A MORTE É O FENÔMENO
MAIS MAL - ENTENDIDO
MAIS MAL - ENTENDIDO
Parte III
Seu Estado Existencial Interno É a Morte
Tal
como está, seu estado existencial interno é a morte. Você pode tentar
escondê-lo e você pode tentar ignorá-lo, mas seu estado existencial
interno é a morte. A cada momento você é sacudido pela morte; a cada
momento a morte está ressoando dentro de você. Seu corpo está viajando
rápido em direção à sua morte. Cada momento traz a morte um pouco mais
perto, e de todos os lados a morte está vigiando você. Você vê um homem
velho e você é lembrado da morte; você vê uma casa demolida e a
lembrança da morte se mexe em você; uma flor murcha é suficiente para
trazer a fragrância da morte; uma fonte secou – outra vez é a morte
olhando para você. Olhe para qualquer lugar. A morte prevalece, e você é
abalado por ela.
Por Que Tememos a Morte?
Por
que nos apegamos à vida e por que temos medo da morte? Você pode não
ter pensado nisso. A razão pela qual nos apegamos muito à vida e por que
temos medo da morte é simplesmente inconcebível. Nós nos apegamos tanto
à vida, porque nós não sabemos como viver. Nós nos apegamos tanto à
vida porque verdadeiramente não estamos vivos. E o tempo está passando e
a morte está chegando cada vez mais perto. E temos medo da morte estar
chegando perto e nós ainda não termos vivido.
Este
é o medo: a morte virá e nós ainda não vivemos. Estamos apenas nos
preparando para viver. Nada está pronto; a vida não aconteceu. Nós não
conhecemos o êxtase que a vida é; não conhecemos a bem-aventurança que a
vida é; não conhecemos nada. Temos estado apenas inspirando e
expirando. Temos estado apenas existindo. A vida tem sido apenas uma
esperança e a morte está chegando perto. E se a vida ainda não aconteceu
e morte acontece antes dela, é claro, obviamente teremos medo, porque
não gostaríamos de morrer.
Apenas aquelas pessoas
que viveram, viveram de verdade, estão prontas, acolhedoras, receptivas,
gratas à morte. Então, a morte não é o inimigo. Então, a morte torna-se
a realização.
A Vida Está Cercada
por Ambos os Lados pela Morte
O
nascimento leva à morte, a morte precede o nascimento. Então, se você
quiser ver a vida como ela realmente é, ela está cercada por ambos os
lados pela morte. A morte é o começo e a morte é mais uma vez o fim, e a
vida é apenas a ilusão intermediária. Você se sente vivo entre duas
mortes; a passagem que une uma morte a outra você chama vida. Buda diz
que isso não é vida. Esta vida é dukkha - miséria. Esta vida é morte.
É
por isso que para nós - que estamos profundamente hipnotizados pela
vida, obcecados em estarmos vivos de qualquer maneira – ele parece como
negador de vida. Para nós, simplesmente estar vivo parece ser o fim.
Temos tanto medo da morte que Buda parece apaixonado pela morte, e isso
parece anormal. Ele parece ser suicida. Este é o porquê de muitos terem
criticado Buda.
Torne-se Consciente da Morte
Para
mim, o homem significa consciência da morte. Não estou dizendo:
torne-se receoso da morte; isso não é consciência. Simplesmente esteja
consciente do fato de que a morte está chegando cada vez mais perto e
você tem que estar preparado para isso...
Então a
primeira coisa: torne-se consciente da morte. Pense nisso, olhe para
isso, contemple isso. Não tenha medo, não fuja do fato. Ele está lá e
você não pode fugir dele! Ele veio à existência com você.
Sua
morte nasceu com você; agora você não pode fugir disso. Você tem
escondido isso em si mesmo – torne-se consciente disso. No momento em
que você torna-se consciente que você vai morrer, que a morte é certa, a
sua mente total começará a olhar numa dimensão diferente. Então o
alimento é uma necessidade básica para o corpo, mas não para o ser,
porque mesmo que você obtenha alimento a morte ocorrerá. O alimento não
pode proteger você da morte, o alimento pode apenas postergá-la. O
alimento pode ajudá-lo a postergar. Se você obtiver uma boa proteção,
uma boa casa, isso não o protegerá da morte. Isso apenas o ajudará a
morrer convenientemente, confortavelmente. E a morte, se acontecer
confortável ou desconfortavelmente, é a mesma.
