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quinta-feira, 30 de junho de 2016

SOBRE O PERDÃO
 
É uma das coisas mais fundamentais para entender.

 
As pessoas geralmente pensam que o perdão é para aqueles que são dignos disso, que é apenas para aqueles que o merecem. Mas, quando somente alguém que merece ser digno de receber o perdão é perdoado, isso não é muito um perdão. Você não está fazendo nada de sua parte - é ele quem merece. Você não está sendo amoroso e compassivo. Seu perdão só será autêntico quando até mesmo aqueles que não merecem puderem recebê-lo. Não se trata se a pessoa merece ou não. A questão é se seu coração está preparado ou não.

Recordo-me de uma das místicas mais significantes, Rabiya al-Adabiya. Ela era uma mulher Sufi conhecida pelo seu comportamento muito excêntrico. Porém, em todo seu comportamento excêntrico havia um grande insight.

Uma vez, outro místico Sufi - Hasan - esteve com Rabiya. Devido ao fato de ele ter ido para estar com Rabiya, ele não trouxe seu sagrado Corão, que ele costumava ler toda manhã como parte de sua disciplina. Ele pensou que poderia pegar emprestado o sagrado Corão de Rabiya, e foi por isso que ele não trouxe a sua própria cópia.

Pela manhã ele pediu a Rabiya e ela lhe deu uma cópia sua. Ele não podia acreditar no que via. Quando ele abriu o Corão ele viu algo que nenhum Maometano podia acreditar: em muitas partes a Rabiya o tinha corrigido. Isso é o maior pecado para os Maometanos pois, segundo eles, o Corão é a palavra de Deus. Como você pode alterá-lo? Como é que você pode até mesmo se achar capaz de melhorá-lo? Ela não apenas o mudou, ela simplesmente eliminou algumas palavras, algumas linhas - ela as removeu.

Hasan disse a ela: "Rabiya, alguém destruiu seu Corão!" Rabiya disse: "Não seja tolo, ninguém toca em meu Corão. O que você está olhando fui eu que fiz". Hasan disse: "Mas como é que você pode fazer uma coisa dessas?". Ela disse: "Eu tinha que fazê-lo, não havia outro jeito. Por exemplo, veja aqui: o Corão diz, 'Quando você encontrar o diabo, odeie-o'. Desde que me tornei desperta não posso encontrar nenhum ódio dentro de mim. Mesmo se o diabo ficar diante de mim só posso banhá-lo com meu amor, porque não tenho mais nada para dar. Não importa se é Deus ou o diabo que está diante de mim; ambos irão receber o mesmo amor. Tudo que tenho é amor; o ódio desapareceu. No momento em que o ódio desapareceu de mim, eu tinha que efetuar mudanças no meu livro do sagrado Corão. Se você não o mudou, isso simplesmente significa que você ainda não chegou no espaço onde só o amor permanece."

Eu vou lhes dizer: pessoas que são dignas ou pessoas que não são dignas... não faz nenhuma diferença para o homem que chegou no espaço do perdão. Ele irá perdoar sem considerar quem o merece. Ele não pode ser tão mesquinho que só os dignos possam recebê-lo. E onde ele irá encontrar essa implacabilidade para perdoar? Essa é uma perspectiva totalmente diferente. A resposta não está relacionada com o outro. Quem é você para julgar se o outro é digno ou indigno? O próprio julgamento é feio e medíocre.

Há um homem, Rudolph Hess... Ele certamente é um dos maiores criminosos já conhecidos. E o crime dele se torna um milhão de vezes maior porque no julgamento de Nuremburg, com os outros companheiros de Adolf Hitler - que matou quase oito milhões de pessoas na Segunda Guerra Mundial -, ele disse diante da corte: "Não me arrependo de nada!". Não apenas isso, ele também disse: "E se eu pudesse começar do princípio, eu faria o mesmo novamente". É muito natural achar que esse homem não merece nenhum perdão; esse será o entendimento comum. Todos irão concordar com você.

Mas não posso concordar com você. Não importa o que Rudolph Hess tenha feito, o que ele está dizendo. O que importa é se você é capaz de perdoar até mesmo ele, pois isso irá elevar sua consciência às alturas. Se você não puder perdoar Rudolph Hess você irá permanecer apenas um ser humano comum, com todo tipo de julgamento de merecimento ou de não merecimento. Mas basicamente você não pode perdoá-lo porque seu perdão não é suficientemente grande.

Posso perdoar o mundo inteiro pelo simples motivo de que meu perdão é absoluto; não depende de julgamento. Vou lhe contar uma pequena história Tibetana que irá tornar o ponto absolutamente claro para você.

Um antigo grande mestre, adorado por milhões de pessoas, recusou-se a iniciar qualquer um como discípulo. Durante toda sua vida, consistentemente, reis lhe pediram, pessoas ricas lhe pediram, grandes ascetas lhe pediram - homens santos! -, para serem iniciados como seus discípulos, e ele continuou recusando. Ele sempre dizia, "A menos que encontre um homem que o mereça, a menos que eu encontre um homem digno disso... Não vou iniciar nenhum."

Ele tinha um jovem que costumava cozinhar para ele, lavar suas roupas, comprar vegetais no mercado. O próprio garoto foi lentamente crescendo, e por toda sua vida ele escutou o velho homem, que havia vivido quase cem anos, e que sempre recusava quem quer que o procurasse. Sem exceção: ninguém era digno! "Posso morrer sem iniciar ninguém", ele dizia, "mas não irei iniciar alguém que seja indigno".

As pessoas ficaram cansadas, frustradas. Elas amavam o homem, ele tinha qualidades imensas, mas não podiam entender aquela atitude tão teimosa, a qual demonstrava sem nenhuma ternura, nenhuma compaixão.

Mas, numa manhã, o velho acordou seu companheiro, que já tinha envelhecido, e lhe disse: "Corra imediatamente morro abaixo até o mercado e diga a todos que quem quiser ser iniciado deve vir logo, porque nesse entardecer, quando o sol se pôr, eu vou morrer".

Seu companheiro respondeu: "Mas e quanto ao merecimento? Não sei quem é digno e quem é indigno. A quem devo trazer?"

O velho homem falou: "Não se preocupe com isso. Era apenas uma tática, porque eu mesmo não era digno de iniciar ninguém. No entanto, era contra minha própria dignidade dizer isso. Então escolhi outro modo. Eu estava dizendo, 'A menos que encontre alguém bastante digno, bastante merecedor, eu não irei iniciar'. Mas a verdade é que eu não era digno de ser um mestre. Agora sou, só que agora o tempo é curto. Somente na manhã de hoje quando o sol estava surgindo, minha própria consciência atingiu o pico supremo. Agora estou pronto. Agora não importa quem é digno e quem é não é. O importante agora é que eu sou digno. Vá e traga qualquer um! Vá e avise a toda a vila que esse é o último dia da minha vida e qualquer um que queira ser iniciado deve vir imediatamente. Traga tantos quanto possível".

O companheiro do velho homem ficou perplexo, mas não havia tempo para argumentar. Ele desceu o morro correndo, chegou ao mercado e gritou por toda a vila: "A todos que queriam se tornar um discípulo, o velho homem agora está pronto!"

As pessoas não podiam acreditar nisso. Mas por curiosidade alguns pensaram: "Não há nenhum problema em ir pelo menos para ver o que está acontecendo". O homem havia se recusado por toda sua vida, e no último dia da sua vida uma mudança tão grande havia ocorrido. A esposa de alguém tinha falecido e ele estava se sentindo muito só, então ele pensou, "Isso é bom. Se ele vai iniciar todo mundo, sem nenhuma questão de merecimento...". Alguém havia sido libertado da prisão na noite anterior, e igualmente pensou, "Ninguém vai me dar emprego; isso é uma boa oportunidade de virar um santo".

Todo tipo de pessoas estranhas foram para a caverna do velho homem, e seu companheiro ficou tão embaraçado pelo tipo de pessoas que ele tinha trazido: Um é criminoso, a esposa de outro havia falecido, é por isso que ele pensa, "Assim é melhor... o que mais farei agora?" Alguém tinha ido a falência e estava pensando em cometer suicídio, mas agora pensava que isso era melhor que o suicídio.

Alguns tinham vindo por curiosidade; eles não tinham nenhum outro trabalho. Eles estavam tocando jazz e pensaram: "Podemos tocar jazz amanhã, mas hoje não há nenhum problema, nós vamos lá ver o que é essa iniciação. De qualquer maneira, esse homem vai morrer ao entardecer e assim estaremos livres para permanecermos discípulos ou não. Podemos tocar jazz amanhã - não há nenhum problema".

O companheiro do velho homem estava se sentindo muito embaraçado. "Como irei apresentar essa gente estranha quando esse velho homem recusou reis, santos, sábios, que tinham vindo com profunda seriedade para ser iniciados? E agora ele vai iniciar esse bando!" Ele estava até mesmo envergonhado, mas ele entrou e perguntou: "Devo chamar as pessoas? Onze deles estão aí".

O velho homem disse: "Chame-os rápido, porque já entardeceu. Você demorou muito tempo e só pôde trazer onze pessoas?"

