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terça-feira, 31 de maio de 2016

PARA AGIR COM SABEDORIA


 Parte I

Visão Altruísta do Mundo Abre as
Portas Para o Bom Senso e a Felicidade


Sempre desejamos agir corretamente. Não há quem não queira fazer as coisas da maneira certa. Mas a vida humana é uma constante lição de humildade: basta observar calma e objetivamente os resultados das nossas ações para perceber a quantidade de erros que cometemos.

Às vezes somos impacientes, em outras ocasiões somos preguiçosos. Frequentemente tiramos conclusões apressadas, fazemos injustiças, pensamos bem de gente que não merece para em seguida criticar inocentes. Erramos na vida profissional e na vida familiar. Cometemos equívocos com nós mesmos, e jogamos fora boa parte da nossa energia vital com coisas que não valem a pena.

Por causa disso pode haver uma bênção enorme no simples fato de sentar-se por alguns minutos, abandonar a agitação física e mental, e meditar sobre a antiga arte secreta de agir corretamente. Será possível para nós, portugueses e brasileiros do século 21, errar cada dia um pouco menos? Haverá um modo de viver em que não causemos sofrimento a nós e aos outros? Poderemos abandonar o hábito de criticar a tudo e a todos, optando por uma vida mais construtiva, na qual promovamos ativamente o bem?

É claro que o pior erro que se pode cometer é não fazer nada. Quando tentamos realizar algo, é possível corrigir os erros. Mas quando nada fazemos estamos apenas jogando tempo fora. Eliphas Levi escreveu em um dos seus livros: “Nada fazer é tão funesto como fazer o mal, porém é mais covarde. O mais imperdoável dos pecados mortais é a inércia.” [1]

Sem dúvida. De outro ponto de vista, porém, também é verdade que não há e não pode haver vida humana sem ação. Ler, respirar, permanecer imóvel e conversar são ações tão práticas quanto andar de bicicleta ou plantar verduras em uma horta. Cada ser do universo, pequeno ou grande, tem seu dever, seu potencial, suas várias formas de ação. O desafio não é agir, portanto. É ter consciência e assumir a responsabilidade pelo que se faz.

Segundo o escritor Eliphas Levi, “a vida humana com suas inúmeras dificuldades tem por fim, na ordem da sabedoria eterna, a educação da vontade do homem”. E o grande cabalista francês do século 19 acrescenta:

“A dignidade do homem consiste em fazer o que quer, e em querer o bem, de conformidade com a ciência da verdade. O bem, conforme a verdade, é o justo. A justiça é a prática da razão. A razão é a expressão da realidade.”

Para Eliphas, a ação correta depende de uma vontade firme que busca o que é bom e justo. “Nada resiste à vontade do homem, quando sabe a verdade e quer o bem”, ensina ele. Ao mesmo tempo, a moderação é indispensável e a impaciência pode impossibilitar a vitória: “Querer o bem com violência é querer o mal; porque a violência produz a desordem e a desordem produz o mal.” Ao invés da pressa, a arma do sábio é a paciência. “Para se ter direito de possuir sempre, é preciso querer pacientemente e por muito tempo.” [2]

Assim, entre as grandes fontes dos erros que cometemos ao longo da vida estão duas características opostas: a preguiça, que provoca o imobilismo, e a pressa, que produz impaciência. Huitang, um mestre da tradição zen budista, faz cinco constatações úteis para aqueles que preferem viver em paz:

“1) Aquilo que tem sido negligenciado desde há muito não pode ser recuperado de imediato.

2) Males que têm se acumulado por longo tempo não podem ser extirpados de imediato.

3) Não se pode estar satisfeito o tempo todo.

4) As emoções humanas não podem ser sempre as corretas.

5) As adversidades não podem ser evitadas pela tentativa de fugir delas.

Qualquer um que trabalhe como instrutor e que tenha percebido esses cinco fatos poderá estar no mundo sem estar aflito.” [3]

O primeiro passo, pois, para quem pretende agir corretamente, é reconciliar-se com o ritmo natural do universo e com a realidade tal como ela é. O segundo passo é agir com calma e inteligência para fazer o melhor possível a partir daquilo que o mundo lhe oferece.

Ter uma boa intenção é fundamental. Mas a verdadeira intenção se conhece pelos fatos e não pelas palavras. O critério da verdade é a prática. A árvore se conhece pelos frutos. Por isso, examinar serenamente as nossas próprias ações é a melhor maneira de perceber quanto de sabedoria e de ignorância existe em nós.

A caminhada espiritual pode começar com leituras, práticas meditativas e reflexões. Mas o buscador deve estar alerta para os perigos do isolamento e do orgulho. Será melhor que as ações práticas altruístas estejam presentes desde o primeiro momento na caminhada espiritual, ao lado da leitura e da meditação. O conhecimento das coisas espirituais, quando não é aplicado ao bem dos outros, fica preso pelos muros altos do egoísmo. A verdadeira sabedoria não se fecha em si mesma e é inseparável da boa vontade para com os outros. O pensador C. Jinarajadasa escreveu:

“As verdades da vida espiritual têm que se transformar. As verdades em que acreditamos devem ser transformadas por nós em verdades que conhecemos em nossas próprias consciências internas. Só há um meio pelo qual as verdades adormecidas em nossa natureza humana chegam a ser realidades para a consciência desperta: esse meio consiste em aplicá-las para servir os outros. Meditar sobre as verdades é apenas um processo preliminar, muito parecido com a aprendizagem das letras do alfabeto. Do mesmo modo que a etapa seguinte é unir as letras para formar palavras, também a etapa imediata, depois da meditação, consiste em tornar mais real para a consciência desperta o poder que existe na verdade e que a meditação revelou. Isso ocorre apenas quando nos dedicamos a servir nossos semelhantes. O serviço altruísta, então, não é apenas um modo de ajudar o outro, mas também é essencialmente uma maneira de guiar a nós próprios.” [4]

Essa é a essência do que os orientais chamam de Carma Ioga. Agir corretamente, para a ioga da ação desinteressada, é fazer a coisa certa sem esperar recompensa. É plantar e não pensar na colheita. É contentar-se com a alegria de quem sabe que cumpriu seu dever e está feliz com sua consciência. Nem sempre é fácil colocar essa ideia em prática. Os desafios são variados.

Existe, por exemplo, uma diferença sutil, mas enorme e decisiva entre buscar a felicidade dos outros por uma decisão autônoma, autêntica e soberana, e tratar de agradá-los e obedecê-los violentando e falsificando nossos próprios sentimentos.

Desde a infância, somos ensinados a fazer o que os outros mandam e a não escutar nossa consciência. Deixamos a autenticidade de lado para não contrariar a quem nos dá ordens. Somos vítimas de chantagens emocionais diversas e os mais velhos ou mais poderosos impõem o modo como devemos pensar, sentir e agir. A obediência cega nos é apresentada como altruísmo e bondade, quando é apenas submissão servil, movida quase sempre por alguma forma de medo. É dessa maneira que muitos de nós aprendem a reprimir ou esconder seus pensamentos e sentimentos como o único meio possível de obter a aprovação da família e da sociedade, ou simplesmente de fugir ao castigo que aguarda aquele que pensa por si mesmo. Esse é o amplo caminho falso que leva aos desastres do conflito, da depressão e da hipocrisia. É assim que se provoca a decadência de toda uma sociedade. O filósofo clássico Epicteto ensinou:

“Ao tentar agradar outras pessoas, corremos o risco de nos desviarmos para o que está fora da nossa esfera de influência. Agindo assim, perdemos o domínio sobre o propósito da nossa vida. Contente-se em ser alguém que ama a sabedoria, que busca a verdade. Volte quantas vezes for necessário para o que é essencial e valioso. Não tente parecer sábio aos olhos dos outros. Se quer viver uma vida de sabedoria, viva de acordo com suas próprias condições e procure ser sábio a seus próprios olhos.” [5]

A ação altruísta mencionada por C. Jinarajadasa não significa, portanto, que devemos abandonar nossa autonomia, suprimir nossa vontade, deixar de lado nossos sentimentos ou optar pela obediência automática. A ação correta significa fazer o melhor possível de acordo com o nosso próprio critério, e obedecer apenas à voz da nossa consciência e do nosso coração. Fazer o bem deve ser uma decisão independente, livre de todas as formas de coação. A ação eficaz também necessita do desenvolvimento da atenção. Para Epicteto, “o mal não é um elemento natural no mundo, nos acontecimentos ou nas pessoas. O mal é um subproduto da negligência, da preguiça, da distração: surge quando perdemos de vista nossa verdadeira meta na vida. Quando lembramos que nossa meta é o progresso espiritual, voltamos a nos empenhar por nosso aprimoramento pessoal e mantemos o mal à distância. E é assim que se conquista a  felicidade.”[6]


Carlos Cardoso Aveline



NOTAS:
[1] “A Chave dos Grandes Mistérios”, Eliphas Levi, Ed. Pensamento, SP, p. 213.
[2] “A Chave dos Grandes Mistérios”, Eliphas Levi, obra citada, pp. 209-212.
[3] “A Arte da Liderança, Ensinamentos Zen”, Thomas Cleary, Editora Siciliano, SP, p. 49.
[4] C. Jinarajadasa, em mensagem publicada na revista El Teósofo, Córdoba, Argentina, na edição de fevereiro-março de 1950.
[5] “A Arte de Viver”, Epicteto, versão de Sharon Lebell, Ed. Sextante, RJ, p. 57.
[6] “A Arte de Viver”, Epicteto, obra citada, p. 63.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

LIBERTE-SE 
DE SEUS COMPROMISSOS
 
Há milênios a estrutura da sociedade é sempre dirigida por um pequeno grupo de poderosos, independente do tipo de governo que tal sociedade aceitou. E este grupo governante dita ao povo o que é bom para ele, ou seja, o povo deve aceitar o que beneficia os poderosos. 
 
Em nossa época podemos considerar a globalização financeira como o poder. Este grupo rege o quadro que marca a nossa sociedade. Atualmente podemos votar para escolher nosso governo, mas a rigor a escolha não é muito grande, pois temos apenas a escolha entre muito poucas ideologias que, em princípio, são muito semelhantes e que, juntas, no fundo, de alguma maneira estão no fluxo do grupo governante. 
 
