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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

LUZ PELO CAMINHO


Fazei convite à tristeza com abundância de coração, pois que a tristeza proporciona o perfume do entendimento e é criadora do afeto.

O atingir da Verdade consiste no desdobrar da vida e no dar à vida a meta mais plena possível para os fins de sua expressão.

Eu sustento que o presente caos, ansiedade e luta, surgem do fato da vida ter sido levada ao cativeiro e mutilada, e a Verdade ter sido limitada e condicionada.

O mundo presentemente é a expressão da vida em cativeiro.

Pelo fato de haverdes colocado as religiões e as crenças antes da vida, produziu-se a estagnação.

A religião é o pensamento solidificado dos homens, por meio do qual eles constroem templos e igrejas.

A rede da vida é tecida por meio das coisas vulgares e essas coisas vulgares são as que podeis dominar. Podeis dar-lhes originalidade, podeis por meio delas criar grandeza; ou podeis desaproveitá-las por falta de entendimento.

Eu vos digo, buscai, não o conforto, porém o entendimento. A busca do conforto é o cativeiro da vida; a busca do entendimento é a sua liberdade.

Vós vos atemorizais de fazer face a qualquer de vossas fraquezas; atemorizai-vos de fazer-lhes frente e vencer.

Cavar por meio do presente para atingir o eterno, tal é o propósito do homem. Todo o ser humano tem de, cedo ou tarde, cavar esse túnel que é o caminho direto para o atingimento da vida. Nesse túnel não se pode voltar para traz, pelo fato de se haver lançado para traz aquilo que se tiver cavado. Tereis que avançar sempre. E uma vez que por vós mesmos tenhais estabelecido a meta — a qual é a liberdade de todos os desejos, de todas as tristezas, dores e lutas — então o cavar o túnel tornar-se-á um êxtase.

A verdade não é misticismo, nem ocultismo. Ocultismo e misticismo são limitações que o homem põe à Verdade.

Se um homem for sábio e ardoroso em sua busca, verificará que coma Verdade não pode haver transigência.

A mente da maioria das pessoas afigura-se necessário possuir um intermediário, um interprete da Verdade. Eu vos digo, porém: deixai que a própria meta se torne o vosso mediador. Uma pessoa qualquer, só momentaneamente vos pode ajudar. Que cada homem, pois, fixe sua própria meta, criando por essa maneira a ordem.

Para fortificar a semente que tem de vir a crescer, até tornar-se a árvore frondosa que dá proteção a todo o transeunte, necessitais desde o começo, fazer convite à dúvida. Examinai todas as vossas crenças, tudo aquilo sustentardes ser vosso conhecimento, não pelo deixardes que a dúvida se insinue para dentro de vosso coração, porém sim convidando-a a entrar. Pois eu sustento que a duvida é essencial para chegar-se à descoberta e ao entendimento da Verdade. A não ser que tenhais feito convite à duvida, com toda a sua crueldade de exame, aquilo que possuirdes não é real.

Todos vós podeis ser levados à duvida por outrem. Porém a duvida que não for determinada por vós mesmos, não purifica.

Eu vos digo que a ortodoxia se estabelece quando a mente e o coração estão em decadência.

Se possuírdes a compreensão e a coragem de fazer convite à duvida, então sereis discípulos da Verdade e não discípulos de um indivíduo qualquer. Então, somente, podereis ser capazes de compreender, somente então possuireis certeza — e possuindo a certeza, capazes de ministrar as águas da vida que hão de extinguir a sede do mundo.

Tendes que despedaçar todas as coisas, afim de verificar, duvidar de tudo afim de descobrir.

Não quero que me adoreis; não quero que acrediteis cegamente nas coisas que digo; não quero que de mim crieis um santuário para vosso abrigo ou que de mim vos sirvais como muleta. Quero que descubrais e compreendais. Pois que é somente pelo entendimento da Verdade que a não vireis a atraiçoar; somente pelo entendimento dela estareis habilitados a dar.

Antes quisera eu ter uns poucos que compreendam, do que muitos que me sigam sem entendimento.

O caminho direto é o caminho único; a união simples é a melhor.

Quando um homem houver compreendido este caminho, quando esta união houver sido conseguida, então o tempo e todas as complicações do tempo, para ele terão cessado. Então ele será seu próprio Mestre, seu próprio Deus. E, chegando a ser isto, ele é tudo.

Uma desordem verdadeira, uma desordem divina, é necessária afim de produzir-se a divina ordem.

Quando libertardes essa vida que é divina, e consumardes essa vida, então vós próprios vos tornais Deus. Por Deus não entendo eu o Deus tradicional, porém sim o Deus que está em cada qual; e este Deus pode somente ser realizado por meio da consumação da vida. Por outras palavras, não existe Deus, exceto Deus manifesto no homem purificado, tornado perfeito.  

Quando atribuis à autoridade externa uma lei e ordem divina espiritual, sufocais, limitais essa mesma vida que pretendeis consumar.

Crenças, dogmas, religiões, nada têm que ver com a vida, e daí com a Verdade.

Para auxiliardes com êxito, tendes que haver transcendido a necessidade de receber auxílio. Para dar com verdade, tendes que haver deixado de ser aquele que recebe.

Para verdadeiramente amar, tendes que haver transcendido a corrupção do amor.

O problema do mundo é o problema individual. Tomais em consideração o problema do mundo antes de haverdes cogitado do vosso. A paz e o entendimento somente virão quando houver a compreensão, a certeza e força em vós mesmos.

Tendes que pertencer à Verdade, que fazer parte da Verdade e apesar disso vosso trabalho tem de relacionar-se com o irreal e o passageiro. O afastar-se do mundo mais não é que o auto-atingimento, a busca de si próprio.

A libertação não é negativa; é positiva. Não é o penetrar em um vácuo e aí perder-se a si mesmo; é o integrar-se na Verdade, tornar-se parte da Verdade, e sair para o mundo e libertar aqueles que estão adorando ilusões.        
  
 
Apontamentos de Jiddu Krishnamurti
 

 

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