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sexta-feira, 29 de abril de 2016

ZORBA, O BUDA
 Parte I


Meu rebelde, meu novo homem, é Zorba o Buda. A humanidade tem acreditado ou na realidade da alma e no ilusionismo da matéria, ou na realidade da matéria e no ilusionismo da alma. Você pode dividir a humanidade do passado em espiritualistas e materialistas.Mas ninguém se preocupou em olhar para a realidade do homem. Ele é ambos, simultaneamente.

Mas ninguém se preocupou em olhar para a realidade do homem. Ele é ambos, simultaneamente. Ele não é apenas espiritualidade - ele não é apenas consciência - nem é apenas matéria. Ele é uma tremenda harmonia entre matéria e consciência. Ou talvez a matéria e a consciência não sejam duas coisas, mas somente dois aspectos de uma realidade: matéria é o exterior da consciência e consciência é a interioridade da matéria.

Mas não houve um único filósofo, sábio ou místico religioso do passado que tenha declarado essa unidade; todos eles estavam a favor de dividir o homem, chamando um lado de real e o outro lado de irreal. Isso tem criado uma atmosfera esquizofrênica em todo o planeta.

Você não pode viver apenas como um corpo. Isso é o que Jesus quer dizer quando declara: "Nem só de pão vive o homem" - mas essa é somente meia verdade. Você não pode viver apenas como consciência; você não pode viver sem o pão. Você tem duas dimensões em seu ser e ambas as dimensões devem ser satisfeitas, devem receber iguais oportunidades de crescimento. Mas o passado tem sido ou a favor de uma e contra a outra, ou a favor da outra e contra a primeira.

O homem não tem sido aceito como uma totalidade.

Isso tem criado infelicidade, angústia e uma tremenda escuridão, uma noite que tem durado milhares de anos, que parece não ter fim. Se você escuta o corpo, você se condena; se você não escuta o corpo, você sofre fica faminto, fica pobre, fica sedento. Se você escutar somente a consciência, o seu crescimento será desigual; sua consciência crescerá, mas seu corpo definhará e o equilíbrio será perdido. E no equilíbrio está a sua saúde, no equilíbrio está a sua totalidade, no equilíbrio está a sua alegria, está a sua canção, está a sua dança.

O Ocidente escolheu escutar o corpo, e tornou-se completamente surdo em relação à realidade da consciência. O resultado final é uma ciência notável, uma tecnologia notável, uma sociedade afluente, uma riqueza nas coisas mundanas; e no meio de toda esta abundância, um homem pobre, sem uma alma, completamente perdido - não sabendo quem ele é, não sabendo porque ele é, sentindo-se quase como um acidente ou um capricho da natureza.

A menos que a consciência cresça com a riqueza do mundo material, o corpo - a matéria - torna-se pesado demais e a alma torna-se fraca demais. Você está demasiadamente oprimido pelas suas próprias invenções, pelas suas próprias descobertas. Ao invés de criarem uma bela vida para você, elas criam uma vida que é sentida, por toda a intelligentsia do Ocidente, como indigna de ser vivida.

O Oriente escolheu a consciência, e tem condenado a matéria e tudo que seja material - inclusive o corpo - como "maya", como ilusório, como uma miragem em um deserto, a qual tem apenas aparência, mas que não tem realidade em si mesma. O Oriente criou um Gautama Buda, um Mahavira, um Patanjali, um Kabir, um Farid, um Raidas - uma longa linha de pessoas com grande consciência, com grande sabedoria. Mas também criou milhões de pessoas pobres, famintas, em inanição, morrendo como cachorros - sem comida suficiente, sem água para beber, sem roupas suficientes, sem abrigos suficientes.

