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segunda-feira, 4 de abril de 2016

M A T R I X - III

Uma breve visão do filme Matrix

Pela ótica dos textos de Krishnamurti

 

 

SOBRE A BUSCA DA VERDADE

 

Segundo Arthur Schopenhauer, toda verdade passa por três estágios: primeiro ela é ridicularizada. Segundo ela é violentamente combatida. Terceiro, é aceita como sendo auto-evidente.

O filme Matrix é uma grande metáfora da busca do homem pelo encontro com a Verdade, com o eterno, o atemporal. Isso fica claro na cena em que Morfeu conversa com Neo, antes de lhe oferecer a pílula vermelha. Vejamos o diálogo:

Morfeu: Eu imagino que você esteja se sentindo um pouco como a Alice. Entrando pela toca do coelho.
 
Neo: Você tem razão.

 
Morfeu: Eu vejo nos seus olhos. Você têm o olhar de um homem que aceita o que vê porque está esperando acordar. Ironicamente não deixa de ser verdade. Você acredita em destino, Neo?
 
Neo: Não.
 
Morfeu: Por que não?

Morfeu: Sei exatamente o que quer dizer. Vou te dizer por que está aqui. Você sabe de algo. Não consegue explicar o quê. Mas você sente. Você sentiu a vida inteira: há algo errado com o mundo. Você não sabe o que, mas há. Como um zunido na sua cabeça te enlouquecendo. Foi esse sentimento que te trouxe até mim. Você sabe do que estou falando? 



Neo: Da Matrix?
 
Morfeu: Você deseja saber o que ela é?
 
Neo: Sim.




Morfeu: A Matrix está em todo lugar. À nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela ou quando liga a sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho, quando vai à igreja, quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para que você não visse a verdade.
 
Neo: Que verdade?


Morfeu: Que você é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar. Uma prisão para a sua mente. Infelizmente, é impossível dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si mesmo. Esta é a sua última chance. Depois não há como voltar. Se tomar a pílula azul, a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando no que quiser acreditar. 


Se tomar a pílula vermelha ficará no País das Maravilhas e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se: tudo o que ofereço é a verdade. Nada mais.

(Neo escolhe a pílula vermelha e a engole sob o olhar realizado de Morfeu)



A importância da honestidade emocional
Nesta cena, Matrix nos mostra que só os indivíduos amadurecidos encontrarão a Verdade. Aquele que alcançou a maturidade psicológica não segue caminho algum, seja o caminho dos adeptos, seja o caminho do saber, da ciência, do devotamento ou da ação. O homem que foi posto num determinado caminho, não está amadurecido e não encontrará, jamais, a Verdade, o Eterno, o atemporal...

 
Aqueles de nós que estão seguindo determinados caminhos, tem interesses adquiridos, interesses mentais, emocionais e físicos, e esta é a razão porque achamos tão difícil o amadurecer; como será possível para nós abandonar aquilo a que estamos apegados há cinquenta ou sessenta anos?... Mas, nós nos entregamos a uma organização, da qual somos presidente, secretário ou simples membro... O homem que se entregou a um determinado caminho ou norma de ação está preso a sistemas e programas, e não encontrará a Verdade. Através da parte nunca se encontra o todo. Através de uma estreita fenda da janela, não podemos ver o céu, o céu maravilhoso e brilhante, e só pode ver com clareza o céu o homem que está de fora, longe de todos os caminhos, de todas as tradições, e nesse homem há esperanças...

Algumas pessoas frequentam várias instituições em busca da verdade. No entanto, a verdade não está lá; o que está lá é a fantasia, e a verdade não é uma fantasia. A verdade está onde estamos. Não em alguma instituição, mas onde estamos. A verdade é o que estamos fazendo, como estamos nos comportando.

Todo aquele que deseja descobrir a verdade, o real, o eterno, se faz necessário que abandone todos os livros, sistemas, "gurus", pois aquilo que deseja achar só se achará quando compreender a si próprio. É a Verdade que liberta; não o meio, ou o sistema. 

É preciso ter a percepção visceral de que a mente é um empecilho para a descoberta da verdade. Mas ela é um fenomenal instrumento de criação depois que ela já foi colocada devidamente em seu lugar, depois que ela já foi transcendida e, portanto, é usada apenas como um instrumento com sua função própria, que é de criar, refletir, representar e relacionar no seu nível e em níveis inferiores. A verdade, O Desconhecido que a transcende e que é eternamente novo; enquanto isto não acontece, o que ela faz é viajar, macaquear, imitar, submeter ou ser submetida por outras mentes mais ou menos poderosas, mas igualmente medíocres e limitadas como ela.

Se queremos saber o que é a Verdade, temos que ser "impiedosos" conosco mesmo e viver no "verdadeiro estado de investigação". A menos que nos investiguemos profundamente, em vosso interior, não temos a possibilidade de descobrir o que é verdadeiro. Ninguém pode nos levar a esse descobrimento - ninguém! - e, por consequência, nenhum sistema. A verdade não é uma coisa estática, que fica à nossa espera, enquanto seguimos um sistema uniforme, enquanto praticamos dia a dia um certo método, enquanto aprimoramos a nossa mente e o nosso coração para alcançar aquele estado a que chamamos "a verdade". A Verdade não espera por nós!

De nada adianta procurar por um caminho, um método. Não há métodos nem caminho para a verdade. Ao invés de procurar por um caminho, precisamos nos tornar conscientes dos obstáculos. O percebimento não é apenas intelectual; é simultaneamente mental e emocional; é a plenitude da ação. Então, nessa chama de percebimento, todos esses obstáculos se desmoronam porque os penetramos. Então podemos perceber diretamente, sem escolha, aquilo que é verdadeiro. A nossa ação será assim oriunda da plenitude e não da insuficiência da segurança; e nessa plenitude, nessa harmonia da mente e do coração, está a realização da Verdade, do eterno.

 

 estudomatrix.blogspot

 

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