Além disso, por fim, quem governa é um partido que é bem visto no máximo pela metade dos eleitores. Isto significa que pelo menos a outra metade dos cidadãos de uma democracia ficou para trás apesar da liberdade dominante na formação de seu governo. E lá onde realmente se estabelece o poder duradouro, nas grandes indústrias, nos bancos e seguradoras com suas multiparticipações, que impõem todo o sistema financeiro apesar de todas as leis anticartéis – estes não são eleitos por ninguém. Eles simplesmente existem, eles decidem, independente da legislatura, do destino e da prosperidade da nação. 
 
Partindo de lá é formada a opinião pública; devemos procurar lá a origem e o motivo da natureza do quadro da sociedade. Cada indivíduo, você ou eu mesmo, orienta-se nesta ordem desde a infância. Nós estamos de tal forma presos a decisões, ordens e leis que não temos mais consciência de como nos conduzem por toda parte. 
 
Nunca vivemos uma vida sem regras. No início os pais cuidavam para que o filho se tornasse um membro adaptado à sociedade sob o ponto de vista deles, depois vinha a escola, a formação profissional ou o estudo na faculdade. Aqui o jovem também foi forçado a uma formação voltada à adaptação ao atual princípio dominante. Após iniciar-se na vida profissional, seja autônoma ou empregatícia, o então adulto constatava com toda clareza como a sua prosperidade dependia da hierarquia da sociedade. 
 
Ao invés de evadir-se desesperadamente desta limitação e da constante pressão, a humanidade encontrou um outro caminho de fuga: reprimir os conteúdos e as experiências conscientemente insuportáveis para o inconsciente. Eu não estou exagerando quando afirmo – e sei que a maioria dos sociólogos e psicólogos são da mesma opinião – que a nossa consciência acessível à nossa lembrança é filtrada de tal forma de maneira que nela não fique registrada nenhuma experiência que não esteja em conformidade com as regras de jogo válidas da sociedade. 
 
Tão amplamente age o mecanismo de repressão, o órgão de controle de nosso mecanismo de autoconservação! Por isto hoje, nas condições de nosso espírito, somos incapazes de perceber a verdade como ela realmente é. O que consideramos a verdade são apenas frações da realidade. Imagens do nosso pensamento, ainda por cima distorcidos pela ótica do nosso preconceito. Todos os nossos sentidos são controlados dia a dia; suas percepções são filtradas e peneiradas, nada de novo, desconhecido, pode chegar à consciência. 
 
Este mecanismo cuida muito bem para que nenhum novo conhecimento, por meio de alguma observação, penetre em nós. Tudo é cuidadosamente desviado para o inconsciente onde a sua existência inconveniente fica juntamente com outras experiências traumáticas da época da pré-infância. Nunca somos capazes de ver mais e além daquilo que aprendemos. Só isto podemos aceitar em nossa parcialidade, e é assim que nos orientamos e organizamos com base nisso, a nossa vida. Assim nosso espírito e as nossas lembranças estão em boas condições. E a isto o nosso pensamento se remete constantemente. Desta maneira absorvemos uma imagem muito censurada da realidade.

Um outro caminho de fuga da realidade é a afiliação a organizações e a comunidades religiosas incluindo os diversos grupos com filosofia de vida própria (e dos empresários espertos que vivem na onda da Nova Era). Já a consciência de estar integrado na sociedade e de possuir um Id na mesma, nos proporciona uma sensação de segurança. As verdades impopulares estão todas bem guardadas no inconsciente. Para isto a afiliação a uma comunidade, seja ela ativa ou passiva, oferece uma boa garantia complementar para manter-se a posição alcançada. 
 
Fecha-se os olhos para o horror ao nosso redor, para o quadro mundial escasso, para a loucura que acontece no próprio país, a Alemanha (no qual, por exemplo, não se proíbem alimentos contaminados, porém de tempo em tempo se aumenta o limite máximo de aplicação de produtos tóxicos!). A proteção, aparente, que estas organizações e instituições oferecem, é paga por nós através do reconhecimento de sua autoridade e possivelmente por organizarmos nossas vidas aparentes conforme suas normas, e interiormente por suas teses. 
 
Da falta de liberdade elementar que cada pessoa vive, em consequência à sua adaptação à sociedade, nasce uma outra, pois nós, seres humanos, simplesmente não conseguimos entender que existem coisas que não têm preço. Já que nos deixamos condicionar acreditamos ter adquirido mais segurança na sociedade. Nós fazemos aquilo e acreditamos naquilo que os outros também acreditam e fazem, e achamos isto correto. E se um dia o destino atuar e entrarmos em verdadeiros apuros vamos constatar que em lugar nenhum existe a verdadeira segurança, mesmo estando desesperadamente em busca dela. 
 
Para tornar-se livre, para uma vida no momento presente, é necessário romper com todos os compromissos deste tipo. Não podemos aceitar nenhuma autoridade, ninguém que nos diga como devemos ser ou nos tornar. Para conseguirmos nos libertar de autoridades externas, é necessário nossa disposição. Apenas esta. Não é necessário uma briga intelectual com uma ideia nova, com a decisão de livrar-se, à força, de coisas que nos prendem atualmente. Para muitas coisas, nem é necessário um passo espetacular para um rompimento externo – isto, geralmente, não é necessário. Importante é a nossa posição interior em relação à autoridade. 
 
Temos de entender que a vida pode ser diferente daquilo que pensávamos até agora. O passo para a liberdade interior, inicia-se com o reconhecimento de nossos compromissos, e é necessário observá-los até poder identificar seus perigos. Este processo já é suficiente. Com a nossa atenção, que não deve ser perturbada por pensamentos, estes compromissos perdem a sua influência sobre nós. Nós nos tornamos livres e desprendidos. Em hipótese nenhuma você deve analisar seus compromissos baseado nas suas análises intelectuais. Se fizer isto, não faz mal, mas também não terá vantagens. 
 
O que pode acontecer é você confundir esta análise com a observação e se admirar porque estes compromissos que desfizemos tão conscienciosamente ainda existem e limitam. Aliás, eu quero dizer que você alcançará mais facilmente a nova maneira de viver, de realmente estar presente aqui e agora, se esquecer qualquer tipo de conhecimento. Tudo aquilo que você aprendeu até o momento atual não serve para a prática de vida do Tao. O conhecimento pode ajudá-lo na profissão ou quando você quer pregar um prego na parede. Mas para o seu desenvolvimento espiritual ele só estará atrapalhando. 
 
Você deve realmente olhar para a sua vida com olhos inocentes, com os olhos ingênuos de uma criança. Então perceberá que as coisas mudam, que os seus dias transcorrerão de maneira diferente. Você estará incorporado a um processo que por si fará com grande inteligência aquilo que é o correto para você. Você de maneira alguma perde a sua própria vontade, mas a sua ação será mais sábia pois você tomará as decisões corretas diante dos desafios do cotidiano e em situações excepcionais.

Então fique sabendo: é necessário descobrir todas as sombras de seus compromissos, observá-las, dar atenção a elas, até que você tenha compreendido profundamente a extensão de seu aprisionamento. Só prestar atenção, já traz mudanças. Como em todo processo, é condição que você faça as suas observações exclusivamente no presente. 
 
Não é importante como você era ontem ou quais compromissos o incomodavam antes, o importante e essencial é o seu estado atual. Este estado você deve percebê-lo. E esta percepção no presente já é o passo para a mudança, para a qual, você não precisa mais se esforçar. Sua verdadeira vontade, sua disposição, seu desejo veemente de se tornar livre já são suficientes.
 
Theo Fisher

domingo, 29 de maio de 2016

EU NÃO QUERO AJUDAR O MUNDO:
ISSO É SERVIÇO
 
Para ajudar verdadeiramente as pessoas
 têm que ir à causa fundamental das coisas. 
Têm que descobrir a causa do sofrimento,
 e só podem fazer se houver reflexão profunda. 


Pergunta: Alguns dos meus amigos notaram que embora achem os seus ditos intensamente interessantes, preferem o serviço a demasiada reflexão sobre as questões da verdade. Quais são as suas observações sobre esta opinião?

Krishnamurti: Senhor, o que quer dizer com serviço? Toda a gente quer ajudar. É esse o grito daquelas pessoas que pensam que estão a servir o mundo. Estão sempre a falar sobre ajudar o mundo, especialmente aquelas pessoas que pertencem a seitas. É a sua forma particular de doença, porque pensam que fazendo alguma coisa, não importa o quê, vão ajudar, que servindo as pessoas ajudarão. Quem pode dizer o que é o serviço? Um homem que pertence ao exército, preparado para matar o bárbaro que entre no seu país, diz que está a servir o país. O homem que mata, o carniceiro, diz que está a servir a comunidade. O explorador que tem os meios de produção nas mãos, monopolizados, diz que está a servir a comunidade. O homem que explora as crenças, o sacerdote, diz que está a servir o país, a comunidade. A quem cabe decidir?

Ou então olhemos a questão de uma forma bastante diferente. Acham que uma flor, uma rosa, está sempre a ter em consideração de que está a servir a humanidade, que está a ajudar o mundo pela sua existência porque é bonita? Pelo contrário, porque é bonita, extremamente bela, inconsciente da sua magnificência, é que está a ajudar. Não como um homem que anda de um lado para o outro a gritar que está a servir o mundo. Isto é, cada um quer usar os seus meios, ou as suas ideias, para explorar o mundo, não para libertar o mundo. Pessoalmente, se não me interpretarem mal, esse não é de modo nenhum o meu ponto de vista. Eu não quero ajudar o mundo, como vocês lhe chamariam. Eu não posso ajudar, isso acontece naturalmente. Isso é serviço. Não desejo fazer com que os outros se aproximem da minha forma específica de crença ou pedir-lhes que venham para a minha gaiola particular de pensamento, porque eu afirmo que ter uma crença é uma limitação.

Para servir realmente, tem que se ser extremamente livre da consciência limitada a que chamamos o “eu”, o ego, a consciência egocêntrica; e enquanto isso existir, não estão realmente a servir o mundo. A menos que realmente pensem, não podem descobrir se estão verdadeiramente a ajudar o mundo. Portanto não consideremos em primeiro lugar se estamos a ajudar o mundo, mas antes descubramos se temos a capacidade de pensar e de sentir. Para pensar realmente, a mente não pode estar amarrada a uma crença. Isso é muito simples, não é? Para realmente pensar profundamente, francamente, completamente, a vossa mente não deve estar limitada pelo preconceito ou restringida a uma determinada crença, ou pelo medo, ou por ideias preconcebidas. Para pensar, a mente deve começar outra vez, de novo, e não com um pano de fundo de tradição. Afinal, a tradição só é valiosa quando os ajuda a pensar, não quando os subjuga pelo seu peso.