Uma situação estranha... No Ocidente, a cada seis meses eles têm que jogar produtos lácteos e outros alimentos no oceano, no valor de bilhões e bilhões de dólares, em virtude da superprodução - e eles não querem superlotar seus depósitos, não querem baixar seus preços e destruir sua estrutura econômica. Por um lado, mil pessoas estavam morrendo por dia na Etiópia, e ao mesmo tempo o Mercado Comum Europeu estava destruindo tanta comida que o custo desta destruição era de dois bilhões de dólares. Esse não é o preço do alimento, mas sim o preço de levá-lo e jogá-lo no oceano. Quem é responsável por essa situação?

O homem mais rico do Ocidente está procurando por sua alma e se sente vazio, sem nenhum amor, somente cobiça; sem nenhuma oração, somente repetindo como papagaio palavras que lhe foram ensinadas nas escolas dominicais. Sem nenhuma religiosidade - sem sentimentos para com outros seres humanos, sem reverência pela vida, pelos pássaros, pelas árvores, pelos animais - a destruição é muito fácil.

Hiroshima e Nagasaki não teriam acontecido se o homem não fosse concebido apenas como matéria. Tantas armas nucleares não teriam sido armazenadas se o homem fosse concebido como um Deus oculto, um esplendor oculto, não para ser destruído, mas para ser descoberto; não para ser destruído, mas para ser trazido à luz - um templo de Deus. Mas se o homem é apenas matéria, apenas química, física, um esqueleto coberto de pele, então, com a morte tudo morre, nada permanece. E por isso que se torna possível para um Adolf Hitler matar seis milhões de pessoas, sem hesitação. Se as pessoas são apenas matéria, não há porque pensar duas vezes.

O Ocidente perdeu sua alma, sua interioridade. Cercado por insignificâncias, pelo tédio, pela angústia, ele não está se encontrando. Todo o sucesso da ciência tem provado ser inútil, porque a casa está cheia de tudo, mas o dono da casa está faltando.

Aqui no Oriente, o dono está vivo, mas a casa está vazia. É difícil estar alegre com os estômagos vazios, com os corpos doentes, com a morte à sua volta; é impossível meditar. Assim, temos sido desnecessariamente perdedores. Todos nossos santos e todos nossos filósofos - espiritualistas e materialistas, ambos - são responsáveis por esse imenso crime contra o ser humano.

Zorba, o Buda é a resposta.

Ele é a síntese da matéria e da alma.

Ele é uma declaração de que não existe conflito entre a matéria e a consciência, de que podemos ser ricos em ambos os sentidos: podemos ter tudo que o mundo pode oferecer, que a ciência e a tecnologia podem produzir, e ainda podemos ter tudo que um Buda, um Kabir, um Nanak encontra em seu ser interior - as flores do êxtase, a fragrância da divindade, as asas da liberdade suprema.

Zorba o Buda é o novo homem, é o rebelde.
Sua rebelião consiste em destruir a esquizofrenia do homem, destruir a divisão - destruir a espiritualidade como contrária ao materialismo e destruir o materialismo como contrário à espiritualidade.

Ele é um manifesto de que o corpo e a alma estão juntos, de que a existência está repleta de espiritualidade, de que até mesmo as montanhas estão vivas, de que até mesmo as árvores são sensitivas, de que a existência inteira é ambas... ou talvez uma única energia expressando-se de duas maneiras - como matéria e como consciência. Quando a energia está purificada, ela se expressa como consciência; quando a energia está crua, não purificada, densa, ela se manifesta como matéria. Mas a existência inteira nada mais é do que um campo de energia.

Essa é a minha experiência - não minha filosofia. E isso é confirmado pela física moderna e suas pesquisas: a existência é energia.

Podemos permitir ao homem ter os dois mundos, simultaneamente. Ele não precisa renunciar a este mundo para obter o outro, tampouco ele tem que negar o outro mundo para usufruir deste. Na verdade, ter somente um mundo, sendo você capaz de ter ambos, é ser desnecessariamente pobre.


 Osho, em "O Rebelde: O Verdadeiro Sal da Terra"

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