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terça-feira, 30 de novembro de 2021

 OBSERVE SUA MENTE

Meditação é sua natureza

 
Observe sua mente...
Em nossas vidas tudo o que fazemos é feito pela mente.

A primeira coisa a entender a respeito da mente é que há uma tagarelice constante. Quer você esteja falando ou não, ela continua a falar internamente. Quer você esteja acordado ou adormecido, a conversa interna continua, como uma espécie de ruído de fundo. Mesmo quando você trabalha, dirige ou caminha, a tagarelice interna continua.
 
A mente fala o tempo todo. Se esse falatório interno puder ser silenciado, mesmo que durante um único instante, você terá uma breve visão do estado de ausência da mente. Esse é o objetivo e a essência da meditação.
 
Como chegar, então, a um intervalo no qual a mente pare com a falação interna? Não é necessário nenhum esforço, pois, na verdade, este intervalo acontece o tempo todo, basta estar atento. Entre dois pensamentos há um intervalo. Até mesmo entre duas palavras há um intervalo.
 
Sua percepção de mundo precisa ser alterada. Geralmente você está atento as palavras e não aos intervalos.
 
A mente só pode ver uma coisa de cada vez. Portanto, quando você está prestando atenção nas palavras, não é possível ver o silêncio que vem depois de cada uma delas.
 
Mude o seu foco. Permaneça em silêncio... Deitado ou sentado... E comece a olhar nos intervalos. Sem esforço, sem estresse. De forma relaxada, fácil. Escorregue da borda das palavras para dentro dos intervalos, e permita que as palavras desapareçam aos poucos.

As palavras são as figuras, o silêncio é o fundo. Palavras vão e voltam, o silêncio permanece. Quando você nasceu, nasceu como silêncio – apenas intervalos e intervalos, espaços e espaços. Veio ao mundo com um vazio infinito. E então você começou a colecionar palavras.
 
A mente significa palavras, o ser significa silêncio. A mente não é nada além das palavras que você acumulou. O silêncio é aquilo que sempre esteve com você, não é um acúmulo. Este é o sentido do ser. É uma qualidade intrínseca. Em segundo plano, por trás do silêncio, você vai acumulando as palavras, e o conjunto das palavras é conhecido como mente.
 
Cada palavra é um precipício: a partir delas é possível mergulhar no vale do silêncio.

Então se livre das garras da mente, livre-se do falatório constante.
 
Nenhum pensamento da mente é original, são todos repetições. Observe atentamente. Sempre que a mente disser algo, veja como ela está tentando leva-lo de volta a uma rotina. Se você vive uma vida repetitiva, é porque sua mente tem controle demais sobre você. Não preste atenção às velhas rotinas...
 
Faça algo novo, mesmo que sejam pequenas mudanças na forma como você tem vivido, mesmo que sejam mudanças na sua forma de andar, na forma de falar.
 
Mude, e você estará se tornando um pouco mais livre.
 
A cada momento você se renova, renasce, a consciência nunca envelhece.
 
Perceba que você tem vivido de acordo com certos padrões até agora. Você não deseja mudar? Você não deseja obter algumas novas visões sobre o seu Ser? Então fique alerta e não ouça a mente.
 
A mente é seu passado tentando constantemente controlar seu presente e seu futuro. É o passado morto, que permanece controlando o presente vivo. Fique alerta quanto a isso.

As pessoas estão sempre procurando caminhos para controlar as outras, caminhos que possam lhes dar mais lucros. Se é isto que você procura, estará sempre sob o controle da mente. Esqueça essa ideia de controlar outras pessoas. Uma vez que você tenha deixado de lado a ideia de controlar os outros – seja marido ou mulher, filho ou pai, amigo ou inimigo -, a mente não poderá controlar você porque ela terá se tornado inútil.

A mente é útil para controlar o mundo. É útil para controlar a sociedade
 
A mente vive em uma espécie de transe, uma espécie de estado de inconsciência. Você só está consciente muito raramente: quando sua vida corre perigo, por exemplo. Fora isso, a mente prossegue em seu movimento, adormecida. Fique parado na calçada e olhe para as pessoas, você verá sombra de sonhos em sua face. Há pessoas falando sozinhas, ou gesticulando – olhe para uma dessas pessoas e você verá que ela está em algum outro lugar, e não na rua. É como se as pessoas se movessem num sono profundo.

Sonambulismo é o estado geral da mente.
 
Se você quer tornar-se um meditador, é preciso deixar de lado esse hábito de fazer as coisas adormecido. Ande, mas esteja alerta. Coma, mas ao comer não faça nada, além disso: apenas coma. Esteja alerta a cada mordida, mastigue com consciência – esteja sempre presente no aqui e agora.

Você perceberá que sua mente está sempre fazendo alguma outra coisa, indo para outro lugar, pois nunca quer estar aqui. Isso porque se a mente estiver aqui, ela não será mais necessária. No presente apenas a consciência é necessária, mas não a mente.
 
A mente só é necessária em algum lugar do passado ou do futuro, mas nunca aqui. Quando você sentir que a mente foi para outro lugar, quando você estiver em uma cidade e sua mente do outro lado do mundo, fique alerta imediatamente. Volte para casa. Volte para o lugar onde você se encontra.
 
Osho
https://blogdoosho.blogspot.com

INSTRUÇÕES PARA A VIDA INTERIOR

Capítulo VII
Do amor de Jesus sobre todas as coisas

1. Feliz aquele que entende o que é amar a Jesus e desprezar-se por amor de Jesus. Por este amor é mister deixar qualquer outro amor, porque Jesus quer ser amado só, sobre todas as coisas. Falaz e instável é o amor das criaturas; fiel e constante, o amor de Jesus. Quem se prende à criatura com ela cairá; quem com Jesus se abraça ficará firme para sempre. Ama-O e conserva-O por amigo a Ele que não te faltará quando todos te desampararem nem permitirá que pereças eternamente. Queiras ou não, de todas as coisas, terás que separar-te um dia.

2. Na vida e na morte abraça-te com Jesus e confia-te à fidelidade d'Aquele que, só, poderá valer-te quando todos te venham a faltar. Teu amado é de tal natureza que não admite competidor; Ele, só, quer possuir o teu coração e nele reinar como soberano em seu trono. Se souberes desprender-te inteiramente das criaturas Jesus se comprazerá em habitar contigo. Verás que foi quase tudo perdido o que, fora de Jesus, dedicaste aos homens. Não confies nem te firmes no caniço que o vento agita; "toda a carne é feno e sua glória, como a flor do campo" (Isaías XL, 6), fenece.

3. Muitas vezes te enganarás se julgares os homens só pela aparência. Se neles procurares vantagens e consolações o mais das vezes só experimentarás detrimento. Se em todas as coisas buscares a Jesus, a Jesus encontrarás; se buscares a ti encontrar-te-ás também mas para tua perdição; o homem que não busca a Jesus causa a si mesmo maior mal que todos os seus adversários e o mundo inteiro.

