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sábado, 31 de agosto de 2019

O VALOR DAS COISAS 
E DAS PESSOAS
 
 
 
 Onde Está o Teu Tesouro, Ali Está o Teu Coração
 
 
 Indivíduos diferentes valorizam coisas diferentes, é claro. Ainda quando veem valor nas mesmas coisas, na maior parte das vezes eles atribuem tipos diferentes de valor àquilo que apreciam em comum.

Por que motivo uma floresta tem grande valor para você: é por causa do preço da madeira? Talvez você valorize as árvores por outras potencialidades econômicas, mais corretas desde o ponto de vista ecológico.

Será que a floresta é valiosa para você porque ela desempenha papel central na preservação da vida tal como a conhecemos nesta civilização?

Ou talvez a floresta possua valor em si mesma, independentemente dos muitos usos práticos que ela tenha para a humanidade e demais espécies de seres vivos? Sabemos também que todos os níveis de valor de um objeto coexistem: é preciso saber a ênfase e o peso relativo de cada nível de apreciação.

Além do valor real de uma floresta, outros exemplos são possíveis e merecem ser examinados. As várias formas de valor são vistas desde diversos níveis de consciência. A importância física de algo pode ser muito diferente da sua importância emocional, ou mental, ou espiritual.

A profundidade do respeito que temos pelos outros seres depende do ponto de vista desde o qual a vida está sendo olhada. Você mede o seu próprio valor pelo número de aparentes amigos que tem, ou pela firmeza da aprovação que você recebe da sua própria alma e da sua consciência?

A sua autoestima depende do poder de compra do seu cartão de crédito e da quantidade de aplauso e elogios que você recebe todo mês? Há maneiras mais inteligentes de viver.

A ciência da ética fala de dois grandes níveis de valor.

No nível instrumental ou utilitário, a sua vida é importante porque você ajuda pessoas, é útil para a sociedade e faz bem ao seu país.

Sua esposa o faz feliz de várias maneiras; ela é extremamente valiosa. Seus filhos são parte da sua felicidade. Seus amigos, seus colegas, sua nação e mil outros fatores da vida contribuem para o seu contentamento; portanto são valiosos para você. E também o calor dos raios de Sol no inverno, a beleza de um pássaro que voa e a sombra de uma árvore no verão.

Neste nível do ser, o valor é instrumental. Se você for incapaz de ir além desta dimensão do valor, estará ainda fundamentalmente cego e surdo para a beleza da vida.

A sua esposa tem um valor intrínseco: a importância dela não pode ser medida pela quantidade de contentamento que ela faz você experimentar.

O mesmo se aplica aos filhos e à nação.

É pouco inteligente ter respeito pelas outras pessoas apenas na medida em que elas concordam com você. A função dos outros seres na sua existência não é fazer as suas vontades todas. Através deles, a Vida ensina várias maneiras de melhorar a si próprio.

Quando vemos o valor intrínseco de uma floresta, de uma nação, da amizade ou da capacidade de ser humilde, reconhecemos as dimensões elevadas e nobres do valor instrumental.

As duas coisas são inseparáveis.

É um privilégio ser útil ao crescimento interior dos outros. Nossos deveres são tanto materiais como espirituais. Há uma bênção em ter profundo respeito pelos nossos cocidadãos e pelas florestas, pelos habitantes das florestas e por todos os seres.

Neste processo, nos tornamos irmãos conscientes daqueles que estão muito mais adiantados que a nossa humanidade e no entanto mantêm um contato sutil com os seres humanos, para garantir que eles trilham o caminho da ética universal.

A Teosofia Segundo Jesus

Em todas as épocas, pensadores independentes apontaram sempre o rumo da evolução da alma. Desde o século 19, muitos têm questionado o sistema de valores de uma sociedade cujo verdadeiro deus – o centro da vida das pessoas – é o dinheiro.

Quando os valores materiais são vistos como o fator decisivo na vida, os valores morais e religiosos constituem uma questão de mera aparência, um disfarce para a ambição pessoal, um instrumento a serviço do egoísmo.

Erich Fromm mostrou a necessidade da escolha entre “ter” e “ser”. É evidente que em teosofia, coisas como liderança política, dinheiro, poder corporativo e posses materiais não têm importância em si mesmas. Elas não produzem real felicidade ou contentamento. No Evangelho segundo Mateus, Jesus ensina a teoria do valor adotada em teosofia clássica:

“O reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, para aproveitar o tesouro, ele vende tudo quanto tem e compra aquele campo. E também o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; e que, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a.” (Mt., 13:44-46)

Aquele mestre judeu, que nunca quis fundar uma igreja e menos ainda uma igreja luxuosa, ensinou também:

“Não tentes reunir tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões dominam e roubam; mas reúne tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consomem, e onde os ladrões não dominam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” (Mt., 6:19-21)

O mesmo ensinamento é encontrado no Dhammapada e outras escrituras.

Ao deixar de lado o apego a posses visíveis (dinheiro, aplauso, poder), o peregrino pode alcançar o tesouro celestial e invisível, o tesouro permanente, e também a pérola eterna da sabedoria universal.

Carlos Cardoso Aveline
https://www.filosofiaesoterica.com 


D   E   U   S


Quem, senão Deus, criou obra tamanha, 
O espaço e o tempo, as amplidões e as eras, 
Onde se agitam turbilhões de esferas, 
Que a luz, a excelsa luz, aquece e banha?

Quem, senão ele fez a esfinge estranha
No segredo inviolável das moneras, 
No coração dos homens e das feras, 
No coração do mar e da montanha!

Deus!… somente o Eterno, o Impenetrável, 
Poderia criar o imensurável
E o Universo infinito criaria!…

Suprema paz, intérmina piedade, 
E que habita na eterna claridade
Das torrentes da Luz e da Harmonia!

Antero de quental
Série Poesia Espírita
http://luzespirita.org.br
 
A    T  E  M  P  E  S  T  A  D  E


O pássaro e o homem tem essências diferentes.
O homem vive à sombra de leis e tradições 
por ele inventadas;
o pássaro vive segundo a lei universal 
que faz girar os mundos.

Acreditar é uma coisa; 
viver conforme o que se acredita é outra.
Muitos falam como o mar, 
mas vivem como os pântanos.
Muitos levantam a cabeça acima dos montes;
mas sua alma jaz nas trevas das cavernas.

A civilização é uma árvore idosa e carcomida,
cuja flores são a cobiça e o engano 
e cujas frutas são a infelicidade e o desassossego.

Deus criou os corpos 
para serem os templos das almas.
Devemos cuidar desses templos 
para que sejam dignos da divindade 
que neles mora.

Procurei a solidão para fugir dos homens,
de suas leis, de suas tradições e de seu barulho.
Os endinheirados pensam que o sol, 
a lua e as estrelas se levantaram dos seus cofres 
e se deleitam nos seus bolsos.
Os políticos enchem os olhos dos povos 
com poeira dourada e seus ouvidos 
com falsas promessas.
Os sacerdotes aconselham os outros,
mas não aconselham a si mesmos,
e exigem dos outros 
o que não exigem de si mesmos.

Vã é a civilização. 
E tudo que está nela é vão.
As descobertas e invenções nada são 
senão brinquedos que a mente 
se diverte no seu tédio.
Cortar distância, nivelar as montanhas,
vencer os mares, tudo isso não passa 
de aparências enganadoras, 
que não alimentam o coração 
e nem elevam a alma.

Quanto a esses quebra-cabeças chamados 
ciências e artes, nada são senão cadeias douradas 
com os quais o homem se acorrenta, 
deslumbrados com seu brilho e tilintar. 

São os fios da tela que o homem tece 
desde o iníciodo tempo sem saber que, 
quando terminar sua obra, 
terá construído a prisão 
dentro da qual ficará preso.