Deixem-me colocar a questão de maneira diferente. Todos queremos ajudar. Quando veem sofrimento no mundo há um intenso desejo de ajudar; mas para ajudar verdadeiramente as pessoas têm que ir à causa fundamental das coisas. Têm que descobrir a causa do sofrimento, e só o podem fazer se houver reflexão profunda. E esta reflexão não é mero prazer intelectual, mas só pode ter lugar, esta reflexão, na ação.

 
 
Jiddu Krishnamurti
 
 


sábado, 28 de maio de 2016

FLORES PELO CAMINHO

Parte II

Citações do Osho sobre o Sexo



Se Você Pode Tornar-se Meditativo Na Sua Vida Sexual....

Segurando a mão da sua mulher ou do seu homem, por que não sentar em silêncio? Por que não fechar os olhos e sentir? Sinta a presença do outro, entre na presença do outro, deixe a presença do outro entrar em você; vibrem juntos, balancem juntos; se de repente uma grande energia possuí-los, dancem juntos – e vocês alcançarão tamanhos picos orgásticos de alegria como nunca conheceram antes. Esses picos orgásticos não têm nada a ver com sexo, na verdade têm muito a ver com silêncio.

E se você também conseguir ficar meditativo na sua vida sexual, se você conseguir estar em silêncio enquanto estiver fazendo amor, numa espécie de dança, você ficará surpreso. Você tem um processo embutido para levá-lo para a costa mais distante.



Quanto Mais Sexual Uma Pessoa é, Mais Inteligente é

Então acontece mesmo que quanto mais sexual uma pessoa é, mais inventiva ela pode ser. Quando mais sexual uma pessoa é, mais inteligente é. Com menos energia sexual, menos inteligência existe; com mais energia sexual, mais inteligência, porque o sexo é uma procura profunda para revelar, não apenas corpos, não apenas o corpo do sexo oposto, mas também tudo que está escondido.


O Sexo é Potencialidade

Quando o amor se expressa através de você, primeiro se expressa como o corpo. Torna-se sexo. Se ele se expressa através da mente, que é mais elevada, mais profunda, mais sutil, então é chamado amor. Se se expressa através do espírito, torna-se oração....

Se tudo dá certo e o sexo é natural e flui, é uma experiência bonita porque você pode ter um vislumbre do segundo através dele. Se o sexo realmente se aprofunda tanto que você se esquece completamente de si mesmo nele, você pode até ter um vislumbre do terceiro através dele. E se o sexo se torna uma experiência orgástica total, há momentos raros em que você pode ter um vislumbre do quarto, o turiya, o transcendente, através dele.

Mas se o sexo falha, então muitas perversões acontecem à mente. Essas perversões são expressas em ódio. O ódio é uma falha do sexo, uma falha da energia do amor. A violência, desejo por dinheiro, as contínuas atitudes conflituosas dos egos: guerra, política – essas são todas perversões sexuais.

Um homem cujo sexo não é pervertido não pode se tornar um político. É impossível. Todos os políticos como tal precisam de terapia sexual profunda, de outro modo, toda a sua energia estará se movendo para ganhar mais e mais poder. Quando o sexo é natural, você sente poder, você não está à procura dele. Sexo é potencialidade, poder. Você o sente derramando-se em você, você não procura e não busca por ele. Mas quando você o perde, aí então surge uma grande ânsia para procurar poder: a política nasce. Então guerras, violência contínua, nascem; ódio, raiva e mil e um tipos de perversões.


O Amor Pode Dar uma Nova Alma ao Sexo

O amor pode dar uma nova alma ao sexo. Depois o sexo é transfigurado, torna-se belo; já não é mais sexo, tem algo do além nele. Tornou-se uma ponte.

Você pode amar uma pessoa porque a pessoa satisfaz o seu sexo. Isso não é amor, apenas barganha. Você pode fazer sexo com uma pessoa porque você a ama; então o sexo segue como uma sombra, parte do amor. Então é belo; então já não é do reino animal. Então algo do além já entrou e se você continuar a amar a pessoa profundamente, pouco a pouco o sexo desaparece. A intimidade torna-se tão preenchedora, então não há mais necessidade de sexo; o amor é suficiente em si mesmo. 

Quando esse momento chega então há a possibilidade da reverência descer em você.

Quando dois amantes estão tão profundamente apaixonados que o amor é suficiente e o sexo simplesmente cessa – não que tenha sido abandonado, não que tenha sido reprimido, não. Simplesmente desapareceu da sua consciência sem deixar sequer uma cicatriz atrás; então dois amantes estão em total unidade… Porque o sexo divide; a própria palavra sexo vem de uma raíz que significa divisão. O amor une, o sexo divide. O sexo é a causa básica da divisão.

Quando você tem relações sexuais com uma pessoa, uma mulher ou um homem, você pensa que isso os une. Por um momento isso dá a você a ilusão de unidade e depois uma vasta divisão de repente aparece. É por isso que depois de cada ato sexual, uma frustração, uma depressão se instala. A pessoa sente-se tão distante do amado. O sexo divide, e quando o amor se aprofunda mais e mais e une cada vez mais, não há necessidade de sexo. As suas energias internas podem encontrar-se sem sexo e vocês vivem em uma grande união.


