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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

TAO TE CHING
Parte III
 
 
Vamos adentrar em outra pergunta extensa. O quanto estás aberto para receber esta mensagem? Isso é muito familiar para mim, por isso lerei apenas algumas linhas.

Alguns dizem que meus ensinamentos não tem sentido; outros o chamam de "nobre" mas não o põem em prática; mas para aqueles que os veem a partir do profundo de si mesmos, este "sem sentindo" faz todo sentido; e para aqueles que os colocam em prática, esta nobreza tem raízes profundas.

Então, existem algumas pessoas que não tem essa abertura, porque não encontram nenhum sentido nisso; tem que haver algo em você que reconheça a verdade disso, além das palavras e dos conceitos.

"Esvazia sua mente de todos os pensamentos e deixa que seu coração esteja em paz." 
 
Vou ler o mesmo, mas em outra das traduções e verá uma pequena mudança no sentido; outra sensação.
 
"Se esvazie de tudo. Deixe que a mente se transforme em silencio. Observa a agitação dos seres, mas contempla seu retorno."

Observa a agitação que existe neste mundo, toda atividade dos seres.. como vão correndo... Observe! Quer dizer que seja consciência e contempla o retorno: tudo volta ao sem forma, cedo ou tarde. Imagine que está vendo um filme, - a mim me encantam os filmes antigos, dos anos 30-40; me encantam, por exemplo, cenas na rua, em Londres, Nova York, centenas de pessoas correndo por causa de seus trabalhos, - esta é a agitação dos seres, como diz aqui. Você precisa vê-los. Eu vejo, e observo surpreso, - e aqui diz: Observa e contempla seu retorno - quando eu vejo, essas cenas de rua, digo: Todas essas pessoas já não estão mais aí! Estão todos mortos neste momento. Era tão "importante" o que estavam fazendo, parece importante... correndo daqui e dali.. carros.. 
 
E não resta mais nada. Só o vazio. Mesmo aqui, e todos nós aqui, se colocarem câmeras aqui filmando, veremos os corpos gradualmente se dissolverem, ou evaporarem. E não demora muito. Ás vezes comparamos as bolhas de sabão, que se dissolvem uma atrás das outras.. e não sobra nada. Os corpos físicos duram um pouco mais, até que eles se dissolvam também. Mesmo as pedras se dissolvem, podem durar dois mil anos, mas um dia irão se dissolver.
 
Tudo o que existe se dissolve. Todas as formas terminam por se dissolver, são impermanentes. E observar isso é extremamente poderoso, por isso é que o Tao Te Ching diz: Observa a agitação dos seres, mas contempla seu retorno. Significa que seja consciente da impermanência de toda forma que existe. Não como algo negativo, mas que veja como é. E se você é consciente da impermanência das formas, de que todas as formas duram pouco, como é que você pode ter essa consciência? Deve haver algo em você que está além disso. Às vezes é como dizer: se todo o universo fosse azul, a cor azul não existiria, porque não existiria nada para diferenciá-lo. Diria: Tudo é azul. E te diriam: Do que está falando? Azul? o que é azul?

Se tudo fosse impermanente, nem sequer haveria o que saber. Mas existe algo em você que transcende isso, e é por essa razão que sabe. É pós isso, que ao contemplar o impermanente, se conecta com isso. Isso em ti, que é a consciência, a presença eterna, a luz da consciência, não é afetada pela impermanência.
 
E o que a mente diz sobre isso? Sim, mas o que acontece quando eu morrer? Perderei a consciência? Ou se cair uma pedra na minha cabeça, perco a consciência? Como é isso?
 
Significa apenas que a consciência não pode seguir fluindo através do seu cérebro, neste mundo, então, deve se retirar e buscar outro canal. Você não pode perder a consciência. Isso não é surpreendente? Por que não? Porque você é Consciência. É a sua essência. Não se pode perder a si mesmo. Em lugar de Consciência pode usar Vida; o Tao é o imanifesto, aquilo que subjaz à essência eterna de toda vida. Você é o que dá a vida a todas as formas, mesmo que durem pouco, você é Isso. Não se pode conceituar isso. Se pensar nisso, não fará sentido algum. Tem que sentir em si mesmo. Sentir! Não se pode conhecer Isso como se conhece um objeto, só se pode conhecendo como a si mesmo. Porque é o sujeito de todo conhecimento.

"Cada ser retorna à fonte comum, regressa a esta fonte que é serenidade". Uma outra palavra para esta serenidade pode ser silencio. Tudo retorna à fonte da qual veio a vida. Retornar à fonte é silencio. O bom é que não precisas esperar a morte para retornar à fonte. Ao viver uma vida de plena sabedoria e poder, pode-se regressar à fonte, antes que o corpo morra. E viver conectados com a fonte da vida. Por isso diz que: regressar à fonte que é silencio.
 
Quando encontrar o silencio dentro de si regressa à fonte de toda vida. O que é o silencio? Um momento em que não está pensando, mas está consciente, em um espaço interior. Como agora. Pode sentir que há um espaço em você que é apenas consciente? Que não lhe diga nada, ou não me diga nada... só isso. Voltar à fonte, ao sem forma, ao eterno em si.

"Se não te dás conta de que existe essa fonte, tropeças em confusão e em dor."
 
É assim que a maioria das pessoas vive, infelizmente. Tropeçam, por estarem desconectados da sua essência sem se dar conta da fonte do seu ser. Imediatamente surge a confusão, confusão mental, a mente cria todo tipo de problemas falsos. Você mesmo se torna um problema para si mesmo e um problema para os outros, um problema para o planeta, e contribui para aumentar os problemas do mundo; e é a isso que chamam de ser "normal". Se tropeça em confusões, como acabamos de dizer, e a dor é o que provém quando se está desconectado com essa dimensão que há em si, sofre em sua vida cotidiana.

É isso que disse Buda: "A vida é sofrimento". A menos que vá além deste sofrimento, e é isso que lhe mostra o ensinamento, o caminho.. é isso que nos mostra o Tao Te Ching.
 
 

Eckhart Tolle

 

 

 

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