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sexta-feira, 1 de abril de 2016

M A T R I X
 Uma breve visão do filme Matrix
pela ótica dos textos de Krishnamurti

  SOBRE AS GRADES DA MATRIX


 
Comecemos este capítulo com trecho do diálogo inicial entre Morfeu e Neo:
 
Morfeu: Sei exatamente o que quer dizer. Vou te dizer por que está aqui. Você sabe de algo. Não consegue explicar o quê. Mas você sente. Você sentiu a vida inteira: há algo errado com o mundo. Você não sabe o que, mas há. Como um zunido na sua cabeça te enlouquecendo. Foi esse sentimento que te trouxe até mim. Você sabe do que estou falando?


Neo: Da Matrix?
 
Morfeu: Você deseja saber o que ela é? Matrix está em todo lugar. À nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela ou quando liga a sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho, quando vai à igreja, quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para que você não visse a verdade.


Neo: Que verdade?

Morfeu: Que você é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar. Uma prisão para a sua mente. Infelizmente, é impossível dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si mesmo. Esta é a sua última chance. Depois não há como voltar. 

Se tomar a pílula azul, a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha ficará no País das Maravilhas e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se: tudo o que ofereço é a verdade. Nada mais.

O que é a Matrix?... Matrix representa o conjunto de valores, crenças, regras, sistemas e condicionamentos que mantém a mente aprisionada, impedindo a liberdade necessária para que ocorra o despertar da inteligência criativa e amorosa. Matrix é a soma dessa poderosíssima energia coletiva negativa que nos impulsiona a esquecer nossa própria liberdade e nos ajustarmos a essa disfuncional e limitante escala de valores.  
 
A Matrix não quer de forma alguma que pensemos com inteligência, não quer que sejamos livres para descobrir as coisas, por nós mesmos, porque então seríamos cidadãos perigosos, uma vez que não mais nos ajustaríamos à estabelecida rede de pensamentos condicionados. Observe a explicação dada ao Neo por Morfeu, sobre o que é a Matrix:

Morfeu: O que é a Matrix?... Controle. A Matrix é um mundo de sonhos gerado por um computador, feito para nos controlar para transformar o ser humano numa pilha (algo descartável)...
 
Neo: Não. Eu não acredito. Não é possível.
 
Morfeu: Eu não disse que seria fácil, Neo. Eu só disse que seria a verdade.
 
Neo: Pare. Deixe-me sair! Deixe-me sair! Eu quero sair!
 
 
Somente se formos livres, tendo inteligência, é que faremos algo que seja totalmente nosso, que agiremos como um ser humano portador de unidade interna, portanto, integrado. Liberdade significa liberdade em todos os níveis, completamente; e, pensar em conformidade com determinada direção não é de forma alguma liberdade. Liberdade significa usar os olhos pela primeira vez e ver a vida pelo nosso olhar.

Por isso, é muito importante que sejamos livres, não só no nível consciente, mas também profundamente no interior. Isto quer dizer que temos de permanecer vigilantes sobre o que se passa em nosso interior, cada vez mais conscientes das influências que procuram nos controlar e nos dominar; quer dizer, nunca aceitar nada irrefletidamente, mas sempre contestar, investigar e estar em estado de profunda e inteligente revolta – revolta no sentido de “voltar” ao nosso estado original não condicionado. Esse estado de revolta não tem relação alguma com uma ação de inconsequente anarquismo. 

Só podemos ser livres e experimentar a vida em toda a sua totalidade quando nossa mente não está mais aprisionada pela visão alheia. A maioria de nós vive dentro de uma prisão, num mundo preso por idéias, pela dualidade do certo e errado estipulado por terceiros ou por nós mesmos. Vivemos presos pelo que as pessoas dizem, o que os lideres religiosos dizem, o que os meios de comunicação e governo dizem, pelo que é dito pela tradição. Tudo isso forma o tipo de prisão em que vivemos; e, vivendo nesse enquadramento, dizemos que somos pessoas livres.


O filme Matrix nos levanta duas importantes questões:

Somos realmente indivíduos livres?

Pode um homem ser livre enquanto vive dentro de uma prisão, por mais colorida e espaçosa que esta seja? 

Portanto, é preciso quebras as aprisionadoras paredes da tradição com seu colorido opaco e descobrir, por nós mesmos, o que é real, o que é verdadeiro. Precisamos experimentar e descobrir, por nós mesmos, e não meramente seguir o que qualquer líder diz, por mais coerente, nobre, bom e emocionante que possa ser esse líder, e por mais feliz que possamos nos sentir em sua presença.
 
O filme Matrix nos mostra que o importante é ser capaz de examinar, e não simplesmente aceitar todos as coisas que as pessoas têm dito que são boas, benéficas e interessantes. Pois, no momento em que irrefletidamente aceitamos, começamos a nos conformar, a nos amoldar, a imitar; e conformismo, imitação e amoldamento não podem tornar ninguém livre e feliz.

A Matrix, com sua rede de pensamento condicionado nos diz que o homem precisa ser disciplinado para que seja funcional. A disciplina em nome da funcionabilidade é imposta tanto por terceiros como por nós mesmos que aceitamos essa “funcionabilidade disfuncional”. Mas, o que realmente importa é ser livre para pensar, para questionar, de modo que comecemos a fazer descobertas por nós mesmos. Infelizmente, a maioria de nós não quer saber de pensar, de descobrir por si; preferem continuar pensando dentro dos moldes limitantes da tradição e, por isso, vivem num perene estado de mente fechada. 

É muito difícil pensar por si mesmo com profundidade, penetrar as coisas e descobrir o que é verdadeiro; isso requer percepção alerta, constante questionamento, e a maioria de nós não possui a inclinação e nem a energia necessária para isso. A maioria prefere recorrer aos dizeres de outra pessoa a quem imputam o veneno da respeitabilidade.

Portanto, é de extrema urgência, sermos livres para descobrir as coisas e não estarmos aprisionados pelas grades do faça e não-faça; pois se nos disserem constantemente o que devemos ou não fazer, como poderemos despertar para a presença da inteligência criativa amorosa? 

O filme Matrix nos mostra que a inteligência só se manifesta quando se é livre para questionar, para pensar e para descobrir, de modo que a mente se torne bem ativa, alerta e esclarecida, capaz de ser uma luz para si mesma. Só assim seremos um indivíduo plenamente integrado e não uma entidade fragmentada pelos seus medos, dúvidas, descrenças e inseguranças que, sem saber o que fazer, interiormente sente uma coisa e exteriormente se conforma com outra.

É justamente esse conformismo que mantém nossa mente aprisionada à rede do pensamento coletivo condicionado; essa rede que é a Matrix. A inteligência exige que ousemos romper com a tradição – não intelectualmente, mas holisticamente -, e viver de acordo com as nossas próprias convicções; mas, se estamos aprisionados pelas idéias dos nossos familiares a respeito do que devemos ou não fazer e pelas tradições da sociedade, como poderemos ser um instrumento manifestante dessa inteligência criativa e amorosa? 

Portanto, disciplina e liberdade são coisas contraditórias; uma está a serviço da perpetuação da Matrix, enquanto que a outra, a serviço da potencialização do ser humano. A disciplina, com todos seus medos, impede o florescimento da sensibilidade. A sensibilidade é destruída quando se é disciplinado, quando se tem medo ou quando se está excessivamente preocupado consigo mesmo, com o que os outros possam pensar a nosso respeito. Quando somos insensíveis, nossa mente e coração ficam aprisionados e, com isso, perdemos a capacidade de contemplar o belo.

Para libertar a mente das grades do conformismo, requer-se uma grande sensibilidade. Não há liberdade quando se está envolvido em interesses puramente egoístas ou então, aprisionado por várias paredes de disciplina. Enquanto nossa vida for um processo de imitação, não poderá haver a sensibilidade, muito menos liberdade.
 
O filme Matrix nos aponta para a emergencial necessidade de se semear a semente da liberdade, que surge com o despertar da inteligência; pois somente com essa inteligência é que podemos enfrentar todos os problemas da vida de relação sem a perda de energia desnecessária e com a ação motivada pela amorosidade que transcende a limitação das palavras.
 
 
 http://estudomatrix.blogspot.com.br
 

 

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