Translate

sexta-feira, 3 de junho de 2016

EM BUSCA DE UMA CONSCIÊNCIA
 DE FIRMEZA UNITÁRIA

Frustração é esta uma das palavras e coisas mais frequentes no mundo de hoje, sobretudo no mundo feminino. Fulana se sente frustrada sexualmente; sicrana sofre de frustração emocional; beltrano é vítima de frustração existencial.

FRUSTRUM — não nos esqueçamos — é a palavra latina para a "PEDAÇO", "FRAGMENTO". De maneira que "frustrado" quer dizer literalmente DESPEDAÇADO", "FRAGMENTADO". E é exatamente isto o que acontece às pessoas frustradas: perderam o SENSO DE INTEIREZA, da INTEGRIDADE, da UNIDADE INTERIOR. E, como toda felicidade é, em última análise, uma SENSAÇÃO DE INTEIREZA, uma CONSCIÊNCIA DE FIRMEZA UNITÁRIA, não pode a falta dessa inteireza 
deixar de se revelar como infelicidade.

Todo senso de frustração produz infelicidade. A pessoa frustrada, desunida, fragmentada, é necessariamente uma pessoa infeliz.

A abolição dessa infelicidade, NASCIDA DA FRAGMENTAÇÃO, só pode ser feita por meio duma REINTEGRAÇÃO na CONSCIÊNCIA DE INTEIREZA, 
de unidade do SER e da VIDA.

Quando uma pessoa se sente frustrada, costuma atribuir esse estado a algo das zonas das suas circunstâncias; daí a ideia de frustração sexual, emocional, ou outra frustração na ZONA DO EGO. por via de regra, porém, essa frustração REFLETIDA nas circunstâncias externas tem a sua RAIZ PROFUNDA na substância interna, provém de uma FRUSTRAÇÃO EXISTENCIAL.

Onda NÃO HÁ SÓLIDA REALIZAÇÃO EXISTENCIAL, facilmente surgem esses sintomas de frustração sexual, emocional, social e outras. E então as pessoas assim frustradas tentam reprimir os sintomas imediatos desse estado desagradável e se ESQUECEM DE IR À RAIZ PROFUNDA DO MAL ESTAR.

 
Na imensa maioria dos casos, a frustração periférica do ego tem sua VERDADEIRA RAIZ numa frustração central do EU; a frustração externa não é senão um sintoma mórbido duma frustração interna. É a própria existência HUMANA como tal que se acha ABALADA, COMPROMETIDA, FRUSTRADA, e não apenas a existencialidade masculina, feminina, sexual, emocional, social, etc. Está em jogo um ESFACELAMENTO FUNDAMENTAL DA INDIVIDUALIDADE HUMANA DO EU PROFUNDO, e não apenas uma camada externa da personalidade superficial. Em pelo menos 90 casos sobre 100, a cura da frustração existencial cura qualquer outra frustração, ou, pelo menos, lança a base para essa cura.
 
 
Pergunta-se: em que consiste essa frustração existencial?

 
A pessoa assim frustrada não vê mais nenhuma razão-de-ser satisfatória na vida humana; não sabe por que vive, trabalha e sofre, está diante de um caos, dum absurdo, dum vácuo existencial. E, embora não cometa talvez suicídio, a sua vida é um permanente suicídio lento, em prestações, porque é uma interminável agonia. Essa pessoa vive sempre numa atitude de escapismo, de vontade de fugir, num ambiente de negativismo e niilismo. A vida não tem sentido algum. Para que viver, se essa própria vivência é um NON-SENS, uma permanente insensatez, um fragrante contra-senso?
 
Antigamente, quando a humanidade vivia num ambiente infantil de fé, de olhos fechados, obediente a uma autoridade dogmática externa, o problema da frustração dificilmente assumia esse aspecto agudo de hoje. No tempo medieval, a pessoa ia ter com seu confessor ou diretor espiritual, e esse lhe mostrava que a vida terrestre não tem nenhum sentido em si, mas tem uma razão de ser em virtude de algo que vem depois da morte, num mundo futuro e distante, no qual o homem deve crer; mostrava ao frustrado que o centro gravitacional da vida humana não se acha no aquém, mas sim, no além; que os sofrimentos da vida, aqui na terra, são um meio de realização após-morte. Possivelmente, o diretor espiritual mostrava ao seu dirigido que, quanto mais o homem sofre na vida terrestre, tanto maior garantia tem para a sua plena realização na vida futura.
 
Esta ATITUDE DA HUMANIDADE MEDIEVAL funcionava como uma válvula de segurança e preservava o homem de uma explosão catastrófica. Sofrer era bom. Nenhum sofrimento equivalia a uma verdadeira frustração, porque favorecia a realização existencial, num mundo futuro.
 
Hoje em dia, grande parte da humanidade ultrapassou essa faze infantil do além-nismo e está em plena adolescência mental, embora LONGE DE SUA MATURIDADE ESPIRITUAL. O homem de hoje é muito mais aquém-nista do que além-nista; quer ver uma razão de ser no PRESENTE, e não apenas no futuro; quer viver AQUI E AGORA, e não apenas esperar por uma vida ACOLÁ e AMANHÃ.
 
A terapia para essa doença de frustração existencial dos nossos dias deve, pois, consistir num SENSO DE REALIZAÇÃO EXISTENCIAL PRESENTE; o homem devia poder sentir a realização existencial aqui e agora, em pleno aquém. A pessoa frustrada deve encontrar a desfrustração, reintegração, senso de inteireza e integridade, na vida terrestre; deve ter a consciência de ter entrado em órbita, de ter encontrado O SEU VERDADEIRO CENTRO DE GRAVITAÇÃO na vida presente. Sem essa realização existencial não pode haver abolição de outras frustrações.

 
 
 
Huberto Rohden

Nenhum comentário:

Postar um comentário