O Sexo é a Fonte

O sexo pode lhe dar a resposta ao que é a realidade da vida porque o sexo é a coisa mais viva em você. A mente é a coisa mais morta em você e o sexo é a coisa mais viva em você. É por isso que a mente está sempre contra o sexo e a mente está sempre suprimindo-o. Eles são inimigos. A mente é uma coisa morta e o sexo é a força vital; elas continuam lutando. E sempre que você se move em direção ao sexo, a mente se sente frustrada e a mente diz: “Isto é errado. Não se mova nessa direção de novo.

A mente se torna a moralizadora, a mente se torna puritana, a mente se torna o padre. A mente continua a condenar e tudo que está morto continua a condenar, e tudo o que está morto, a mente continua a adorar. E o sexo é a coisa mais viva em você porque a vida vem através dele: você nasce através dele, você pode dar à luz através dele. Onde quer que haja vida, vivacidade, o sexo é a fonte.


Eles Não Conhecem Nenhum Outro Tipo de Homem

Os psicólogos dizem que o amor não é nada mais que preliminares para o sexo. Eles estão certos – porque eles não têm um outro espécime para estudar. Eles estudam você e depois chegam à conclusão que o amor não é nada além de preliminares – apenas criar uma situação na qual o sexo pode acontecer, nada mais. Então quando o sexo aconteceu, o amor desaparece. É como quando você se sente faminto, você gravita em direção à comida e olha para a comida com olhos encantados. Mas quando a sua fome está satisfeita, você tira os olhos da comida. Todo o encantamento se perdeu.

Então quando você ama a sua esposa ou o seu marido, o amor é apenas uma etiqueta para entrar no sexo – porque será demasiado rude começar... Então é como um agente lubrificante. E quando o sexo é satisfeito, o marido move-se para o seu lado da cama e adormece. Ele acabou; todo o encantamento acabou. Voltará novamente apenas quando ele sentir um tipo de fome. Os psicólogos dizem que o amor não é nada além de preliminares – apenas um maneirismo. E eles estão certos, porque não conhecem nenhum outro tipo de homem.


Temos Medo do Sexo

A menos que a humanidade se torne não-repressiva em relação ao sexo, o homem não pode realmente respirar. Se a respiração desce até o abdômen, dá energia ao centro do sexo. Toca o centro do sexo; massageia o centro do sexo por dentro. O centro do sexo torna-se mais ativo, mas vivo. A civilização tem medo do sexo. Nós não deixamos as nossas crianças tocarem o seu centro do sexo, os seus órgãos sexuais. Nós dizemos, “Pára! Não toques!”

Olhe para uma criança quando toca primeiro o seu centro do sexo e depois diga “Pára!” e depois observe a sua respiração. Quando você diz “Pára! Não toques o teu centro do sexo!” a respiração vai se tornar imediatamente superficial – porque não é apenas a sua mão que está tocando o centro do sexo, lá no fundo a respiração está tocando o centro. E se a respiração continua a tocá-lo, é difícil parar a mão. Se a mão pára, então basicamente é necessário, é preciso que a respiração não o deve tocar, não deve ir fundo. Deve manter-se superficial.

Nós temos medo do sexo. A parte inferior do corpo não é apenas fisicamente inferior, tornou-se de valor inferior. É condenado como “inferior.” Por isso não vá fundo, permaneça apenas superficial. É lamentável que nós só podemos respirar para baixo. Se alguns pregadores fossem permitidos, mudariam todo o mecanismos. Eles permitiriam somente que você respirasse para cima em direção à cabeça. Então você absolutamente não sentiria o sexo.

Se nós quisermos criar uma humanidade sem sexo, então teremos de mudar o sistema de respiração. A respiração deve ir em direção à cabeça, para o sahasrar – o sétimo centro na cabeça – e depois voltar para a boca. Esta deve ser a passagem: da boca ao sahasrar. Não deve descer até ao fundo porque em baixo é perigoso. Quanto mais fundo você vai, mais próximo você chega das camadas mais profundas da biologia. Você alcança o centro e esse centro está mesmo perto do centro do sexo – mesmo perto. Tem de estar, porque sexo é vida.


Passos para o Divino

Por favor descreva para nós o significado spiritual da energia sexual. Como podemos sublimar e espiritualizar o sexo? É possível ter sexo, fazer amor, como uma meditação, como uma prancha de salto em direção a níveis mais elevados de consciência?

Outra coisa. Você usou as palavras 'sexo' e 'amor'. Ordinariamente nós usamos ambas as palavras como se elas tivessem uma associação interna. Elas não têm. O amor vem somente quando o sexo se foi. Antes disso, o amor é apenas uma isca, preliminar e nada mais. Está simplesmente preparando o terreno para o ato sexual. Não é nada mais que uma introdução para o sexo, um prefácio. Então quanto mais sexo há entre duas pessoas, menos amor existirá porque então o prefácio não é necessário. Quando o sexo se torna uma meditação, ele floresce em amor e esse florescer é um movimento em direção ao divino.

Não sou contra o sexo e não sou a favor do amor. Você ainda deve transcendê-lo. Medite nele; transcenda-o. Por meditação quero dizer que você deve passar por ele completamente alerta, consciente. Você não deve passar por ele cegamente, inconscientemente. Grande êxtase está lá, mas você pode passar por lá cegamente e perdê-lo. A cegueira tem de ser transformada; você deve abrir os olhos. Com olhos abertos, o sexo pode levá-lo ao caminho da unidade.

