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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

POR QUE TENHO QUE ASSUMIR 
TANTAS RESPONSABILIDADES 
SE VOU MORRER NO FINAL ?
 
 
 
A risada de Sri Sri Ravi Shankar ao receber essa pergunta pode indicar o quanto ela é espirituosa e curiosa. "Bem…", começa ele, ainda sorridente, "porque você nasceu".

A pergunta quase implica ou sugere uma resposta que trate da possibilidade da existência além da morte, pois a morte aniquilaria o hipotético “bom karma” de ter assumido tantas responsabilidades. Mas Sri Sri não segue por esse caminho, e dá uma resposta prática, fundamentada na necessidade de uma consciência mais ampla, e sugerindo um exercício simples para que seja possível a compreensão. Ele diz que “se você tomar a vida como um fardo, então o trajeto será uma grande e arrastada miséria“. Até aí nenhuma novidade, é uma conclusão óbvia até. E então, neste caso, eu poderia estender a pergunta para: e se for? um fardo? Vamos imaginar que seja outra coisa só para fugirmos da verdade (dela ser um fardo)? Um buscador da verdade teria que estar disposto a entrar nessa floresta escura de verdades incômodas se quiser ir além dos “prazeres” das crenças simplistas.

Pois então, obviamente Sri Sri já entrou e atravessou essa floresta. Ele cita a necessidade de descobrir o conhecimento da vida, que sem ele não há como se conseguir uma resposta verdadeira suficiente para a pergunta. Mas sua sugestão é primeiro descansar e experimentar a ausência de desejos e de insatisfações, que vem através de um profundo descanso, que por sua vez gera contentamento. E “o contentamento (com a vida) só vem através do conhecimento“, sentencia. O conhecimento extinguiria, segundo ele, a visão de que a vida é um fardo. O conhecimento seria capaz de levar o sujeito dessa dimensão da escassez em que surge a pergunta (e a visão da vida como fardo) para a dimensão oposta, a da abundância, onde nada é fardo e há energia e disposição suficientes para qualquer trabalho.

Leia a resposta abaixo:

Pergunta: Gurudev, porque eu tenho que assumir tantas responsabilidades? Tenho a responsabilidade pela minha felicidade, pela felicidade do meu marido, pela felicidade da minha família, etc. Porque tudo isso se no fim eu tenho que morrer?

SRI SRI RAVI SHANKAR: Bem, porque você nasceu! Quando você nasce você tem que tomar conta de tudo isso. Há duas maneiras de olhar pra vida: 1. Ou você a toma como um fardo e torna sua vida uma longa e arrastada miséria, ou 2. Você a toma com entusiasmo, pensando “Se tenho todas essas responsabilidades e desafios, posso realizá-los”. E você segue em frente com celebração.

Quando você está cansado é que você sente que tudo isso é demais para você dar conta. Quando isso acontece, eu diria, sente-se e relaxe. Imagine que você não tem nenhuma responsabilidade. Encontre o mais profundo descanso dentro de você, e então você terá a força que precisa para ir em frente. Diga apenas uma coisa para você mesmo, “Eu não quero nada!”. Esse querer nada lhe dá o mais profundo dos descansos.

Descansar não é somente deitar fisicamente na cama, é o modo da mente que diz, “Estou satisfeito, estou contente”. Só o contentamento pode lhe dar descanso e esse contentamento não virá até você por fazer ou se empenhar em nenhuma atividade. Ele virá até você somente pelo conhecimento. E o conhecimento é:

Tudo é impermanente.
Eu estou satisfeito.
Não quero nada.
Essa é a essência do conhecimento.

Geralmente quando perguntamos às crianças o que elas querem, elas dizem “nada”. A semente do querer nada está em cada criança. Elas apenas não sabem que tudo é impermanente porque elas não perceberam tudo que há ao redor delas. Mesmo por alguns momentos todo dia, se você disser “Tudo é impermanente, não quero nada” e sentar e descansar profundamente, você voltará com energia e entusiasmo para assumir milhões de empregos no mundo, e poder fazer milhões de pessoas felizes. Então nenhum trabalho parecerá significante ou insignificante.