Na
vida você pode ser pobre ou rico, mas a morte é o grande equalizador. O
maior comunismo está na morte. Como quer que você viva, não faz
diferença; a morte acontece igualmente. Na vida, a igualdade é
impossível; na morte, desigualdade é impossível. Torne-se consciente
disso, contemple isso.
É Preciso Passar pela Porta da Morte
A
morte é mais importante que a vida. A vida é apenas o trivial, apenas o
superficial; a morte é mais profunda. Através da morte você cresce para
a vida verdadeira, e através da vida você apenas alcança a morte e nada
mais.
O que quer que digamos ou queiramos dizer
por vida é apenas uma jornada em direção à morte. Se você puder
compreender que sua vida toda é apenas uma jornada e nada mais, então
você está menos interessado na vida e mais interessado na morte. E uma
vez que alguém se torna mais interessado na morte, pode ir fundo para as
próprias profundezas da vida; caso contrário, vai permanecer apenas na
superfície.
Mas não estamos interessados na morte
absolutamente: pelo contrário, fugimos dos fatos, estamos continuamente
fugindo dos fatos. A morte está lá, e a cada momento estamos morrendo. A
morte não é algo distante, ela está aqui e agora: estamos morrendo. Mas
enquanto estamos morrendo seguimos preocupados com a vida. Essa
preocupação com a vida, essa preocupação exagerada com a vida, é apenas
uma fuga, apenas um medo. A morte está lá, profundamente dentro –
crescendo.
Altere a ênfase, vire a sua atenção
para o derredor. Se você tornar-se motivado com a morte, sua vida virá a
ser revelada pela primeira vez, porque no momento em que você se põe à
vontade com a morte, você ganhou uma vida que não pode morrer. No
momento em que você conheceu a morte, você conheceu a vida que é eterna.
A
morte é a porta da vida superficial, a assim chamada vida, o trivial.
Há uma porta. Se você passar pela porta você chega a outra vida – mais
profunda, eterna, sem morte, imortal. Então da assim chamada vida, que
não é nada exceto morrer, tem-se que passar pela porta da morte; somente
então alcança-se uma vida que é verdadeiramente existencial e ativa –
sem morte nela.
Não Há Mentira Maior Que a Morte
A
primeira coisa que eu gostaria de lhe dizer sobre a morte é que não há
mentira maior que a morte. E entretanto, a morte parece ser verdadeira.
Não apenas aparenta ser verdadeira mas aparece também como a verdade
fundamental da vida – ela aparece como se a totalidade da vida esteja
cercada pela morte. Se nos esquecemos disso, ou nos tornamos esquecidos
disso, em todo lugar a morte permanece perto de nós. A morte está mais
perto de nós até mesmo que nossa própria sombra.
Nossas
vidas tem sido estruturadas sobre os alicerces de nosso medo da morte. O
medo da morte tem criado a sociedade, a nação, família e amigos. O medo
da morte tem nos feito correr atrás de dinheiro e nos tem feito
ambiciosos de posições mais elevadas. E o mais surpreendente de tudo é
que nossos deuses e nossos templos também tem sido erigidos a partir do
medo da morte. Receosos da morte, há pessoas que rezam de joelhos.
Receosos da morte, há pessoas que rezam para Deus com as mãos postas
elevadas em direção ao céu. E nada é mais falso que a morte. É por isso
que qualquer que seja o sistema de vida que tenhamos criado, por
acreditar que a morte é verdadeira, tudo torna-se falso.
Mas
como conhecer a falsidade da morte? Como podemos saber que não existe
morte? Até sabermos isso, o nosso medo da morte também não passará. Até
conhecermos a falsidade da morte, nossas vidas permanecerão falsas.
Enquanto houver medo da morte, não pode haver vida autêntica. Enquanto
tremermos de medo da morte, não podemos reivindicar a capacidade de
viver nossas vidas. Só se pode viver quando a sombra da morte tiver
desaparecido para sempre. Como pode uma mente amedrontada e trêmula
viver? E quando a morte parece estar se aproximando a cada segundo, como
é possível viver? Como podemos viver?
Osho
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