Translate

sábado, 13 de agosto de 2016

O RELAXAMENTO 
COMO TERAPIA

Chama-se relaxamento o estado oposto à tensão, isto é, a ausência de contrações e esforços. Estando relaxados os músculos, os nervos que os comandam não transmitem mensagem alguma. Inativos, feito fios elétricos desligados, através deles não transitam impulsos, possibilitando, assim, repouso aos centros nervosos. Nesta condição, os reflexos se acalmam. O corpo fica igual a um aparelho elétrico desligado da corrente.

Hoje é comum que, ao invés de comprimidos e injeções, o médico recomende: relaxe. Tem sido receitado para fatigados, neuróticos, aflitos, insones, cardíacos, dispépticos e convalescentes. Nos casos de doença psicogênica (engendrada pela mente) é freqüente o médico receitar: "Vá para casa. Nada de aborrecimentos. Descanse. Relaxe!"

Relaxar é remédio eficaz. Mas como é difícil! É muito mais fácil tomar certas poções abomináveis, ser picado de agulha e engolir bolinhas.

Sem pertinaz treinamento e Hatha Yoga não é possível relaxar. Digo-o para que o neófito, necessitado e de boa-fé, não venha a se desanimar perante as dificuldades iniciais, que vai encontrar.

Relaxar é afrouxar-se. É desligar-se. É abandonar-se. É derramar-se passivamente. Ausentar-se por uns instantes da ansiedade e da luta. Relaxar é economizar esforços. É despojar- se da normal e eficiente stressora auto-afirmação. Relaxar é gozar repouso. É amolecer-se. É desfrutar os inefáveis prazeres do fazer absolutamente nada.

Para um neurótico inquieto e ansioso, relaxar é difícil. Compreende-se. Representa um ato de coragem, de crença, de segurança, que exatamente ele não tem. É um entregar-se todo, sem restrições, sem preocupação com um sistema de segurança.

E isso é impossível. O neurótico, vivendo exausto, em guarda, a defender-se de misterioso e supostamente presumível assalto, não consegue, com facilidade, mandar dormir todas as sentinelas que tem colocado ao redor para sua defesa. Por outro lado, se o neurótico, insistindo e tirando proveito de outras técnicas, conseguir aprimorar a arte de relaxar, conseqüente e simultaneamente, estará se libertando da neurose. Estará vencendo o medo, acalmando a ansiedade, ganhando coragem e estímulos de vida.

Na mesma medida que o neurótico sente dificuldades em relaxar, o homem verdadeiramente religioso sente grande possibilidade e enorme prazer. Com o religioso, tudo é fácil, pois ele tem fé. Entrega-se todo, facilmente, graças à crença que tem na onipresença, onisciência e onipotência do Ser Supremo. Sabe convictamente que melhores serão os resultados desde que mais intensa e incondicionalmente se abandone nas mãos da Consciência Suprema, remédio para todos os males, solução para todos os problemas, paz para todos os conflitos, alívio para todas as angústias, ajuda em todas as aflições.

Ele sabe que Deus é energia para suprir seu esvaziamento, a chave misteriosa com que há de abrir as cadeias de suas servidões, o lenitivo para todos seus ais, a alegria, até então ausente, a coragem para levantar-se e avançar. . . O verdadeiro religioso faz do relax um ato essencialmente místico, porquanto consiste em doar-se, em oferenda, no altar do Onipresente.

Para ele o relax é um modo prático, concreto e vivencial de rezar o "seja feita a Vossa Vontade". No relax, confia-se a Deus, sabendo que Ele cuidará de tudo melhor do que seu egozinho, meio esfacelado na luta quotidiana, tem feito.

Também para o entendido em fisiologia, o relax se torna mais fácil porque ele vê as razões científicas do processo. Quem tiver curiosidade de saber, procure ler em minhas obras "Autoperfeição com Hatha Yoga" ou “Yoga para Nervosos”, nas quais apresento um estudo mais ou menos detalhado da fisiologia do sistema nervoso e suas relações com o endócrino.

Aqui, posso dizer resumidamente que os centros da base do cérebro, principalmente o hipotálamo, têm a seu cargo a regulação das funções vegetativas, isto é, aquelas como a digestão, tensão sangüínea, ritmo cardíaco, assimilação, e muitas outras, que nos fogem ao controle voluntário. Tais centros, por muitas causas e razões, inclusive a fadiga, a toxidez, traumas psíquicos e mesmo físicos, se perturbam em seus deveres e passam a emitir comandos neurais bem disparatados e impróprios, mercê de verdadeiros curto-circuitos ou ligações anômalas, provocando, assim, mil e um transtornos funcionais, não obstante os órgãos estejam normais.

Estas ligações errôneas podem ser corrigidas. Mas a vida de tensão, ao contrário, lhes dá mais condições de ser. Reativam-se. Reafirmam-se. Revigoram-se. . . O relax pode apagar tais sulcos, desfazer tais ligações, corrigir os defeitos instalados nesses centros nervosos.

A dose diária de minutos de inatividade por relax, pouco a pouco, reduzirá não só os efeitos, mas suas próprias causas. De maneira semelhante, o relax atua sobre a glândula hipófise, a maestrina de todo sistema endócrino, e, assim, consegue fazer as demais glândulas retomarem o ritmo de saúde.

Consequentemente, corrigem-se todos os padecimentos causados pelos excessos ou carências de hormônios no corpo. Não é apenas sobre os centros de comando neuro-hormonal que o relax atua, corrigindo-os. Age também — como que abençoado alívio — sobre os músculos, glândulas, vísceras e órgãos, sobre os quais tais centros exercem comando. Quando em relax, um órgão se comporta como um soldado dormindo e, assim, não cumpre a ordem estapafúrdia de um superior hierárquico meio perturbado.

Em outras palavras, os tecidos em estado de yoganidra (letargia), não reagem aos comandos anormais e perturbadores. Ficam quase inertes e amolecidos. E, assim, os sintomas não conseguem se manifestar.

Os estudiosos de fisiologia têm razões para acreditar na relaxoterapia. Vêem o relax corrigir, por quase inação, os centros de comando. Vêem o relax sustar a execução das ordens insanas partidas dos centros fatigados. Vêem o relax agir corretivamente, ao mesmo tempo, sobre toda escala hierárquica da fisiologia: sobre os que regulam e sobre os regulados. Vêem o relax restaurar a homeostase perdida.  


Prof. Hermógenes
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário