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terça-feira, 5 de março de 2024

  JEJUM DE PREOCUPAÇÃO - II - Última Parte

 
Jejum de bens materiais
 
Como  o jejum é uma via de equilíbrio para nos relacionarmos com a vida externa e a interna, podemos perguntar-nos: "Como aplicá-lo para encontrar equilíbrio na maneira de lidar com os bens materiais?"
 
O procedimento é o mesmo adotado no jejum de alimentos, no de sentimentos, no de pensamentos, no de ações e  no de palavras. Algumas vezes jejuamos de bens materiais pela abstinência, pelo uso moderado ou pela austeridade.

Se alguém não recebeu no seu interior, o impulso para desfazer-se de tudo, é porque não é sua forma de jejuar. Provavelmente, se recebesse tal impulso, a personalidade - o eu exterior - entraria em crise e deixaria de estar em harmonia com os propósitos superiores.
 
Quando alguém recebe a ordem interior, de dispor de todos os seus bens, é porque está pronto para isso. Sabe que tanto para o seu caminho como para o serviço evolutivo é a atitude mais indicada. Sempre houve, através dos tempos, os que agiram assim. Entretanto, esse não é o caminho da maioria.
 
Contudo, em qualquer circunstância, é possível treinar a moderação. Podemos perguntar-nos: "Utilizo os bens materiais para tornar a vida de meus semelhantes mais digna, menos desgastante?" "No dia a dia levo em conta que mais da metade da humanidade encontra-se em estado sub-humano, sem teto, sem alimentação básica, sem higiene e sem educação?" "Trato como devido respeito a água, a energia elétrica, as habitações e as coisas com que lido?" Reflexões como essas ajudam-nos a não abusar dos bens materiais. E não abusar dos bens materiais é usá-los com desapego e, ao mesmo tempo, sem desperdício.

O comportamento habitual da humanidade é ambicionar bens materiais, é tentar subtraí-los de outros, visando ao benefício próprio, é acumulá-los. Mas quando uma pessoa os usa com sabedoria, boa vontade e intenção de acertar, sua atitude ajuda a compensar o egoísmo dos demais.

Moderação

Para alguns, a moderação é mais difícil que um período de abstinência total. Dizer palavras que sirvam de ajuda a outros, por exemplo, requer mais treino que ficar completamente calado.

Em princípio, a moderação requer humildade: requer que sejamos verdadeiros conosco e que nos reconheçamos falhos em certas circunstâncias. Essa atitude leva-nos a pedir orientação ao nosso eu interior antes de fazer qualquer coisa. Se, pelo contrário, temos a nós mesmos em alta consideração, ficamos mais vulneráveis, pois deixamos de solicitar essa ajuda interna antes de agir.

Por outro lado, a moderação também requer ousadia. Precisamos levar em conta que, se estamos receptivos à luz interior, nossos recursos serão adequados, mesmo que imperfeitos. A sabedoria da Vida tudo ajusta, quando estamos entregues à vontade do nosso eu interior, e até inclui as imperfeições da personalidade. Mas é preciso ousar, fazer o que é para ser feito. Só damos passos realmente quando nos dispomos a ir um pouco além do que estaria ao nosso alcance.

É como se, por exemplo, alguém necessitasse ouvir determinada música e só nós  estivéssemos disponíveis para cantá-la. Podemos não saber fazer isso muito bem, mas se o tentamos, contando com a atuação do nosso eu interior, suas energias são transmitidas por nosso intermédio. E, assim, não importa se desafinamos um pouco; por termos cantado como serviço, profunda transformação pode dar-se na pessoa que nos ouve. No caso, a música em si é irrelevante; essencial é o impulso evolutivo, é sairmos do ponto em que estamos e ajudarmos o outro a fazer o mesmo.

Se buscarmos a moderação, reconhecermos que ousar não é agir irrefletidamente, é confiar no potencial que temos dentro de nós, entregando-o à condução do nosso eu interior. Ao agirmos permeados desse espírito, descobriremos o sentido de jejuar em ações, de atuar na justa medida para a luz interna revelar-se.

Por último, a moderação requer desapego. Os resultados de ações evolutivas não são mensuráveis; não existem parâmetros em nível mental, emocional ou físico para medi-los ou julgá-los. É preciso realizar tais ações sem se prender a elas, agir como um semeador que lança os grãos na terra e os deixa entregues à chuva, ao vento e à dinâmica da força de vida que há em seu interior.
 
Com base em Palestras de Trigueirinho
Publicado pela Eitora Irdin

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