Seu companheiro disse: "O que posso fazer? É um dia de trabalho; não é um feriado. Só consegui esses. Todos são absolutamente inúteis; mesmo eu não poderia iniciá-los. Não apenas que eles não sejam dignos - eles são absolutamente indignos. Porém você insistiu em trazer alguém; só ninguém mais estava disponível".

O velho homem disse: "Não há nenhum problema. Traga-os para dentro". E ele os iniciou a todos. Mesmo eles estavam chocados. E disseram para o velho homem: "Esse é um comportamento estranho. Toda sua vida você insistiu que nós precisávamos merecer ser um discípulo. O que aconteceu com o seu principio?"

O velho homem sorriu. Ele disse: "Isso não era um principio, era apenas para esconder minha própria indignidade. Eu ainda não estava preparado para ser um mestre. E não posso trapacear ninguém, não posso enganar ninguém. Daí eu ter me ocultado atrás da atitude julgadora de que, a menos que vocês mereçam, não conseguirão a iniciação".

Obviamente ninguém é digno.

Todo mundo tem seus próprios defeitos, fraquezas. Todos fizeram coisas que nunca quiseram fazer. Todo mundo se desviou. Ninguém pode dizer que é absolutamente puro, todos estão poluídos. Assim quando o velho homem insistiu dizendo: "A menos que você seja digno não volte para mim", ninguém discutiu com ele - ele estava certo. Primeiro eles tinham que ser merecedores!

No último dia, ele disse para aqueles onze discípulos: "Eu os abençoo e inicio vocês. Não importa se vocês são merecedores ou não, mas pela primeira vez sou digno. E se sou realmente digno, basta minha presença para purificar vocês. Meu mérito de ser um mestre irá tornar vocês discípulos dignos. Agora não preciso depender do merecimento de vocês. Meu mérito é suficiente."

"Sou como uma nuvem carregada de chuva; irei banhar todo o lugar - sobre as montanhas, nas ruas, nas casas, nas fazendas, nos jardins. Irei banhar todo lugar, porque estou sobrecarregado demais com minha água de chuva. Não importa se o jardim merece... Não faço qualquer distinção entre o jardim e as pedras. Irei simplesmente chover a partir da minha abundância".

Se sua Meditação lhe traz para esse estado de nuvem de chuva, você irá perdoar sem nenhum julgamento a partir da sua abundância, do seu amor, da sua compaixão.

De fato, eu gostaria de declarar que o homem que é indigno merece mais do que aquele que é digno. O homem que não merece, merece mais - porque ele é tão pobre! Não seja duro com ele. A vida tem sido difícil para com ele. Ele se perdeu, ele tem sofrido por causa de seus atos errados. Agora não seja duro com ele. Ele precisa de mais amor do que aqueles que são merecedores. Ele precisa de mais perdão do que aqueles que são dignos.

Essa deve ser a única abordagem de um coração religioso.

Essa questão foi trazida perante Gautama Buda, porque ele estava prestes a iniciar um assassino no sannyas - e o assassino não era um assassino comum. Rudolph Hess não é nada comparado a ele. Seu nome era Angulimala. Angulimala significa "um homem que usa um colar de dedos humanos".

Ele fez o juramento de que mataria mil pessoas, e não menos que isso, porque a sociedade não o tratava bem. Ele jurou que de cada dessas mil pessoas ele retiraria um dedo e faria um rosário de dedos em volta do pescoço. Na ocasião da história, ele já tinha novecentos e noventa e nove dedos coletados - no seu colar só estava faltando um. E esse último dedo estava faltando devido ao fato que a estrada onde esse homem ficava estava fechada; ninguém passava por esse caminho. Ele matou 999 pessoas. Ninguém ia onde ele estava; quando as pessoas ficavam sabendo onde ele estava, o tráfego deixava de ir para aquela direção. E assim ficou muito difícil para ele encontrar uma pessoa, e apenas mais uma era necessária.

Gautama Buda, porém, entrou naquela estrada fechada. O rei tinha colocado guardas na estrada para impedir as pessoas, principalmente estrangeiras, que não sabiam que um homem perigoso vivia por trás das colinas. Os guardas deram o aviso a Gautama Buda: "Essa não é uma estrada para ser usada. Você terá que tomar um caminho mais longo, mas é melhor caminhar um pouco mais do que penetrar na boca da própria morte. Esse é o lugar onde Angulimala vive. Até mesmo o rei não tem coragem de andar por essa estrada. Esse homem é simplesmente louco."