Capítulo VIII
Da familiaridade com Jesus

1. Quando Jesus está presente tudo é suave e nada parece difícil; quando Jesus se ausenta tudo se torna penoso. Quando Jesus não fala interiormente nenhuma consolação tem valor, mas basta que Ele diga uma só palavra, sentimo-nos plenamente consolados. Não vês Maria Madalena como se levantou logo do lugar em que estava a chorar, quando Marta lhe disse: "O Mestre aí está e chama-te" ? (João XI, 28). Hora feliz aquela em que Jesus chama das lágrimas à alegria espiritual! Como és árido e insensível sem Jesus! Que vaidade e loucura a tua se desejas alguma coisa fora de Jesus! Não é essa maior desgraça que se perderas todo o mundo?

2. Que te pode dar o mundo sem Jesus? Estar sem Jesus, insuportável inferno; viver com Jesus, doce paraíso. Se contigo estiver Jesus nenhum inimigo te poderá fazer mal. Quem encontra Jesus encontra um precioso tesouro, ou melhor, um bem acima de todos os bens; quem perde a Jesus perde muito, muito mais que se perdera todo o mundo. Viver sem Jesus, indigência extrema; estar bem com Jesus, imensa riqueza.

3. Grande arte, saber conversar com Jesus; saber conservar a Jesus, grande prudência. Sê humilde e pacífico e Jesus será contigo. Sê piedoso e comedido e contigo ficará Jesus. Bem depressa podes afugentar a Jesus e perder a sua graça se te derramares nas coisas exteriores; mas se O afugentares e perderes, a quem hás de recorrer e buscar por amigo? Sem amigo não poderás viver feliz e se Jesus não for teu amigo acima de todos os outros, indizível será a tua tristeza e desolação. Insensato serás, pois, se em outra pessoa puseres a tua confiança e a tua alegria. Antes ter todo o mundo contra si que ofender a Jesus. Que Ele, pois, te seja mais caro de todos os que te são caros.

4. Amemos a todos por Jesus; a Jesus, por si mesmo. Só Jesus Cristo deve ser amado com amor singular, porque acima de todos os amigos, só Ele é bom e fiel. Por amor d'Ele e n'Ele ama os teus amigos e os teus inimigos; e ora por todos para que todos o conheçam e amem. Não desejes nunca uma preferência singular na estima e no amor dos homens; porque isso pertence só a Deus que não tem igual; não queiras que alguém se ocupe contigo em seu coração nem te ocupes tu com o amor dos outros, mas Jesus reine em ti e em todo o homem de boa vontade.

5. Sê interiormente puro e livre, sem apego a criatura alguma. É mister desprender-se de tudo e oferecer a Deus um coração puro se queres descansar e ver quão suave é o Senhor. E, na verdade, não o conseguirás se não fores prevenido e atraído pela graça, de modo que, excluídas e desterradas todas as coisas, te possas unir só com Ele só. Porque quando a graça de Deus visita o homem, ele se sente com forças para tudo; quando ela se afasta, torna-se logo pobre e fraco, como que reservado para o castigo. Mas ainda neste estado não deve abater-se nem desesperar, senão submeter-se de bom grado à vontade de Deus e sofrer por amor de Jesus Cristo tudo o que lhe sobrevier; porque ao inverno sucede o verão; à noite, o dia; e à tempestade, grande bonança.

Capítulo IX
Da carência de toda consolação

1. Não é difícil desprezar as consolações humanas quando temos as divinas. Grande coisa, porém, e bem grande é poder passar sem as consolações e sem as consolações de Deus, suportar de boa vontade, para a sua glória, o exílio do coração, não buscar a si mesmo em coisa alguma nem atender ao próprio mérito. Que maravilha estares alegre e fervoroso quando te assiste a graça! Por esta hora suspiram todos. Mui suavemente caminha quem é levado pela graça de Deus. E como sentiria o peso quem é ajudado pelo Onipotente e conduzido pelo supremo Guia?

2. De bom grado procuramos as consolações e só com dificuldade se despe o homem de si mesmo. Venceu ao mundo o mártir S. Lourenço em união com o seu bispo, porque desprezou todos os atrativos do século e sofreu tranquilamente por amor de Cristo, que o separassem do sumo sacerdote de Deus, S. Xisto, a quem muito amava. Assim, com o amor de Deus venceu o afeto às criaturas, e às consolações humanas preferiu o beneplácito divino. Aprende também tu a deixar por amor de Deus um amigo íntimo e querido. Nem te aflijas demasiadamente se te abandona algum amigo, lembrando-te que um dia nos havemos todos de separar uns dos outros.

3. Muito e por muito tempo deverá o homem lutar consigo antes que aprenda a vencer-se completamente e a orientar todos os seus afetos para Deus. O homem que confia em si facilmente desliza para as consolações humanas. Mas o que ama deveras a Jesus Cristo e se dá seriamente à virtude não procura consolações nem doçuras sensíveis, antes, prefere fortes pelejas e duros sofrimentos por Cristo.

4. Quando Deus te der alguma consolação espiritual, recebe-a com gratidão; lembra-te, porém, que é dom de Deus e não merecimento teu. Não te desvaneças, não te regozijes em excesso nem presumas vãmente de ti; pelo contrário, que o dom de Deus te torne mais humilde, mais vigilante e timorato em todas as tuas ações, porque passará aquela hora e voltará a tentação. Quando te for tirada a consolação não desanimes logo; aguarda com humildade e paciência que Deus de novo te visite, porque bem pode Ele dar-te consolação ainda maior. Isto não é coisa nova nem estranha aos que têm experiência nos caminhos do Senhor; por estas alternativas passaram os grandes santos e os antigos profetas.

5. Por isso, na presença da graça, exclama um deles: "Em minha abundância disse: não vacilarei nunca" (Ps. XXIX, 7); em se ausentando, porém, a graça, acrescenta o que em si experimentou: "Apartastes de mim o vosso rosto e fiquei conturbado" (Ibid. 8). Nesta perturbação, porém, não se entrega ao desespero mas com insistência roga ao Senhor e diz: "A vós, Senhor, bradarei; ao meu Deus dirigirei as minhas súplicas" (Ibid. 9). Colhe por fim o fruto de sua oração e atesta que foi atendido dizendo: "Ouviu-me o Senhor e teve compaixão de mim; o Senhor veio em meu auxílio" (Ibid. 11). De que modo? "Trocastes", continua, "o meu pranto em gozo e inundastes-me de alegria" (Ibid. 12). Se assim foram tratados os grandes santos, não devemos desanimar nós, fracos e pobres, se ora nos sentimos fervorosos, ora tíbios; O Espírito de Deus vem e vai como Lhe apraz. Lá disse o Santo Jó: "Visitais o homem pela manhã e logo o provais" (Jó VII,18).

6. Em que posso eu, pois, esperar, e em que devo por a minha confiança senão unicamente na misericórdia de Deus e na esperança da graça celeste? Homens de virtude, religiosos devotos ou amigos fiéis, livros santos ou tratados eloquentes, hinos e cânticos suaves, tudo isto de pouco me serve e pouco me agrada quando me sinto desamparado pela graça e entregue à minha própria miséria. Não há então melhor remédio que a paciência e a renúncia de mim mesmo na vontade de Deus.