Essa é a linguagem do Upanishad: não é nem significante nem insignificante. Você sequer pode qualificar coisas pequenas de insignificantes, nem dar muita importância a coisas muito significantes. Em vez disso, você pode se manter fazendo qualquer trabalho, qualquer ação, em qualquer lugar, e em cada uma delas ser benéfico para o mundo.

 
A CONCENTRAÇÃO 
É UM PROCESSO MENTAL


 
A concentração é um processo puramente mental. Ela necessita que a mente se volte para dentro. Não é um exercício muscular. Não deve haver tensão indevida no cérebro. Você não deve lutar com a mente violentamente.

Sente-se numa posição confortável. Relaxe todos os músculos do corpo. Não deve haver tensão nervosa, emocional ou mental. Aquiete a mente. Silencie os pensamentos. Acalme as emoções. Não preste atenção aos pensamentos intrusos.

Sugestione à sua mente: “Não me importo se os pensamentos estão aí ou não.” Em outras palavras, seja indiferente. Os pensamentos intrusos logo abandonarão a fábrica mental. Não causarão mais problema. Este é o segredo da disciplina mental. A melhora da concentração será visível pouco a pouco.

Não se desanime. Seja regular em sua prática. Não pare a prática nem mesmo por um único dia. A imaginação ajuda a concentração. Se achar difícil concentrar-se no coração, no olho espiritual ou no alto da cabeça, pode selecionar qualquer objeto externo para isso. Pode concentrar-se no céu azul, na luz do sol, no ar onipresente, no éter, na lua, nas estrelas.

Um Raja-Yogue se concentra no olho espiritual (Ajna Chakra ou Trikuti), que é a morada da mente no estado de vigília. Você pode controlar a mente facilmente, se se concentrar nessa região. Vê-se uma luz durante a concentração nessa região rapidamente.

Um devoto deve selecionar o coração, a morada da emoção e do sentimento. Quem se concentra no coração obtém imensa felicidade. Aquele que quer conseguir algo para si deve concentrar-se no coração.

Um cientista concentra sua mente e inventa muitas coisas. Através da concentração ele abre as camadas da mente concreta e penetra profundamente nas regiões superiores da mente, obtendo conhecimento mais profundo.

À medida que a mente se desenvolve, você entra em relação consciente com as correntes mentais, com as mentes alheias próximas ou distantes, mortas ou vivas. Quem aprendeu a manipular a mente terá toda a natureza sob seu controle.

Muito esforço físico, muito falar, muito comer, misturar-se muito com mulheres e pessoas indesejáveis, caminhar muito causam distração à mente. Aqueles que praticam concentração devem abandonar essas coisas.

Qualquer trabalho que fizer, faça com perfeita concentração. Nunca deixe um trabalho sem terminá-lo. Celibato, pranayama, redução de necessidades, renúncia aos objetos, solidão, silêncio, disciplina dos sentidos, aniquilação do desejo sexual e da cobiça, controle da ira, não misturar-se com pessoas indesejáveis, abandonar o hábito de ler notícias e assistir filmes – tudo isso pavimenta o caminho para aumentar o poder de concentração.

Mesmo que a mente fuja durante a concentração, não se aborreça. Deixe-a fugir. Vagarosamente traga-a para seu objeto de concentração. No começo a mente pode fugir 50 vezes, dois anos de prática reduzirão o número para 20; mais três anos de prática contínua e persistente reduzirão o número a zero.

A mente estará completamente concentrada na Consciência Divina. Então ela não fugirá nem mesmo se você tentar trazê-la para fora. Quando você estuda um livro com profundo interesse, não ouve nem vê um homem gritando ou chamando seu nome. Não sente a doce fragrância das flores que estão na mesa a seu lado. Isso é concentração.

