UMA NOVA CONCEPÇÃO
DE SUPLEMENTO
Suprimento é algo dentro do nosso
próprio ser – e a verdade é que Deus é o nosso ser. Quando alcançamos
Deus como nosso ser, então nada mais temos que fazer senão reconhecê-lo
realmente como tal. Quem tem Deus tem suprimento. Mas o problema central
está precisamente nisto: será que temos Deus? Em teoria e na realidade
todo homem tem Deus – mas nem todos têm a consciência de terem Deus. Se
todos tivessem Deus conscientemente, não haveria no mundo essa penúria e
falta dos bens da vida. De fato, os homens possuem a Deus apenas como
simples possibilidade. Ter Deus, na verdade, é tê-lo com plena
consciência, ser conscientemente unido a Ele, viver conscientemente como
o nosso Eu interior, com a nossa íntima Realidade.
Moisés tinha Deus deste
modo, e por isto, caía maná para ele. Elias tinha Deus conscientemente e
por isto era alimentado no deserto por um corvo, acordava de manhã e
encontrava refeição pronta sobre as pedras. Donde vinha esse alimento?
Do nada – do nada daquilo que era visível e tangível. Essas coisas lhe
vinham de dentro da sua Teo-consciência, vinham de Deus, que aparecia
visivelmente em forma de vida, substância e alimento. Esses homens,
tendo Deus, tinham tudo.
Os homens do mundo se
comprazem em locuções como estas: “Deus providenciará, se Deus quiser”,
“Deus o fará” – e, no entanto, Deus nada faz. Quem faz tudo acontecer é
tão somente a nossa relação consciente com Deus. Finalmente, o homem tem
de chegar a esta compreensão: que ele tem tudo se tem Deus
conscientemente, e não tem nada se não possuir Deus deste modo, embora
pareça possuir muitas coisas. Nada falta, nada é negado àquele que
chegou à conscientização de Deus.
Não há dúvida, dirá alguém,
isto soa muito bem no papel – mas de que modo chegarei a essa
consciência do suprimento, que sem cessar se esquiva de mim?
Voltamos ao nosso ponto de
partida inicial. Sendo que Deus é infinito, nada existe realmente senão
só Deus. Logo, não há outro suprimento senão Deus, a única Realidade. Se
tens a consciência da onipresença de Deus; se Deus te é mais próximo,
em sua onipresença, do que teu próprio fôlego; então fazes jus a uma
plenitude sem limites. Esse jus não é algo que não é razoável (sem
limites), porque o que afirmamos é a presença de Deus em tua íntima
consciência, Deus, a infinita riqueza e plenitude.
Verdade é que não é fácil
para ninguém libertar-se de todas as preocupações, quando não sabe de
onde tirar o dinheiro para o aluguel no fim do mês, para luz, telefone,
ou mesmo para a próxima refeição. Não é nada fácil traduzir na prática o
ensinamento do Mestre: “Não andeis solícitos pela vossa vida, o que
haveis de comer, o que haveis de beber, com que vos haveis de vestir” e,
contudo, um dos passos mais importantes no desenvolvimento da
consciência de suprimento consiste em nos libertarmos de toda e qualquer
preocupação e inquietude, porquanto as formas externas do bem
espiritual são apenas corolários (consequência evidente) e simples
aditamentos (suplementos). Com outras palavras, a tua prosperidade
externa não passa de mero símbolo externo da onipresença do teu
suprimento interno.
Quando o homem deixa de
criar dentro de si essa atitude certa para o suprimento, então também
não terá no bolso os símbolos desse suprimento. Em primeiro lugar, deve
estar presente a consciência disto, e depois seguirão os símbolos
externos. Quando vivemos na permanente consciência da presença de Deus,
onde quer que estejamos; quando reconhecemos que “o lugar onde estamos é
terra sagrada”; quando sabemos que “meu filho, tudo que é meu é teu”,
então não tardarão a aparecer os símbolos externos dessa consciência
interna, na medida em que deles houvermos mister. Esses símbolos podem
variar, de dia para dia; por vezes assumem a forma de dinheiro; em outra
ocasião aparecem como uma promoção, como um emprego, como uma
hospedagem em um hotel; ou assumem a forma de alimento, de roupa, etc.
Seja o que for, o certo é que aparecerão, quando necessários, porque são
símbolos e expressão externa de uma consciência interna.
Repetimos, o suprimento
nunca pode ser percebido pelos sentidos. Suprimento é Deus, suprimento é
espírito, suprimento é a presença do Senhor contigo, suprimento é uma
força vital que atua através de ti.
