LIBERTE-SE DO PASSADO
“Não viva no passado,
não sonhe com o futuro,
concentre a mente no momento presente.”
(Buda)
(Buda)
Parte III
Poderemos, então, vós e eu, promover em nós mesmos - sem dependermos
de nenhuma influência exterior, de nenhuma persuasão, sem nenhum medo de
punição - poderemos promover em nossa própria essência uma revolução
total, uma mutação psicológica, para que não sejamos mais brutais,
violentos, competidores, ansiosos, medrosos, ávidos, invejosos - enfim,
todas as manifestações de nossa natureza que formaram a sociedade
corrompida em que vivemos nossa vida de cada dia?
Importa compreender desde já que não estou formulando nenhuma
filosofia ou estrutura de ideias ou conceitos teológicos. Todas as
ideologias se me afiguram totalmente absurdas. O importante não é uma
filosofia da vida, porém que observemos o que realmente está ocorrendo
em nossa vida diária, interior e exteriormente. Se observardes muito
atentamente o que se está passando, se o examinardes, vereis que tudo se
baseia num conceito intelectual. Mas o intelecto não constitui o campo
total da existência; ele é um fragmento, e todo fragmento, por mais
engenhosamente ajustado, por mais antigo e tradicional que seja,
continua a ser uma parte insignificante da existência, e nós temos que nos
interessar pela totalidade da vida.
Quando consideramos o que está
ocorrendo no mundo, começamos a compreender que não há processo exterior
nem processo interior; há só um processo unitário, um movimento
integral, total, sendo que o movimento interior se expressa
exteriormente, e o movimento exterior, por sua vez, reage ao interior.
Ser capaz de olhar esse fato - eis o que é necessário, só isso; porque,
se sabemos olhar, tudo se torna claríssimo. O ato de olhar não requer
nenhuma filosofia, nenhum instrutor. Ninguém precisa ensinar-vos como olhar. Olhais, simplesmente. Assim, vendo todo esse quadro, vendo-o não verbalmente porém
realmente, podeis transformar-vos, natural e espontaneamente? Esse é que
é o verdadeiro problema. Será possível promover uma revolução completa
na psique?
Eu gostaria de saber qual é a vossa reação a uma pergunta dessas.
Direis, porventura: "Não desejo mudar" - e a maioria das pessoas não o
deseja, principalmente aqueles que se acham em relativa segurança,
social e economicamente, ou que conservam crenças dogmáticas e se
satisfazem em aceitar a si próprios e às coisas tais como são ou em
forma ligeiramente modificada. Tais pessoas não nos interessam. Ou
talvez digais, mais sutilmente: "Ora, isso é dificílimo, está fora do
meu alcance". Nesse caso, já fechastes o caminho, já cessastes de
investigar e será completamente inútil prosseguir. Ou, ainda, direis:
"Percebo a necessidade de uma transformação interior, fundamental, em
mim mesmo, mas como empreendê-la? Peço-vos me mostreis o caminho, me
ajudeis a alcançá-la". Se assim falardes, então o que vos interessa não é
a transformação em si, não estais realmente interessado numa revolução
fundamental: estais, meramente, a buscar um método, um sistema capaz de
efetuar a mudança.
Se fôssemos tão sem juízo que vos déssemos um sistema, e vós tão sem
juízo que o seguísseis, estaríeis meramente a copiar, a imitar, a
ajustar-vos, a aceitar, e, fazendo tal coisa, teríeis estabelecido em
vós mesmo a autoridade de outrem, do que resultaria conflito entre vós e
essa autoridade. Pensais que deveis fazer tal e tal coisa porque vo-la
mandaram fazer e, no entanto, sois incapaz de fazê-la. Tendes vossas
peculiares inclinações, tendências e pressões, que colidem com o sistema
que julgais dever seguir e, por conseguinte, existe uma contradição.
Levareis, assim, uma vida dupla, entre a ideologia do sistema e a
realidade de vossa existência diária. No esforço para ajustar-vos à
ideologia, recalcais a vós mesmo e, no entanto, o que é realmente
verdadeiro não é a ideologia, porém aquilo que sois. Se tentardes
estudar-vos de acordo com outrem, permanecereis sempre um ente humano
sem originalidade.
J.Krishnamurti
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