7. Nunca encontrei homem tão perfeito e piedoso que, de quando em quando, não experimentasse esta subtração da graça e diminuição do fervor. Nenhum santo houve, tão altamente arrebatado e iluminado, que, cedo ou tarde, não fosse tentado. Não é digno de ser elevado à sublime contemplação de Deus quem por amor de Deus não sofreu alguma tribulação. A tentação é, de ordinário, sinal da consolação que se lhe há de seguir. Aos provados pelas tentações é prometida a consolação celeste: "ao que vencer", diz o Senhor, "darei a comer da árvore da vida" (Apoc. II,7).

8. Deus dá a consolação afim de que o homem tenha mais força para suportar a adversidade. Segue-se-lhe também a tentação para que se não desvaneça do que tem de bom. O demônio não dorme nem a carne está morta. Não cesses, por isso, de preparar-te para a luta; à direita e à esquerda há inimigos que nunca descansam.

Capítulo X
Da gratidão pela graça divina

1. Por que procuras descanso, tu que nasceste para o trabalho? Dispõe-te mais à paciência que à consolação, a levar a cruz mais que a ter alegria. Que homem mundano não aceitaria de bom grado as consolações e alegrias espirituais se delas pudera sempre gozar? Na verdade as consolações espirituais sobrelevam todas as delícias do mundo e os prazeres da carne, porque as delícias mundanas ou são vãs ou torpes, só as espirituais são agradáveis e honestas, geradas pela virtude e infundidas por Deus nas almas puras. Mas destas consolações divinas, ninguém pode fruir à medida dos seus desejos, porque as tentações não nos dão trégua por muito tempo.

2. Grande obstáculo às visitas do céu são a falsa liberdade da alma e a demasiada confiança em si. Deus faz bem dando a graça da consolação mas o homem faz mal não agradecendo e não referindo inteiramente a Deus o dom recebido. Se a nós não descem abundantes os dons da graça é porque somos ingratos ao seu Autor e não atribuímos tudo à sua Fonte de origem. Com efeito, a graça é sempre concedida ao que a recebe com a devida gratidão e Deus costuma dar ao humilde o que tira ao soberbo.

3. Não quero consolação que me tire a compunção, nem desejo uma contemplação que me leve ao orgulho. Nem tudo que é elevado é santo; nem tudo o que é doce é bom; nem todo o desejo é puro; nem tudo o que nos agrada a Deus agrada. De boa vontade aceito a graça que me torna mais humilde e timorato e melhor me dispõe à renúncia de mim mesmo. O homem instruído pelo dom da graça e escarmentado pela sua privação não ousará atribuir-se bem algum, antes se confessará pobre e desprovido de tudo. Dá a Deus o que é de Deus e a ti atribui o que é teu; isto é, agradece a Deus pelas graças recebidas e reconhece que só a ti é devida a culpa e o justo castigo da culpa.

4. Põe-te sempre no último lugar e ser-te-á dado o primeiro porque não haverá primeiro lugar senão para quem se coloca no último. Os maiores santos aos olhos de Deus foram os menores na própria estima; quanto mais gloriosos tanto mais humildes. Cheios da verdade e da glória do céu não cobiçam uma glória vã. Fundados e confirmados em Deus, de nenhum modo se podem ensoberbecer. Referindo a Deus todo o bem recebido não procuram a glória que dão os homens, mas querem só a glória que vem de Deus. Seu único desejo e sua contínua aspiração é que Deus, em si e em seus santos, seja sempre louvado acima de todas as coisas.

5. Sê, pois, agradecido pelo mínimo benefício e tornar-te-ás digno de receber maiores. Tem por grandes os menores dons e por dádiva singular o que os homens julgam desprezível. Para quem considera a dignidade de quem dá nenhum dom parecerá pequeno ou insignificante; não pode ser pouco o que vem de um Deus infinito. Deves agradecer-Lhe ainda quando te envie penas e castigos, porque é para nossa salvação quanto permite que nos aconteça. Quem deseja conservar a graça de Deus seja reconhecido quando Ele lha dá e paciente quando lha retira; ore para que se lhe restitua; ande cauteloso e humilde para não a perder.

Capítulo XI
Do pequeno número dos que amam a cruz de Cristo

1. Tem Jesus muitos que amam seu reino celeste, poucos que carreguem a sua cruz; muitos desejam as suas consolações, poucos, os seus sofrimentos; muitos são os companheiros de sua mesa, poucos, de sua abstinência. Todos almejam gozar com Ele, poucos querem sofrer algo por seu amor. Muitos acompanham Jesus até ao partir do pão, poucos até ao beber do cálice de sua paixão. Muitos admiram os seus milagres, poucos abraçam a ignomínia da cruz. Muitos amam a Jesus enquanto não lhes bate à porta a adversidade; louvam-no e bendizem-no enquanto dele recebem consolações. Se Jesus, porém, se esconde ou deles se afasta por algum tempo entram logo a queixar-se e a cair em excessivo desalento.

2. Os que amam a Jesus por Jesus e não pela própria satisfação bendizem-no tanto nas tribulações e angústias como nas maiores consolações. E ainda quando os não quisesse consolar nunca, eles O louvariam sempre e sempre Lhe dariam graças.

3. Oh! quanto pode o amor de Jesus quando puro e sem mescla de interesse ou de amor próprio! Não merecem porventura o nome de mercenários os que andam sempre à busca de consolações? Não dão provas de amar mais a si que a Cristo os que não pensam senão em seus cômodos e interesses? Onde se encontrará quem queira servir a Deus gratuitamente?

4. É raro encontrar uma alma tão adiantada na vida espiritual que esteja desapegada de tudo. O verdadeiro pobre de espírito, desprendido de todas as criaturas, quem o achará? "Tesouro precioso que debalde se buscaria até às extremidades da terra" (Prov. XXXI, 10). Se o homem abrir mão de toda a sua fortuna, isso é nada. Se fizer grande penitência ainda é pouco. Se adquirir todas as ciências, ainda está longe. Se tiver grandes virtudes e piedade fervorosa, muito ainda lhe falta; falta-lhe a coisa mais necessária. Qual? Que, tendo deixado tudo, deixe a si mesmo e saia totalmente de si, sem nenhuma reserva de amor próprio; e tendo cumprido o que julga se seu dever, sinta que nada fez.

5. Não tenha em muita conta o que por grande poderiam estimar os homens, mas com sinceridade se confesse servo inútil, conforme a palavra da Verdade: "quando fizerdes tudo o que vos foi mandado dizei: servos inúteis somos." (Luc. XVII, 10). Poderá ser então verdadeiramente pobre de espírito e desapegado de tudo, dizer com o Profeta: "sou pobre e só no mundo" (Ps. XXIV, 16). Ninguém, todavia, é mais rico, mais poderoso, mais livre do que aquele que soube deixar a si mesmo e a todas as coisas e colocar-se no último lugar.