Após conseguir a concentração, você tem de alcançar a contenção total da mente. Nesse estado a mente se torna completamente vazia. Então o yogue destrói esse vazio identificando-se com o Atman, o Espírito do qual a mente empresta sua luz. Esses assuntos são incompreensíveis para os psicólogos ocidentais. Eles não têm nenhuma ideia do Espírito que testemunha as atividades da mente.
 
 
 
Swami Sivananda

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O AMOR É UMA PORTA



Se houver paixão no amor, o amor se tornará o inferno. Se existir apego no amor, o amor será uma prisão. Se o amor não tiver paixão ele se tornará o paraíso. Se o amor não tiver apego então o amor, em si mesmo é divino.
 
O amor tem ambas as possibilidades. Você pode ter paixão e apego no amor: então é como se tivesse amarrado uma pedra ao redor do pescoço do pássaro, logo ele não pode voar. Ou como se você tivesse colocado o pássaro do amor numa gaiola dourada. Por mais preciosa que a gaiola seja – ela pode ser enfeitada com diamantes e jóias – uma gaiola ainda é uma gaiola e ela destruirá a capacidade do pássaro de voar.
 
Quando você remove a paixão e o apego do amor, quando o seu amor é puro, inocente, informal, quando você dá amor e não pede, quando o amor é somente uma doação, quando o amor é um imperador, não um mendigo; quando você fica feliz porque alguém aceitou o seu amor e você não negocia o amor, não pede nada em troca, você está liberando o pássaro do amor para o céu aberto: está fortalecendo as asas dele. E este pássaro pode seguir na jornada para o infinito.
 
O amor tem feito pessoas caírem e também tem feito pessoas elevarem-se. Depende do que você tem feito com o amor. O amor é um fenômeno muito misterioso. É uma porta – de um lado está o sofrimento, do outro lado está o êxtase; de um lado está o inferno, do outro lado o paraíso; de um lado o sansara, a roda da vida e da morte, do outro lado está a liberação. O amor é uma porta.
 
Se você só conheceu um amor cheio de paixão e apego, então quando Jesus diz ’Deus é amor’, você não será capaz de entender. Quando Sahajo começa a cantar canções de amor você ficará muito desconfortável: “Isso não faz sentido! Eu também amei mas só recebi miséria em troca. Em nome do amor colhi somente uma coroa de espinhos, nenhuma flor nunca floresceu para mim.” O outro amor parecerá ser imaginário. O amor que se torna devoção, que se torna prece, que se torna liberação, parecerá apenas um jogo de palavras.
 
Você também conheceu o amor – mas quando o conheceu achou somente um amor cheio de paixão e de apego. O seu amor não era realmente amor. Ele era somente uma cortina para esconder a paixão, apego e sexo. Do lado de fora você o chamava de amor, do lado de dentro era algo mais. Qual era o seu desejo quando estava amando uma mulher ou um homem? – seu anseio era sexual e o amor era somente uma decoração exterior.
 
Se você procura profundamente dentro de si mesmo verá que o seu amor é somente uma palavra, as labaredas do desejo sexual estão queimando dentro dela. Mas não é aceitável expressar aquelas chamas para alguém diretamente, é necessário diplomacia. Então diz para a mulher da qual quer gozar o corpo que você ama a sua alma. Você nem mesmo conhece a sua própria alma, como pode conhecer a alma do outro? Mas as pessoas que estão cheias de cobiça pelo corpo falam sobre a alma. O desejo delas é gozar o corpo do outro mas elas falam sobre a beleza interior.
 
 
Osho
 

TANTRA - A SUPREMA COMPREENSÃO


Última Parte

 
Esvazia tua mente e não penses em nada.
 
