Translate

sábado, 30 de abril de 2016

ZORBA O BUDA
Parte II
 
Zorba o Buda é a mais rica possibilidade. Ele viverá a sua natureza ao seu máximo. Ele cantará canções desta terra.
 
Ele não trairá a terra e também não trairá o céu. Ele reivindicará tudo o que a terra tem - todas as flores, todos os prazeres - e também reivindicará todas as estrelas do céu. Ele reivindicará a existência inteira como seu lar.
 
O homem do passado era pobre porque ele dividia a existência; o novo homem, meu rebelde, Zorba o Buda, reivindica o mundo inteiro como seu lar. Tudo o que ele contém é para nós e temos que usá-lo de todas as formas possíveis - sem culpa, sem conflito, sem escolha. Sem escolher, desfrute tudo o que a matéria é capaz de oferecer, e aprecie tudo o que a consciência é capaz de oferecer.
 
Seja um Zorba, mas não pare aí.
 
Continue movendo-se para tomar-se um Buda. Zorba é a metade, Buda é a metade.
 
Existe uma história antiga. Em uma floresta, perto de uma cidade moravam dois mendigos. Obviamente eles eram inimigos um do outro, como todos os profissionais são - dois médicos, dois professores, dois santos. Um era cego e o outro era aleijado, e ambos eram muito competitivos; o dia inteiro eles estavam competindo entre si na cidade.
 
Mas uma noite seus casebres pegaram fogo, porque toda a floresta estava em chamas. O cego podia sair correndo, mas ele não podia ver para onde correr, ele não podia ver aonde o fogo não havia se espalhado ainda. O aleijado podia ver que ainda havia possibilidades de escapar do fogo, mas ele não podia correr - o fogo estava muito forte, muito selvagem - assim, o aleijado podia apenas ver sua morte se aproximando.
 
Ambos compreenderam que precisavam um do outro. O aleijado teve uma repentina compreensão: "O outro homem pode correr, o cego pode correr e eu posso ver". Eles esqueceram toda a sua competição. Em um momento tão crítico, quando ambos estão encarando a morte, necessariamente se esquece toda a estúpida inimizade.
 
Eles criaram uma grande síntese; eles concordaram que o cego carregaria o aleijado em seus ombros e eles funcionariam como um único homem - o aleijado pode ver e o cego pode correr. Eles salvaram suas vidas. E porque cada um salvou a vida do outro, eles se tomaram amigos; pela primeira vez deixaram de lado seu antagonismo.
 
Zorba é cego - ele não pode ver, mas ele pode dançar, pode cantar, pode celebrar. O Buda pode ver, mas ele pode somente ver. Ele é pura visão apenas claridade e percepção - mas ele não pode dançar, está aleijado; não pode cantar, não pode celebrar.
 
Está na hora. O mundo está pegando fogo; a vida de todos está em perigo. O encontro de Zorba e Buda pode salvar a humanidade inteira. Este encontro é a única esperança.
 
Buda pode contribuir com consciência, claridade, olhos para ver além, olhos para ver aquilo que é quase invisível. Zorba pode dar todo o seu ser à visão de Buda - e não a deixe permanecer apenas uma visão seca, mas faça-a um estilo de vida dançante, celebrativo, extático.
 
O embaixador de Sri Lanka escreveu uma carta para mim dizendo que eu deveria parar de usar as palavras "Zorba o Buda"... porque Sri Lanka é um país budista. Ele disse: "É uma ofensa aos nossos sentimentos religiosos esta sua mistura de estranhas pessoas, Zorba e Buda".
 
Eu escrevi a ele: "Talvez você não entenda o fato de que Buda não é propriedade pessoal de ninguém, e Buda não é necessariamente o Gautama Buda que vocês têm adorado por milhares de anos em seus templos. Buda simplesmente significa "o acordado". É um adjetivo; não é um nome pessoal. Jesus pode ser chamado o Buda; Mahavira era chamado, nas escrituras jainas, o Buda; Lao Tzu pode ser chamado um Buda - qualquer um que seja iluminado é um Buda. A palavra Buda simplesmente significa "o acordado". Ora, acordar não é propriedade de ninguém; todos que podem dormir, podem também acordar. Isso é natural, lógico, consequente - se você é capaz de dormir, você é capaz de acordar. Zorba está dormindo; portanto ele tem a capacidade de estar acordado. Assim, por favor, não fique desnecessariamente enraivecido, furioso. Eu não estou falando sobre o seu Gautama Buda; eu estou falando sobre a pura qualidade de estar acordado. Eu o estou usando somente como um símbolo".
 
Zorba o Buda simplesmente significa um novo nome para um novo ser humano, um novo nome para uma nova era, um novo nome para um novo começo.
 
Ele não respondeu. Até mesmo as pessoas que possuem postos de embaixadores são completamente ignorantes, estúpidas. Ele pensou que estava escrevendo uma carta muito significativa para mim, sem ao menos entender o significado de Buda. Buda não era o nome de Gautama. Seu nome era Gautama Sidarta. Buda não era o seu nome - o nome dado por seus pais era Gautama Sidarta. Sidarta era o seu nome, Gautama era o seu sobrenome. Ele é chamado de Buda porque despertou; de outra forma, ele era também um Zorba. Qualquer um que não esteja acordado é um Zorba.
 
Zorba é um personagem fictício, um homem que acreditava nos prazeres do corpo, nos prazeres dos sentidos. Ele desfrutava a vida ao seu máximo, sem se preocupar com o que iria acontecer a ele na próxima vida - se iria para o céu ou seria jogado no inferno. Ele era um pobre servente; seu patrão era muito rico, mas muito sério - com a cara amarrada, muito britânico.
 
Em uma noite de lua cheia... Eu não sou capaz de esquecer o que ele disse ao seu patrão. Ele estava em sua cabana; foi para fora, com o seu violão estava indo dançar na praia - e convidou o patrão. Ele disse: "Patrão, somente uma coisa está errada em você - você pensa demais. Vamos! Esta não é hora de pensar; a lua está cheia, e todo o oceano está dançando. Não perca este desafio".
 
Ele arrastou o patrão pelo braço. Seu patrão tentou resistir, porque Zorba era absolutamente maluco, ele costumava dançar na praia todas as noites! O patrão estava sentindo-se embaraçado - e se alguém chegar e ver que ele está acompanhando Zorba? E Zorba não estava somente convidando seu patrão a ficar ao seu lado; ele estava convidando-o a dançar!
 
Vendo a lua cheia, e o oceano dançando, e as ondas, e Zorba cantando com seu violão, subitamente o patrão começou a sentir uma energia em suas pernas que nunca havia sentido antes. Encorajado e persuadido, finalmente ele entrou na dança, a princípio relutantemente, olhando em volta, mas não havia ninguém na praia no meio da noite. Então ele esqueceu tudo sobre o mundo e começou - tornou-se um com Zorba-o-dançarino, e o Oceano-o-dançarino, e a Lua-a-dançarina. Tudo se desvaneceu. Tudo se tomou uma dança.
 
Zorba é um personagem fictício e Buda é um adjetivo para qualquer um que abandone seu sono e se tome acordado. Nenhum budista precisa se sentir ferido.
 
Eu estou dando a Buda a energia para dançar, e eu estou dando a Zorba os olhos para ver, além dos céus, os longínquos destinos da existência e da evolução.
 
Meu rebelde não é outro senão Zorba o Buda.
 
 
 
Osho, em "O Rebelde: O Verdadeiro Sal da Terra"
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário