M A T R I X - III
Uma breve visão do filme Matrix
Pela ótica dos textos de Krishnamurti
SOBRE A BUSCA DA VERDADE
Segundo Arthur
Schopenhauer, toda verdade passa por três estágios: primeiro ela é
ridicularizada. Segundo ela é violentamente combatida. Terceiro, é aceita como
sendo auto-evidente.
O filme Matrix é uma grande metáfora da busca do homem pelo
encontro com a Verdade, com o eterno, o atemporal. Isso fica claro na cena em
que Morfeu conversa com Neo, antes de lhe oferecer a pílula vermelha. Vejamos o
diálogo:
Morfeu: Eu
imagino que você esteja se sentindo um pouco como a Alice. Entrando pela toca
do coelho.
Neo: Você tem razão.
Morfeu: Eu vejo
nos seus olhos. Você têm o olhar de um homem que aceita o que vê porque está
esperando acordar. Ironicamente não deixa de ser verdade. Você acredita em
destino, Neo?
Neo: Não.
Morfeu: Por que não?
Morfeu: Sei exatamente o que quer dizer. Vou te dizer por que está aqui. Você
sabe de algo. Não consegue explicar o quê. Mas você sente. Você sentiu a vida
inteira: há algo errado com o mundo. Você não sabe o que, mas há. Como um
zunido na sua cabeça te enlouquecendo. Foi esse sentimento que te trouxe até
mim. Você sabe do que estou falando?
Neo: Da Matrix?
Morfeu: Você deseja saber o que
ela é?
Neo: Sim.
Morfeu: A Matrix está em todo
lugar. À nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela
janela ou quando liga a sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho,
quando vai à igreja, quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado
diante dos seus olhos para
que você não visse a verdade.
Neo: Que verdade?
Morfeu: Que você é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro,
nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar. Uma prisão para a sua mente.
Infelizmente, é impossível dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si
mesmo. Esta é a sua última chance. Depois não há como voltar. Se tomar a pílula
azul, a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando no que
quiser acreditar.
Se tomar a pílula vermelha ficará no País das Maravilhas e eu te
mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se: tudo o que ofereço é a verdade. Nada
mais.
(Neo escolhe a pílula vermelha e a engole sob o olhar realizado de Morfeu)
A importância da honestidade emocional |
Nesta cena, Matrix nos
mostra que só os indivíduos amadurecidos encontrarão a Verdade. Aquele que
alcançou a maturidade psicológica não segue caminho algum, seja o caminho dos
adeptos, seja o caminho do saber, da ciência, do devotamento ou da ação. O
homem que foi posto num determinado caminho, não está amadurecido e não
encontrará, jamais, a Verdade, o Eterno, o atemporal...
Aqueles de nós que estão seguindo determinados caminhos, tem
interesses adquiridos, interesses mentais, emocionais e físicos, e esta é a
razão porque achamos tão difícil o amadurecer; como será possível para nós
abandonar aquilo a que estamos apegados há cinquenta ou sessenta anos?... Mas,
nós nos entregamos a uma organização, da qual somos presidente, secretário ou
simples membro... O homem que se entregou a um determinado caminho ou norma de
ação está preso a sistemas e programas, e não encontrará a Verdade. Através da
parte nunca se encontra o todo. Através de uma estreita fenda da janela, não
podemos ver o céu, o céu maravilhoso e brilhante, e só pode ver com clareza o
céu o homem que está de fora, longe de todos os caminhos, de todas as
tradições, e nesse homem há esperanças...
Algumas pessoas frequentam várias instituições em busca da verdade. No
entanto, a verdade não está lá; o que está lá é a fantasia, e a verdade não é
uma fantasia. A verdade está
onde estamos. Não em alguma instituição, mas onde estamos. A
verdade é o que estamos fazendo, como estamos nos comportando.
Todo aquele que deseja
descobrir a verdade, o real, o eterno, se faz necessário que abandone todos os
livros, sistemas, "gurus", pois aquilo que deseja achar só se achará
quando compreender a si próprio. É a Verdade que liberta; não o meio, ou o sistema.
É preciso ter a percepção visceral de que a mente é um empecilho
para a descoberta da verdade. Mas ela é um fenomenal instrumento de criação depois
que ela já foi colocada devidamente em seu lugar, depois que ela já foi
transcendida e, portanto, é usada apenas como um instrumento com sua função
própria, que é de criar, refletir, representar e relacionar no seu nível e em
níveis inferiores. A verdade, O Desconhecido que a transcende e que é
eternamente novo; enquanto isto não acontece, o que ela faz é viajar,
macaquear, imitar, submeter ou ser submetida por outras mentes mais ou menos
poderosas, mas igualmente medíocres e limitadas como ela.
Se queremos saber o que é a Verdade, temos que ser
"impiedosos" conosco mesmo e viver no "verdadeiro estado de
investigação". A menos que nos investiguemos profundamente, em vosso
interior, não temos a possibilidade de descobrir o que é verdadeiro. Ninguém
pode nos levar a esse descobrimento - ninguém! - e, por consequência, nenhum
sistema. A verdade não é uma coisa estática, que fica à nossa espera, enquanto
seguimos um sistema uniforme, enquanto praticamos dia a dia um certo método,
enquanto aprimoramos a nossa mente e o nosso coração para alcançar aquele
estado a que chamamos "a verdade". A Verdade não espera por nós!
De nada adianta procurar por um caminho, um método. Não há métodos nem
caminho para a verdade. Ao invés de procurar por um caminho, precisamos nos
tornar conscientes dos obstáculos. O percebimento não é apenas intelectual; é
simultaneamente mental e emocional; é a plenitude da ação. Então, nessa chama
de percebimento, todos esses obstáculos se desmoronam porque os penetramos.
Então podemos perceber diretamente, sem escolha, aquilo que é verdadeiro. A
nossa ação será assim oriunda da plenitude e não da insuficiência da segurança;
e nessa plenitude, nessa harmonia da mente e do coração, está a realização da
Verdade, do eterno.
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