Uma coisa só merece nosso amor 
e nossa dedicação, uma coisa só...
É o despertar de algo no fundo dos fundos da alma.
Quem o sente não pode expressar em palavras.
E quem não o sente não poderá nunca 
conhecê-lo através de palavras.

Faço votos para que aprendas a amar 
as tempestades em vez de fugir delas.

Gibran Khalil Gibran
 http://www.vidaempoesia.com.br

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

O CULTO DE UM OUTRO 'EU'
 É APENAS ILUSÃO

 

Pergunta: Não é o amor o maior dos purificadores? Não está o mundo morrendo por falta de alguém que seja digno do seu amor, de sua aspiração? Não pode a nossa devoção aos Arhats* poderosos, aos grandes santos vivos do mundo, elevar-nos à unidade de consciência com eles, e através deles, com a Vida Universal?

Krishnamurti: tenho explicado que o culto de um outro “eu sou” é apenas ilusão., e que tal culto não vos conduzirá à liberdade de consciência. Não vos preocupeis acerca dos nomes que o mundo dá às pessoas. Não é pelos rótulos que chegais à Verdade. Essas coisas são apenas divisões criadas pela mente, colhida pela ilusão. Se, porém, amardes aquilo que está em todas as coisas e na qual todas as coisas existem, já não demonstrareis reverência por um e desrespeito por outro.
 
O amor, por si próprio, por ser vida, constitui sua própria eternidade. Todo ser humano, toda a coisa que vive, possui este amor. Não com a adoração de um outro “eu sou”, porém com o remover da limitação da separatividade, é que vos tornais uno com a sua eternidade

Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com

*Arhat é um termo sânscrito usado em religiões orientais e escolas de esoterismo do ocidente para designar um ser de elevada estatura espiritual. A palavra tem, como variantes, as formas arahat, arahant, araham, rahat e lohan (na China) . Significa, literalmente, "o digno, aquele que merece louvores divinos".
 

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

CONSELHOS DE ATISHA



Até que realizem a verdade última, ouvir é indispensável; logo, ouçam as instruções do Guia Espiritual.

Já que não podem se tornar um Buda pelo mero entendimento intelectual do Darma, pratiquem intensamente com discernimento.

Evitem lugares que perturbem sua mente e permaneçam sempre naqueles onde suas virtudes aumentem.

Até que tenham atingido realizações estáveis, as diversões mundanas são prejudiciais; logo, permaneçam onde não haja tais distrações.

Evitem os amigos que causam o aumento das delusões e confiem naqueles que aumentam suas virtudes. Guardem esse conselho no coração.

Já que as atividades mundanas nunca têm fim, restrinjam suas atividades.

Dediquem suas virtudes, dia e noite, e sempre vigiem a mente.

Por terem recebido conselhos, quando não estiverem meditando, pratiquem sempre de acordo com as palavras do seu Guia Espiritual.

Se praticarem com grande devoção, os resultados surgirão imediatamente, sem que seja preciso esperar muito tempo.

Se praticarem com sinceridade de acordo com o Darma, alimentos e recursos chegarão naturalmente em suas mãos.

Amigos, as coisas que desejam trazem tanta satisfação quanto beber água do mar; logo, pratiquem o contentamento.

Evitem todas as mentes desdenhosas, vaidosas, orgulhosas e arrogantes e permaneçam tranquilos e mansos.

Evitem as atividades que, embora consideradas meritórias, de fato, são obstáculos ao Darma.

Lucro e respeito são armadilhas dos maras; afastem-nos como se fossem pedras no caminho.

Fama e palavras de elogio servem apenas para nos seduzir; logo, soprem-nas para longe como se assoassem o nariz.

Já que a felicidade, o prazer e os amigos que reuniram nesta vida só duram um instante, coloquem-nos todos em segundo plano.

Já que as vidas futuras duram muito tempo, reúnam riquezas para abastecer o futuro.

Já que terão que partir deixando tudo para trás, não se apeguem à coisa alguma.

Gerem compaixão pelos seres inferiores e, especialmente, evitem desprezá-los e humilhá-los.

