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segunda-feira, 11 de abril de 2016

A RESPEITABILIDADE 
É UMA MALDIÇÃO

A respeitabilidade é uma maldição; é um “mal” que corrói a mente e o coração. Infiltra-se sorrateiramente na pessoa e destrói o amor. Ser respeitável é se sentir bem-sucedido, criar para si mesmo uma posição no mundo, construir em torno de si um muro de segurança, da autoconfiança que vem junto com o dinheiro, o poder, o sucesso, a capacidade ou a virtude. Esse exclusivismo da autoconfiança resulta em ódio e antagonismo nos relacionamentos humanos, que são a sociedade. 

Os respeitáveis são sempre a nata da sociedade, e, portanto, eles são sempre a causa de discórdias e miséria. Os respeitáveis, como os desprezados, estão sempre à mercê das circunstâncias; as influências do ambiente e o peso da tradição são extremamente importantes para eles, pois isso esconde sua pobreza interior. Os respeitáveis estão na defensiva, assustados e desconfiados. O medo está em seus corações, portanto a raiva é sua justiça. Suas virtudes e devoções são sua defesa. Eles são como o tambor, vazio por dentro mas barulhento quando golpeado. Os respeitáveis jamais podem estar abertos à realidade, pois, como os desprezados, eles estão presos na preocupação com seu próprio aprimoramento. A felicidade é negada a eles, que evitam a verdade.
 
"Um ente humano respeitável nenhuma possibilidade tem de aproximar-se daquela infinita, imensurável realidade."
 
"Seriamente observado, a "respeitabilidade social" é como uma maldição, é um “mal” que corrói a mente e o coração, se tratando de elemento que possa servir ao ser humano na "perspicácia da atenção sobre si mesmo", pois valorizada culturalmente distorce e desvirtua o "conhecer a si mesmo" nas relações. A respeitabilidade rasteja sobre a pessoa desavisadamente e destrói o amor."
 
A maioria de nós aspira à satisfação de ocupar certa posição na sociedade, porque temos medo de ser ninguém. A sociedade é formada de tal modo que o cidadão que ocupa posição respeitável é tratado com toda cortesia. Esse anseio de posição, de prestígio, de poder, de ser reconhecido pela sociedade como pessoa de destaque, representa desejo de dominar os outros, e esse desejo de domínio é uma forma de agressão. E qual é a causa dessa agressividade? O medo, não? 
 
Todos nós, velhos e jovens, desejamos ser altamente respeitáveis.  Respeitabilidade implica reconhecimento por parte da sociedade; e a sociedade só reconhece o que teve êxito, o que se tornou importante, famoso, e despreza o resto. Por isso adoramos o êxito e a respeitabilidade. E quando pouco vos importa se a sociedade vos considera respeitável ou não, quando não buscais êxito, não desejais tornar-vos alguém, existe então intensidade – e isso significa que não existe medo, nem conflito, nem contradição, interiormente; por conseguinte, dispondes de abundante energia para acompanhardes o fato “até o fim”.
 
Sabem o que a palavra “respeitabilidade” significa? Vocês são respeitáveis quando são considerados pela maioria. E o que a maioria das pessoas respeita? Respeitam as coisas que elas mesmas desejam e que projetaram como meta ou ideal. Se você é rico e poderoso, ou tem grande reputação política, ou escreveu livros de sucesso, você é respeitado pela maioria. O que você diz pode até ser um completo disparate, mas, quando você fala, as pessoas ouvem porque o consideram um grande homem. E quando você, dessa forma, conquistou o respeito da maioria, o fato de a multidão o seguir, dá-lhe uma sensação de respeitabilidade. Mas o chamado pecador está mais próximo de Deus do que o homem respeitável, porquanto o respeitável está coberto de hipocrisia. 
 
Um dos empecilhos ao viver criador é o medo, e a respeitabilidade constitui manifestação desse medo. Os indivíduos respeitáveis, moralmente agrilhoados, não conhecem o integral e verdadeiro significado da vida. Estão encerrados dentro dos muros da sua virtude, nada podem enxergar além deles.
 
A respeitabilidade é um flagelo, um mal que corrói a mente e o coração. Insinua-se furtivamente; destrói o amor. Ser respeitável é sentir-se vitorioso, é talhar para si mesmo uma posição no mundo, construir em torno de si uma muralha de segurança, daquela segurança que vem com o dinheiro, o poder, o sucesso, e a capacidade ou a virtude. Este isolamento arrogante gera ódios e antagonismos nas relações humanas que constituem a sociedade.

Os homens respeitáveis são sempre a nata da sociedade, e, como tais, causadores de conflitos e sofrimentos. Estão sempre na defensiva, cheios de medo e de suspeitas. O medo habita-lhes os corações, e por isso a indignação é sua virtude. A virtude e a piedade são suas defesas.  Os homens respeitáveis nunca podem estar abertos para a Realidade. A felicidade lhes é negada porque evitam a Verdade.

 
Jiddu Krishnamurti
 
 
 
 
Ainda não tinha observado a 'respeitabilidade' através dessa ótica de Krishnamurti. Realmente somos capazes de ser muito severos para ser respeitados. O respeito é uma necessidade. Precisamos que nos respeitem; custe o que custar. Essa condição suga toda a bondade, o amor, a harmonia, etc. que temos em potencial. Não conseguimos ser um ser 'total', pois estamos consumidos pela respeitabilidade. Se não pudermos ver a vida através da imparcialidade seremos sempre uma mera fração. KyraKally

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