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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O FILHO DO HOMEM

Apareceu um homem, entre esses milhões de habitantes terrestres...
E esse homem veio tornar-se o centro da história da humanidade.
Não fez descobertas nem invenções, não derrotou exércitos nem escreveu livros - esse homem singular.
 
Não fez nada daquilo que a outros homens garante a imortalidade entre os mortais - o que nele havia de maior era ele mesmo...
Pelo ano do seu nascimento datam todos os povos cultos a sua cronologia.
 
Possuía esse homem exímios dotes de inteligência - e infinita delicadeza de coração.
 
A sua vida se resume numa epopéia de divino poder - e num poema de humano amor.
 
Havia na vida desse homem uma pátria e uma família - mas também um exílio e uma solidão.
Havia apóstolos - e apóstotas...
 
Brincava nos caminhos desse homem a mais bela das primaveras - e espreitava-lhe os passos a mais negra das mortes.
 
Esse homem vivia num mundo - mas não era do mundo...
Quando chegou, "não havia lugar para ele na estalagem" - e quando partiu, só havia lugar numa cruz, entre o céu e a terra.
Esse homem não mendigava amor - mas todas as almas boas o amavam...
 
Era amigo do silêncio e da solidão - mas não conseguia fugir ao tumulto da sociedade, porque "todos o procuravam"...
Irresistível era o fascínio de sua personalidade - inaudita a potência das suas palavras...
 
Todos sentiam o envolvente ministério da sua presença - mas ninguém sabia definir esse estranho magnetismo...
Era uma luminosa escuridão - esse homem...
 
Não bajulava a nenhum poderoso - e não espezinhava nenhum miserável...
Diáfano como um cristal era o seu caráter - e, no entanto, é ele o maior mistério de todos os séculos...
Poeta algum valeu exaurir-lhe as profundezas...
 
Esse homem não repudiava Madalenas nem apedrejava adúlteras - mas lançava às penitentes palavras de perdão e de vida...
 
Não abandonava ovelhas desgarradas nem filhos pródigos - mas cingia nos braços a estes e levava aos ombros aquelas...
 
Esse homem não discutia - falava simplesmente...
 
Não esmiuçava palavras nem contava sílabas e letras, como os rabis do seu tempo - mas rasgava imensas perspectivas de verdade e beatitude...
 
Por isso diziam os homens, felizes e estupefatos: "Nunca ninguém falou como esse homem fala!"...
 
Para ele, não era o esquife o ponto final da existência - mas o berço para a vida verdadeira...
 
Por isto, vivem por ele e para ele os melhores dentre os filhos dos homens - porque adoram nesse homem o homem ideal
o homem-Deus... 


Humberto Rohden



O ROUXINOL E A ROSA

 


Era uma vez, um Rouxinol que vivia em um jardim.

No jardim havia uma casa, cuja janela se abria 
todas as manhãs. Na janela, um jovem, comia pão, 
olhando as belezas do jardim. Sempre deixava cair farelos 
de pão, sobre a janela. O Rouxinol, comia os farelos,
acreditando que o jovem os deixava de propósito para ele.

Assim criou um grande afeto, pelo jovem que se importava 
em alimentá-lo, mesmo com migalhas.

O jovem um dia se apaixonou. Ao se declarar a sua amada,
ela disse que só aceitaria seu amor, se como prova,
ele desse a ela, na manhã seguinte, uma rosa vermelha. 
O jovem, percorreu todas as floriculturas da cidade, 
sua busca foi em vão, não encontrou nenhuma 
rosa vermelha para ofertar a sua amada.

Triste, desolado, o jovem foi falar com o jardineiro 
da casa onde vivia. O jardineiro explicou a ele, que poderia presenteá-la com Petúnias, Violetas, Cravos, menos Rosas. 
Elas estavam fora de época, era impossível consegui-las,
naquela estação.

O Rouxinol, que escutara a conversa, ficou penalizado pela desolação do jovem, teria que fazer algo para ajudar 
seu amigo, a conseguir a flor.

Assim, a ave procurou o Deus dos pássaros que assim falou:

- Na verdade, você pode conseguir uma Rosa Vermelha para teu amigo, mas o sacrifício é grande, e pode custar-lhe a vida!

- Não importa respondeu a ave. O que devo fazer?

- Bem, você terá que se emaranhar em uma roseira, 
e ali cantar a noite toda, sem parar, 
o esforço é muito grande, 
seu peito pode não aguentar.

- Assim farei, respondeu a ave, 
é para a felicidade de um amigo!

Quando escureceu, o Rouxinol, se emaranhou em meio 
a uma roseira, que ficava frente a janela do jovem.

Ali, se pôs a cantar, seu canto mais alegre, 
precisava caprichar na formação da flor.

Um grande espinho começou a entrar no peito do Rouxinol,
quanto mais ele cantava, mais o espinho entrava em seu peito.

O rouxinol não parou, continuou seu canto, pela felicidade 
de um amigo, um canto que simbolizava gratidão, amizade. 
Um canto de doação, mesmo que fosse da própria vida!

Do peito da pobre ave, começou a escorrer sangue, 
que foi se acumulando sobre o galho da roseira, 
mas ela não se deteve nem se entristeceu.

Pela manhã, ao abrir a janela, o jovem se deteve diante 
da mais linda Rosa vermelha, formada pelo sangue da ave,
nem questionou o milagre, apenas colheu a Rosa.

Ao olhar o corpo inerte da pobre ave, o jovem disse:

- Que ave estúpida! Tendo tantas árvores para cantar, 
foi se enfiar justamente em meio a roseira que tem espinhos...



Cada um dá o que tem no coração,

Cada um recebe com o coração que tem...



Autor Desconhecido



 

domingo, 30 de agosto de 2015

CONTRADIÇÕES - 
UMA ENTRADA CRIATIVA
 Pergunta: Suas contradições, suas mentiras, e sua insistência em que nós não temos que acreditar em você, fez minha mente inoperante. Tudo o que posso dizer, certamente, é: "Eu não sei." Eu costumava ser bastante orgulhosa da minha mente, mas agora isto simplesmente parece estúpido. 

Osho: Minhas contradições estão destinadas a fazer exatamente o que está acontecendo com você. Eu não quero a sua mente sendo convencida por mim. Eu quero me relacionar com o seu coração, porque esta é a única comunhão verdadeira. Mente à mente é sempre superficial. 

Eu posso ser consistente, mas, então, estarei convencendo a sua mente e esta é a última coisa que quero fazer. Eu não sou um missionário e eu não tenho nenhuma mensagem para vocês. Só tenho experiência e o caminho que transmite a experiência para vocês, não é por meio de palavras, teorias, filosofias. O argumento não é a resposta. 

Portanto, primeiro, eu tenho que desmantelar sua mente, e a melhor maneira de desmantelar sua mente é contradizer-me tanto quanto eu puder. Ou você escapará, sentindo medo de que você possa ir à loucura ou, se você tiver coragem, você permanecerá aqui e irá realmente à loucura!

Quando a mente se torna inoperável é o momento quando o coração começa a funcionar. Você está em um bom espaço. Se a mente está dizendo: "Eu não sei", a mente está fechando a loja. E aqui, quando a mente fecha a loja, imediatamente as portas do seu coração começam a se abrir. São dois lados da mesma moeda: e é por isso que quando você me escuta me contradizendo, você tem que dar uma boa gargalhada. Esta é a resposta certa à minhas contradições.

Sim, isto ainda não é um estado de não-mente. Isto ainda é a mente que está dizendo: "Eu não sei." Quando a mente se for completamente, em um estado de não-mente, não haverá ninguém para dizer: "Eu não sei." Isto é o último saber. Isto é saber: "Eu não sei." - ao menos este tanto você sabe. Esta e a última barreira. Isto também se solta: então, não existe nenhum questão de saber ou não saber. Pela primeira vez você sente, e sentir é o caminho do experienciar. 

Quando você está na sua cabeça você está milhões de milhas distante de mim. Quando você está no seu coração você está no meu coração também, porque corações não conhecem separação. O coração é um. Ele bate em muitas pessoas e todo meu trabalho existe para que ele bata no mesmo ritmo em todos vocês. Então vocês se tornam uma orquestra. Há ainda muito mais do que o coração em você, mas sem coração você não pode alcançar seu tesouro mais interno: o Ser.

Portanto, estas são as três palavras: pensar, sentir, ser. Partindo do pensar, ninguém tem sido capaz de alcançar o Ser. Ninguém pode pular o sentir: o sentir é a ponte. O primeiro passo é ir do pensar ao sentir, e o segundo passo é, do sentir ao Ser. E em dois passos, toda a jornada está completa. Então lembre-se: o sentir será tremendamente lindo, mas não pare aí. Isto é só uma parada na viagem: você pode descansar aí por um pouco, desfrutar do mundo do coração, mas lembre-se que há um passo a mais.

Por meio de contradições eu destruo sua ligação com a mente e o pensar.  Através do silêncio eu destruo o mundo do seu sentimento. E, quando ambas estas camadas se forem, você é como a Existência queria que você fosse... na sua pureza, na sua individualidade. Você voltou para casa.

Portanto não se preocupe, a jornada começou. Não pare até que você volte para casa: onde não existe nenhum pensar, nenhum sentir, mas apenas um sentir a Existência. Nesta experiência, eu serei capaz de transmitir a você aquilo que é intransmissível por qualquer outro modo.

Então, eu não sou o mestre e você não é o discípulo. Na mente: eu sou o professor, você é a estudante. No sentir: eu sou o mestre, você é a discípula. No Ser, eu não sou, você não é: a Existência é.
 
O S H O
 
 
 
 
 
Sem palavras, sem conceitos, sem desejos... Tudo que aprendemos temos que desaprender... o mundo é o palco do não ser... incrível, não ? Supomos que tudo que vivemos é tão consistente: apaixonamo-nos, casamos, compramos uma casa, vamos aos shoppings, brigamos, discutimos, nos separamos... tudo isso para nos levar ao 'não sou' e 'você não é'. Lembro-me da frase: "Para se chegar ao céu precisa-se passar pelo inferno". Todas essas contradições, certamente, provocam uma ruptura mental. Então o coração assume. Será que os poucos que conseguiram passar pelo desmantelamento mental somos nós ? Eu estou na fase "não sei". Não tenho mais tendências para julgar, discriminar, analisar... Estou ciente que cada um tem o 'direito' de fazer da sua vida um inferno ou um céu e aprender com o as consequências. KyraKally

sábado, 29 de agosto de 2015

AOS QUE DESPERTAM
 
Quando a energia interna consegue tocar de modo mais firme as partículas materiais dos corpos de um ser, imprimindo-lhes serena abertura, ocorrem transformações sem que para isso ele faça qualquer esforço ou se preocupe com o processo de cura em ato.

Em geral, as grandes mudanças na consciência de um ser vêm acompanhadas de situações que exigem dele aplicação do que já foi até então compreendido. Tais situações trazem-lhe alto grau de tensão interna, a ponto de parecer impossível vivê-las corretamente. Porém, se o ser se abre para receber ajudas supra-humanas, avanços inimagináveis podem ocorrer. Ao reconhecer sua incapacidade humana e ao voltar-se para o Desconhecido, de lá recebe energias salvíficas e regeneradoras, que o marcam profundamente, engrandecendo-lhe a fé e impulsionando-o no caminho tanto quanto a inteireza de sua entrega o permita.
                                                                            
Os homens, em sua maioria, não acolhem serenamente o que os faz sofrer. Porém, vale lembrar que hoje as expressões dessa maioria pouco servem de referência como padrões de conduta a serem seguidos.

O aprendizado de verdadeiros valores faz-se por meio de uma entrega tão plena que mantenha a consciência em equanimidade perante o deleite e a dor, perante a sublimidade da luz espiritual e a densidade da vida concreta. É, portanto necessário aprender a extrair de cada situação a Fonte de Vida nela ocultada, e a doar-se silenciosamente à sua mais perfeita expressão.

Um ponto a ser eliminado da consciência dos que trilham o caminho espiritual é o medo de errar. O erro é gerado por aspectos que distorcem a pureza da energia original. Porém, se existe no indivíduo uma sincera disposição para agir corretamente, o próprio erro é utilizado para romper os véus que o impedem de ver os aspectos a serem transcendidos em si mesmo. Muitas vezes, por tentar manter ocultas suas imperfeições, o indivíduo não permite que sejam removidas.

É preciso estar disposto a deixar que a luz penetre livremente na consciência, mostrando horizontes de beleza inefável, mas também tornando visíveis facetas malformadas. Que outro motivo, além do orgulho, pode fazer com que um indivíduo que se dedica a uma vida reta e justa envergonhe-se de cometer erros?

No decorrer dos processos de sublimação das energias em um ser, de lapidação e de purificação dos seus corpos e da própria matéria que os compõe, os aspectos densos são paulatinamente removidos para cederem lugar a vibrações mais sutis.

No futuro, a humanidade habitará corpos mais sutis e poderá expressar com maior perfeição a imanência do espírito. Vida e forma estarão mais próximas da imagem arquetípica e rumarão, com maior harmonia, à união profunda com a essência criadora.

