M A T R I X
Uma breve visão do filme Matrix
pela ótica dos textos de Krishnamurti
SOBRE AS GRADES DA MATRIX
Comecemos este capítulo com trecho do diálogo inicial entre Morfeu
e Neo:
Morfeu: Sei exatamente o que quer dizer. Vou te dizer por que está aqui. Você
sabe de algo. Não consegue explicar o quê. Mas você sente. Você sentiu a vida
inteira: há algo errado com o mundo. Você não sabe o que, mas há. Como um
zunido na sua cabeça te enlouquecendo. Foi esse sentimento que te trouxe até
mim. Você sabe do que estou falando?
Neo: Da Matrix?
Morfeu: Você deseja saber o que ela é? Matrix está em todo lugar. À nossa
volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela ou
quando liga a sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho, quando
vai à igreja, quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos
seus olhos para que você não visse a verdade.
Neo: Que verdade?
Morfeu: Que você
é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão
que não consegue sentir ou tocar. Uma prisão para a sua mente. Infelizmente, é
impossível dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si mesmo. Esta é a
sua última chance. Depois não há como voltar.
Se tomar a pílula azul, a
história acaba, e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar. Se
tomar a pílula vermelha ficará no País das Maravilhas e eu te mostrarei até
onde vai a toca do coelho. Lembre-se:
tudo o que ofereço é a verdade. Nada mais.
O que é a Matrix?... Matrix
representa o conjunto de valores, crenças, regras, sistemas e condicionamentos
que mantém a mente aprisionada, impedindo a liberdade necessária para que
ocorra o despertar da inteligência criativa e amorosa. Matrix é a soma dessa
poderosíssima energia coletiva negativa que nos impulsiona a esquecer nossa
própria liberdade e nos ajustarmos a essa disfuncional e limitante escala de
valores.
A Matrix não quer de forma alguma que pensemos com inteligência, não quer que sejamos livres para descobrir as coisas, por nós mesmos, porque então seríamos cidadãos perigosos, uma vez que não mais nos ajustaríamos à estabelecida rede de pensamentos condicionados. Observe a explicação dada ao Neo por Morfeu, sobre o que é a Matrix:
Morfeu: O que é a
Matrix?... Controle. A Matrix é um mundo de sonhos gerado por um computador,
feito para nos controlar para transformar o ser humano numa pilha (algo
descartável)...
Neo: Não. Eu
não acredito. Não é possível.
Morfeu: Eu não
disse que seria fácil, Neo. Eu só disse que seria a verdade.
Neo: Pare. Deixe-me sair!
Deixe-me sair! Eu quero sair!
Somente se formos livres, tendo inteligência, é que faremos algo que seja totalmente nosso, que agiremos como um ser humano portador de unidade interna, portanto, integrado. Liberdade significa liberdade em todos os níveis, completamente; e, pensar em conformidade com determinada direção não é de forma alguma liberdade. Liberdade significa usar os olhos pela primeira vez e ver a vida pelo nosso olhar.
Por isso, é muito importante que sejamos livres, não só no nível
consciente, mas também profundamente no interior. Isto quer dizer que temos de
permanecer vigilantes sobre o que se passa em nosso interior, cada vez mais
conscientes das influências que procuram nos controlar e nos dominar; quer
dizer, nunca
aceitar
nada irrefletidamente, mas sempre contestar, investigar e estar em estado de
profunda e inteligente revolta – revolta no sentido de “voltar” ao nosso estado
original não condicionado. Esse estado de revolta não tem relação alguma com
uma ação de inconsequente anarquismo.
Só podemos ser livres e
experimentar a vida em toda a sua totalidade quando nossa mente não está mais
aprisionada pela visão alheia. A maioria de nós vive dentro de uma prisão, num
mundo preso por idéias, pela dualidade do certo e errado estipulado por
terceiros ou por nós mesmos. Vivemos presos pelo que as pessoas dizem, o que os
lideres religiosos dizem, o que os meios de comunicação e governo dizem, pelo
que é dito pela tradição. Tudo isso forma o tipo de prisão em que vivemos; e,
vivendo nesse enquadramento, dizemos que somos pessoas livres.
O filme Matrix nos levanta duas importantes questões:
Somos realmente indivíduos livres?