Capítulo XII
Da estrada real da Santa Cruz

1. A muitos parece dura esta linguagem: "Nega a ti mesmo, toma a tua cruz e segue a Jesus" (Luc. IX, 23). Muito mais dura, porém, será ouvir aquela última sentença: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno" (Mat. XXV, 41). Os que agora ouvem e seguem de boa vontade a palavra da Cruz, não hão de temer um dia a da condenação eterna. "Este sinal da Cruz aparecerá no Céu quando o Senhor vier a julgar" (Mat. XXIV, 30). Todos os discípulos da Cruz que conformaram a sua vida com a de Jesus crucificado com grande confiança aproximar-se-ão de Cristo juiz.

2. Por que temer, pois, tomar a Cruz pela qual se vai ao reino do céu? Na Cruz está a salvação, na Cruz a vida, na Cruz a proteção contra os inimigos. Na Cruz, a fonte das suavidades celestiais, na Cruz a fortaleza da alma, na Cruz a alegria do espírito, na Cruz a consumação da virtude, na Cruz a perfeição da santidade. Não há salvação para a alma nem esperança de vida eterna senão na Cruz. Toma, pois, a tua Cruz, segue a Jesus e chegarás à vida eterna. Ele te precedeu carregando a sua Cruz e na Cruz morreu por ti, para que tu também carregues a tua Cruz e na Cruz desejes morrer. Porque se com Ele morreres, com Ele viverás e se Lhe fores companheiro no sofrimento, sê-lo-ás também na glória.

3. Tudo, pois, se encerra na Cruz e se resume em morrer nela. E não há outro caminho que leve à vida e à verdadeira paz interior senão o caminho da santa Cruz e da mortificação cotidiana. Anda por onde quiseres, procura quanto quiseres, não encontrarás caminho mais sublime acima do caminho da santa Cruz, nem abaixo dele, caminho mais seguro. Dispõe e ordena todas as coisas conforme o teu gosto e parecer, e verás que sempre, queiras ou não, hás de padecer alguma coisa, e assim sempre encontrarás a Cruz; porque ou hás de sofrer dores no corpo ou tribulações na alma.

4. Ora serás desamparado por Deus, ora atormentado pelo próximo e, o que mais é, muitas vezes serás pesado a ti mesmo. E não encontrarás nem remédio que e cure, nem consolação que te alivie, mas terás que sofrer enquanto Deus quiser. Deus quer, com efeito, que aprendas a sofrer sem consolo, a Ele te submetas totalmente com a tribulação te tornes mais humilde. Ninguém sente tão intimamente a paixão de Cristo como o que passou por tormentos semelhantes aos seus. A Cruz, portanto, está sempre preparada e em todo lugar te espera. Não poderás fugir onde quer que te refugies, porque aonde quer que fores te levarás contigo e te encontrarás a ti. Volta-te para cima ou para baixo, volta-te para fora ou para dentro, sempre acharás a Cruz e sempre é necessário que tenhas paciência se queres possuir paz interior e merecer a coroa eterna.

5. Se de bom grade levares a Cruz ela te levará a ti e te conduzirá ao fim que desejas, onde já não terás que sofrer; mas não será neste mundo. Se de má vontade a levares, aumentar-lhes-ás o peso e agravarás a tua carga, e, ainda assim, é forçoso que a suportes. Se rejeitares uma Cruz, outra encontrarás com certeza e talvez mais pesada.

6. Cuidas escapar àquilo de que se não eximiu nenhum mortal? Que santo houve no mundo que não teve cruzes e tribulações? Nem Jesus Cristo, Senhor Nosso, passou em toda a sua vida, uma só hora, sem as dores de sua Paixão. "Era mister", disse Ele, "que Cristo sofresse e ressuscitasse dos mortos e assim entrasse em sua glória" (Luc. XXIV, 26 e 46). Como, pois, buscas outro caminho fora da estrada real da santa Cruz?

7. Toda a vida de Cristo foi Cruz e martírio e queres descanso e gozo? Andas errado e muito errado, se buscas outra coisa que não sofrimentos; toda esta vida mortal é cheia de misérias e cercada de cruzes. E quanto mais progressos na vida espiritual fizer uma alma, tanto mais pesadas serão, muitas vezes, as suas cruzes; porque com o amor crescem as penas do exílio.

8. Mas, entretanto, a quem se acha no meio de tantas provações, não lhe faltará o alívio e consolo, porque sentirá o grande fruto que lhe advém da paciência em levar a sua cruz. Pois quando alguém se submete de bom grado, o peso da tribulação todo se converte em confiança que o consola. E quanto mais se quebranta a carne pela aflição tanto mais se fortalece interiormente o espírito pela graça. E, algumas vezes o desejo de sofrer penas e adversidades para mais se assemelhar a Cristo crucificado inspira tanta força à alma que ela já não quisera viver sem dores e tribulações, persuadida que será tanto mais agradável a Deus quanto mais e maiores trabalhos sofrer por seu amor. Não é isto virtude humana senão graça de Cristo que tanto pode e tanto faz numa carne frágil, que o homem, pelo fervor do espírito ame e abrace o que, naturalmente, lhe causa aversão e horror.

9. Não é natural ao homem levar a cruz, amar a cruz, castigar o corpo e submetê-lo ao espírito, fugir das honras, sofrer de bom grado as afrontas, desprezar-se e querer ser desprezado, aturar as adversidades e desgraças e não desejar nenhuma prosperidade neste mundo. Se a ti só olhares, de nada disto és capaz por ti mesmo. Mas se confiares no Senhor, do alto ser-te-á dada a força com que dominarás o mundo e a carne; e se estiveres armado com fé e com o sinal da cruz de Cristo nem o mesmo inimigo infernal temerás.

10. Dispõe-te, pois, como bom e fiel servo de Cristo a levar com ânimo a cruz do teu Senhor, por teu amor crucificado. Prepara-te para sofrer muitas adversidades e toda a sorte de trabalhos nesta vida miserável; porque é o que te espera onde quer que estejas e o que encontrarás onde quer que te escondas. É uma necessidade; e não há outro meio de escapar à tribulação dos males e à dor senão ter paciência contigo. Bebe amorosamente o cálice do Senhor se queres ser seu amigo e partilhar a sua herança. Deixa que Deus disponha de suas consolações; que Ele as distribua como for de seu agrado. Quanto a ti, prepara-te para padecer tribulações considerando-as como as consolações mais preciosas, porque "todos os sofrimentos desta vida não tem proporção alguma com a glória futura, que em nós se há de manifestar" (Rom. VIII, 18), e não poderias merecê-la ainda que, só, os pudesses suportar todos.

11. Quando chegares a ponto de saborear e achar doces as tribulações, por amor de Cristo, dá-te por feliz porque encontraste o paraíso na terra. Mas enquanto te pesa ainda o sofrimento e procuras evitá-lo ir-te-á mal e a tribulação que foges seguir-te-á em toda a parte.

