EM BUSCA DE UMA CONSCIÊNCIA
DE FIRMEZA UNITÁRIA
Frustração é esta uma das palavras e
coisas mais frequentes no mundo de hoje, sobretudo no mundo feminino.
Fulana se sente frustrada sexualmente; sicrana sofre de frustração
emocional; beltrano é vítima de frustração existencial.
FRUSTRUM — não nos esqueçamos — é a palavra latina para a "PEDAÇO",
"FRAGMENTO". De maneira que "frustrado" quer dizer literalmente
DESPEDAÇADO", "FRAGMENTADO". E é exatamente isto o que acontece às
pessoas frustradas: perderam o SENSO DE INTEIREZA, da INTEGRIDADE, da
UNIDADE INTERIOR. E, como toda felicidade é, em última análise, uma
SENSAÇÃO DE INTEIREZA, uma CONSCIÊNCIA DE FIRMEZA UNITÁRIA, não pode a
falta dessa inteireza
deixar de se revelar como infelicidade.
Todo senso de frustração produz infelicidade. A pessoa frustrada, desunida, fragmentada, é necessariamente uma pessoa infeliz.
A abolição dessa infelicidade, NASCIDA DA FRAGMENTAÇÃO, só pode ser
feita por meio duma REINTEGRAÇÃO na CONSCIÊNCIA DE INTEIREZA,
de unidade
do SER e da VIDA.
Quando uma pessoa se sente frustrada, costuma atribuir esse estado a
algo das zonas das suas circunstâncias; daí a ideia de frustração
sexual, emocional, ou outra frustração na ZONA DO EGO. por via de regra,
porém, essa frustração REFLETIDA nas circunstâncias externas tem a sua
RAIZ PROFUNDA na substância interna, provém de uma FRUSTRAÇÃO
EXISTENCIAL.
Onda NÃO HÁ SÓLIDA REALIZAÇÃO EXISTENCIAL, facilmente surgem esses
sintomas de frustração sexual, emocional, social e outras. E então as
pessoas assim frustradas tentam reprimir os sintomas imediatos desse
estado desagradável e se ESQUECEM DE IR À RAIZ PROFUNDA DO MAL ESTAR.
Na imensa maioria dos casos, a frustração periférica do ego tem sua
VERDADEIRA RAIZ numa frustração central do EU; a frustração externa não é
senão um sintoma mórbido duma frustração interna. É a própria
existência HUMANA como tal que se acha ABALADA, COMPROMETIDA, FRUSTRADA,
e não apenas a existencialidade masculina, feminina, sexual, emocional,
social, etc. Está em jogo um ESFACELAMENTO FUNDAMENTAL DA
INDIVIDUALIDADE HUMANA DO EU PROFUNDO, e não apenas uma camada externa
da personalidade superficial. Em pelo menos 90 casos sobre 100, a cura
da frustração existencial cura qualquer outra frustração, ou, pelo
menos, lança a base para essa cura.
Pergunta-se: em que consiste essa frustração existencial?
A pessoa assim frustrada não vê mais nenhuma razão-de-ser satisfatória
na vida humana; não sabe por que vive, trabalha e sofre, está diante de
um caos, dum absurdo, dum vácuo existencial. E, embora não cometa talvez
suicídio, a sua vida é um permanente suicídio lento, em prestações,
porque é uma interminável agonia. Essa pessoa vive sempre numa atitude
de escapismo, de vontade de fugir, num ambiente de negativismo e
niilismo. A vida não tem sentido algum. Para que viver, se essa própria
vivência é um NON-SENS, uma permanente insensatez, um fragrante
contra-senso?
Antigamente, quando a humanidade vivia num ambiente infantil de fé, de
olhos fechados, obediente a uma autoridade dogmática externa, o problema
da frustração dificilmente assumia esse aspecto agudo de hoje. No tempo
medieval, a pessoa ia ter com seu confessor ou diretor espiritual, e
esse lhe mostrava que a vida terrestre não tem nenhum sentido em si, mas
tem uma razão de ser em virtude de algo que vem depois da morte, num
mundo futuro e distante, no qual o homem deve crer; mostrava ao
frustrado que o centro gravitacional da vida humana não se acha no
aquém, mas sim, no além; que os sofrimentos da vida, aqui na terra, são
um meio de realização após-morte. Possivelmente, o diretor espiritual
mostrava ao seu dirigido que, quanto mais o homem sofre na vida
terrestre, tanto maior garantia tem para a sua plena realização na vida
futura.
Esta ATITUDE DA HUMANIDADE MEDIEVAL funcionava como uma válvula de
segurança e preservava o homem de uma explosão catastrófica. Sofrer era
bom. Nenhum sofrimento equivalia a uma verdadeira frustração, porque
favorecia a realização existencial, num mundo futuro.
Hoje em dia, grande parte da humanidade ultrapassou essa faze infantil
do além-nismo e está em plena adolescência mental, embora LONGE DE SUA
MATURIDADE ESPIRITUAL. O homem de hoje é muito mais aquém-nista do que
além-nista; quer ver uma razão de ser no PRESENTE, e não apenas no
futuro; quer viver AQUI E AGORA, e não apenas esperar por uma vida ACOLÁ
e AMANHÃ.
A terapia para essa doença de frustração existencial dos nossos dias
deve, pois, consistir num SENSO DE REALIZAÇÃO EXISTENCIAL PRESENTE; o
homem devia poder sentir a realização existencial aqui e agora, em pleno
aquém. A pessoa frustrada deve encontrar a desfrustração, reintegração,
senso de inteireza e integridade, na vida terrestre; deve ter a
consciência de ter entrado em órbita, de ter encontrado O SEU VERDADEIRO
CENTRO DE GRAVITAÇÃO na vida presente. Sem essa realização existencial
não pode haver abolição de outras frustrações.
Huberto Rohden
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