Pode um homem ser
livre enquanto vive dentro de uma prisão, por mais colorida e espaçosa que esta
seja?
Portanto, é preciso quebras as aprisionadoras paredes da tradição com seu colorido opaco e descobrir, por nós mesmos, o que é real, o que é verdadeiro. Precisamos experimentar e descobrir, por nós mesmos, e não meramente seguir o que qualquer líder diz, por mais coerente, nobre, bom e emocionante que possa ser esse líder, e por mais feliz que possamos nos sentir em sua presença.
O filme Matrix nos mostra que o importante é ser capaz de examinar, e não simplesmente aceitar todos as coisas que as pessoas têm dito que são boas, benéficas e interessantes. Pois, no momento em que irrefletidamente aceitamos, começamos a nos conformar, a nos amoldar, a imitar; e conformismo, imitação e amoldamento não podem tornar ninguém livre e feliz.
A Matrix, com sua rede de pensamento condicionado nos diz que o homem
precisa ser disciplinado para que seja funcional. A disciplina em nome da
funcionabilidade é imposta tanto por terceiros como por nós mesmos que
aceitamos essa “funcionabilidade disfuncional”. Mas, o que realmente importa é
ser livre para pensar, para questionar, de modo que comecemos a fazer
descobertas por nós mesmos. Infelizmente, a maioria de nós não quer saber de
pensar, de descobrir por si; preferem continuar pensando dentro dos moldes
limitantes da tradição e, por isso, vivem num perene estado de mente fechada.
É muito difícil pensar por si mesmo com profundidade, penetrar as
coisas e descobrir o que é verdadeiro; isso requer percepção alerta, constante
questionamento, e a maioria de nós não possui a inclinação e nem a energia
necessária para isso. A maioria prefere recorrer aos dizeres de outra pessoa a
quem imputam o veneno da respeitabilidade.
Portanto, é de
extrema urgência, sermos livres para descobrir as coisas e não estarmos
aprisionados pelas grades do faça
e não-faça; pois se nos disserem constantemente o que devemos
ou não fazer, como poderemos despertar para a presença da inteligência criativa
amorosa?
O filme Matrix nos mostra que a inteligência só se manifesta
quando se é livre para questionar, para pensar e para descobrir, de modo que a
mente se torne bem ativa, alerta e esclarecida, capaz de ser uma luz para si
mesma. Só assim seremos um indivíduo plenamente integrado e não uma entidade
fragmentada pelos seus medos, dúvidas, descrenças e inseguranças que, sem saber
o que fazer, interiormente sente uma coisa e exteriormente se conforma com
outra.
É justamente esse
conformismo que mantém nossa mente aprisionada à rede do pensamento coletivo
condicionado; essa rede que é a Matrix. A inteligência exige que ousemos romper com a
tradição – não intelectualmente, mas holisticamente -, e viver de acordo com as
nossas próprias convicções; mas, se estamos aprisionados pelas idéias dos
nossos familiares a respeito do que devemos ou não fazer e pelas tradições da
sociedade, como poderemos ser um instrumento manifestante dessa inteligência
criativa e amorosa?
Portanto, disciplina e
liberdade são coisas contraditórias; uma está a serviço da perpetuação da
Matrix, enquanto que a outra, a serviço da potencialização do ser humano. A
disciplina, com todos seus medos, impede o florescimento da sensibilidade. A
sensibilidade é destruída quando se é disciplinado, quando se tem medo ou quando se está
excessivamente preocupado consigo mesmo, com o que os outros possam pensar a
nosso respeito. Quando somos insensíveis, nossa mente e coração ficam
aprisionados e, com isso, perdemos a capacidade de contemplar o belo.
Para libertar a mente das grades do conformismo, requer-se uma
grande sensibilidade. Não há liberdade quando se está envolvido em interesses
puramente egoístas ou então, aprisionado por várias paredes de disciplina.
Enquanto nossa vida for um processo de imitação, não poderá haver a
sensibilidade, muito menos liberdade.
O filme Matrix nos aponta para a emergencial necessidade
de se semear a semente da liberdade, que surge com o despertar da inteligência;
pois somente com essa inteligência é que podemos enfrentar todos os problemas
da vida de relação sem a perda de energia desnecessária e com a ação motivada
pela amorosidade que transcende a limitação das palavras.
http://estudomatrix.blogspot.com.br
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