Todos os que aderem ao processo evolutivo invariavelmente passam por provas que os levam a confirmar seus votos internos. Quanto mais sua consciência estiver aberta a mudanças, mais poderá usufruir a renovação trazida por esses momentos. Um período de provas é, antes de tudo, um período de ensinamentos; dinamiza intensamente as energias do ser e desperta novas áreas de sua consciência externa. Aprende-se quando se cai, aprende-se quando se consegue superar obstáculos, estando presente a intensão de persistir e de transcender estágios retrógrados. 

Muitos estão atingindo um estado de maior desligamento das coisas do mundo. No princípio a vivência desse estado traz uma espécie de vazio, que não se plenifica de imediato, mas só quando o ser permite que as energias internas assumam a regência de seus passos. Enquanto essa permissão não é dada, o vazio incomoda. Mas será depois sua própria morada, uma das expressões mais sublimes de sua entrega.

A personalidade é fruto de todo o passado do ser na superfície da Terra, desde o seu ingresso humano. Tantos são os mecanismos nela presentes, que somente a graça pode redimi-la e elevá-la, conduzindo-a à absorção em um nível superior. 

É preciso recolhimento para que um trabalho de cura possa transcorrer na sintonia correta, principalmente nas fases em que ele está se plasmando, em que se está formando nos níveis de consciência materiais. A partir de estágios evolutivos mais avançados, quando a consciência externa do ser já se fundiu plenamente em núcleos interiores, os cuidados e precauções pertinentes às primeiras fases não são mais necessários. Todavia, nas etapas iniciais, é preciso dedicação e serena persistência para construir a ligação do que está em cima com o que está embaixo.
 
 
A trajetória evolutiva exige constante renovação do estágio alcançado. É bela poe sua própria natureza renovadora, pois está em permanente atualização. É sábia por considerar toda a existência quando determina os rumos que levarão o ser a acercar-se de núcleos cada vez mais potentes. Enquanto no ser prevalecem aspectos da personalidade, eles ofuscam o fulgor da luz interna e o impedem de ter clareza. Qualquer estágio evolutivo alcançado, por melhor que seja, deve ser ultrapassado quando a vida interior preme por desbravar novas regiões de consciência. Portanto, a energia espiritual procura sempre atualizar todos os níveis de existência do ser. Realiza isso sem estimular os movimentos naturais dos seus corpos densos, sem criar neles ansiedades; transmite-lhe amor, propicia a entrega e também a determinação de avançar.  Em um planeta onde a deterioração do valores conduziu a vida externa a um estado de caos, a energia espiritual não pode ser condescendente com as vibrações dos níveis da personalidade.

Toda a existência encontra-se sintetizada no momento presente. Tudo o que pode vir a ser é nele construído. Se o indivíduo não tem condições de contatar a energia do momento presente, não está pronto para o toque da eternidade: seria fulminado por esse toque, já que a ilusão na qual se encontra o impede de acolher vibrações de frequências mais elevadas. É preciso amar intensamente a verdade para que ela encontre abertura e possa retirar os véus que encobrem o caminho espiritual. É preciso coragem para assumir um processo de contínua negação do ego, e e encontrar os núcleos internos da consciência que fazem pressão para estender suas energias até a vida material.
 
 
 
Trechos do livro
 "Aos que Despertam",  
 de Trigueirinho
 
 
 
 
Estamos despertando, estamos mais compreensivos, mais compassivos, estamos atentos as nossas criações mesmo em meio a esse caos... há no nosso espaço interno um campo fértil esperando para ser cultivado e nós sabemos disso. Sabemos de algum modo, mas não podemos explicar por meio de palavras, que é necessário mudar a nossa vibração densa para outra mais sutil. "Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça... Quem tiver olhos para ver, que veja" Estamos começando a ver, estamos despertando dessa letargia em que vivíamos, estamos vendo, não com os olhos físicos, porém com uma visão muito mais ampla a verdadeira mudança que está ocorrendo conosco - a grande oportunidade de seguir adiante, o salto para uma vida plena de amor e compaixão. Ele veio nos trazer isso há dois mil anos atrás. Chegou o momento de darmos as mãos, e juntos, continuar a espalhar as sementes do amor. KyraKally

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

COMENTÁRIOS SOBRE O VIVER

Ele era um estudioso, falava muitos idiomas e era viciado em conhecimento como uma outra pessoa o é em bebidas alcoólicas. Estava incessantemente citando terceiros para apoiar suas próprias opiniões. Interessava-se por ciências e artes, e quando dava sua opinião, era com um movimento de cabeça e um sorriso que transmitia de um modo sutil que não era meramente sua opinião, mas a verdade final. 

Disse que tinha suas próprias experiências, abalizadas e convincentes para ele. "Você também tem suas experiências, mas não pode me convencer", disse ele. "Você segue o seu caminho, e eu o meu. Existem caminhos diferentes para a verdade, e todos vamos nos encontrar lá um dia". 

Era amistoso, de uma forma distante, mas firme. Para ele os Mestres, embora não gurus reais e visíveis, eram uma realidade, e tornar-se seu discípulo era fundamental. Ele e vários outros, designavam como discípulos aqueles que estivessem dispostos a aceitar esse caminho e a autoridade deles; mas ele e seu grupo não pertenciam àqueles que, pelo espiritualismo, descobriam guias entre os mortos. Para encontrar os mestres você deve servir, trabalhar, sacrificar-se, obedecer e praticar certas virtudes; e, claro, a crença era necessária.

Estar preso à ilusão é fiar-se na experiência como um meio de descobrir o que é. O desejo e o anseio condicionam a experiência; e depender da experiência como um meio para o entendimento da verdade é buscar um modo de auto-engrandecimento. A experiência jamais pode trazer libertação da dor; a experiência não é uma resposta adequada ao desafio da vida. O desafio deve ser enfrentado de modo novo, fresco, pois o desafio é sempre novo. 

Para enfrentar o desafio de forma adequada, a memória condicionada da experiência deve ser posta de lado, as reações de prazer e dor devem ser profundamente entendidas. A experiência é um impedimento à verdade, pois ela pertence ao tempo, é o resultado do passado; e como pode a mente, que é o resultado da experiência, do tempo, entender o que é atemporal? A verdade da experiência não depende de idiossincrasias e fantasias pessoais; a verdade disso é percebida apenas quando há atenção sem censura, justificativa ou qualquer forma de identificação. A experiência não é uma abordagem à verdade; não existe "sua experiência" ou "minha experiência", mas apenas a compreensão inteligente do problema. 

Sem autoconhecimento a experiência produz ilusão; com autoconhecimento a experiência, que é a resposta ao desafio, não deixa um resíduo acumulativo como memória. O autoconhecimento é a descoberta de momento a momento dos mecanismo do Eu, de suas intenções e buscas, seus pensamentos e desejos. Jamais pode haver "sua experiência" e "minha experiência"; o próprio termo "minha experiência" indica ignorância e aceitação da ilusão. No entanto, muitos gostam de viver em ilusão, pois há grande satisfação nela; é um refúgio particular que nos estimula e dá um sentimento de superioridade. 

Se tenho capacidade, talento ou astúcia, torno-me um líder, um intermediário, um representante daquela ilusão; e como a maioria das pessoas adora evitar o que é, há a construção de uma organização com propriedades e rituais, com votos e reuniões secretas. A ilusão é vestida de acordo com a tradição, sendo mantida dentro do campo da respeitabilidade; e como a maioria busca poder de uma forma ou de outra, o princípio hierárquico é estabelecido, o iniciante e o iniciado, o discípulo e o Mestre, e mesmo entre os Mestres existem vários níveis de progresso espiritual. A maioria adora explorar e ser explorado, e esse sistema oferece os meios, quer sejam ocultos ou claros. 

Explorar é ser explorado. O desejo de usar outros para as suas necessidades psicológicas produz dependência, e quando você depende, precisa manter, possuir; e o que você possui, possui você. Sem dependência, sutil ou evidente, sem possuir coisas, pessoas e ideias, você é vazio, uma coisa sem importância. Você quer ser algo, e para evitar o medo atormentador de ser nada você pertence a essa ou aquela organização, a essa ou aquela ideologia, a essa igreja ou aquele templo; assim você é explorado e, por sua vez, explora. 

Essa estrutura hierárquica oferece excelente oportunidade de auto expansão. Você pode querer fraternidade, mas como pode haver fraternidade se você está buscando distinções espirituais? Você pode rir dos títulos mundanos; mas quando você admite o Mestre, o salvador, o guru no domínio do espírito, não está persistindo na atitude mundana? Pode haver divisões hierárquicas ou níveis de progresso espiritual na compreensão da verdade, na percepção de Deus? O amor não admite divisão. Ou você ama ou não ama; mas não faça da falta de amor um processo arrastado cuja finalidade é o amor. 

Quando você sabe, você não ama; quando você está atentamente desprovido de escolha quanto a esse fato, há aí uma possibilidade de transformação; mas diligentemente cultivar essa distinção entre o Mestre e o discípulo, entre aqueles que conseguiram e aqueles que não conseguiram, entre o salvador e o pecador, é negar o amor. O explorador, que por sua vez é explorado, encontra uma feliz zona de caça nesse ambiente escuro e ilusório.  

A separação entre Deus ou a realidade e você é produzida por você, pela mente que se prende ao conhecido, à certeza, à segurança. Essa separação não pode ser ligada por uma ponte; não existe ritual, nenhuma disciplina, nenhum sacrifício que possa levá-lo a atravessá-lo; não existe nenhum salvador, nenhum Mestre, nenhum guru que possa levá-lo ao real ou destruir essa separação. A divisão não é entre o real e você; é em você, é o conflito de desejos opostos. 

O desejo cria o seu próprio oposto; e a transformação não é uma questão de estar centrado em um desejo, mas de estar livre do conflito que o anseio causa. O anseio, em qualquer nível do ser de um indivíduo, gera mais conflito, e daí tentamos fugir de todas as maneiras possíveis, o que apenas aumenta o conflito, tanto interno como externo. Este não pode ser dissolvido por uma outra pessoa, por mais excelente que seja, nem por qualquer mágica ou ritual. Estes podem lhe anestesiar de forma agradável, mas, quando acordar, o problema ainda existirá. 

Mas a maioria não quer acordar, e assim vivemos em ilusão. Com a dissolução do conflito há tranquilidade, e só então a realidade pode tomar forma. Os Mestres, salvadores e gurus não são importantes, mas o que é essencial é entender o crescente conflito do desejo; e esse entendimento vem apenas por meio do autoconhecimento e da atenção constante aos movimentos do Eu. 

A autopercepção é trabalhosa, visto que a maioria prefere um caminho fácil e ilusório, trazemos à existência a autoridade que dá forma e padrão à nossa vida. Essa autoridade pode ser coletiva, o estado; ou pode ser pessoal, o Mestre, o salvador, o guru. A autoridade de qualquer tipo é cegante, leva à ações irrefletidas; e como a maioria acha que ser ponderado é um esforço, entregamo-nos à autoridade. 

A autoridade produz poder e o poder sempre se torna centralizado e, portanto, totalmente corruptível; ele corrompe não apenas quem o empunha, mas também aquele que o segue. A autoridade do conhecimento e da experiência perverte, quer seja conferida ao Mestre, a seu representante ou ao padre. É sua própria vida, esse conflito aparentemente interminável, que é significante, não o padrão ou o líder. A autoridade do mestre e do padre o afasta da questão central, que é o conflito dentro de si mesmo. 

O sofrimento nunca pode ser entendido e dissolvido por meio da busca por um modo de vida. Tal busca é mero evitar o sofrimento, a imposição de um padrão, que é fuga; e o que é evitado apenas inflama, trazendo mais calamidade e dor. O entendimento de si mesmo, por mais doloroso ou passageiramente prazeroso, é o início da sabedoria. 

Não existe caminho para a sabedoria. Se houver um caminho, a sabedoria será o formulado, já conhecida, já imaginada. Pode ser a sabedoria ser conhecida ou cultivada? É uma coisa a ser aprendida, acumulada? Se for, então se torna mero conhecimento, uma coisa da experiência e dos livros. A experiência e o conhecimento são uma cadeia contínua de reações e, portanto, nunca podem compreender o novo, o fresco, o não criado. A experiência e o conhecimento, sendo contínuos, formam um caminho para sua próprias projeções, e desse modo estão constantemente tolhendo. 

A sabedoria é o entendimento do que é, de momento a momento, sem o acúmulo de experiências e conhecimentos. O que é acumulado não dá liberdade para entender, e sem liberdade não há descobrimento; e é essa descoberta incessante que cria sabedoria. Ela é sempre nova, sempre fresca, e não há meios de acumulá-la. Os meios destroem o frescor, a novidade, a descoberta espontânea. 

Os muitos caminhos para uma realidade são a invenção de uma mente intolerante; são o resultado de uma mente que cultiva a tolerância. "Eu sigo o meu caminho e você segue o seu, mas sejamos amigos e nos encontraremos finalmente". Você e eu nos encontraremos se você estiver indo para o norte e eu para o sul? Podemos ser amigos se você tem um conjunto de crenças e eu outro, se eu sou um assassino coletivo e você é um pacifista? 