 

Fonte:http://www.osho.com 

 

POR QUE ESTOU 
CANSADO DE SEXO?



Sexo é cansativo. É por isto que eu lhes digo: não o evitem. A não ser que vocês conheçam a estupidez do sexo, não serão capazes de se livrar dele. A não ser que você conheça o completo desperdício que ele é, não será capaz de transcendê-lo.
       
É bom que você tenha começado a se sentir cansado. Isto é natural. Sexo simplesmente significa energia sendo gasta para baixo. A energia tem que se mover para cima, então ela é nutritiva.Então ela abre tesouros inesgotáveis dentro de você – ais dhammo sanantano. Mas se você continuar no sexo como um maníaco, logo você se verá completamente exaurido e desgastado. 

Um casal recém casado foi às famosas Cataratas de Niágara para sua lua-de-mel. Assim que eles chegaram ao hotel, fizeram seu chek-in e por três dias não foram mais vistos, não pediram serviço de quarto nem outra coisa. Depois de um tempo, o gerente começou a ficar preocupado e decidiu averiguar o que acontecia. Ele bateu na porta e ouviu uma pequena corrida dentro do quarto. Em seguida, um homem descolorido, de cueca, abriu a porta.
      
‘Nós estávamos preocupados’, disse o gerente.
 ‘Bem, nós acabamos de nos casar’, respondeu o homem.
 ‘Eu compreendo’, disse o gerente, ‘mas aqui você tem uma das maiores maravilhas do mundo...’
      
Naquele instante, uma vozinha minúscula vinda do fundo do quarto interrompeu, ‘Se você mostrar aquilo para mim mais uma vez, eu me jogo pela janela.’ 

Você não entendeu! Três dias continuamente... A mulher estava a ponto de se jogar pela janela.
      
O homem consegue continuar vivendo estupidamente somente até um certo ponto. Além daquele ponto ele tem que se tornar consciente do que está fazendo consigo mesmo. Sandhan, a hora é esta. Existem muito mais coisas importantes na vida do que sexo. Sexo não é tudo. Ele é significante, mas não é tudo. Se permanecer enganchado nele, você perderá todas as glórias da vida.
       
E lembre-se, eu não sou contra o sexo. É por isto que meus ensinamentos se tornam um pouco contraditórios. Eu sou um paradoxo. Eu não sou contra o sexo, porque todos aqueles que são contra ele permanecem sexuais. Eu sou a favor do sexo, porque se você for fundo nele, você logo irá sair dele. Quanto mais conscientemente você entrar nele, mais cedo você irá sair dele. E o dia em que a pessoa sai totalmente do sexo, é um dia de grande bênção.
      
É bom que você esteja se sentindo cansado de sexo. Não vá agora a um médico em busca de alguma medicação. Isto não vai ajudar. Isto poderá apenas adiar o seu incômodo um pouco mais. Se você está se sentindo cansado, isto é uma simples demonstração de que você chegou ao ponto, de onde você pode saltar para fora dele.
      
Qual o sentido de permanecer no sexo se você está se sentindo cansado? Livre-se dele. E eu não estou dizendo para reprimi-lo. Quando você está sentindo muita energia para o sexo e você tenta escapar dele, o que acontece é repressão. Mas quando você está exaurido e cansado e vê a futilidade dele, você consegue deixá-lo sem repressão. E deixar o sexo sem repressão é estar livre dele.
     
 
Estar livre do sexo é uma grande experiência. A liberdade do sexo faz com que suas energias fiquem disponíveis para a meditação, para o samadhi.



Osho





Quando evitamos algo este algo cresce dentro de nós; não só acontece em relação ao sexo, que sem dúvida é muito mais marcante, porém com todos os 'carrapatos' e 'pulgas' que permitimos que continuem coçando e sugando nossas energias. A Mãe nos disse que "em vez de deixar as energias em lugares onde elas não são desejadas, a pessoa as leva para lugares onde são úteis, e as usa para sua evolução, sua transformação". Não é uma tarefa fácil, como ela mesma afirmou, pois necessita de muita disciplina, como tudo na vida. Se não nos empenharmos em compreender aquilo que acontece conosco e procuramos, à luz da sabedoria, conduzir essas energias circulantes para o centro do coração, então, os carrapatos e as pulgas permanecerão soltas, e não queremos isso, queremos? KyraKally



 
                        

sexta-feira, 27 de maio de 2016

CONTROLE DAS 
ENERGIAS SEXUAIS
Um discípulo pergunta sobre continência sexual :


Isso é bem conhecido nas disciplinas yóguicas na Índia, quando a pessoa começa a se tornar consciente de suas energias e ter controle sobre elas. Você conhece a teoria dos diferentes chakras onde as energias são concentradas? Geralmente se diz que existem cinco. Mas o verdadeiro número é sete ou mesmo doze. Esses chakras são centros de acumulação de energia, energias que podem controlar certas atividades.