A mãe dele costumava chegar até ele. Ela era a única pessoa que podia ir de vez em quando vê-lo, mas até mesmo ela deixou de ir. Na última vez que ela foi, ele disse a ela: "Agora só está faltando um dedo e apenas porque você é minha mãe... quero lhe avisar que se você vier outra vez, você não voltará mais. Preciso desesperadamente de um dedo. Até agora não lhe matei porque outras pessoas estavam disponíveis, mas agora ninguém mais passa por essa estrada exceto você. Então quero que você saiba que da próxima vez, se você vier, será sua responsabilidade, não minha." Desde aquela vez a mãe dele não veio mais.

Os guardas disseram a Buda: "Não corra um risco tão desnecessário". E vocês sabem o que Buda disse a eles? "Se eu não for, então quem irá? Apenas duas coisas são possíveis: Ou eu conseguirei mudá-lo - e não posso perder esse desafio -, ou irei prove-lo com mais um dedo para que o desejo dele seja realizado. De qualquer maneira, irei morrer algum dia. Dar minha cabeça para Angulimala pelo menos será de alguma utilidade. Do contrário, um dia certamente morrerei e vocês me colocarão na pira funerária. Acho que é melhor me arriscar a realizar o desejo de alguém e lhe dar paz mental. Ou ele irá me matar ou irei matá-lo, mas esse encontro irá acontecer. Agoram, mostrem-me o caminho."

É isto o que os budas fazem: arriscam a própria vida. Buda foi, e mesmo os discípulos mais íntimos que juraram permanecer com ele até o final começaram a ficar para trás, pois era perigoso! Assim, quando Buda chegou à colina onde Angulimala estava sentado sobre uma pedra, não havia ninguém atrás dele; ele estava sozinho, pois todos os discípulos haviam desaparecido. Angulimala olhou para aquele homem inocente, como uma criança, tão belo, e pensou: "mesmo um assassino sentiria compaixão por esse homem". Ele pensou: "esse homem parece não saber que eu estou aqui, porque ninguém vem por esse caminho."

Angulimala estava sentado sobre sua rocha observando. Ele não podia acreditar em seus olhos. Um homem muito bonito, de um carisma tão imenso, estava vindo em sua direção. Quem seria tal homem? Ele nunca tinha ouvido falar de Gautama Buda, mas mesmo o coração duro de Angulimala começou a sentir uma certa ternura para com aquele homem. Ele parecia tão belo... e estava vindo na direção dele. Buda estava chegando cada vez mais perto.

Finalmente, Angulimala desembanhou sua espada e, com ela em mãos, gritou, "Volte! Pare aí mesmo e volte!" Gautama Buda estava a alguns metros de distância, e Angulimala disse: "Não dê outro passo porque então a responsabilidade não será minha. Talvez você não saiba quem sou!".

Buda disse: "Você sabe quem você é?".

Angulimala disse: "Isso não tem importância. Esse não é o lugar nem a hora para discutir tais coisas. Sua vida está em perigo!"

Buda disse: "Penso de outra maneira - sua vida é que está em perigo."

Angulimala disse: "Eu costumava pensar que era louco - mas é você que é simplesmente louco. E você continua chegando mais perto. Assim não diga que matei um homem inocente. Você parece tão inocente e tão bonito, que quero que você volte. Pode passar. Encontrarei outra pessoa. Posso esperar, não há nenhuma pressa. Se já consegui novecentos e noventa e nove... é somente mais um, mas não me force a matá-lo". Mas Buda continuou a se aproximar.

Então Angulimala pensou: "Ou esse homem é surdo ou é louco!". De novo ele gritou: "Pare, não se mova!"

Buda disse: "Eu parei há muito tempo, Angulimala, não estou me movendo - você é que está. Pare você. Você está cego. Você não pode ver uma simples coisa: eu não estou me movendo na sua direção, você está se movendo na minha direção."

Angulimala estava sentado sobre uma pedra e começou a rir; ele disse: "Você é realmente louco! Estou sentado e você está me dizendo que estou me movendo. E você está se movendo e diz que está parado. Você realmente é um tolo, um louco ou alguém muito estranho!"

Buda disse: "Bobagem! A verdade é que, desde o dia que me tornei iluminado não me movi mais nem uma simples polegada. Estou centrado, totalmente centrado, nenhum movimento. E sua mente está perdida, movendo-se continuamente em círculos."

Buda chegou muito perto, e as mãos de Angulimala estavam tremendo. O homem era tão belo, tão inocente, tão infantil. Ele já estava apaixonado. Ele havia matado tanta gente... nunca antes ele tinha sentido essa fraqueza. Ele nunca havia conhecido o que é amor. Pela primeira vez ele estava cheio de amor. Assim, havia uma contradição: a mão dele estava segurando uma espada para matar a pessoa, mas seu coração estava dizendo "ponha a espada de volta na bainha".

