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sexta-feira, 22 de abril de 2016

POR QUE MINHA MENTE 
VAGUEIA?

Minha mente vagueia. Por que? Quero pensar num quadro, numa frase, numa ideia, numa imagem, e, quando estou pensando vejo que minha mente fugiu para a estrada de ferro ou para alguma coisa que aconteceu ontem. 

O primeiro pensamento foi-se, e outro lhe tomou o lugar. Por isso, examino cada pensamento que surge. Isso é inteligente, não acham? Façam esforços para fixar o pensamento nalguma coisa. Por que fixá-lo? Se vocês se interessam pelo pensamento que surge, ele lhes revela o seu significado. 

O divagar da mente não é distração — não lhe deem nenhum nome. Sigam a divagação, a distração, averiguem porque foi que a mente divagou; sigam-na, penetrai-a a fundo. Compreendida completamente uma determinada distração, ela se extingue. Se surge outra, sigam-na também. A mente é constituída de inúmeras exigências e desejos; e quando vocês os compreendem, ela é capaz de um percebimento em que não há conclusão de nada. 

Concentração é exclusão, resistência a alguma coisa. Tal concentração é a mesma coisa que colocar antolhos — é evidentemente inútil, não conduz à realidade. Quando uma criança tem interesse num brinquedo, não há distração...

Toda concentração é exclusiva. Nessa exclusão concentrada, nada pode penetrar o desejo de vocês serem alguma coisa. Assim, a concentração, por tantos praticada, é a negação da verdadeira meditação. Meditação é o começo do autoconhecimento, e sem autoconhecimento não podemos meditar. Sem autoconhecimento de nada vale a meditação de vocês, não passa de uma fuga romântica. 

A concentração é um processo de exclusão, não pode abrir a porta àquele estado mental no qual não há resistência. Se resistem ao seu filho, não podem compreendê-lo. Vocês devem estar abertos para todas as suas excentricidades, todos os seus caprichos. Analogamente, para compreender a vocês mesmos, devem estar atentos a cada movimento da mente, a cada pensamento que surge. Todo pensamento que aparece implica algum interesse  —  não o condenem chamando-o de distração: sigam-no de maneira completa. 

Vocês desejam se concentrar no que está sendo dito e a mente de vocês foge para o que um amigo disse ontem à noite. A esse conflito vocês chamam de distração. Por isso dizem: “Ajude-me a aprender a concentração, a fixar a minha mente numa só coisa”. Mas, se compreenderem o que causa a distração, não haverá necessidade de tentarem se concentrar: tudo o que fizerem será concentração. O problema, portanto, não é a divagação, mas porque a mente divaga. 

Quando a mente vagueia para longe do que se está dizendo significa que vocês não estão interessados no que está sendo dito. Se vocês tem interesse, não estão distraídos. Vocês pensam que devem se interessar por um retrato, por uma ideia, por uma conferência, mas o interesse de vocês não está nisso; por essa razão a mente vagueia em todos os sentidos. 

Por que vocês não reconhecem que não tem interesse deixando a mente divagar? Quando não há interesse é um desperdício de energia fixar a mente, pois isso só cria um conflito entre o que pensam que deveria ser e o que existe realmente. É o mesmo que um automóvel rodando com os freios ligados. É fútil essa concentração. É uma exclusão, um empurrar para o lado.

 Por que não reconhecer logo a distração? Ela é um fato. Quando a mente fica tranquila, depois de resolvidos todos os problemas, ela se assemelha a um lago de águas serenas, no qual vocês podem se ver claramente. Não está ela tranquila quando presa na rede dos problemas, porque, então, recorrem à repressão. 

Quando a mente segue e compreende todos os pensamentos, não há distração, ela está serena. Só em liberdade pode a mente estar silenciosa, não na camada superficial, mas inteiramente. Quando está livre de todos os valores, da perseguição de suas próprias projeções, não há mais distração; e só então surge a realidade.





Krishnamurti






Muito interessante essa visão do autor. Tem muita amplitude, pois podemos praticá-la em vários aspectos de nossas vidas. Acreditava que podia concentrar a mente de acordo com a própria vontade e sempre foi bastante complicado e demorado esse processo. Mente e pensamento trabalham em conjunto, então o que foi colocado em primeiro lugar necessita ser resolvido nessa sequência, mesmo que não tenhamos consciência disso. Atender as necessidades alheias antes das nossas nos permite mais tranquilidade, mesmo que não compreendamos isso. Ouvir o outro, mesmo que não tenhamos interesse no que dizem, é uma questão de respeito ao próximo, isso nos leva bem perto da energia do Amor-Sabedoria. "Uma mente perturbada está sempre ativa, saltitando daqui para lá, sendo difícil de controlar; mas a mente disciplinada é tranquila; portanto, é bom ter sempre a mente sob controle. Seu pior inimigo não pode lhe causar tantos danos como seus próprios pensamentos. Nem seu pai, nem sua mãe, nem seu amigo mais querido podem ajudar tanto como sua própria mente disciplinada". (Buda) Só há uma maneira de trazer a mente sob controle; sigamos, pois, essa afirmação de um grande Chefe indígena: "Evite machucar o coração das pessoas. O veneno da dor causado a outros retornará a você. Seja sincero e verdadeiro em todas as situações. A honestidade é um grande teste para a nossa herança do universo".  KyraKally

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