Ser amigo subentende relacionamento em trabalho, em pensamento; mas existirá qualquer relação entre o homem que odeia e o homem que ama? Existe qualquer relacionamento entre o homem em ilusão e aquele que é livre? O homem livre pode tentar estabelecer algum tipo de relacionamento com aquele em cativeiro; mas aquele que está em ilusão não pode ter um relacionamento com o homem livre. 

O separado, prendendo-se à sua separação, tenta estabelecer um relacionamento com outros que também estão fechados em si mesmos; tais tentativas, invariavelmente, criam conflito e dor. Para evitá-la, os inteligentes inventam a tolerância, cada um examinando sua barreira autolimitante e tentando ser gentil e generoso. A tolerância é da mente e não do coração. Você fala de tolerância quando ama? Mas quando o coração está vazio a mente o enche com seus mecanismos astutos e seus medos. Não existe comunhão onde há tolerância. 

Não existe um caminho para a verdade. A verdade deve ser descoberta mas não existe uma fórmula para o seu descobrimento. O que é formulado não é verdadeiro. Você deve partir para o mar inexplorado, e o mar inexplorado é você mesmo. Você deve partir para se descobrir, mas não segundo algum plano ou padrão, porque aí não há descobrimento. O descobrimento traz alegria — não a alegria lembrada, comparativa, mas a alegria sempre nova. O autoconhecimento é o início da sabedoria em cujo silêncio e tranquilidade existe o incomensurável.



Krishamurti


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O HOMEM REALMENTE DISCIPLINADO JAMAIS SE PRENDE A NADA
 
Disciplina é uma bela palavra, assim como no passado foram todas as belas palavras, porém ela tem sido mal empregada. A palavra disciplina tem a mesma raiz da palavra discípulo - o significado da raiz é “processo de aprendizagem”. Aquele que se mostra disposto a aprender é um discípulo, e a atitude de estar disposto a aprender é disciplina.

A pessoa douta nunca está disposta a aprender, pois acha que já sabe muito; ela se mantém muito centrada no que chama de conhecimento. Seu conhecimento não é nada senão alimento para o ego. Ela não é capaz de ser um discípulo, de se manter sob verdadeira disciplina.

Sócrates disse: “Só sei que nada sei” — esse é o princípio da disciplina. Quando você não sabe nada, claro, claro que lhe sobrevém o desejo intenso de inquirir, explorar, investigar. E, assim que começa a aprender, surge inevitavelmente outro fator: qualquer coisa que você tenha aprendido tem que ser abandonada sempre; do contrário ela se tornará conhecimento e conhecimento impede a aprendizagem de outras coisas.

O homem realmente disciplinado jamais se prende a nada; a cada momento, ele morre para qualquer coisa que tenha vindo a saber e volta a ser ignorante. Essa ignorância é verdadeiramente luminosa.

Concordo com Dionísio quando ele afirma que a ignorância é luminosa. Uma das experiências mais belas da existência é estar num estado de luminosa ignorância. Quando se está nesse estado de luminosa ignorância, se está aberto, não há barreira em seu ser, você está disposto a investigar.

A disciplina tem sido mal interpretada. As pessoas têm dito às outras que disciplinem sua vida, que façam isso, que não façam aquilo. Têm sido imposto ao homem milhares de 'deves' e ' não deves'. E, quando o homem vive com inúmeros  'deves' e 'não deves', ele não consegue ser criativo. Ele se torna prisioneiro; em toda parte ele se deparará com uma barreira.

A pessoa criativa tem que eliminar todos os 'deves' e 'não deves'. Ela precisa de liberdade e de espaço, muito espaço; ela precisa do céu inteiro e de todas as estrelas que existem nele. Só assim sua espontaneidade pode começar a florescer.

Portanto, lembre-se: minha ideia de disciplina não envolve nenhum dos dez mandamentos; não estou impondo nenhum tipo de disciplina; estou simplesmente tentando fazê-lo discernir a ideia de como continuar a aprender e jamais arvorar-se em douto.

Sua disciplina tem que vir de seu próprio coração; ela tem que ser inteiramente sua - e há uma grande diferença nisso. Quando alguém lhe impõe algum tipo de disciplina, talvez ela jamais lhe sirva; será como vestir as roupas de outrem. Ou elas ficarão grandes demais ou muito apertadas, e você sempre se sentirá um tanto idiota nelas.

Maomé legou um corpo de disciplina aos muçulmanos; talvez isso tenha sido bom para ele, mas não pode ser bom para todos. Buda legou um corpo de disciplina a milhões de budistas; talvez isso tenha sido bom para ele, mas não pode ser bom para todos.

A disciplina é um fenômeno que se dá no âmbito da individualidade; toda vez que a adota de outrem, você começa a viver de acordo com princípios preestabelecidos, preceitos mortos. E a vida jamais é morte; a vida é transformação incessante. A vida é movimento.

Heráclito está certo: você não pode entrar no mesmo rio duas vezes. Aliás, gostaria de dizer-lhe que você não pode entrar no mesmo rio uma única vez sequer, pois ele se move muito rapidamente! A pessoa tem que estar atenta a cada situação e suas nuances, observando-a, e é necessário que a pessoa reaja à situação de acordo com o momento, e não conforme a algum tipo de respostas prontas, fornecidas por outros.

Você percebe a estupidez da humanidade? Há cinco mil anos, Manu transmitiu um corpo de disciplina aos hindus e até hoje eles o seguem. Três mil anos atrás, Moisés deixou um corpo de disciplina aos judeus, e ainda hoje eles o seguem. Há cinco mil anos, Rsabhanatha transmitiu seu corpo de disciplina aos jainistas e eles ainda o seguem.

O mundo está sendo levado à loucura com essas doutrinas! Elas são ultrapassadas; elas deveriam ter sido enterradas há muito, muito tempo. Vocês estão carregando defuntos nas costas, e esses defuntos fedem. E, quando você vive cercado por defuntos, que tipo de vida você pode levar?

Eu lhes ensino o momento, e a liberdade do momento, e a responsabilidade do momento. Algo pode ser correto neste momento e pode tornar-se errado no momento seguinte.

Não tente ser imutável, pois, nesse caso, você estará morto. Só os mortos são imutáveis. Procure estar vivo, com todas as suas inconstâncias, e viva cada momento sem nenhuma ligação com o passado nem com o futuro. Viva o momento, e suas reações serão plenas.

Essa plenitude é sublime, essa plenitude é criatividade. Com isso tudo que você fizer terá beleza própria.

 


Osho



Conheci, há algum tempo, alguém que considerava mulheres separadas matrimonialmente de má índole, porém teve que viver essa experiência após uma quebra de união conjugal. Depois de alguns anos reconsiderou sua visão a respeito do assunto. Essa pessoa mantinha certas 'disciplinas' que lhe foram transmitidas de geração à geração e como não teve sensibilidade para refletir sobre esse e outros assunto à luz da mudança, sofreu grandes danos psicológicos, que ainda bem foram restaurados à tempo. Viver cada momento com plena responsabilidade é permitir que a vida flua "e suas reações serão plenas". KyraKally 
 
O AMOR USUAL E O AMOR REAL

 O amor não significa o que normalmente 
se entende pela palavra. O amor usual é apenas um disfarce;
algo mais está oculto por trás dele.

O amor real é um fenômeno totalmente diferente. 
O amor usual é uma exigência, o real é um compartilhar. 
Ele conhece a alegria do dar e nada conhece do exigir.

O amor usual finge demais. O amor real é, nunca finge; 
ele simplesmente é. O amor usual se torna enjoativo, açucarado, chato, o que se chama de amor piegas.
 Ele é enjoativo, nauseante. O amor real alimenta; 
ele fortalece a sua alma.

O amor usual alimenta somente o seu ego — 
não o você real, mas o irreal. Lembre-se: o irreal 
sempre alimenta o irreal, e o real alimenta o real.

Torne-se um servo do amor real, e isso significa 
tornar-se um servo do amor em sua pureza suprema.
 Dê, compartilhe tudo o que você tiver, compartilhe
 e tenha prazer com esse compartilhar.

Não ame como se fosse uma obrigação, 
pois assim toda a alegria vai embora. 
E nunca sinta que você está obrigando o outro 
a dar algo em troca, nem mesmo por um único instante. 
O amor nunca pede nada em troca. Pelo contrário, 
quando alguém recebe seu amor, você se sente grato. 
O amor fica agradecido por ter sido recebido.

O amor nunca espera recompensa nem agradecimento. 
Se o agradecimento é feito, o amor sempre
 é pego de surpresa. Essa é uma agradável surpresa, 
pois não havia expectativa.

 
Osho
 
 
 
 
Só compreendemos a vida quando começamos realmente a amar; antes disso é impossível, seremos apenas a máscara que encobre a verdade e o amor é a verdade, é a pureza, é a paz, é a harmonia... e muito mais. Se nos sentimos assim, então estamos amando, estamos compartilhando, estamos fluindo com a vida... e o amor, como diz Osho é um êxtase. KyraKally