Assim, existe uma acumulação de energia no centro sexual, uma grande acumulação de energia, e aqueles que têm controle sobre estas energias conseguem dominá-las e fazê-las subir, e as colocam aqui (a Mãe aponta para o chakra do peito). E aqui está o centro das energias do progresso. Esse é o que é chamado de assento de Agni (fogo) mas são as energias da evolução, a vontade de evoluir, que estão aqui.


Assim as energias concentradas no centro sexual são levadas para cima e colocadas aqui. E elas aumentam consideravelmente, de modo que o centro sexual se torna absolutamente calmo, imóvel.


Em vez de deixar as energias em lugares onde elas não são desejadas, a pessoa as leva para lugares onde são úteis, e as usa para sua evolução, sua transformação.


Tudo isso é o resultado de uma prática paciente, assídua; não é feito de qualquer modo, pensando em outras coisas ou brincando. Deve haver disciplina. Naturalmente, quando a pessoa domina a obra, ela se torna muito interessante. 
 
 
A Mãe (Mira Alfassa)
 
 

 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

O QUE É DEUS
 
Respondendo a uma pergunta feita por um discípulo, a Mãe diz: 

Tudo depende do significado que você coloca na palavra “Deus”. É uma palavra que expressa “algo” que você não conhece, mas está tentando alcançar.

Se você recebeu uma educação religiosa, está acostumado a chamar isso de “Deus”. Se recebeu uma educação mais positivista e filosófica, está acostumado a chamar isto por todo tipo de nomes, e pode ter ao mesmo tempo a ideia de que é a suprema verdade.

A realidade é distante demais da nossa compreensão, e chamamos de Deus. Algumas religiões dão uma forma precisa à divindade; e às vezes dão várias formas e têm vários deuses; às vezes dão apenas uma forma e têm apenas um Deus; mas tudo isso é fabricação humana.

Existe “algo”, existe uma realidade que está além de todas as nossas expressões, mas que podemos contatar praticando uma disciplina. Podemos nos identificar com ela. Quando a pessoa se identifica com essa realidade, ela sabe o que é, mas não pode expressá-la, pois as palavras não podem dizê-la.

Portanto, se você usar um tipo de vocabulário, se tiver uma convicção mental particular, você usará o vocabulário correspondente àquela convicção. Se pertencer a outro grupo que tem outra maneira de falar, você falará e pensará sobre essa realidade daquele modo.

Existe algo que não pode ser apreendido pelo pensamento, mas que existe. Mas o nome que você dá a isso pouco importa, nada importa, esse “algo” existe. Assim, a única coisa a fazer é entrar em contato com isso – não dar um nome ou descrever. Na verdade não serve para nada dar um nome ou descrever. A pessoa deve entrar em contato, concentrar-se sobre esse “algo”, vivê-lo, e se tiver a experiência não importa o nome que se dá. Apenas a experiência importa.

E quando as pessoas associam a experiência com uma expressão particular – de um modo tão estreito, tão fechado em si mesmo – isso é uma inferioridade. A pessoa deve ser capaz de viver essa realidade através de todos os caminhos possíveis, todas as ocasiões; deve-se vivê-la, pois ela é o supremo bem, é todo-poderosa, é onisciente... Sim, você pode vivê-la, mas não pode falar sobre ela. E se falar, o que é dito não tem grande importância. É apenas uma maneira de expressão, eis tudo.

Existe uma linha de filósofos que substituíram a noção de Deus pela noção de um Absoluto impessoal ou pela noção da Verdade ou a noção de Justiça, ou até mesmo a noção de progresso – de algo eternamente progressivo; mas para quem tem a capacidade interior de identificar-se com aquilo, o que é dito não tem muita importância.

Às vezes a pessoa pode ler todo um livro de filosofia e não progredir nenhum passo. Às vezes a pessoa pode ser um fervoroso devoto de uma religião e não progredir. Há pessoas que passam muitas vidas sentados em contemplação e nada alcançam.

Há pessoas (e temos exemplos bem conhecidos) que costumavam fazer os mais modestos trabalhos manuais, como um sapateiro remendando sapatos velhos, e que tiveram a experiência.

Isso está totalmente além do que se pensa ou diz. É uma dádiva, eis tudo. E tudo que é necessário fazer é conseguir identificar-se com essa realidade e vivê-la. Às vezes você lê uma sentença num livro e ela te leva lá. Às vezes você lê livros inteiros de filosofia ou religião e esses livros não te levam a lugar algum.

Entretanto há pessoas para quem a leitura de livros de filosofia ajuda a seguir em frente. Mas todas essas coisas são secundárias. Existe apenas uma coisa que é importante: uma vontade sincera e persistente, pois essas coisas não acontecem num piscar de olhos. É preciso perseverar.

Quando alguém sente que não está avançando, não deve se desencorajar; deve tentar encontrar o que está se opondo na natureza, e então fazer o progresso necessário. E de repente se faz um progresso. E quando se chega ao final, você tem uma experiência.

E o que é impressionante é que pessoas que seguem diferentes caminhos, com construções mentais totalmente diferentes, do maior crente ao maior ateu, até mesmo materialistas, têm chegado a essa mesma experiência, ela é a mesma para cada um. Porque é o verdadeiro, porque é real, porque é a única realidade.

E é total e simplesmente “aquilo”. Nada mais posso dizer. Porque palavras não têm importância. O importante é seguir o caminho, seu caminho, não importa qual seja, para chegar lá.
 
 
A Mãe (Mira Alfassa)