Não sintam ódio por inimigos nem apego por amigos.

Não tenham inveja das boas qualidades alheias, mas, por admiração, adotem-nas pessoalmente.

Não procurem falhas nos outros, procurem-nas em si mesmos e purguem-nas como se fossem sangue ruim.

Não contemplem suas boas qualidades, contemplem as boas qualidades dos outros e respeitem todos eles como um servo o faria.

Vejam todos os seres vivos como pais e mães e amem-nos como um filho o faria.

Mantenham sempre uma expressão sorridente e uma mente amorosa e falem sinceramente, sem maldade.

Se falarem muito, dizendo coisas sem sentido, vão se equivocar; logo, falem com moderação e só quando necessário.

Caso se envolvam em muitos afazeres sem sentido, suas atividades virtuosas vão se degenerar; logo, interrompam as ações que não sejam espirituais.

É completamente inútil investir esforço em atividades que não têm essência.

Se seus desejos não se realizarem, será pelo carma que foi criado há muito tempo; logo, mantenham uma mente feliz e descontraída.

Cuidado, ofender um ser sagrado é pior do que morrer; logo, sejam honestos e diretos.

Já que a felicidade e o sofrimento desta vida surgem de ações passadas, não culpem os outros.

Toda felicidade advém das bênçãos do seu Guia Espiritual; logo, retribuam sempre sua bondade.

Já que não podem domar as mentes alheias sem primeiro terem domado a sua, comecem por domar sua própria mente.

Já que terão que partir sem a riqueza que acumularam, não acumulem negatividade em nome de riqueza.

Prazeres distrativos não têm essência; logo, pratiquem o dar sinceramente.

Mantenham sempre pura disciplina moral, pois isso resulta em beleza nesta vida e em felicidade futura.

Já que o ódio é abundante nestes tempos impuros, vistam a armadura da paciência, libertos de raiva.

É o poder da preguiça que os mantém presos ao samsara; logo, acendam a chama do esforço da aplicação.

Já que esta vida humana é desperdiçada em distrações, agora é a hora de praticar concentração.

Sob a influência de visões errôneas, não se pode compreender a natureza última das coisas; logo, investiguem os significados corretos.

Amigos, não existe felicidade nesse pântano, o samsara; assim, mudem-se para o solo firme da libertação e drenem o rio do sofrimento samsárico.

Avaliem muito bem tudo o que foi dito, pois não são apenas palavras vindas da boca, mas conselhos sinceros vindos do coração.

Se praticarem dessa forma, irão se deleitar e criar felicidade para si mesmos e para os outros.

Eu, em minha ignorância, peço que acolham esses conselhos em seu coração.


Texto recebido sem identificação da fonte
 
J  U  L  G  A  M  E  N  T  O



Não julgues…
Habitas num recanto mínimo desta terra.
Os teus olhos chegam
Até onde alcançam muito pouco…
Ao pouco que ouves
Acrescentas a tua própria voz.
Mantém o bem e o mal, o branco e o negro,
Cuidadosamente separados.
Em vão traças uma linha
Para estabelecer um limite.

Se houver uma melodia escondida no teu interior,
Desperta-a quando percorreres o caminho.
Na canção não há argumento,
Nem o apelo do trabalho…
A quem lhe agradar responderá,
A quem lhe agradar não ficará impassível.
Que importa que uns homens sejam bons
E outros não o sejam?
São viajantes do mesmo caminho.
Não julgues,
Ah, o tempo voa
E toda a discussão é inútil.

Olha, as flores florescem à beira do bosque,
Trazendo uma mensagem do céu,
Porque é um amigo da terra;
Com as chuvas de Julho
A erva inunda a terra de verde,
E enche a sua taça até à borda.
Esquecendo a identidade,
Enche o teu coração de simples alegria.
Viajante,
Disperso ao longo do caminho,
O tesouro amontoa-se à medida que caminhas.



Rabindranath Tagore
https://poesiaspreferidas.wordpress.com 
 
 
"Escute os sons da natureza e da mesma forma escute as pessoas. Escute sem impor coisa alguma ao que está escutando - não julgue, pois no momento em que julga, a escuta cessa" (Osho)
 
"A forma mais elevada da inteligência humana é a capacidade de observar sem julgar" (Krishnamurti)
 
"Escutar é difícil, por isso a maioria das pessoas prefere julgar" (Carl Jung)
DE NADA VOS SERVE 
FALAR ACERCA DE TEORIAS


Pergunta: Deve ficar entendido que com a realização da vida no eterno, cessa toda ulterior evolução? Se não houver cessação, indicai, por favor, sob que linhas essa evolução interior tem lugar.

Krishnamurti: Não vos incomodeis acerca de tal. Mais uma vez vos interessais pela morte mais do que pela vida. Como de costume quereis saber o que está para além, antes de haverdes compreendido o que aqui se encontra. Isto é fantasia proveniente do deleite de si próprio e nada mais. Importa o que aqui sois, o como viveis, como reagis, o que pensais, o que criais e não o que está para além. Não vos esforceis para serdes super-humanos, mas sim, para serdes consumadamente humanos. Se não sabeis como viver com os vossos amigos, com os vossos companheiros, em perfeito equilíbrio, que importa o como haveis de viver lá fora? Uma vez mais isto é questão de conveniência, maneira de vos consolardes, de buscar qualquer outra coisa. Esta questão é sem valor do meu ponto de vista. Se souberdes como viver, como estar em perfeito equilíbrio, em harmonia convosco próprios aqui, então sabereis tudo mais.

Conhecer, sondar, enriquecer o eu até a sua plena capacidade, é onisciência, a qual é vida, e quando conhecerdes a suave, veloz, incessante corrente da vida, nada mais precisais saber, por ser ela todo o universo, manifesto e imanifesto. Sei que abanareis a cabeça e direis “Isto nos faz lembrar os Vedas”; mais tarde ireis fazer-nos citações em sânscrito. Isto é destituído de valor. De que servem as experiências de outras pessoas, os escritos de outrem, os profetas e instrutores, se não estiverdes vivendo, se tais coisas não fizerem parte de vós? O perigo inerente às pessoas altamente intelectuais é o de elas tratarem sempre de teorias em lugar de continuamente contenderem com a vida. É esta uma das vossas dificuldades. Encontrais deleite em vos sentardes embaixo de uma árvore e discutir questões referentes ao ser, sobre o que disseram os grandes instrutores e o que tem aparecido em livros. É essa uma atitude anti-salutar e não uma maneira equilibrada, harmoniosa de viver.

Condescendei com teorias tanto quanto vos aprouver, porém necessitais de viver. De nada vos serve falar acerca de alimento quando estiverdes famintos. Por isso é que um ato de entendimento, pouco importando quão pequeno, quão débil ele seja, vos colocará em um pináculo de entendimento. Experimentai isto, não porque eu vos estou dizendo, porém, pelo fato de vos achardes colhidos pela tristeza. Esforçai-vos por viver um momento em perfeita harmonia e equilíbrio e verificareis que todas as escrituras, todos os profetas, todos os instrutores, serão de pouquíssima importância dado o fato de estardes vivendo em harmonia com a vida; e só uma tal vida pode conduzir-vos a serdes um ser humano consumado.

Jiddu Krishnamurti
http://pensarcompulsivo.blogspot.com


"Sempre que houver alternativas tenha cuidado, não opte pelo conveniente, pelo confortável,  pelo socialmente aceitável, pelo honroso; opte por aquilo que faz seu coração vibrar. Opte pelo que gostaria de fazer, apesar de todas as consequências". Osho sempre nos conduz para o outro lado, o lado do coração; não para atuarmos como irresponsáveis, pois aqueles que escolhem viver pelo coração já estão conscientes de suas atitudes e, naturalmente, não estão famintos por poder, por honra, por confortabilidade... cedamos às teorias por boa vontade não porque é socialmente aceitável... Como disse Krishnamurti: "Esforçai-vos por viver um momento em perfeita harmonia e equilíbrio e verificareis que só uma tal vida pode conduzir-vos a serdes um ser humano consumado"

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

O     P  O  E  T  A


Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro, e há na vida do estrangeiro uma solidão pesada e um isolamento doloroso. Sou assim levado a pensar sempre numa pátria encantada que não conheço e a sonhar com os sortilégios de uma terra longínqua que nunca visitei.

