje?
 
Desde aqueles tempos remotos, muita coisa em mim morreu – e muita coisa em mim nasceu...
 
A minha pequenina consciência egóica expandiu-se aos poucos e foi culminar na vastidão da consciência cósmica.
 
A soberba mesquinhez da minha inteligência individual espraiou-se na humilde grandeza da razão universal...
 
A minha estreita política de cidadão terrestre alargou-se na vasta filosofia de habitante do universo...
 
Ah! se meus companheiros de prisão de outrora soubessem o que nós sabemos, divino Mestre!...
 
Se soubessem dessas horas inefáveis quando nós passeamos, de mãos dadas, pelos bosques sagrados, à sombra das palmeiras silentes, falando, sem proferir palavra, desses mundos de estupenda grandeza e formosura – mundos em que vivemos, mundos que vivem em nós!...
 
Passam-se horas, dias, meses, anos, séculos, milênios, eons, eternidades e mais eternidades – e nós ainda estamos no início da nossa vida, porque os nossos mundos ignoram tempo e espaço – são de indefectível juventude...
 
Se os homens soubessem, divino Mestre, o que nós sabemos, não tolerariam por um só instante os seus horrorosos prazeres, as suas infelizes felicidades...
 
Nós o sabemos, e por isto todas as nossas solidões são povoadas de vida exuberante, todos os nossos desertos exultam de vitalidade, todas as nossas vacuidades transbordam de plenitude, todas as nossas trevas são mais luminosas que as mais intensas luminárias dos profanos...
 
E as palmeiras silentes do bosque sagrado estendem sobre nós as suas verdes flabelas...
 
E as nossas alvejantes túnicas espelham-se na superfície plácida dos lagos que dormem no seio de pedras e musgos...
 
E tu me falas de coisas que só a alma pode sentir, mas que mente alguma pode entender, nem lábios humanos podem proferir...
 
E durante um único segundo em tua companhia, Mestre, à sombra dos bosques silentes do nosso paraíso, eu chego a saber da verdade mais do que em séculos e .milênios de estudos e lucubrações intelectuais...
 
Porque, as tuas revelações brotam de dentro do meu ser divino – enquanto os sentidos e o intelecto só me assaltam de fora com os seus ruídos estéreis...
 
E à luz das coisas eternas que o teu silêncio me revela, Mestre, eu chego a compreender até as coisas efêmeras que o mundo ruidoso dos sentidos e do intelecto procurava em vão fazer-me compreender...
 
Compreender não é estudar, analisar, anatomizar – compreender é ser iluminado por dentro, pela íntima essência da eterna Realidade...
 
Desde esse tempo, eu me sinto livre, gloriosamente livre – à luz da Verdade... Se os homens soubessem o que nós sabemos, divino Mestre!...
 
Se eles soubessem...  Se eles soubessem... 


Huberto Rohden, trecho do livro A Voz do Silêncio
Poemas de auto-realização para iniciandos e iniciados