 
A passividade esvaziará automaticamente tua mente. Ondulações de atividade, ondulações de energia mental se aquietarão aos poucos e toda a superfície da tua consciência ficará sem ondas, sem qualquer ondulação. Tornar-se-á um espelho silencioso.
 
 
 Como um bambu oco, repousa bem teu corpo.
 
 
Esse é um dos métodos especiais de Tilopa. Cada Mestre tem seu método especial, através do qual ele alcançou e através do qual gostaria de ajudar outros. 
Essa é a especialidade de Tilopa: Como um bambu oco, repousa bem teu corpo.
 
Um bambu é completamente oco por dentro. Quando repousas, procura sentir-te como um bambu: completamente oco e vazio por dentro. E é realmente assim: teu corpo é tal e qual um bambu, oco por dentro. Tua pele, teus ossos, teu sangue, fazem parte do bambu mas dentro há espaço, esvaziamento.
 
Quando estás sentado, a boca inteiramente silenciosa, inativa, a língua tocando o palato e silente, sem fremir com os pensamentos, a mente observando passivamente, sem esperar por coisa alguma em particular, senta-te como um bambu oco - e, subitamente, infinita energia começa a derramar-se dentro de ti; ficas repleto do Desconhecido, do misterioso, do Divino.
 
 
Um bambu oco torna-se uma flauta
e o Divino começa a tocar com ela.
 
 
Desde que estejas vazio não haverá barreiras para o Divino entrar em ti.
 
Tenta isso: é uma das mais belas meditações - a meditação de se tornar um bambu oco. Não precisas fazer nada. Tu simplesmente te transformas - e tudo o mais acontece. Subitamente, sentes que algo desce para o teu espaço vazio. És como um útero e vida nova está entrando em ti; uma semente está caindo. E chega o momento em que o bambu desaparece completamente.
 
 
Como um bambu oco, repousa bem teu corpo.
 
 
Repousa bem, não desejes coisas espirituais, não desejes o céu, nem mesmo desejes Deus. Deus não pode ser desejado. Quando estiveres destituído de desejos, Ele virá ter contigo. A libertação não pode ser desejada, porque o desejo é um laço. Quando estás livre de desejos, estás liberado. O estado de Buda não pode ser desejado, porque o desejo é um obstáculo. Quando não existem barreiras Buda explode em ti. Já tens a semente. Quando estás vazio, há um espaço - e a semente explode.
 
 
Como um bambu oco, repousa bem teu corpo.
Sem dar nem receber, repousa tua mente.
 
 
Não há nada a dar, nada a receber. Tudo está absolutamente em ordem, tal como está. Não há necessidade alguma de dar ou receber. Estás absolutamente perfeito, como és.
 
Esse ensinamento do Oriente tem sido muito mal interpretado no Ocidente porque dizem: que espécie de ensinamento é esse? Então as pessoas não lutarão, não tentarão chegar a maior altura? Então, não farão um esforço para modificar seu caráter, para mudar suas maneiras más, obtendo as boas? Acabarão vítimas do Diabo. No Ocidente, “Melhora a ti mesmo” é a recomendação. Em termos deste mundo, ou em termos de outro mundo, mas melhora. Como melhorar? Como tornar-se maior e ganhar grandeza?
 
No Oriente entendemos isso muito mais profundamente: compreendemos que o próprio esforço se constitui numa barreira, porque já estás levando teu ser contigo. Não precisas transformar-te em coisa alguma; basta que compreendas quem és, isso é tudo. Compreende, apenas, quem se esconde dentro de ti. Melhorar, seja no que for que melhores, sempre te trará angústia e ansiedade, porque o próprio esforço para melhorar te estará levando para o caminho errado. Isso torna o futuro significativo, o objetivo significativo, os ideais significativos e, assim, tua mente torna-se um infinito desejar.
 