12. Se, porém, te dispões ao que deves, isto é, a sofrer e a morrer logo te sentirás melhor e acharás a paz. Ainda que foras como São Paulo, arrebatado ao terceiro céu, não estás por isso seguro de nada sofrer. "Mostrar-lhe-ei", disse Jesus, "quanto há de sofrer por meu nome" (Atos, IX, 16). Não te resta, portanto, senão sofrer se queres amar a Jesus e servi-lo sempre.

13. Prouvera a Deus, fosses digno de padecer alguma coisa pelo nome de Jesus! Que glória para ti! Que alegria para os santos de Deus! Que edificação para o próximo! Na verdade, todos aconselham a paciência, mas poucos querem exercitá-la. Com razão deveras sofrer um pouco por amor de Cristo, quando tantos por amor do mundo padecem males mais graves.

14. Tem por certo que a tua vida deve ser uma morte contínua; quanto mais cada um morre a si mesmo tanto melhor começa a viver para Deus. Só é capaz de compreender as coisas do céu quem se resigna a suportar por amor de Cristo as adversidades. Nada mais agradável a Deus, nem mais proveitoso para ti neste mundo, que padecer de boa vontade por Cristo. E se te dessem a escolher, deveras preferir sofrer, trabalhar por Ele a ser recreado com muitas consolações, porque assim te assemelharias mais a Cristo e melhor e conformarias com o exemplo de todos os santos. O nosso merecimento e o progresso na perfeição consistem menos na abundância das doçuras e consolações do que em passar por grandes trabalhos e provações graves.

15. Se para a salvação do homem, alguma coisa houvera de melhor e mais útil que o sofrimento, Cristo, sem dúvida, no-lo houvera ensinado com suas palavras e exemplos. Ora, aos discípulos que o acompanhavam e a quantos desejam segui-lo ele exorta claramente a levar a Cruz dizendo: "Quem quiser vir após mim renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me" (Mat. XVI, 24). Assim, pois, lidas e bem pesadas todas as coisas, seja esta a última conclusão: "Para entrar no reino de Deus é mister passar por muitas tribulações" (Atos XIV, 21).

 
Tomás de Kempis, do livro Imitação de Cristo
http://www.monergismo.com
 A INGRATIDÃO E O AMOR

 
As decepções oriundas da ingratidão não serão de molde a endurecer o coração e a fechá-lo à sensibilidade?

Fora um erro, porquanto o homem de coração, como dizes, se sente sempre feliz pelo bem que faz. Sabe que, se esse bem for esquecido nesta vida, será lembrado em outra e que o ingrato se envergonhará e terá remorsos da sua ingratidão. (Questão Nº 938 – O Livro dos Espíritos)

No extenso dicionário das mazelas humanas, a ingratidão ocupa lugar de destaque.

Na indiferença ante benefícios recebidos e nas ações que representam uma omissão diante de eventuais necessidades do benfeitor ou até mesmo venham a prejudicá-lo, temos flagrantes demonstrações do egoísmo humano.

Tudo isso está presente na mais execrável e comprometedora ingratidão: a dos filhos.Impossível efetuar um levantamento completo dos benefícios que recebemos de nossos pais, particularmente na infância. É preciso que tenhamos nossos próprios filhos para que possamos avaliar devidamente o assunto.
 
Não há sacrifícios em favor de alguém que se comparem aos da solicitude materna. Começam pela gravidez, que altera algo extremamente importante para a mulher - a ética'>estética corporal -, impondo-lhe deformações das quais nunca se recuperará plenamente. Depois, as dores do parto, a insegurança diante do recém-nascido, as noites de vigília, a ciranda das fraldas e das mamadeiras, as angústias em face de enfermidades, as preocupações que se estenderão por toda a existência em relação ao bem-estar e à felicidade do filho...

- Minha querida - diz experiente mulher a uma jovem em início de gestação - durma bastante, descanse, curta o prazer de cuidar de si mesma. Faça tudo isso agora porque, quando seu filho nascer, nunca mais você terá uma noite de sono inteiramente tranquilo, nem horas inteiramente suas. Sua vida não mais lhe pertencerá...

Ao pai está reservada idêntica carga de cuidados, não tão envolvente e intensa, mas acrescida do compromisso de trazer para a família “o pão de cada dia”.

No entanto, para muitos casais idosos sobram, na velhice, um fundo de quintal, um asilo de luxo, um progressivo distanciamento.

Com a indefectível racionalização humana, a disfarçar o egoísmo, alegam os filhos problemas de convivência, conflito de gerações, caduquice dos velhos, com o que anestesiam a consciência. Esquecem-se de que os pais não fizeram o mesmo quando o “conflito de gerações” envolvia um casal às voltas com a “caduquice” de pirralhos iniciantes na arte de pensar.
 
- Eu não pedi a meus pais para vir ao Mundo - justificam muitos ingratos.

Ledo engano!

No Plano Espiritual não só pedimos como, não raro, imploramos a casais em disponibilidade que nos dessem a oportunidade de um retorno às experiência humanas, reconhecendo-as indispensáveis à nossa edificação e à solução de problemas cármicos.
 
Mas há outro lado da questão.

Curioso observar como as mães mais ternas, mais virtuosas, nunca cobram dos filhos os benefícios que lhes prestam.

É que só podemos cobrar o que vendemos. A mãe não “vende” dedicação ao filho porque o faz por amor, que é, em sua manifestação mais pura, um ato de doação.

Esta é uma lição que deveríamos aprender com as mães, a fim de não reclamarmos quando os beneficiários de nossas iniciativas frustrarem nossas expectativas.

Quem cobra gratidão é mero vendedor de benefícios.

Isto aplica-se a tudo o que fazemos em favor de alguém, no lar, na rua, no local de trabalho, na atividade religiosa, na vida social.

Os melindres, os desentendimentos, as decepções surgem quando cobramos amizade, respeito, compreensão, consideração, daqueles aos quais eventualmente tenhamos beneficiado.

Pomos a perder gratificantes oportunidades de servir porque vendemos muito e doamos pouco, no empório de nossas ações.

Quem se doa, em benefício de um filho, de um amigo, de um necessitado, jamais pensa em retribuição.

A recompensa está na própria doação, já que quando assim fazemos, assumimos nossa filiação divina, habilitando-nos a receber em plenitude de bênçãos de Deus, que não se perturba com os ingratos, nem deixa de atendê-los, porquanto, como ensina Jesus, “faz nascer o sol para bons e maus e descer a chuva sobre justos e injustos”.

O que seria do Cristianismo se Jesus, magoado com a ingratidão dos homens, com a multidão que o insultara, com os amigos que o abandonaram, com os discípulos que se acovardaram, recusasse comparecer ao colégio apostólico, após a crucificação?
 
E o que fez, diante dos companheiros assombrados com a gloriosa materialização? Revelou-se aborrecido? Criticou-os acremente? Nada disso!
 
Jesus simplesmente saudou-os desejando-lhes paz, como nos dias venturosos do passado e, retirando-os do angustiante imobilismo, sedimentou para sempre, em seus corações, a disposição de trabalhar pela edificação do Reino de Deus.
 
