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segunda-feira, 6 de junho de 2016

MAIS LUZ NO CAMINHO


 "Mata o mal em ti... assim o mal do mundo
não pode mais te agredir..."


Que sucede quando o pensador percebe que ele é o pensamento? Que acontece, realmente, quando o "pensador" é o pensamento, assim como o "observador" é a coisa observada? Que acontece? Não existe mais separação, divisão e, por conseguinte, não há conflito; consequentemente, já não há necessidade de controlar ou moldar o pensamento. Que sucede então? Existe divagação do pensamento? Antes, controlava-se o pensamento, concentrava-se o pensamento, e havia conflito entre o "pensador", que queria controlar o pensamento", e o pensamento que queria divagar.

Fomos “programados” biologicamente, fisicamente, e, também, “programados” mentalmente, intelectualmente. Devemos estar cientes de que fomos programados como um computador. Os computadores são programados por especialistas para produzirem os resultados que eles desejam… O homem foi programado para ser católico, protestante, para ser italiano ou inglês, e assim por diante. Durante séculos ele foi programado – para acreditar para ter fé, para seguir certos rituais, certos dogmas; programado para ser nacionalista e ir à guerra. 

Desse modo, o seu cérebro tornou-se tal como um computador, embora não tão capaz, porque o seu pensamento é limitado… Perceba o que isso significa: isso significa que você não é mais um indivíduo. Isso é muito duro de aceitar, porque nós fomos programados religiosamente para pensar que temos almas separadas de todos os demais. Sendo programado, o nosso cérebro trabalha do mesmo modo há muitos séculos. Temos que aprender a ver as coisas como elas são na realidade – não como vocês são programados para olhar. Podemos nos libertar de ser programados e olhar?

O que é que querem fazer quando veem alguém que amam sofrer? Querem ajudar; querem retirar o sofrimento dessa pessoa. Mas não podem, porque esse sofrimento é a sua prisão. É a prisão que essa própria pessoa criou, uma prisão que não podem retirar – mas isso não significa que a sua atitude deva ser de indiferença.

Ora, quando alguém que amam está a sofrer e vocês não podem fazer nada por essa pessoa, voltam-se para a oração, esperando que algum milagre aconteça para aliviar o seu sofrimento; mas uma vez compreendam que o sofrimento é causado pela ignorância criada por essa própria pessoa, então perceberão que lhe podem dar simpatia e afeto, mas não lhe podem retirar o seu sofrimento.

A sabedoria não é uma análise. Vocês sofrem, e pela análise tentam encontrar a causa; isto é, estão a analisar um evento morto, a causa que está já no passado. O que têm de fazer é encontrar a causa do sofrimento no próprio momento do sofrimento. Analisando o sofrimento vocês não encontram a causa; analisam somente a causa de um ato em particular. Depois dizem, “Compreendi a causa desse sofrimento.” Mas na realidade somente aprenderam a evitar o sofrimento; não libertaram a vossa mente dele. 

Este processo de acumulação, de aprendizagem através da análise de um ato particular, não confere sabedoria. A sabedoria só surge quando a consciência do “eu que é a criadora, a causa do sofrimento, é dissolvida. Estou a tornar isto difícil? Que acontece quando sofremos? Queremos alívio imediato, e portanto aceitamos qualquer coisa que nos é oferecida. Examinamo-lo superficialmente no momento e dizemos que aprendemos. Quando essa droga se revela insuficiente no alívio que proporciona, tomamos outra, mas o sofrimento continua. Não é assim? 

Mas quando sofrem completamente, integralmente, não superficialmente, então algo acontece; quando todas as avenidas de fuga que a mente inventou foram compreendidas e bloqueadas, somente permanece o sofrimento, e então compreendê-lo-ão. Não há cessação através de uma droga intelectual. 

A  vida para mim não é um processo de aprendizagem; contudo tratamos a vida como se ela fosse apenas uma escola para aprender coisas, apenas um sofrimento para aprender; como se tudo servisse somente como um meio para qualquer outra coisa. Dizem que se puderem aprender a contemplar enfrentarão a vida na íntegra, ao passo que eu digo que se a sua ação for completa, isto é, se a sua mente e coração estiverem em completa harmonia, então esse mesma ação é contemplação, é sem esforço.

Em outras palavras, as experiências as quais tentamos aprender nascem da reação. Podemos ir longe se começarmos de muito perto. Em geral começamos pelo mais distante, o "supremo princípio", "o maior ideal", e ficamos perdidos em algum sonho vago do pensamento imaginativo. Mas quando partimos de muito perto, do mais perto que é nós, então o mundo inteiro está aberto — pois nós somos o mundo. Temos de começar pelo que é real, pelo que está a acontecer agora, e o agora é sem tempo.

Meditação é libertar a mente de toda desonestidade. O pensamento gera desonestidade. O pensamento, no seu esforço para ser honesto, é comparativo e, portanto, desonesto. Meditação é o movimento dessa honestidade no silêncio. Estou apenas sendo como um espelho da sua vida, no qual poderá ver como você realmente é. Após fazê-lo, então falaremos sobre a vida — e não de ideias, de teorias, de práticas ou de técnicas. É necessário que olhe esta vida total, que é também a sua vida, para que lhe dê atenção. Isso significa que não pode desperdiçá-la. Tem pouquíssimo tempo para viver, talvez dez, talvez cinquenta anos. Não perca esse tempo. Olhe a sua vida, dê tudo para  compreendê-la.

Se você é um prisioneiro, não me interessa descrever o que é a liberdade. Meu interesse principal é mostrar o que cria a prisão e que você a destrua.

É o orgulho que não me permite olhar para mim mesmo, e é o orgulho que inventa a ideologia que diz: “Eu deveria ser”. Não gosto do que sou, e meu orgulho diz: “Preciso ser aquilo.” Esta é a filosofia ideológica que o homem inventou, a fórmula, o “deveria ser”. O orgulho cria o conflito entre “o que é” e “o que deveria ser”, e o orgulho diz: “Preciso ser aquilo, isto é feio, isto é estúpido, isto não é inteligente, isto não é razoável.” Então ponho uma máscara do que eu deveria ser, e a partir daí há conflito, um tipo de atividade hipócrita se desenrolando. 

Será possível olhar para si mesmo sem a imagem do orgulho? Mas tem-se imagens tão extraordinárias de si mesmo, não é verdade? Sou um grande escritor, sou isto, sou aquilo, sou judeu, sou cristão, sou católico, sou comunista, todas as imagens que se construiu de si mesmo. Por quê? É orgulho? Ou investimos nessas imagens valores diferentes do real estado do próprio ser?

Se é agressivo e, por várias razões, envergonha-se disso e adota a ideologia da não agressão. Esta ideologia é inventada pelo próprio orgulho da pessoa, pelo próprio desejo de ser outra coisa “do que é”, e dando grande valor “ao que deveria ser”.




Krishnamurti






Precisamos enxergar mais além. Precisamos sair da periferia. Essa visão, por exemplo, é como estarmos num avião que está decolando e vemos somente a pista de pouso e decolagem, mas quando ele está se distanciando do chão vamos tendo uma visão maior, mais completa... é assim quando abandonamos os condicionamentos, as definições, todas as correntes, todas as máscaras... as coisas vão ficando mais claras. Quando matamos esse 'mal' em nós mesmos o 'mal' do mundo não pode mais nos atingir. Krishnamurti está certo! KyraKally



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