Põe de lado o desejar. Deixa que o desejar desapareça, torna-te um silencioso lago de não desejos - e, de repente, serás surpreendido: inesperadamente, ele estará ali. E rirás gostosamente, como Bodidarma riu. Os seguidores de Bodidarma dizem que, quando tornas a ficar silencioso, podes ouvir-lhe a gargalhada. Ele ainda está rindo. Não parou de rir desde então. Ri porque “que tipo de brincadeira é essa? Já és o que estavas tentando ser! Como podes ter êxito, se já és aquilo que estás tentando ser? Teu fracasso é absolutamente certo. Como é possível que te tornes aquilo que já és?” Por isso é que Bodidarma riu.
 
Bodidarma foi um contemporâneo de Tilopa. Talvez se tenham conhecido, possivelmente não fisicamente, mas devem ter se conhecido - eram seres da mesma qualidade.
 
 
Sem dar nem receber, repousa tua mente.
Mahamudra é como a mente que a nada se prende.
 
 
Alcanças, se não te prender. Nada em tuas mãos, e alcanças.
 
 
Mahamudra é como a mente que a nada se prende.
Assim praticando, alcançarás, em tempo, o estado de Buda.
 
 
Que se deve praticar, então?
Estar cada vez mais à vontade.
Estar cada vez mais, aqui e agora.
Estar cada vez mais, em ação
e cada vez menos em atividade.
Ser cada vez mais oco, vazio, passivo.
Ser cada vez mais um observador -
Indiferente, sem nada esperar, sem nada desejar.
Ser feliz contigo, tal como és.
Estar em celebração.
 
 
E, então, a qualquer momento, a qualquer momento, quando as coisas estiverem maduras e a estação certa chegar, tu florescerás como um Buda.
 

Osho, Tantra: The Supreme Understanding
  

 

domingo, 29 de janeiro de 2017

TANTRA - A SUPREMA COMPREENSÃO


Quarta Parte

Há pessoas que me procuram e perguntam: - “Acreditas em Deus?” - Eu respondo: - “Sim, porque tudo é tão extraordinário que como poderia ser sem que em tudo houvesse uma profunda consciência?” 

Pequenas coisas com o caminhar sobre a grama quando as gotas de orvalho ainda não se evaporaram, e sentindo totalmente a textura, o toque da grama, a frescura das gotas de orvalho, o vento da manhã, o nascer do sol. Que mais precisas tu para ser feliz? Que mais é necessário para ser feliz?
 
Apenas deitar-te à noite em teu leito, sentindo-lhe a textura, sentindo que ele se vai tornando aquecido, que estás envolvido pela escuridão, pelo silêncio da noite. Com os olhos fechados, tu simplesmente sentes a ti mesmo. De que mais precisas? Isso é demais e uma profunda gratidão surge: isso é relaxamento.
 
O relaxamento significa que o momento é mais do que suficiente, mais do que se pode solicitar ou desejar - e, então, a energia não se desloca para parte alguma.
 
Ela se torna uma plácida concentração.
Em tua própria energia tu te dissolves.
Esse momento é o do relaxamento.
O relaxamento não é do corpo nem da mente,
o relaxamento é do total.
 
Por isso é que os Budas diziam: - “Faze-te sem desejos.” Sabiam que, quando há desejo, não há relaxamento. E mandavam que se enterrassem os mortos, porque, se te preocupares demais com o passado, não poderás relaxar. E ainda diziam mais: - “Goza cada momento.”
 
Jesus disse: - “Olhai os lírios do campo, que não trabalham e são mais belos; seu esplendor é maior do que o do rei Salomão. Estão envolvidos por um aroma mais belo do que aquele de que jamais o Rei Salomão fez uso. Olha, considera os lírios!”
 
Que queria dizer com isso? Queria dizer: - “Relaxa! Não precisas labutar na verdade, está provido de tudo.” Jesus disse: - “Se Ele cuida das aves do espaço, dos animais, das feras, das árvores e das plantas, por que então, te preocupas? Ele não irá cuidar de ti?” Isso é relaxamento. Por que te preocupas tanto com o futuro? Considera os lírios, observa os lírios, sê como os lírios - e então relaxarás. O relaxamento não é uma postura, o relaxamento é a transformação total da tua energia.
 
