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quarta-feira, 15 de junho de 2016

A ORIGEM DO UNIVERSO
 
Os antigos sábios ensinavam que o universo estava em perpétuo movimento e que este movimento tinha uma forma rotatória. Iam mais longe, declarando que, do mesmo modo como é impossível dizer onde começa ou acaba um círculo, não se pode indicar onde começa o cosmo, nem onde acaba.
 
Eis porque, a fim de representar ao mesmo tempo a construção do mundo, o incessante escoamento das coisas, sem começo nem fim, eles empregavam o símbolo da suástica, que é uma forma de roda. Seus raios em cruz representam o eixo polar atravessado pelo equador, e sua rotação traduz o fato de que a terra é dinâmica, não matéria inerte.
 
A ciência escrutou a matéria sólida e constatou que ela é, praticamente, cava. O vazio da substância material é fantasticamente imenso quando o comparamos às dimensões dos elétrons que se movem perpetuamente no interior. O que vale dizer que o solo que pisamos é quase inteiramente espaço vazio.
 
Ao nosso sentido do tato, ele é entretanto firme, compacto, imóvel e impenetrável. É uma ilusão devida, evidentemente, às limitações extremamente estreitas deste sentido.
 
A nova ciência declara que os átomos não constituem a última palavra, nem a matéria a substância última. Os átomos foram penetrados, descobriu-se que eram ondas. Mas ondas de quê? Certamente não de matéria, mas de energia. Um conjunto de processos dinâmicos substitui o bloco antigo de matéria inerte.
 
A cosmologia do ensino oculto diz que o universo é algo sem começo nem fim. Nunca houve momento em que não existisse, de modo latente ou manifestado. O mundo não resulta de um ato de criação repentina, mas de um processo de manifestação gradual.
 
Sendo o Universo um grande pensamento, e não uma grande coisa, é posto em existência pela Mente Universal, que o tira de si mesma, de sua própria substância mental e não de uma substância estranha como é a matéria, conforme supõem os materialistas, sejam científicos, religiosos ou metafísicos.
 
A crença de que Deus num repente criou o mundo – o que daria aos corpos celestes uma mesma idade – não é, pois, aceitável. Seria mais razoável crer, de acordo com o ensino oculto, que o universo nunca teve começo nem terá fim. É o corpo de Deus, se desejarmos usar este termo do qual tanto se tem abusado; um corpo que se basta a si mesmo e contém todas suas criaturas em evolução perpétua.
 
Nada existe por si mesmo; tudo que existe hoje é conseqüência indireta de numerosas causas que se estendem como cadeia sem fim, através do passado sem começo.
 
O Universo é, pois, tão velho e tão eterno como a própria Mente Universal. É uma idéia, e é apesar disso, sem começo e sem fim. A criação não começa e não acaba em parte alguma. Não existe lugar nem momento em que se possa situar a causa primeira ou o efeito final.
 
Quão caprichosa é a concepção do Universo que pretende marcar uma data à criação! Tal data variará unicamente em função do capricho de seu autor que construirá a teoria da criação que mais lhe agradar.
 
Considerado pelo exterior, o Universo sai do nada e volta ao nada. Mas considerado pelo interior, sempre teve, no plano de fundo, uma realidade eterna e oculta. Essa realidade é o Espírito Universal. O mundo nada mais é que sua manifestação, ele projeto o mundo como sua idéia. O mundo é sua projeção.
 
O Espírito Universal é imanente em todo o Universo. Este brotou de sua meditação construtiva, mas de modo ordenado, sob forma moldada por suas próprias impressões mentais, conservadas na memória, por antigo estado de existência ativa.
 
A incessante procissão de imagens, representando sóis, estrelas, terras, mares, todas as coisas visíveis, emana do Espírito Universal conforme uma lei kármica, misteriosa e imutável, como a água que se escoa de uma fonte ininterrupta.
 
O cosmo é contínuo e seu passado é sem começo. Porém, intervalos de não existência interrompem periodicamente sua história. Esses intervalos, no entanto, são temporários. Não há rupturas reais de existência, mas rupturas aparentes quando esta existência se torna latente.
 
Cada aparecimento sucessivo do Universo, que se manifesta de novo, resulta inevitavelmente daquele que anteriormente se conservou em estado latente.
 
Quando todos os karmas coletivos de todos os centros individuais e planetários se cansam e se esgotam, um ciclo da história do Universo se fecha. O Universo manifestado se retira então e o Espírito Universal repousa. Mas a aurora cósmica tem uma nova imaginação de todas as coisas.
 
Quando os karmas anteriores se põem a germinar e a reproduzir-se, novo ciclo começa, o mundo visível volta à existência, herdando tudo o que se achava no mundo precedente. O Universo atual não é o primeiro que se manifestou e não será o último. Somente nesse sentido o Universo é indestrutível.
 
O Universo sofre uma evolução que se efetua estritamente segundo a lei kármica e não por mero acaso, como pensam os materialistas, nem sob as ordens arbitrárias de um criador pessoal, como crêem os religiosos.
 
Se uma nebulosa cósmica se desenvolve em sistemas solares, estes se dissolvem de novo em nebulosa. O Universo das formas volta sem cessar ao ponto de partida; é sem começo, sem fim. Eis porque ele está sujeito ao nascimento e à morte, à degeneração e à refloração, isto é, a mudar constantemente.
 
É semelhante a uma roda virando eternamente e passando séculos de atividade e de repouso alternativos. Aí está porque os antigos o representavam sob a imagem de uma suástica em movimento.


Paul Brunton

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