O Mestre demonstrou, em inúmeras circunstâncias, que, se o amor persevera, o ingrato acabará defrontando-se com a própria consciência, que lhe imporá irresistíveis impulsos de renovação.
 
Richard  Simonetti
http://www.caminhosluz.com.br
 
O Evangelho Segundo o Espiritismo
 
Capítulo 14 - Honra a teu pai e a tua mãe - Santo Agostinho  
 
A ingratidão dos filhos e os laços de família 
 
A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo, e revolta sempre os corações virtuosos. Mas a dos filhos para com os pais tem um sentido ainda mais odioso. É desse ponto de vista que a vamos encarar mais especialmente, para analisar-lhe as causas e os efeitos. Nisto, como em tudo, o Espiritismo vem lançar luz sobre um dos problemas do coração humano.

Quando o Espírito deixa a Terra, leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza, e vai no espaço aperfeiçoar-se ou estacionar, até que deseje esclarecer-se. Alguns, portanto, levam consigo ódios violentos e desejos de vingança. A alguns deles, porém, mais adiantados, é permitido entrever algo da verdade: reconhecem os funestos efeitos de suas paixões, e tomam então boas resoluções; compreendem que, para se dirigirem a Deus, só existe uma senha – caridade. Mas não há caridade sem esquecimento das ofensas e das injúrias, não há caridade com ódio no coração e sem perdão.

É então que, por um esforço inaudito, voltam o seu olhar para os que detestaram na Terra. À vista deles, porém, sua animosidade desperta. Revoltam-se à ideia de perdoar, e ainda mais a de renunciarem a si mesmos, mas sobretudo a de amar aqueles que lhes destruíram talvez a fortuna, a honra, a família. Não obstante, o coração desses infortunados está abalado. Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contrários. Se a boa resolução triunfa, eles oram a Deus, imploram aos Bons Espíritos que lhes deem forças no momento mais decisivo da prova.

Enfim, depois de alguns anos de meditação e de preces, o Espírito se aproveita de um corpo que se prepara, na família daquele que ele detestou, e pede, aos Espíritos encarregados de transmitir as ordens supremas, permissão para ir cumprir sobre a Terra os destinos desse corpo que vem de se formar. Qual será, então, a sua conduta nessa família? Ela dependerá da maior ou menor persistência das suas boas resoluções. O contacto incessante dos seres que ele odiou é uma prova terrível, da qual às vezes sucumbe, se a sua vontade não for bastante forte. Assim, segundo a boa ou má resolução que prevalecer, ele será amigo ou inimigo daqueles em cujo meio foi chamado a viver. É assim que se explicam esses ódios, essas repulsas instintivas, que se notam em certas crianças, e que nenhum fato exterior parece justificar. Nada, com efeito, nessa existência, poderia provocar essa antipatia. Para encontrar-lhe a causa, é necessário voltar os olhos ao passado.

Oh, espíritas! Compreendei neste momento o grande papel da Humanidade! Compreendei que, quando gerais um corpo, a alma que se encarna vem do espaço para progredir. Tomai conhecimento dos vossos deveres, e ponde todo o vosso amor em aproximar essa alma de Deus: é essa a missão que vos está confiada e da qual recebereis a recompensa, se a cumprirdes fielmente. Vossos cuidados, a educação que lhe derdes, auxiliarão o seu aperfeiçoamento e a sua felicidade futura. Lembrai-vos de que a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: “Que fizestes da criança confiada à vossa guarda?” Se permaneceu atrasada por vossa culpa, vosso castigo será o de vê-la entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vós que fosse feliz. Então vós mesmos, carregados de remorsos, pedireis para reparar a vossa falta: solicitareis uma nova encarnação, para vós e para ela, na qual a cercareis de mais atentos cuidados, e ela, cheia de reconhecimento, vos envolverá no seu amor.

Não recuseis, portanto, o filho que no berço repele a mãe, nem aquele que vos paga com a ingratidão: não foi o acaso que o fez assim e que vo-lo enviou. Uma intuição imperfeita do passado se revela, e dela podeis deduzir que um ou outro já odiou muito ou foi muito ofendido, que um ou outro veio para perdoar ou expiar. Mães! Abraçai, pois, a criança que vos causa aborrecimentos, e dizei para vós mesmas: “Uma de nós duas foi culpada”. Merecei as divinas alegrias que Deus concedeu à maternidade, ensinando a essa criança que ela está na Terra para se aperfeiçoar, amar e abençoar. Mas, ah! Muitas dentre vós, em vez de expulsar por meio da educação os maus princípios inatos, provenientes das existências anteriores, entretém e desenvolvem esses princípios, por descuido ou por uma culposa fraqueza. E, mais tarde, o vosso coração ulcerado pela ingratidão dos filhos, será para vós, desde esta vida, o começo da vossa expiação.

A tarefa não é tão difícil como podereis pensar. Não exige o saber do mundo: o ignorante e o sábio podem cumpri-la, e o Espiritismo vem facilitá-la, ao revelar a causa das imperfeições do coração humano.

Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior. É necessário aplicar-se em estudá-los. Todos os males têm sua origem no egoísmo e no orgulho. Espreitai, pois, os menores sinais que revelam os germens desses vícios e dedicai-vos a combatê-los, sem esperar que eles lancem raízes profundas. Fazei como o bom jardineiro, que arranca os brotos daninhos à medida que os vê aparecerem na árvore. Se deixardes que o egoísmo e o orgulho se desenvolvam, não vos espanteis de ser pagos mais tarde pela ingratidão. Quando os pais tudo fizeram para o adiantamento moral dos filhos, se não conseguem êxito, não tem do que lamentar e sua consciência pode estar tranquila. Quanto à amargura muito natural que experimentam, pelo insucesso de seus esforços, Deus reserva-lhes uma grande, imensa consolação, pela certeza de que é apenas um atraso momentâneo, e que lhe será dado acabar em outra existência a obra então começada, e que um dia o filho ingrato os recompensará com o seu amor. (Ver cap. XIII, nº 19)

Deus não faz as provas superiores às forças daquele que as pede; só permite as que podem ser cumpridas; se isto não se verifica, não é por falta de possibilidades, mas de vontade. Pois quantos existem, que em lugar de resistir aos maus arrastamentos, neles se comprazem: é para eles que estão reservados o choro e o ranger de dentes, em suas existências posteriores. Admirai, entretanto, a bondade de Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento. Chega um dia em que o culpado está cansado de sofrer, o seu orgulho foi por fim dominado, e é então que Deus abre os braços paternais para o filho pródigo, que se lança aos seus pés. As grandes provas, — escutai bem, — são quase sempre o indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, desde que sejam aceitas por amor a Deus. É um momento supremo, e é nele sobretudo que importa não falir pela murmuração, se não se quiser perder o fruto da prova e ter de recomeçar. Em vez de vos queixardes, agradecei a Deus, que vos oferece a ocasião de vencer para vos dar o prêmio da vitória. Então quando, saído do turbilhão do mundo terreno, entrardes no mundo dos Espíritos, sereis ali aclamado, como o soldado que saiu vitorioso do centro da refrega.

De todas as provas, as mais penosas são as que afetam o coração. Aquele que suporta com coragem a miséria das privações materiais, sucumbe ao peso das amarguras domésticas, esmagadas pela ingratidão dos seus. Oh!, é essa uma pungente angústia! Mas o que pode, nessas circunstâncias, reerguer a coragem moral, senão o conhecimento das causas do mal, com a certeza de que, se há longas dilacerações, não há desesperos eternos, porque Deus não pode querer que a sua criatura sofra para sempre? O que há de mais consolador, de mais encorajador, do que esse pensamento de que depende de si mesmo, de seus próprios esforços, abreviar o sofrimento, destruindo em si as causas do mal? Mas, para isso, é necessário não reter o olhar na Terra e não ver apenas uma existência; é necessário elevar-se, pairar no infinito do passado e do futuro. Então, a grande justiça de Deus se revela aos vossos olhos, e esperais com paciência, porque explicou a vós mesmos o que vos parecia monstruosidade da Terra. Os ferimentos que recebestes vos parecem simples arranhaduras. Nesse golpe de vista lançado sobre o conjunto, os laços de família aparecem no seu verdadeiro sentido: não mais os laços frágeis da matéria que ligam os seus membros, mas os laços duráveis do Espírito, que se perpetuam, e se consolidam, ao se depurarem, em vez de se quebrarem com a reencarnação.

Os espíritos cuja similitude de gostos, identidade do progresso moral e de afeição, levam a reunir-se, formam famílias. Esses mesmos Espíritos, nas suas migrações terrenas, buscam-se para agrupar-se, como faziam no espaço, dando origem às famílias unidas e homogêneas. E se, nas suas peregrinações, ficam momentaneamente separados, mais tarde se reencontram, felizes por seus novos progressos. Mas como não devem trabalhar somente para si mesmos, Deus permite que Espíritos menos adiantados venham encarnar-se entre eles, a fim de haurirem conselhos e bons exemplos, no interesse do seu próprio progresso. Eles causam, por vezes, perturbações no meio, mas é lá que está a prova, lá que se encontra a tarefa. Recebei-os, pois, como irmãos; ajudai-os, e, mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família se felicitará por haver salvo do naufrágio os que, por sua vez, poderão salvar outros.

Instruções dos Espíritos
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segunda-feira, 29 de novembro de 2021

O MUNDO PARECE QUE ESTÁ FICANDO
MAIS LOUCO A CADA DIA

 


...O mundo é o mesmo; tem sido sempre o mesmo - de cabeça pra baixo, maluco, insano. De fato, só uma coisa nova aconteceu no mundo: a consciência de que somos loucos, que estamos de cabeça pra baixo, que alguma coisa está basicamente errada conosco.

E isso é uma grande bênção - essa consciência. É claro que isso é só um começo, apenas o 'abc' de um longo processo, só uma semente, porém, imensamente fértil. O mundo nunca esteve tão cônscio de sua insanidade como está hoje. Isso tem sido sempre o mesmo. Em três mil anos, o homem lutou cinco mil guerras.

...Você pode dizer que essa humanidade é sã? A gente não pode lembrar de um tempo na história humana quando os povos não estivessem destruindo uns aos outros tanto em nome da religião ou em nome de Deus ou até mesmo em nome da paz, da humanidade, da irmandade universal.

...Só uma coisa nova está acontecendo, e essa é uma bênção, não é uma maldição de jeito nenhum. Pela primeira vez, em toda história da humanidade, algumas pessoas estão se tornando conscientes de que a maneira que existimos até agora está de algum modo errado; alguma coisa importante está faltando em nossa própria fundação.

Existe alguma coisa que não nos permite crescer como seres humanos sadios. Em nosso próprio condicionamento estão as sementes da insanidade. Toda criança nasce sã e, então, lentamente, nós a civilizamos - chamamos isso de processo de civilização. Nós a preparamos para fazer parte de uma grande cultura, de uma grande igreja, de um grande estado ao qual pertencemos.

...Uma vez que aceitamos a verdade como ela é, o homem pode tornar-se são. O homem nasce são; nós o tornamos louco. Uma vez que aceitamos que não existem nações e nenhuma raça, o homem ficará muito calmo e quieto. Toda essa violência e agressão desaparecerão. Se aceitarmos o corpo humano, sua sexualidade, naturalmente, então todo tipo de estupidez pregado em nome da religião irá se evaporar.

...Precisamos tornar o homem livre de seu passado. Esse é todo meu trabalho aqui: lhe ajudar a livrar-se do passado. O que quer que a sociedade tenha feito com você tem que ser desfeito.

Sua consciência precisa ser limpa, esvaziada para que você se torne como um espelho puro refletindo a realidade. Ser capaz de refletir a realidade é conhecer Deus. Deus é somente outro nome da realidade: daquilo que é. E um homem é realmente saudável quando ele conhece a verdade.

  Verdade traz liberação.
Verdade traz sanidade.
Verdade traz inteligência.
Verdade traz inocência.
Verdade traz felicidade.
Verdade traz celebração.

Precisamos transformar toda essa Terra num tremendo festival, e isso é possível porque o homem traz o que é necessário para transformar essa Terra num paraíso.

Osho, Extraído de: Come, Come, Yet Again Come.
http://conscienciaeusou.blogspot.com 

  
Você é louco?
 
Interlocutor: O senhor é louco?
 
Krishnamurti: Está a perguntar ao “orador” se ele é louco? Muito bem. Que entende pela palavra “louco”? – uma pessoa desequilibrada, mentalmente doente, com ideias peculiares, neuróticas?

Tudo isso está implicado na palavra “louco”. Quem é o juiz – o senhor, eu, ou outro qualquer? Será que o louco pode avaliar quem é louco e quem não o é? Se se julga o “orador” para determinar se ele é equilibrado ou desequilibrado, o julgar não fará parte da loucura do mundo – julgar uma pessoa sem nada dela conhecer, exceto a sua reputação, a imagem que dela se tem? Se se julga a pessoa de acordo com a sua reputação e a propaganda que se absorveu, é-se então capaz de julgar? Esse julgar implica vaidade; quer aquele que julga seja neurótico, quer não seja, há sempre vaidade. E poderá a vaidade perceber o que é verdadeiro? Ou precisamos de grande humildade para podermos ver, compreender, amar? Uma das coisas mais difíceis é ser mentalmente são, equilibrado, neste mundo anormal, insano, desequilibrado.

Sanidade mental implica não estar prisioneiro de ilusões, não ter nenhuma imagem de si próprio ou de outrem. Se digo “sou isto, sou aquilo, sou grande, sou mesquinho, sou bom, sou nobre” – todos esses epítetos são imagens que tenho de mim mesmo. Quando uma pessoa fica mentalmente desequilibrada, vive num mundo de ilusão. E receio ser isso o que se passa com quase todos nós.

Quando chamais a vós próprios “holandeses” – desculpai-me dizer-vos isto – não estais perfeitamente equilibrados. Estais a separar-vos, a isolar-vos, como outros o fazem ao denominarem-se hindus (por exemplo). Essas divisões nacionalistas, religiosas, etc., com os seus exércitos, os seus sacerdotes, indicam um estado de insanidade mental.