A energia tem duas dimensões. Uma delas é motivada, vai a algum lugar, a um objetivo que está algures. O momento é apenas um meio; o objetivo tem de ser alcançado em outro lugar. Essa é uma das dimensões da tua energia, essa é a dimensão da atividade orientada para um objetivo - neste caso, tudo é um meio. Farás o que for que tenhas de fazer para alcançar o objetivo: então, relaxarás. Entretanto, o objetivo jamais é alcançado, porque essa energia se modifica a cada momento, tornando-se um meio para alguma outra coisa, situada no futuro. O objetivo permanece sempre no horizonte. Tu continuas correndo, mas a distância permanece a mesma.
 
Existe uma outra dimensão da energia: é uma celebração não motivada. O objetivo está presente agora; o objetivo não é uma outra coisa. Na verdade, não há outra realização a não ser essa, deste momento; considera os lírios. Quando és tu o objetivo e quando o objetivo não está no futuro, nada há a ser alcançado e tu estarás, então, celebrando-o; já o alcançaste, ele está ali. Isso é relaxamento, energia não motivada.
 
Por isso, para mim, há dois tipos de energia: a dos buscadores de objetivos e a dos realizadores. Os que são orientados para o objetivo são os loucos, enlouquecem aos poucos e criam suas próprias loucuras. As loucuras têm seu próprio impulso; aprofundam-se os buscadores de objetivos cada vez mais nelas e, então, ficam completamente perdidos. O outro tipo de pessoa não é um buscador de objetivos, não é absolutamente um buscador, é realizador.
 
E isto eu te ensino: sê um realizador, realiza! Já existe demais o que celebrar: as flores desabrocharam, os pássaros estão cantando, o sol ali está, no céu - celebra isso! Tu respiras, estás vivo, tens que te libertar da tensão; assim, não existirá angústia. Toda a energia transformada em angústia torna-se, então, gratidão: teu coração continua batendo com agradecida potência - isso é uma oração. Isto é o que significa toda oração: um coração que bate, profundamente agradecido.
 
Nada faças com o corpo, a não ser relaxar.
 
Não há necessidade de fazer coisa alguma para isso. Compreende, apenas, o movimento da energia, do não motivado movimento da energia. Ele flui, mas não para um objetivo; flui para uma celebração. Move-se, não para um alvo, move-se por causa de sua própria e transbordante energia.
 
Uma criança está dançando, saltando e correndo, e tu perguntas: - “Para onde vais?” - Ela não vai a parte alguma e parecerás um tolo para aquela criança. As crianças sempre acham que os adultos são tolos. Que pergunta disparatada - “Para onde vais?” Há, por acaso, necessidade de ir a algum lugar? A criança não pode responder tua pergunta, simplesmente porque ela é despropositada. Ela não está indo a parte alguma. Simplesmente encolherá os ombros, e dirá: - “A nenhum lugar.” - E daí, a mente, orientada para o objetivo, pergunta: - “Então, por que estás correndo?” Para nós uma atividade é relevante quando leva a algum lugar.
 
 
E eu te digo
que não há para onde ir,
aqui está tudo;
toda a existência culmina neste momento,
converge para este momento.
 

Toda a existência já se está derramando neste momento; tudo quanto nela existe já está se derramando para este momento - está aqui, agora.
 
Uma criança está, simplesmente, gozando a energia. Ela a tem demais. Está correndo, não porque tenha de chegar a algum lugar, mas porque tem energia demais; precisa correr.
 
Age sem motivação, apenas como um transbordamento da tua energia. Compartilha, mas não comercies, não faças barganhas. Dá porque tens; não dês para receber em troca, porque senão cairás em desgraça. Todos os comerciantes vão para o inferno. Se quiseres encontrar os maiores negocistas e barganhadores, vai ao inferno que ali os encontrarás. O céu não é para comerciantes; o céu é para os que celebram.
 
