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domingo, 17 de abril de 2016

A MORTE É O FENÔMENO 
MAIS MAL - ENTENDIDO
 Parte III

Seu Estado Existencial Interno É a Morte
 
Tal como está, seu estado existencial interno é a morte. Você pode tentar escondê-lo e você pode tentar ignorá-lo, mas seu estado existencial interno é a morte. A cada momento você é sacudido pela morte; a cada momento a morte está ressoando dentro de você. Seu corpo está viajando rápido em direção à sua morte. Cada momento traz a morte um pouco mais perto, e de todos os lados a morte está vigiando você. Você vê um homem velho e você é lembrado da morte; você vê uma casa demolida e a lembrança da morte se mexe em você; uma flor murcha é suficiente para trazer a fragrância da morte; uma fonte secou – outra vez é a morte olhando para você. Olhe para qualquer lugar. A morte prevalece, e você é abalado por ela.

 
 Por Que Tememos a Morte?
 
Por que nos apegamos à vida e por que temos medo da morte? Você pode não ter pensado nisso. A razão pela qual nos apegamos muito à vida e por que temos medo da morte é simplesmente inconcebível. Nós nos apegamos tanto à vida, porque nós não sabemos como viver. Nós nos apegamos tanto à vida porque verdadeiramente não estamos vivos. E o tempo está passando e a morte está chegando cada vez mais perto. E temos medo da morte estar chegando perto e nós ainda não termos vivido.
 
Este é o medo: a morte virá e nós ainda não vivemos. Estamos apenas nos preparando para viver. Nada está pronto; a vida não aconteceu. Nós não conhecemos o êxtase que a vida é; não conhecemos a bem-aventurança que a vida é; não conhecemos nada. Temos estado apenas inspirando e expirando. Temos estado apenas existindo. A vida tem sido apenas uma esperança e a morte está chegando perto. E se a vida ainda não aconteceu e morte acontece antes dela, é claro, obviamente teremos medo, porque não gostaríamos de morrer.
 
Apenas aquelas pessoas que viveram, viveram de verdade, estão prontas, acolhedoras, receptivas, gratas à morte. Então, a morte não é o inimigo. Então, a morte torna-se a realização.
 

 
 A Vida Está Cercada 
por Ambos os Lados pela Morte
 
O nascimento leva à morte, a morte precede o nascimento. Então, se você quiser ver a vida como ela realmente é, ela está cercada por ambos os lados pela morte. A morte é o começo e a morte é mais uma vez o fim, e a vida é apenas a ilusão intermediária. Você se sente vivo entre duas mortes; a passagem que une uma morte a outra você chama vida. Buda diz que isso não é vida. Esta vida é dukkha - miséria. Esta vida é morte. 
 
É por isso que para nós - que estamos profundamente hipnotizados pela vida, obcecados em estarmos vivos de qualquer maneira – ele parece como negador de vida. Para nós, simplesmente estar vivo parece ser o fim. Temos tanto medo da morte que Buda parece apaixonado pela morte, e isso parece anormal. Ele parece ser suicida. Este é o porquê de muitos terem criticado Buda.
 

 
 Torne-se Consciente da Morte
 
Para mim, o homem significa consciência da morte. Não estou dizendo: torne-se receoso da morte; isso não é consciência. Simplesmente esteja consciente do fato de que a morte está chegando cada vez mais perto e você tem que estar preparado para isso...
 
Então a primeira coisa: torne-se consciente da morte. Pense nisso, olhe para isso, contemple isso. Não tenha medo, não fuja do fato. Ele está lá e você não pode fugir dele! Ele veio à existência com você.
 
Sua morte nasceu com você; agora você não pode fugir disso. Você tem escondido isso em si mesmo – torne-se consciente disso. No momento em que você torna-se consciente que você vai morrer, que a morte é certa, a sua mente total começará a olhar numa dimensão diferente. Então o alimento é uma necessidade básica para o corpo, mas não para o ser, porque mesmo que você obtenha alimento a morte ocorrerá. O alimento não pode proteger você da morte, o alimento pode apenas postergá-la. O alimento pode ajudá-lo a postergar. Se você obtiver uma boa proteção, uma boa casa, isso não o protegerá da morte. Isso apenas o ajudará a morrer convenientemente, confortavelmente. E a morte, se acontecer confortável ou desconfortavelmente, é a mesma.
 
Na vida você pode ser pobre ou rico, mas a morte é o grande equalizador. O maior comunismo está na morte. Como quer que você viva, não faz diferença; a morte acontece igualmente. Na vida, a igualdade é impossível; na morte, desigualdade é impossível. Torne-se consciente disso, contemple isso.
 

 
 É Preciso Passar pela Porta da Morte
 
A morte é mais importante que a vida. A vida é apenas o trivial, apenas o superficial; a morte é mais profunda. Através da morte você cresce para a vida verdadeira, e através da vida você apenas alcança a morte e nada mais.
 
O que quer que digamos ou queiramos dizer por vida é apenas uma jornada em direção à morte. Se você puder compreender que sua vida toda é apenas uma jornada e nada mais, então você está menos interessado na vida e mais interessado na morte. E uma vez que alguém se torna mais interessado na morte, pode ir fundo para as próprias profundezas da vida; caso contrário, vai permanecer apenas na superfície.
 
Mas não estamos interessados na morte absolutamente: pelo contrário, fugimos dos fatos, estamos continuamente fugindo dos fatos. A morte está lá, e a cada momento estamos morrendo. A morte não é algo distante, ela está aqui e agora: estamos morrendo. Mas enquanto estamos morrendo seguimos preocupados com a vida. Essa preocupação com a vida, essa preocupação exagerada com a vida, é apenas uma fuga, apenas um medo. A morte está lá, profundamente dentro – crescendo.
 
Altere a ênfase, vire a sua atenção para o derredor. Se você tornar-se motivado com a morte, sua vida virá a ser revelada pela primeira vez, porque no momento em que você se põe à vontade com a morte, você ganhou uma vida que não pode morrer. No momento em que você conheceu a morte, você conheceu a vida que é eterna.
 
A morte é a porta da vida superficial, a assim chamada vida, o trivial. Há uma porta. Se você passar pela porta você chega a outra vida – mais profunda, eterna, sem morte, imortal. Então da assim chamada vida, que não é nada exceto morrer, tem-se que passar pela porta da morte; somente então alcança-se uma vida que é verdadeiramente existencial e ativa – sem morte nela.
 

 
 Não Há Mentira Maior Que a Morte
 
A primeira coisa que eu gostaria de lhe dizer sobre a morte é que não há mentira maior que a morte. E entretanto, a morte parece ser verdadeira. Não apenas aparenta ser verdadeira mas aparece também como a verdade fundamental da vida – ela aparece como se a totalidade da vida esteja cercada pela morte. Se nos esquecemos disso, ou nos tornamos esquecidos disso, em todo lugar a morte permanece perto de nós. A morte está mais perto de nós até mesmo que nossa própria sombra.
 
Nossas vidas tem sido estruturadas sobre os alicerces de nosso medo da morte. O medo da morte tem criado a sociedade, a nação, família e amigos. O medo da morte tem nos feito correr atrás de dinheiro e nos tem feito ambiciosos de posições mais elevadas. E o mais surpreendente de tudo é que nossos deuses e nossos templos também tem sido erigidos a partir do medo da morte. Receosos da morte, há pessoas que rezam de joelhos. Receosos da morte, há pessoas que rezam para Deus com as mãos postas elevadas em direção ao céu. E nada é mais falso que a morte. É por isso que qualquer que seja o sistema de vida que tenhamos criado, por acreditar que a morte é verdadeira, tudo torna-se falso.
 
Mas como conhecer a falsidade da morte? Como podemos saber que não existe morte? Até sabermos isso, o nosso medo da morte também não passará. Até conhecermos a falsidade da morte, nossas vidas permanecerão falsas. Enquanto houver medo da morte, não pode haver vida autêntica. Enquanto tremermos de medo da morte, não podemos reivindicar a capacidade de viver nossas vidas. Só se pode viver quando a sombra da morte tiver desaparecido para sempre. Como pode uma mente amedrontada e trêmula viver? E quando a morte parece estar se aproximando a cada segundo, como é possível viver? Como podemos viver?


Osho

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