Quem é dotado de
receptividade espiritual não necessita de outro testemunho desta verdade
senão o aspecto de uma árvore frutífera durante o inverno, quando está
sem frutos, nem ainda brotaram as flores. Será que vais derrubar a
árvore por infrutífera? Por que não a derrubas? Não é alvo de nenhum
cuidado, nenhuma solicitude externa é verificável. Segundo todas as
aparências, essa árvore morreu. Entretanto, tu sabes que não é assim;
sabes que há na árvore uma força vital, que atua através dela, uma
vitalidade, que gera a seiva, que ascende pelo tronco, se difunde nos
ramos, depois se revela como flores e, finalmente, aparece em forma de
frutos. Não te iludes com as aparências, considerando a árvore estéril e
inútil, que não possua reserva vital para os frutos.
Por que não aplicaríamos
esse mesmo princípio à nossa vida e oportunidades, a despeito da
ausência de um suprimento visível, em dado momento? Se viesse um furacão
e arrasasse tudo, nem por isto deixaríamos de estar em “terra sagrada”,
porque a “terra é do Senhor com tudo quanto ela contém”; continuaria a
existir o Eu sou, essa força vital invisível, infinita, toda amor, que
nunca deixaria de atuar em nossa consciência. Mais um pouco de
paciência, e as flores e frutos reaparecerão – em forma de dinheiro ou
quaisquer outras oportunidades da nossa vida.
A única coisa que para isto se requer é o reconhecimento da verdade.
Creiamos ou não creiamos, o
certo é que há uma força vital que atua de dentro, assim como atua
dentro da árvore. Mas, perguntará alguém, por que essa força não se
manifestou ainda? Por que essa interminável luta que mantenho com o
eterno problema da pobreza?
Será, porventura, que a tua
consciência não está afinada pela Realidade Invisível? Será que ainda te
guias pelas coisas visíveis? Será que sempre tentaste, e continuas a
tentar, haurir (consumir a totalidade) a tua subsistência do mundo das
coisas visíveis? Pão e peixe não podem ser multiplicados por nenhum
processo conhecido no mundo das coisas visíveis – tampouco, podes
multiplicar notas de dinheiro. Se alguém tentasse multiplicar cédulas de
dinheiro, dentro em breve estaria na cadeia. Quem deseja ter mais
dinheiro deve proceder à sua multiplicação no mundo invisível. Como
realizar isto? Reconhece e conscientiza que Deus é infinito, e também o
teu suprimento é infinito como o próprio Deus.
E que dizer daqueles que deixam os seus frutos na árvore e não os colhem?
Não tardarão a verificar que
a árvore pode definhar e deixar de produzir frutos: somente quando se
colhem os frutos das árvores e se apanham as flores dos arbustos é que a
força principia o seu processo de multiplicação, brotando com duplicada
vitalidade.
O teu suprimento se tornará
visível somente na medida que amares teu semelhante – distribui amor,
distribui perdão oferece colaboração – mas dá sempre sem jamais esperar
recompensa! Somente um materialista crasso dá para receber em
retribuição. A verdadeira Luz espiritual distribui plenitude de um
coração repleto de dedicação, sem pensar em correspondência. Prêmio –
para que? Deus é o nosso prêmio!
Compreender isto significa
compreender uma das bases mais importantes da cura, à luz da
autorrealização. O estado da tua consciência em face da verdade é que
determina o teu suprimento – não algum Deus, não algum Cristo, não algum
Espírito que habite algures (em alguma parte)! Decisivo é tão somente a
tua consciência, o grau da tua conscientização altamente desenvolvida.
Bem poucos homens vêm ao
mundo com a consciência da verdade plenamente amadurecida. Por via de
regra, é o resultado de uma evolução paulatina. A consciência dos
pescadores que se tornaram discípulos do Cristo passou por uma lenta
evolução. A consciência de Saulo de Tarso desenvolveu-se na consciência
do apóstolo Paulo. Santo Agostinho, quando jovem, estava bem longe de
ser um luzeiro (o que emite luz) espiritual, mas também ele passou para
um estado de consciência desenvolvida.
O segredo está no fato de
ser a fonte do suprimento a própria consciência sobre Deus como sendo
este suprimento – quer dizer, é o nosso próprio estado de consciência em
estado de elevada evolução.