Buda disse: "Ouvi dizer que você precisa de mais um dedo. No que se refere a este corpo, o meu objetivo foi alcançado; este corpo é inútil. Você pode usá-lo, seu juramento pode ser cumprido. Corte meu dedo e corte a minha cabeça."

Angulimala ficou parado e olhando perplexo.

Buda continuou: "Estou pronto, mas porque suas mãos estão tremendo? Você é um grande guerreiro, até mesmo os reis e os generais o temem, e eu sou apenas um pobre mendigo. Exceto a tigela de esmolas, não tenho mais nada. Você pode me matar e sentir-me-ei imensamente satisfeito de que pelo menos minha morte realiza o desejo de alguém. Minha vida tem sido útil. Assim minha morte também será útil. Mas antes que você corte minha cabeça tenho um pequeno desejo, e acho que você pode me conceder um pequeno desejo antes de me matar"

Diante da morte, até mesmo o maior inimigo tem boa vontade de realizar qualquer desejo.

Angulimala disse: "O que você deseja?"

Buda disse: "Quero que você apenas corte da árvore um galho que esteja cheio de flores. Nunca mais verei essas flores novamente. Quero ver essas flores bem de perto, sentir a fragrância delas e sua beleza nessa manhã ensolarada".

Então Angulimala cortou com sua espada todo um galho cheio de flores. E antes que ele pudesse dá-lo a Buda, Buda lhe disse: "Isso era somente metade do desejo. A outra metade é: por favor, ponha o galho de volta e junte-o novamente à árvore".

Angulimala disse: "Eu achava desde o começo que você era maluco. Agora este é o desejo mais louco. Como é que posso colocar esse galho de volta?"

Buda disse: "Se você não pode criar, você não tem o direito de destruir. Se você não pode dar a vida, você não tem o direito tirar a vida de nenhuma coisa viva".

Foi momento de silêncio e um momento de transformação... A espada caiu de suas mãos. Angulimala fechou os olhos, jogou-se aos pés de Gautama Buda e disse: "Não sei quem você é, mas quem quer que seja, conduza-me por esse cmainho, por favor me inicie".

Nesse momento, os seguidores de Gautama Buda chegaram cada vez mais perto. Vendo que Buda estava agora de pé na frente de Angulimala, já não havia mais nenhum problema, nenhum receio, a despeito do fato de ele precisar apenas de mais um dedo. Eles ficaram ao redor e, quando ele caiu aos pés de Buda, eles imediatamente se aproximaram.

Alguém levantou a questão: "Não inicie esse homem, ele é um assassino. E ele não é um assassino qualquer, ele assassinou novecentos e noventa e nove pessoas, todos inocentes. Eles não fizeram nada de errado a ele. Ele nunca os tinha visto antes!"

Buda disse novamente: "Se eu não iniciá-lo, quem irá fazê-lo? E eu amo esse homem, amo sua coragem. Posso ver tremendas possibilidades nele: um simples homem lutando contra o mundo inteiro. Quero um tipo de pessoa assim que pode enfrentar o mundo inteiro com uma espada; agora ele irá enfrentar o mundo com uma consciência que é muito mais afiada do que qualquer espada. Eu lhes disse que um assassinato estava para acontecer, mas não tinha certeza de quem iria ser assassinado: ou eu iria ser assassinado, ou Angulimala. Agora vocês podem ver que Angulimala foi morto. E quem sou eu para julgar?"

Ele iniciou Angulimala.

No dia seguinte, ele era um bikkhu, um mendigo, um monge de Buda, e pedia esmola na cidade. Toda a cidade se fechou, pois as pessoas estavam com muito medo e diziam: "Mesmo que ele tenha se tornado um mendigo, não se pode confiar nele. Esse homem é muito perigoso!" As pessoas não saíam às ruam. Quando Angulimala foi pedir esmolas, ninguém lhe deu comida, pois quem correria o risco? As pessoas estavam na cobertura de suas casas olhando para baixo. E então começaram a atirar pedras nele, pois ele havia matado 999 pessoas, incluindo muitas pessoas daquela cidade. Praticamente todas as famílias tinham sido vítimas, então elas começaram a jogar pedras.

Angulimala caiu na rua, sangue escorria por todo o seu corpo; ele tinha muitos machucados. E Buda foi até ele e perguntou: "Angulimala, como você está se sentindo?"

Angulimala abriu os olhos e disse: "Estou muito grato a você. Eles podem matar o meu corpo, mas não podem me tocar. E foi isso que por toda minha vida fiz, e nunca percebi." Graças à compaixão de Buda, Angulimala iluminou-se, tornou-se um brâmane, um conhecedor de Brahma.

A questão não é se alguém merece ou não, se é digno ou não. A questão é se você possui a consciência, a abundância de amor: assim o perdão irá surgir dele espontaneamente. Isso não é um cálculo, isso não é aritmética.

