A ORIGEM DO UNIVERSO
Os antigos sábios ensinavam
que o universo estava em perpétuo movimento e que este movimento
tinha uma forma rotatória. Iam mais longe, declarando que, do mesmo
modo como é impossível dizer onde começa ou acaba um círculo, não
se pode indicar onde começa o cosmo, nem onde acaba.
Eis porque, a fim de
representar ao mesmo tempo a construção do mundo, o incessante
escoamento das coisas, sem começo nem fim, eles empregavam o símbolo
da suástica, que é uma forma de roda. Seus raios em cruz
representam o eixo polar atravessado pelo equador, e sua rotação
traduz o fato de que a terra é dinâmica, não matéria inerte.
A ciência escrutou a matéria
sólida e constatou que ela é, praticamente, cava. O vazio da
substância material é fantasticamente imenso quando o comparamos às
dimensões dos elétrons que se movem perpetuamente no interior. O
que vale dizer que o solo que pisamos é quase inteiramente espaço
vazio.
Ao nosso sentido do tato, ele
é entretanto firme, compacto, imóvel e impenetrável. É uma ilusão
devida, evidentemente, às limitações extremamente estreitas deste
sentido.
A nova ciência declara que os
átomos não constituem a última palavra, nem a matéria a
substância última. Os átomos foram penetrados, descobriu-se que
eram ondas. Mas ondas de quê? Certamente não de matéria, mas de
energia. Um conjunto de processos dinâmicos substitui o bloco antigo
de matéria inerte.
A cosmologia do ensino oculto
diz que o universo é algo sem começo nem fim. Nunca houve momento
em que não existisse, de modo latente ou manifestado. O mundo não
resulta de um ato de criação repentina, mas de um processo de
manifestação gradual.
Sendo o Universo um grande
pensamento, e não uma grande coisa, é posto em existência pela
Mente Universal, que o tira de si mesma, de sua própria substância
mental e não de uma substância estranha como é a matéria,
conforme supõem os materialistas, sejam científicos, religiosos ou
metafísicos.
A crença de que Deus num
repente criou o mundo – o que daria aos corpos celestes uma mesma
idade – não é, pois, aceitável. Seria mais razoável crer, de
acordo com o ensino oculto, que o universo nunca teve começo nem
terá fim. É o corpo de Deus, se desejarmos usar este termo do qual
tanto se tem abusado; um corpo que se basta a si mesmo e contém
todas suas criaturas em evolução perpétua.
Nada existe por si mesmo; tudo
que existe hoje é conseqüência indireta de numerosas causas que se
estendem como cadeia sem fim, através do passado sem começo.
O Universo é, pois, tão
velho e tão eterno como a própria Mente Universal. É uma idéia, e
é apesar disso, sem começo e sem fim. A criação não começa e
não acaba em parte alguma. Não existe lugar nem momento em que se
possa situar a causa primeira ou o efeito final.
Quão caprichosa é a
concepção do Universo que pretende marcar uma data à criação!
Tal data variará unicamente em função do capricho de seu autor que
construirá a teoria da criação que mais lhe agradar.
Considerado pelo exterior, o
Universo sai do nada e volta ao nada. Mas considerado pelo interior,
sempre teve, no plano de fundo, uma realidade eterna e oculta. Essa
realidade é o Espírito Universal. O mundo nada mais é que sua
manifestação, ele projeto o mundo como sua idéia. O mundo é sua
projeção.
O Espírito Universal é
imanente em todo o Universo. Este brotou de sua meditação
construtiva, mas de modo ordenado, sob forma moldada por suas
próprias impressões mentais, conservadas na memória, por antigo
estado de existência ativa.
A incessante procissão de
imagens, representando sóis, estrelas, terras, mares, todas as
coisas visíveis, emana do Espírito Universal conforme uma lei
kármica, misteriosa e imutável, como a água que se escoa de uma
fonte ininterrupta.
O cosmo é contínuo e seu
passado é sem começo. Porém, intervalos de não existência
interrompem periodicamente sua história. Esses intervalos, no
entanto, são temporários. Não há rupturas reais de existência,
mas rupturas aparentes quando esta existência se torna latente.
Cada aparecimento sucessivo do
Universo, que se manifesta de novo, resulta inevitavelmente daquele
que anteriormente se conservou em estado latente.
Quando todos os karmas
coletivos de todos os centros individuais e planetários se cansam e
se esgotam, um ciclo da história do Universo se fecha. O Universo
manifestado se retira então e o Espírito Universal repousa. Mas a
aurora cósmica tem uma nova imaginação de todas as coisas.
Quando os karmas anteriores se
põem a germinar e a reproduzir-se, novo ciclo começa, o mundo
visível volta à existência, herdando tudo o que se achava no mundo
precedente. O Universo atual não é o primeiro que se manifestou e
não será o último. Somente nesse sentido o Universo é
indestrutível.
O Universo sofre uma evolução
que se efetua estritamente segundo a lei kármica e não por mero
acaso, como pensam os materialistas, nem sob as ordens arbitrárias
de um criador pessoal, como crêem os religiosos.
Se uma nebulosa cósmica se
desenvolve em sistemas solares, estes se dissolvem de novo em
nebulosa. O Universo das formas volta sem cessar ao ponto de partida;
é sem começo, sem fim. Eis porque ele está sujeito ao nascimento e
à morte, à degeneração e à refloração, isto é, a mudar
constantemente.
É semelhante a uma roda
virando eternamente e passando séculos de atividade e de repouso
alternativos. Aí está porque os antigos o representavam sob a
imagem de uma suástica em movimento.
Paul Brunton
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