Sou um estrangeiro para minha alma. Quando minha língua fala meu ouvido estranha-lhe a voz. Quando meu Eu interior ri ou chora, ou se entusiasma, ou treme, meu outro Eu estranha o que ouve e vê e minha alma interroga minha alma. Mas permaneço desconhecido e oculto, velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.

Sou um estrangeiro para o meu corpo. Todas as vezes que me olho num espelho, vejo no meu rosto algo que minha alma não sente, e percebo nos meus olhos algo que minhas profundezas não reconhecem.

Quando caminho nas ruas da cidade, os meninos me seguem gritando: “Eis o cego, demos-lhe um cajado que o ajude.” Fujo deles. Mas encontro outro grupo de moças que me seguram pelas abas da roupa, dizendo: “É surdo como a pedra. Enchamos seus ouvidos com canções de amor e desejo.” Deixo-as correndo. Depois, encontro um grupo de homens que me cercam, dizendo: “É mudo como um túmulo, vamos endireitar-lhe a língua.” Fujo deles com medo. E encontro um grupo de anciãos que apontam para mim com dedos trêmulos, dizendo: “É um louco que perdeu a razão ao frequentar as fadas e os feiticeiros.”

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro e já percorri o mundo do Oriente ao Ocidente sem encontrar minha terra natal, nem quem me conheça ou se lembre de mim.

Acordo pela manhã e acho-me prisioneiro num antro escuro, frequentado por cobras e insetos. Se sair à luz, a sombra de meu corpo me segue, e as sombras de minha alma me precedem levando-me aonde não sei, oferecendo-me coisas de que não preciso, procurando algo que não entendo. E quando chega a noite, volto para a casa e deito-me numa cama feita de plumas de avestruz e de espinhos dos campos.

Ideias estranhas atormentam minha mente, e inclinações diversas, perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis. À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos. E almas de nações esquecidas me fitam. Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso. Quando procuro segura-las, fogem de mim e desvanecem-se como fumaça.

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça uma única palavra do idioma de minha alma…

Caminho na selva inabitada e vejo os rios correrem e subirem do fundo dos vales ao cume das montanhas. E vejo as árvores desnudas se cobrirem de folhas num só minuto. Depois, suas ramas caem no chão e se transformam em cobras pintalgadas.

E as aves do céu voam, pousam, cantam, gorjeiam e depois param, abrem as asas e viram mulheres nuas, de cabelos soltos e pescoços esticados. E olham para mim com paixão e sorriem com sensualidade. E estendem suas mãos brancas e perfumadas. Mas, de repente, estremecem e somem como nuvens, deixando o eco de risos irônicos.

Sou um estrangeiro neste mundo.

Sou um poeta que põe em prosa o que a vida põe em versos, e em versos o que a vida põe em prosa. Por isto, permanecerei um estrangeiro até que a morte me rapte e me leve para minha pátria.



Gibran Khalil Gibranin “Temporais”
https://poesiaspreferidas.wordpress.com
  


"A noite escura da alma, uma espécie de deserto espiritual onde se experimenta o silêncio de Deus..." e quando estamos muito perto de vislumbrar algo além do pensamento essa 'noite escura' nos invade, talvez preparando o nosso ser para penetrar uma etapa muito interior, um universo para lá da nossa imaginação... estejamos atentos a isso pois suponho que cada um experimentará um dia... possivelmente Gibran Khalil, ao escrever estas linhas, estava caminhando por essa ponte 'escura e sombria', que intermedeia uma nova jornada para aqueles que conseguem atravessá-la.