Vida é amor, e viver uma vida de amor é a única vida religiosa - é a única vida de oração, paz, a única vida de gratidão, grandeza, esplendor. 


                                               Osho



 
CONTINNUM, REENCARNAÇÃO
 E ALMA...



Osho tenho uma pergunta: Buda não falava de Deus, porque a existência de Deus não podia ser provada, mas falava de outras vidas e de reencarnação, como pode isso? Buda disse que não existe alma, então o que permanece depois da morte?

Essa pergunta é muito importante, é uma das contribuições mais fundamentais de Buda à existência humana - a ideia de "não-eu". Ela é muito complexa por isso escute atentamente porque ela vai de encontro a todos os padrões a que você foi condicionado. Vou apresentar algumas analogias para você ter alguma ideia do que ele chama de não-eu.

Seu corpo é um saco de pele. A pele define o seu corpo; ela define onde você e o mundo começam; É uma demarcação em torno de você. Ela o protege do mundo, o divide do mundo e lhe concede apenas alguma aberturas entre você e o mundo.Você se livra muitas vezes da sua pele, mas o processo é muito lento e por isso  nunca se apercebe dele.  A mudança é muito sutil. A pele continua mudando e você continua pensando consigo mesmo que este é o seu corpo, o mesmo corpo, mas não é o mesmo corpo é um continnum.
 
Quando você estava no útero da sua mãe, no primeiro dia era apenas uma célula, invisível a olho nu; Essa era sua pele naquela época, esse era o seu corpo; então  começou a crescer; após nove meses  nasceu - e então tinha um corpo totalmente diferente; Se de repente você se deparasse consigo mesmo com apenas um dia de idade, recém-nascido, não conseguiria reconhecer que aquele é você. Você mudou muito. Mas ainda assim acha que  é o mesmo. De certa maneira é porque é a mesma continuidade; e de certa maneira não é porque tem estado continuamente mudando.

Da mesma maneira que a pele é o ego. A pele mantém seu corpo dentro de um padrão, de uma definição, de um limite; O ego mantém o conteúdo da sua mente dentro de um limite; O ego é a pele interna para que você saiba quem é; do contrário estaria perdido - não saberia quem é quem; quem sou eu e quem é o outro. A ideia do ego é utilitária, torna você claramente separado dos outros. Mas também é uma pele, uma pele muito sutil que guarda todos os conteúdos da sua mente - memória, passado, desejos, planos, seu futuro, presente, amor, ódio, raiva, tristeza, felicidade; Você guarda tudo isso num saco. Mas também não é esse ego. Porque esse também está sempre mudando e muda mais do que a pele do corpo. A cada momento ele está mudando.

Assim como você nasceu de seus pais , você é uma continuidade. Vocês não são o mesmo. Você não é seu pai não é sua mãe - mas ainda assim é seu pai e sua mãe, porque você continua a mesma tradição a mesma linhagem, a mesma herança.  Buda diz que o ego é uma continuidade não é uma substância - continuidade como uma chama que salta de uma labareda para outra, continuidade como um rio que flui, continuidade como o corpo.

Buda diz que quando uma pessoa morre, os desejos acumulados de toda sua vida, as lembranças acumuladas de toda a sua vida, os padrões e karmas de toda a sua vida saltam como ondas de energia para um novo útero. É um salto. A palavra exata na física - os físicos o chama de "salto quântico" - um salto de energia pura, sem nenhuma substância nela. Buda foi o primeiro físico quântico, Einstein o seguiu 25 séculos depois.
 
Quando uma pessoa morre, o corpo desaparece, a parte material desaparece, mas a parte imaterial, a parte mente, é uma vibração. Essa vibração é liberada, transmitida. E então, sempre que um útero certo estiver pronto para essa vibração, ela vai ali penetrar. Não há ninguém indo - não há ego nenhum indo. Não há necessidade de que nada substancial vá; é apenas um impulso de energia. A ênfase é que isso é mais uma vez o mesmo saco do ego saltando. Uma casa tornou-se inabitável, um corpo onde não é mais possível viver; O antigo desejo pela vida - o termo que Buda usava é tanha, a ânsia pela vida - está tão vivo, ardendo. Esse mesmo desejo dá um salto.

Agora escute a física moderna. Ela diz que não existe matéria. A matéria é simplesmente pura energia se movendo em uma velocidade tão fantástica que o próprio movimento cria a falsa ilusão, a aparência de substância. A substância não existe, só existe energia pura. A ciência moderna diz só existe energia imaterial. Por isso digo que Buda é muito científico. Ele não fala sobre Deus, mas fala sobre o não eu imaterial. Do mesmo modo que a ciência moderna extraiu a ideia de substância da sua metafísica, Buda extraiu a ideia de eu da metafísica dele. O eu e a substância são correlatos. É difícil acreditar que a parede é não substancial, isto é, não existe materialmente, é pura energia, e da mesma maneira é difícil acreditar que não existe individualidade em você.