Quando alguém busca
suprimento por intermédio de um curador, então depende esse suprimento
da evolução da consciência espiritual do curador. Isto, todavia, não é
um suprimento duradouro; cedo ou tarde, todo homem se verá na
contingencia de ter de confiar em seu próprio estado de consciência, na
permanente certeza de que essa consciência desenvolvida é
Teo-consciência, a consciência de Deus (Brahman) que se desdobra na
forma da nossa própria consciência individual (Brahma).
Acontece então que, até
certo ponto, abrirás mão da concepção de que suprimento seja algo
relacionado com outro homem; e então, surgirá em tua vida o grande e
poderoso momento em que o mundo inteiro te cai dos ombros e tu sabes e
dizes de todo o coração:
“De Deus é a terra e
tudo quanto nela está… Meu filho, tudo que eu tenho é teu… A plenitude
da grandeza de Deus – não apenas uma parte, mas a plenitude total – é
minha, agora, superando a mortalidade com o seu limitado senso de
egoidade e revestindo-me da infinitude de Deus, da graça de Deus, da
presença de Deus, do poder de Deus.
Não tenho nenhum poder
próprio; de mim mesmo nada posso fazer. Eu de mim mesmo não sou nada. Se
falo do meu ego, do meu poder, do meu suprimento, dou testemunho de
mentira. O Pai é minha vida. O Pai é meu suprimento”.
Há certos homens no
plano da busca espiritual que tem a ideia fantástica de que Deus, de
algum modo é mais amigo deles do que de outros. Que Deus horrível seria
este! É possível, naturalmente, que a falta de conhecimento ponha o teu
vizinho face a face com a pobreza, criando nele a ideia de falta ou
limitação; mas Deus não concede os seus bens mais liberalmente a uns do
que a outros. A única diferença está no fato de que alguns, sobretudo os
do caminho espiritual, sentem mais conscientemente do que outros a
presença de Deus manifestada em forma visível.
Nenhum pesquisador da
verdade deve pensar que um povo, uma raça, uma religião tenha acesso
mais fácil a Deus do que outros, ou que alguma pessoa goze de algum
privilégio especial perante Deus. A infinitude de Deus é universal; mas o
que realiza o teu bem é o grau da compreensão da verdade. Uma vez que
compreendeste que a conscientização da presença de Deus tem como
consequência a manifestação real e a expressão da abundância, nunca mais
acreditarás que algo possa ser melhorado por meio de manejos
miraculosos ou pela oração. Compreenderás que o que aconteceu foi o
seguinte: que tu te tornaste mais consciente de uma coisa que já existia
desde o principio em toda a sua plenitude.
Na mesma cidade que fulano
sofre pobreza e penúria, sicrano goza de abundância. Quem é o
responsável por isto não é a cidade, nem o tempo. Pode haver um ano de
penúria, outro de prosperidade. O ano não é o responsável por isto;
muitas pessoas perderam a sua fortuna em períodos de prosperidade. Não é
o tempo que te faz rico nem pobre. Não é o lugar que te faz ganhar ou
perder. Tu mesmo te tornas uma lei para a tua experiência, na proporção
que compreendes que Deus é a substância real que subjaz (que está por
trás) a todas as formas aparentes.
Ora, se Deus é a substância
subjacente a todas as formas, como poderias tu aumentar a tua forma?
Será que Deus é a substancia de formas limitadas? Não, a forma já é
infinita, assim como infinita é a substância que produziu a forma. O
segredo está em que reconheças que Deus é onipresente (o que está em
toda a parte) – mais do que isto, que Deus é a própria Onipresença, a
presença do teu próprio ser, e, portanto, a presença do Infinito. A tua
conscientização desta presença do Infinito revela o Infinito como
abundância lá onde havia carência.
Tudo que aparece visível é
feito da substância do invisível e é infinito. Assim, por exemplo, não
há nenhuma possibilidade de incrementar as tuas colheitas, o teu
dinheiro, os teus latifúndios, ou outra coisa qualquer, por meio daquilo
que o mundo denomina oração. Não há nenhuma oração miraculosa que faça
sair um coelhinho da cartola. Ninguém o pode fazer, a não ser que o
coelhinho já estivesse lá anteriormente. Não há tal coisa como
incremento ou diminuição – existe tão somente a Infinita Realidade que
se expressa, deste ou daquele modo. Se tu não és recebedor da Infinita
Plenitude não é porque a Infinita Plenitude esteja ausente – mas porque
te falta a consciência da Infinita Plenitude.
Trecho do livro “A arte de curar pelo espírito”, de Joel Goldsmith tradução de Huberto Rohden
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