Sempre, na teologia cristã, durante séculos, foi feita uma pergunta: que fazem os anjos no céu? Eis uma pergunta apropriada para os que são orientados para um objetivo. Que fazem os anjos no céu? Nada parece que se faça lá; nada há de fazer no céu. Alguém perguntou a Meister Eckhard: - “Que fazem os anjos no céu?” E ele respondeu: - “Que espécie de tolo és tu? O céu é um lugar para celebração. Eles não fazem coisa alguma. Simplesmente, celebram aquela glória, aquela magnificência, aquela poesia, aquele florescimento - celebram, apenas. Cantam, dançam, celebram.” Não penso, contudo, que aquela pessoa tivesse ficado satisfeita com a resposta de Meister Eckhard, porque, para nós, uma atividade só tem propósito quando leva a alguma coisa, quando há um objetivo.
 
Lembra-te, a atividade é orientada para um objetivo; a ação não é. A ação é um transbordamento de energia, a ação existe neste momento; é uma resposta não preparada, não ensaiada. Toda a existência vem ao teu encontro, enfrenta-te, e tua resposta sai naturalmente. Os pássaros estão cantando e tu começas a cantar - isso não é atividade. Subitamente acontece. Subitamente, vês que está acontecendo; vês que começaste a cantarolar - isso é ação.
 
E, se te tornares cada vez mais envolvido na ação e cada vez menos ocupado com a atividade, tua vida se modificará e se tornará um profundo relaxamento. Então, tu “ages”, mas permaneces relaxado. Um Buda jamais está cansado. Por quê? Porque é uma pessoa de ação. O que quer que tenha, ele dá, ele transborda.
 
Nada faças com o corpo, a não ser relaxar;
Fecha tua boca com firmeza, e permanece silente.
 
A boca é, realmente, muito, muito significativa, porque é ela que exerce a primeira atividade; teus lábios iniciam sua primeira atividade. A partir da região da boca inicia-se toda a atividade: tu respiraste, tu choraste, tu começaste a procurar o seio de tua mãe. E tua boca permaneceu, sempre, em franca atividade. Por isso é que Tilopa sugere: “Compreende a atividade, compreende a ação, relaxa, e... fecha com firmeza tua boca.”
 
Quando quer que te sentes para meditar, quando quer que desejes permanecer em silêncio, a primeira coisa a fazer é fechar completamente a boca. Se fechares completamente a boca, tua língua tocará o palato e ambos os lábios permanecerão completamente fechados. Fecha-a completamente - mas isso só poderá ser feito se estiveres seguindo as coisas que te tenho estado a dizer, e não antes.
 
És capaz disso! Fechar a boca não requer um esforço muito grande. Podes permanecer sentado como uma estátua, com a boca inteiramente fechada, mas isso não deterá a atividade. Bem lá na profundidade, o pensamento continuará e, se o pensamento continua, tu podes sentir a sutil vibração dos lábios. Outros podem não ser capazes de observá-la, porque ela é muito sutil, mas, sempre que estás pensando, teus lábios fremem um pouquinho, um frêmito muitíssimo sutil.
 
Quando realmente relaxas, o frêmito cessa. Não estás falando, não estás tendo nenhuma atividade interior. “Fecha com firmeza tua boca e permanece silente.” E, então, não penses.
 
Que farás? Os pensamentos vêm e vão. Deixa que venham e vão, pois esse não é o problema. Não te envolvas; conserva-te distante, desligado. Observa-os, simplesmente, conforme vêm e vão. Nada tens com eles. Fecha tua boca e permanece silente. Aos poucos e automaticamente os pensamentos cessarão - eles precisam da tua cooperação para se apresentarem. Se cooperares, estarão ali; se os combateres, também estarão ali - porque ambas as coisas são formas de cooperação: uma pró, outra contra, mas ambas são uma espécie de atividade. Tu deves apenas observar.
 