Agora vou apresentar coisas que vão tornar isto mais claro. Não posso dizer se você vai entender, mas vai tornar tudo mais claro. Buda diz não há caminhante apenas o caminhar acontece; A vida não consiste de coisas. Buda diz a vida consiste de eventos. E é exatamente isso que a ciência moderna está dizendo: há apenas processos, não coisas - eventos. Até mesmo dizer que a vida existe não é correto. Existem apenas milhares e milhares de processos de vida. A vida é apenas uma ideia. Não há nada como "vida".

A dualidade é produzida pela linguagem. Você está caminhando - Buda diz que há apenas o caminhar. Você está pensando - Buda diz que existe o pensamento, não o pensador. O "pensador" é uma linguagem que é baseada na dualidade, ela transforma tudo em dualidade.
 
A vida é um processo continuo, não apenas "processo" mas processos, uma continuidade, um continnum. Buda diz que você não tem nenhuma individualidade, o universo é mas não há individualidade nele... Há milhões de processos, mas nenhuma individualidade. Ele não tem centro, é tudo circunferência. É muito difícil você captar isso, a menos que você medite. Por isso Buda não entrava em discussões metafísicas, ele diz: Medite. Porque na meditação essas coisas se tornam mais claras. Quando o pensar para, de repente você vê - o pensador desapareceu. Era uma sombra. E quando o pensador desaparece, como você pode dizer, como você pode sentir "eu sou"? Não sobrou nenhum "eu", você é puro espaço. É o que Buda chama de anatta, o espaço puro do não-eu. É uma experiência fantástica.

Foi isso que aconteceu quando Buda veio ao mundo. Ele entrou no âmago do seu chamado self e também ficou confuso - o que fazer? "Não existe individualidade, o self, mas existe reencarnação." Entretanto se ele não fosse um grande cientista, mas apenas um filósofo comum, ele teria esquecido tudo a respeito disso. Buda é ilógico porque a sua insistência em não ir contra a realidade é absoluta. Ele está trazendo uma visão real, original; Ele diz que não existe alma, individualidade, e existe reencarnação. Esse é um salto quântico.

Então, quando digo que ele é um cientista, quero dizer exatamente isso. E, se você entender a linguagem da física moderna, você vai conseguir entender Buda. Na verdade é impossível entender Buda sem entender a física moderna. Pela primeira vez a física moderna apresentou um paralelo. Heisenberg, Planck e Einstein apresentaram um paralelo. A matéria desapareceu; há apenas energia, sem self nela, sem substância nela; E o que Buda diz é a mesma coisa: anatta não-eu."

Quando você se compreende como puro espaço e muitos eventos acontecendo, você se torna desapegado. Então, torna-se destemido, porque não há nada a perder, não há ninguém para perder nada. E não mais estará repleto de ânsia de viver, porque você não se concebe como um self individual. Por isso não teme a morte e não tem uma ânsia de viver. Não pensa no passado e não projeta o futuro; Você simplesmente É - tão puro quanto o vasto céu lá fora; você também se torna um puro céu em seu interior. E o encontro desse dois céus, o interior e o exterior é o que Buda chama de Nirvana".
 
 
Osho
 
 
 
 
 
Acredito que os caminhos - ciência e religião, estão se encontrando, não coexistem mais em linhas pararelas, aliás nunca existiram, porém como somos ainda muito materialistas  à maneira de como compreendemos o universo, a ciência se encarrega de concretizar o modelo divino para que consigamos entendê-lo, a princípio racionalmente, depois, através da meditação, como um continnum... Por esta razão somos convidados a 'existir' no agora, onde não há tempo, apenas eternidade."Você simplesmente É - tão puro quanto o vasto céu lá fora; você também se torna um puro céu em seu interior. E o encontro desse dois céus, o interior e o exterior é o que Buda chama de Nirvana". KyraKally

quarta-feira, 29 de junho de 2016


A SABEDORIA
DO SILÊNCIO INTERNO

Fale apenas quando for necessário. Pense no que vai dizer antes de abrir a boca. Seja breve e preciso já que cada vez que deixas sair uma palavra, deixas sair ao mesmo tempo uma parte de seu Chi (energia) Desta maneira, aprenderás a desenvolver a arte de falar sem perder energia.

Nunca faças promessas que não possas cumprir.

Não te queixes, nem utilizes em teu vocabulário palavras que projetem imagens negativas porque se produzirá ao redor de ti, tudo o que tenhas fabricado com tuas palavras carregadas de Chi. Se não tens nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, é melhor calar e não dizer nada.

Aprenda a ser como um espelho: observe e reflita a energia. 
 
O Universo é o melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu porque o universo aceita, sem condições, nossos pensamentos, nossas emoções, nossas palavras, nossas ações e nos envia o reflexo de nossa própria energia através das diferentes circunstâncias que se apresentam em nossas vidas.

Se te identificas com o êxito, terás êxito.
Se te identificas com o fracasso, terás fracasso.

Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos são simplesmente manifestações externas do conteúdo de nossa conversa interna. 

Aprende a ser como o universo, escutando e refletindo a energia sem emoções densas e sem prejuízos. Porque sendo como um espelho sem emoções aprendemos a falar de outra maneira. 

Com o poder mental tranquilo e em silêncio sem lhe dar oportunidade de se impor com suas opiniões pessoais e evitando que tenha reações emocionais excessivas, simplesmente permite uma comunicação sincera e fluida. 

Não te dês muita importância e sejas humilde, pois quanto mais te mostras superior, inteligente e prepotente, mais te tornas prisioneiro de tua própria imagem e vives em um mundo de tensão e ilusões. 

Sê discreto, preserva tua vida íntima, desta forma te libertas da opinião dos outros e terás uma vida tranquila e benevolente invisível, misteriosa, indefinível, insondável como o TAO.

Não entres em competição com os demais, torna-te como a terra que nos nutre, que nos dá o necessário Ajuda ao próximo a perceber suas qualidades, a perceber suas virtudes, a brilhar. 

O espírito competitivo faz com que o ego cresça e, inevitavelmente, cria conflitos. Tem confiança em ti mesmo. Preserva tua paz interior evitando entrar na provação e nas trapaças dos outros.

Não te comprometas facilmente; se agires de maneira precipitada sem ter consciência profunda da situação, vais criar complicações.

As pessoas não tem confiança naqueles que muito facilmente dizem “sim” porque sabem que esse famoso “sim” não é sólido e lhe falta valor.

Tenha um momento de silêncio interno para considerar tudo que se apresenta e depois tome uma decisão. Assim desenvolverás a confiança em ti mesmo e na Sabedoria.

Se realmente há algo que não sabes, ou não tenhas a resposta a uma pergunta que tenham feito, aceite o fato. O fato de não saber é muito incômodo para o ego porque ele gosta de saber tudo, sempre ter razão e sempre dar sua opinião muito pessoal.

Na realidade, o ego nada sabe simplesmente faz acreditar que sabe.

Evite julgar ou criticar, o TAO é imparcial em seus juízos, não critica a ninguém, tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade. Cada vez que julgas alguém a única coisa que fazes é expressar tua opinião pessoal, e isso é uma perda de energia, é puro ruído.

Recorda que tudo que te incomoda nos outros é uma projeção de tudo que não venceu em ti mesmo.

Deixa que cada um resolva seus problemas e concentra tua energia em tua própria vida.

Ocupa-te de ti mesmo, não te defendas.

Quando tentas defender-te, na realidade, estás dando demasiada importância às palavras dos outros, dando mais força à agressão deles. Se aceitas não defender-te estarás mostrando que as opiniões dos demais não te afetam, que são simplesmente opiniões, e que não necessitas convencer aos outros para ser feliz. 

Teu silêncio interno te torna impassível.

Faz uso regular do silêncio para educar teu ego que tem o mal costume de falar o tempo todo. Pratique a arte do não falar. Toma um dia da semana para  te abster de falar, ou pelo menos, algumas horas no dia, segundo permita tua organização pessoal.

Progressivamente, desenvolverás a arte de falar sem falar e tua verdadeira natureza interna substituirá tua personalidade artificial, deixando aparecer a luz de teu coração e o poder da sabedoria do silêncio. 

Graças a essa força, atrairás para ti tudo que necessitas para tua própria realização e completa liberação. Porem tens que ter cuidado para que o ego não se infiltre… O Poder permanece quando o ego se mantém tranquilo e em silêncio.

Se teu ego se impõe e abusa desse Poder, o mesmo Poder se converterá em um veneno e todo teu ser se envenenará rapidamente.

Fica em silêncio, cultiva teu próprio poder interno. Respeita a vida dos demais e de tudo que existe no mundo. Não force, manipule ou controle o próximo.

Converta-te em teu próprio Mestre e deixa os demais serem o que são ou que têm a capacidade de ser. Dizendo em outras palavras, viva seguindo a vida sagrada do TAO.


Texto Taoista