Krishnamurti, do livro: “The Flight of the Eagle”
http://fluiraovento.blogspot.com  

 
 
Doenças mentais e obsessões

Questão grave que requisita acurados estudos e contínuo exame, a fim de haurir-se necessário conhecimento, a que diz respeito à problemática das distonias e afecções psíquicas, sejam decorrentes dos transtornos orgânicos e mentais, sejam de causa obsessiva.

Em cada processo de alienação mental há uma causa preponderante com complexidades que escapam ao observador menos vigilante e pouco adestrado, em relação às questões do Espírito.

Sendo o homem um Espírito encarnado em processo evolutivo, somente por meio do seu conhecimento espiritual serão possíveis os esforços exitosos no solucionamento dos distúrbios que o surpreendem no trânsito carnal.

Cada enfermidade mental tem sua etiopatogenia específica sediada nas intricadas tecelagens do perispírito do paciente, como resultado do comportamento que se permitiu de maneira equivocada. Isto porque as soberanas Leis da Justiça Divina sempre alcançam os infratores dos seus estatutos, onde quer que se encontrem,.

O homem, por meio das realizações, construções mentais e atitudes, instala nos centros da vida pensante os germens dos distúrbios que produzem alienações as mais diversas, impondo os impostergáveis ressarcimentos pela autopunição, por meio das psicoses, psicopatias, psiconeuroses, traumas, obsessões que se apresentam em múltiplos aspectos...

Da neurose simples às complexas manifestações da hidro, da micro e da macrocefalia, do mongolismo [Síndrome de Down], da esquizofrenia, as causas atuais possuem suas matrizes na anterioridade do caminho percorrido, no passado, pelo Espírito ora em alienação...

As agressões à caixa craniana e ao cérebro, pela desarvoração que conduz ao suicídio, engendram as anomalias da constituição morfológica e de funcionamento das engrenagens mentais desarranjadas pelos petardos e atentados perpetrados na suprema rebeldia a que o homem se entrega...

Ninguém foge à vida sem se surpreender com ela mais adiante... Pessoa alguma se evade à responsabilidade sem que se veja defrontada pelos problemas criados à frente. Criminosos não justiçados reencarnam com psicoses maníaco-depressivas, como a tentarem fazer justiça ante o delito, não ressarcido, fixado na memória. Homens que enganaram, não obstante as homenagens que desfrutaram, refugiam-se em várias formas de loucura, como a fugirem dos compromissos que não têm coragem para enfrentar...

Na gama multiface das alienações mentais, a obsessão igualmente ocupa lugar expressivo. Ódios demoradamente cultivados e decorrentes de erros graves vinculam os que se demoram no além-túmulo aos que reencarnaram na Terra, produzindo lamentáveis consórcios mentais de consequências imprevisíveis. Hediondos conciliábulos que transcorreram em sombras, produzindo gravames, convertem-se em heranças de interdependência psíquica, que degeneram em obsessões cruéis... Amores violentos, saciados em sangue, asfixiados em traição, silenciados em infâmias, mantidos em tramas urdidas para se libertarem dos empecilhos, reagrupam algozes e vítimas no intercâmbio espiritual que se transforma em subjugações truanescas de curso demorado e pungente...

A morte não apaga a memória, antes a aguça, facultando a uns lucidez exagerada, enquanto outros jazem em longo torpor, automaticamente atraídos e imantados aos cômpares dos crimes e descalabros, produzindo interdependência, em comunhão danosa, de vampirização fluídica, em que se exaurem as forças constitutivas da cápsula carnal, por onde deambulam os encarnados. A morte é sempre a grande, fatal desveladora de mistérios, de enigmas, de causas ocultas... E a vida física se organiza mediante as consequências dos atos pretéritos, transformados em presídios de dor ou paisagem de liberdade. Simultaneamente, a experiência carnal enseja tesouros de incomparável valor para a elaboração de causas propiciatórias à paz e à felicidade que um dia todos lograrão, após depurados e esclarecidos.

Do conhecimento da Vida Espiritual defluirão preciosos benefícios para a sanidade mental das criaturas humanas.

O Espiritismo ou Cristianismo moderno possui as mais valiosas terapêuticas para a problemática mental da atualidade, por ensinar a indestrutibilidade e comunicabilidade do princípio espiritual do homem, asseverando quanto à necessidade das sucessivas reencarnações, anulando o pavor da morte, dos sofrimentos e sendo o mais perfeito método contra os fatores que produzem traumas, desvarios, desequilíbrios...

Favorecendo o otimismo, este produz a vitalização dos centros do equilíbrio psicofísico, reabastecendo de energias compatíveis as engrenagens eletromagnéticas do campo mental, vitalizando os fulcros debilitados da fomentação de forças mantenedoras da vida.

A diminuição das defesas morais encarregadas de criarem um campo de força defensiva no homem faculta a invasão microbiana no organismo, permitindo que sequelas desta ou daquela ordem afetem os núcleos do discernimento e da razão, arrojando-o no desconserto da loucura.

O cultivo da prece, a conversação edificante, o exercício da meditação e da reflexão, as ações nobilitantes, o labor pelo próximo, conseguem fortalecer o homem com energias específicas, forrando-o das agressões físicas como espirituais, propiciatórias das distonias múltiplas, promotoras das doenças mentais e obsessivas que tanto infelicitam.

No sentido oposto, a ociosidade física e mental, o pessimismo, a irritabilidade, o desânimo, a malícia, a ira e o ódio, o ciúme e os vícios, facultam não apenas a proliferação dos fatores que geram loucuras como o surgimento de matrizes para fixações obsessivas de consequências graves.

Em razão proporcional aos distúrbios morais crescem os desvarios mentais supliciando os Espíritos levianos e culpados, em terapêutica depuradora, de que se poderiam forrar, não se demorassem vinculados aos círculos da insensatez, da leviandade, do imediatismo...

Em face do conhecimento do Mundo Espiritual, presente em todos os cometimentos humanos, poderão a Psiquiatria, a Psicologia, a Psicanálise, a Psicossomática enriquecer-se de luzes para se transformarem, realmente, em ciências da alma e da mente em benefício do homem, após vencido o preconceito que não obstante o respeito que nos merecem, lhes põem antolhos impeditivos para a clara e ampla visão das realidades da vida, na grandeza que lhe é própria.

 
Joanna de Ângelis, Psicografia de Divaldo Pereira Franco
http://www.divaldofranco.com.br 
 
 
“Amem a si mesmos! Desobstruam-se. Limpem-se; cuidem-se; respeitem a si mesmos. Vivam com sua dignidade. Coisas vulgares, coisas frívolas, coisas fúteis não devem ser feitas, e façam seu ego ser desafiado. Deixem alguém insultá-los e certifiquem-se de que vocês não retruquem. Apenas observem isso, não se irritem. Tentem fazer seu ego não reagir.” (Shri Mataji Nirmala Devi)