Fechar a boca, entretanto, ajuda muito. Assim, em primeiro lugar, conforme tenho observado em muitas pessoas, sugiro que primeiro bocejes: abre tua boca tão amplamente quanto possível, estira tua boca tão amplamente quanto possível, boceja completamente, a ponto de sentires alguma dor; e faze isso por duas ou três vezes. Isso te ajudará a manter a boca fechada por mais tempo. E então, durante dois ou três minutos, fala em voz alta uma algaravia qualquer, uma tolice qualquer. Tudo quanto te vier à mente, dize em voz alta, gozando aquilo. Então, fecha tua boca.
 
É sempre mais fácil partir do lado oposto. Quando quiseres relaxar tua mão, é melhor fazê-la, antes, o mais tensa possível. Fecha os punhos o mais tensamente possível - faze o oposto - e, então, relaxa. Assim conseguirás um relaxamento mais profundo do sistema nervoso. Faze gestos, caretas, movimentos do rosto, distorções, bocejos, fala tolices durante dois ou três minutos e, então, fecha tua boca. Essa tensão irá dar-te uma possibilidade mais profunda de relaxar os lábios e a boca. Fecha a boca e passa a ser apenas um observador. Depressa o silêncio descerá sobre ti.
 
Há dois tipos de silêncio. Um é o silêncio que forças a descer sobre ti. Não é muito benéfico; é uma violência, uma espécie de estupro da mente, é agressivo. E há outra espécie de silêncio, que desce sobre ti como a noite. Vem e te envolve. Tu apenas crias a possibilidade de ele acontecer (é a receptividade), e ele vem. Fecha a boca, observa e não tentes permanecer silencioso. Se tentares, poderás forçar alguns minutos de silêncio, mas não terão valor algum, pois, dentro de ti, continuas fervendo. Portanto, não tentes ficar silencioso. Cria, simplesmente a situação - o solo; planta a semente e espera.
 
Esvazia tua mente e não penses em nada.
 
Como farás para esvaziar a mente? Quando os pensamentos vierem, observa. A observação tem de ser feita com uma precaução: deve ser passiva, e não ativa. Há mecanismos sutis que deves compreender, senão poderás falhar em algum ponto. E, se falhares numa pequena coisa, tudo mudará de qualidade. Observa: observa passivamente, não ativamente.
 
Qual é a diferença? Quando estás esperando por tua namorada, ou por teu apaixonado, observas ativamente. Alguém passa pela porta e tu saltas, para ver se ela chegou. Depois, apenas ouves folhas sacudidas pelo vento e pensas que talvez ela tenha chegado. Estás sobressaltado; tua mente mostra-se muito inquieta, muito ativa. Não; isso não adiantará. Se estiveres demasiado inquieto e demasiado ativo, não te chegarás ao silêncio de Tilopa, ou ao meu silêncio. Sê passivo como quando te sentas à margem de um rio, enquanto ele flui; simplesmente observa. Não há aflição, não há urgência, não há emergência. Ninguém te está forçando. Mesmo que deixes passar, nada estará perdido. Tu, simplesmente, observas, olhas apenas. Mesmo a palavra observa não é boa, porque traz, em si, um elemento de atividade. Tu, simplesmente, olhas e nada tens a fazer. Senta-te, simplesmente, à margem do rio, olha enquanto o rio flui. Ou olha para o céu enquanto as nuvens flutuam; olha passivamente.
 
É muito, mas muito essencial que essa passividade seja compreendida, porque a tua obsessão pela atividade pode tornar-se inquietação, pode fazer-se uma espera ative e, então, podes pôr tudo a perder. A atividade pode tornar a entrar pela porta dos fundos. Sê um observador passivo.

                                                  

Osho