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terça-feira, 9 de agosto de 2016

DO SOFRIMENTO 
A TOMADA DE CONSCIÊNCIA
 
 "A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional". 
(Buda)
 
  
Jesus disse:

“Abençoado é o homem que sofreu; 
ele descobriu a vida.”.

Jesus disse:

“Olhe para o eterno enquanto viver, 
para que não morra e fique procurando por ele 
sem ser capaz de encontrá-lo.”


Eles viram um samaritano levando uma ovelha a caminho da Judeia. Ele perguntou a seus discípulos:

“Por que esse homem leva a ovelha com ele?”.

Eles responderam: “Para que possa matá-la e comê-la”.

Ele lhes disse: “Enquanto ela estiver viva, ele não a comerá, mas somente quando a matar e ela tornar-se um cadáver.”.

Eles disseram: “De outro modo, ele não será capaz de comê-la”.

Ele lhes disse:

“E vocês, busquem um lugar para si mesmos em repouso, para que não se tornem cadáveres e sejam comidos.

Jesus disse:

“Dois descansarão na cama: um morrerá, outro viverá.


Desde os mais remotos dias, o homem vive perguntado repetidamente por que há sofrimento na vida. Se Deus é o pai, então, porque há tanto sofrimento? Se Deus é amor e se Deus é compaixão, então, por que a existência sofre? E não tem havido uma resposta satisfatória para isso. Mas se você compreender Jesus, você compreenderá a resposta. O homem sofre porque não há outro modo de amadurecer, de crescer. O homem sofre, porque somente através do sofrimento ele pode tornar-se mais consciente. E a consciência é a chave.

Observe sua própria vida: sempre que você está confortável, à vontade, feliz, a consciência é perdida. Então, você vive numa espécie de sono; então, você vive como que hipnotizado, como que sonambúlico: você anda e faz coisas, mas sonambulicamente. Eis porque sempre que não há nenhum sofrimento, a religião desaparece da sua vida. Então, você jamais vai a um templo, ele não tem nenhum significado para você; então, você não ora a Deus, porque … para quê? Parece não haver nenhuma razão.

Sempre que há sofrimento, você vai ao templo, seus olhos se voltam para Deus, seu coração segue em direção à oração. Há algo escondido no sofrimento, que o torna mais consciente de quem você é, de por que você existe e para onde está indo. Num momento de sofrimento, sua consciência fica intensa.


Nada pode ser sem significado nesta vida.

Ela é um cosmos, não é um caos.


Você pode não ser capaz de compreender – isso é uma outra coisa … – porque conhece somente os fragmentos, não conhece o todo. Sua experiência de vida é simplesmente como se tivesse somente uma página solta de um romance: você a lê, mas não faz nenhum sentido, porque ela é apenas um pequeno fragmento. Não conhece a história toda. Uma vez que conheça toda a história, então, essa página se tornará compreensível, então, essa página se tornará coerente, significativa.

O que é o significado? É conhecer o fragmento em relação ao todo; significado é um relacionamento do fragmento com o todo. A fala de um louco na rua não é significativa. Por quê? Porque você não pode relacionar a fala dele a nada, sua fala é um fragmento. Ele não está falando à ninguém, não há nenhuma necessidade, não há ninguém ali a quem falar. Sua fala é fragmentária, não faz parte de um todo maior – eis porque ela é incoerente. As mesmas palavras podem ser usadas por um outro homem – exatamente as mesmas palavras – mas ele está falando a alguém, então, é significativo. Por quê? As palavras, os gestos são os mesmos, e um homem você chama de louco e o outro homem não é louco. Por quê? Porque há alguém para ouvir: o fragmento não é fragmentário, ele tornou-se parte de um todo maior, carrega significado.

Corte um pedaço de uma pintura de Picasso: ela fica sem significado, ela vira apenas um fragmento e um fragmento está morto. Coloque-a de volta na tela e, de repente, o significado aparece; ela se torna coerente, porque, agora, faz parte do todo. Somente quando você faz parte do todo, você é significativo. 

Se o homem moderno parece sentir continuamente que se tornou insignificante é devido a Deus ter sido negado ou esquecido. Sem Deus, o homem não pode nunca ser significativo, porque Deus quer dizer o todo e o homem é apenas um fragmento. Você é apenas uma linha da poesia sozinho, você é apenas algaravia. Com o todo, a significância do poema aparece, porque a significância reside no relacionamento com o todo. Lembre-se disso.

Estou me lembrando de um sonho de Bertrand Russell. Ele era um ateu, jamais acreditou em Deus, jamais pôde ver algum significado mais amplo que pudesse compreender o todo. Ele contou um sonho. Certa noite, no seu sonho,  ele ouviu alguém batendo à porta,  então, ele foi abrir a porta e viu o velho Deus parado láEle não podia acreditar em seus olhos, porque ele jamais pudera acreditar … – mesmo em seu sonho ele podia se lembrar de que “eu não acredito em Deus”. Mas o velho homem parecia tão esquecido por todos, abandonado por todos! Suas roupas estavam rasgadas, sujeira pelo rosto e pelo corpo … Ele parecia tão ultrapassado, quase como uma pintura desbotada, na qual não se pode ver claramente o que está acontecendo. Russell sentiu muita pena dele. Só para animá-lo, ele disse: “Entre!”. Ele bateu em suas costas, como um amigo, e disse: “Anime-se!”. E então, de repente, ele acordou e o sonho acabou.

Esse é o estado do homem moderno, da mente moderna: Deus está fora de moda. Ou você está contra ele, ou no máximo, tem pena dele. Através da pena você pode tentar animá-lo, mas ele já não é algo significativo para vocês, apenas uma pintura ultrapassada, desbotada, inútil, um lixo do passado. Ou ele está morto ou mortalmente doente no seu leito de morte. Mas, se o todo está morto, como o fragmento pode ser significativo? Se o todo está ultrapassado, como a parte pode ser nova, fresca e jovem? Se a árvore toda está morta, então, qualquer folha da árvore que pensar estar viva é simplesmente estúpida. Pode levar um pouco mais de tempo para a folha morrer, mas se a árvore está morta, a folha tem de morrer – ela já está morrendo.

Se Deus está morto, então, o homem não pode viver. E o homem está mortalmente doente, porque sem o todo o fragmento não tem significado. Mas sempre que você fica feliz, lampejos de felicidade, não felicidade de fato, sempre que você simplesmente se sente confortável, à vontade, quando nada o perturba, então, você acha que você é o todo. E isso é falacioso. Quando está sofrendo, de repente, fica ciente de que você não está bem, como se você tem medo de morrer. Isso é lógica simples! Não fique vivo, se tem medo de morrer; elimine todas as dimensões onde exista vida. Então você pode simplesmente vegetar.

Jesus não pode chamar de abençoada uma vida vegetativa, ninguém pode dizer que uma vida vegetativa é abençoada. Essa é a maior infelicidade que pode acontecer a um homem, porque ele jamais crescerá em consciência e maturidade; e ele não terá níveis mais altos de consciência, porque esses níveis mais altos passam a existir somente quando os homens são desafiados. O sofrimento é um desafio; quando você sofre, você é desafiado, quando há um problema você é desafiado. 

Quando você encara o problema, somente então você realmente cresce. Quanto mais insegurança, mais crescimento; quanto mais segurança, menos crescimento. Se tudo está seguro à sua volta, você já está no seu túmulo, você já não está vivo. A vida existe na possibilidade de se extraviar. Mas a pessoa que se extravia pode retornar, a pessoa que fracassa pode vir a ter sucesso.


Osho.


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