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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O ESTAR INTELIGENTEMENTE DESCONECTADO É UMA DÁDIVA DIVINA


Pergunta; Podeis nos dizer algo a respeito desse afeto por meio do qual haveis falado que se pode fugir à experiência em detalhe?

Krishnamurti: Digo que é possível a um ser humano atingir a perfeição sem passar por todas essas experiências; porém, para passar por todas as experiências é preciso que a pessoa tenha grande afeto e simpatia. Existe um caminho complicado e um caminho direto. Afim de desenvolver a imaginação que vos proporciona experiência sem por ela passardes, tendes que possuir afeto.

Como se adquire o afeto? Por meio da experiência.

Quando vedes um alcoólatra, ou um homem cruel, ou um homem bestial em seus pensamentos e sentimentos, se possuírdes imaginação aliada ao afeto real, podeis adquirir o entendimento da sua tristeza e não precisais de passar pela sua particular forma de experiência.

Não pretendo complicar a vida por meio de mais teorias. Quero proporcionar-vos aquele entendimento da vida que atuará como uma lâmpada para a vossa alma, por meio da qual podeis guiar os vossos pensamentos e sentimentos. Não quero que penseis de acordo com o meu modo de entender. Não quero que atueis de acordo com a minha percepção da verdade. Se o fizerdes, apenas estareis imitando. A imitação jamais pode produzir a verdadeira cultura, a qual é resultante da percepção individual e criativa da verdade. Se fordes capazes de traduzir essa percepção na ação diária, estareis trilhando o caminho que conduz ao pleno entendimento que é felicidade.

 
Pergunta: Haveis dito que deveríamos ascender nossa própria tocha de afeto. Para aqueles que naturalmente não sentem muito afeto por alguém seja ele quem for; como pode isto ser feito sem se tornar o indivíduo artificial e irreal?

Krishnamurti: Pela tristeza. Alcançareis simpatia e amor abrindo as portas à tristeza. Pela tristeza desenvolvereis o afeto. Eu não vos posso proporcionar uma droga que em vós faça desenvolver o afeto. Todas as coisas no mundo clamam por afeto — cada ramo morto, cada folha murcha, cada flor, cada ser humano. E se não sentirdes afeto seja por quem for, mesmo por um ramo morto, tereis que sofrer, que verter lágrimas.

 
Pergunta: Não será a gaiola, na qual dizeis que estamos encerrados, sido construída pelos crimes e limitações que nos rodeiam, antes do que por algo com que nos tenhamos rodeado a nós próprios? Se enfeitamos a gaiola não será isto uma demonstração de que estamos nos esforçando por satisfazer nosso anseio superior, com toda a beleza que nos é dado ver?

Krishnamurti: A gaiola é de vossa própria construção, de vossa criação pessoal. Nenhuma outra pessoa cria essas limitações que vos rodeiam. E somente vós podereis destruí-las. Porém, vós enfeitais a gaiola porque o enfeita-la é muito mais fácil do que quebrá-la. Tendes medo de quebrar a vossa gaiola e entrar pelos espaços abertos. Sois constrangidos pela estreiteza de vosso próprio entendimento, pois que vos atemorizais de compreender a vida.

Porque nós estamos nos esforçando por dar satisfação ao nosso mais elevado impulso por meio da beleza tal como podemos ver”. Por isso é que a maioria das pessoas é medíocre. Satisfaz-se com a pouca beleza que imediatamente percebem, em lugar de se sentirem descontentes com o mesquinho regozijo das coisas pequenas.

Se quiserdes ser um grande artista — como necessitais de o ser afim de poderdes compreender a vida — não vos deveis vos satisfazer com as pequenas coisas, por belas que sejam. Não podeis imaginar um grande artista satisfeito com o seu primeiro quadro. Se para ele não existisse progresso, não poderia aperfeiçoar a sua arte. Se vos encontrardes satisfeitos com a lagoa estagnante do conforto fácil, tereis a produção da mediocridade — o espírito de burguesia.

A percepção da verdade de outrem, jamais pode ser grande, por admirável que se afigure aos vossos corações, por muito que isto corresponda ao vosso sentimento. Enquanto estiverdes contentes e satisfeitos, somente estareis enfeitando a gaiola de vossa limitação.

Para atingirdes a liberdade necessitais de estar em revolta constante. O dia de hoje necessita ser diferente do de ontem. Vossas ideias devem ir desdobrando-se de dia para dia, devem estar sempre crescendo, jamais imóveis.

Vossa mente e coração jamais podem crescer se estiverem atados pelas limitações da beleza imediata. Se todos fôsseis provados de vossas gaiolas, de vossos dogmas, de vossas religiões, deuses, seitas, crenças, ficaríeis terrivelmente atemorizados. Necessitais de vossas gaiolas, de vossas crenças estreitas, necessitais de vossos deuses sectários; e a partir do momento que os abandonardes, atemorizar-vos-eis de vós mesmos. Jamais podeis atingir a meta pelo vos esconderdes do auto-exame e evitar o entendimento da vida.

 
Pergunta: Haveis feito uso da frase “revolta inteligente”. Podeis, por favor, ampliar isto e indicar a que fazes da vida devemos aplica-lo?


Krishnamurti: A todas as fases. A revolta é essencial à vida. O estar inteligentemente descontente é uma dádiva divina. Podeis dizer: “Muita gente no mundo está descontente. É uma das coisas mais fáceis do mundo, o estar descontente. Porém, o estar inteligentemente descontente, é virtude rara. A inteligência é o resultado do acumulo de experiência. A partir do momento que estejais inteligentemente em revolta, então estareis verdadeiramente crescendo.     

 
 
Krishnamurti
 
 

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