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terça-feira, 2 de agosto de 2016

TAO TE CHING

Estaremos falando, não apenas falando, mas entrando na essência de um livro que me tem acompanhado nos últimos trinta anos. Um livro que sempre consulto diariamente, e sigo consultando todos os dias... leio uma página, ou duas ou três... e medito...
 
Trata-se de um dos grandes tesouros da literatura espiritual.
 
É um livro escrito na China há 2.500 anos atrás, o TAO TE CHING.

Pode parecer que se passou muito tempo desde aquela época, e sem dúvida o livro segue sendo imensamente vivo. E um livro escrito há tanto tempo, para estar tão vivo, significa que foi escrito a partir de uma dimensão muito profunda e aponta algo, que está fora do tempo (timeless).
 
Se não tivesse sido escrito a partir dessa dimensão, que está fora do tempo, e não apontasse esse algo atemporal, um livro escrito há 2.500 seria irrelevante, não teria sentido e seria, na verdade, incompreensível.
 
Isso ocorre com muitos livros, que foram escritos há 20 anos atrás! Ou mesmo o jornal de ontem, já está desatualizado.

Logo, existe algo para que este livro siga vivo agora e siga sendo profundo em significado, para muitas pessoas. Logo, deve haver algo aí que está fora do tempo.
 
Esta é a essência deste livro e é isso que gostaria de aprofundar com vocês.
 
Assim, não é um livro que abordaremos, mas, não vamos analisar o texto, vamos usar o texto para ir profundamente para nosso interior e descobrir algo dentro de nós mesmos. O livro não é mais que um recurso que nos ajuda a descobrir e ver nossa conexão com o Todo, com o Universo, ou como vocês o chamam.

Explico brevemente o contexto histórico; pode ser útil se saber um pouco mais sobre isso.
 
Este livro foi escrito por volta de 2.500 - 2.600 anos, na China. Em outras palavras, a 500-600 anos a.C; este foi um período muito apaixonante e significativo; algo incrível estava acontecendo nestes 150-200 anos.
 
Pela primeira vez na humanidade, pelo que podemos ver, estava acontecendo uma onda universal de despertar espiritual por todo planeta.
 
O autor do Tao Te Ching, Lao Tse, é um contemporâneo de Buda, que estava na Índia. Os ensinamentos de Buda surgiram aproximadamente na mesma época dos ensinamentos de Lao Tse, o autor de Tao Te Ching.

O Buda começava a ensinar na Índia, e aí também havia outro mestre muito importante, Mahavira, cujos ensinamentos não foram muito longe neste momento, nem tampouco hoje em dia, mas se manteve como algo muito significativo na Índia. Era aproximadamente a mesma época que viveu Buda. E deu início ao Jainísmo, uma religião muito bonita, que segue sendo praticada na Índia, embasada no termo "ahimsa", que quer dizer, não violência, isto é, um profundo respeito por todos os seres vivos.

Naquele tempo, todos estes ensinamentos estavam sendo revelados e ensinados. Temos Buda e Mahavira na Índia, também estava surgindo o Zoroastro, na Pérsia ( não confundir com Zaratrusta de Nietszche) (...) Zoroastro, o Profeta da Pérsia; Temos também na antiga Grécia, e estou falando de antes dos grandes filósofos como Platão, Aristóteles, Sócrates, começarem a ensinar. Estamos falando de antes disso. Estamos falando dos filósofos pré-Socráticos, pois precediam a Sócrates;
 
Somente encontramos fragmentos de suas filosofias, mas são suficientes para nos mostrar que seus ensinamentos foram, em alguns aspectos, mais profundas que os de Platão, Sócrates e Aristóteles, que eram de outro tipo.
 
Meus filósofos pré-socráticos favoritos são Heráclito e Parménides. Só temos pequenos fragmentos, mas estes fragmentos nos mostram que estes ensinamentos estavam em contato com a fonte do Ser, a fonte da Vida. A Unidade que existe na essência de todos os fenômenos. E depois, a medida que a filosofia foi se diferenciando, isso foi se perdendo. Os filósofos se tornaram interessados nas diferenças, mas a conexão com a raíz da vida, a unidade imanifestada, a dimensão transcendental, gradualmente foi se perdendo.

Estes filósofos de 500-600 anos a.C, ainda tinham esta conexão. Eles também percebram que a humanidade havia perdido essa dimensão, assim tudo se tornou numa onda de despertar que estava atravessando por todo o planeta. Vejam que não estamos falado da filosofia como a vemos hoje em dia, se tratava de uma transformação interior, e não uma especulação, como ocorre hoje.
 
Aqueles, eram filósofos que investigavam a si mesmos, Buda, Mahavira, não eram especulativos, eram investigadores de si mesmos. Seus ensinamentos eram vivenciados. Tudo era em função de uma transformação interior, e não de se entender algo com sua mente.

Assim temos: o despertar na Pérsia, o despertar na Índia,e o despertar na antiga Grécia, e agora vamos a China, temos Lao Tsé e seus ensinamentos, que surgia na mesma época na China.
 
Tudo parte desta onda de despertar global, que  estamos vivendo atualmente. Agora, em uma escala muito maior que naquela época. Estamos em um período similar aquele, exceto porque desta vez a onda de despertar espiritual é muito mais poderosa, está em uma escala muito maior e muito mais generalizada que antigamente. Estamos no meio disso.

Há 200 anos ninguém no Ocidente falava do Tao Te Ching. Agora estamos despertando, e é por isso que agora podemos falar do Tao Te Ching e compreendê-lo.

Lao Tse - se sabe pouco de sua vida - dizem que ele estava a cargo dos arquétipos de um reino chamado Zhou. Não sabemos com que idade estava, mas começou a se sentir cansado com a corrupção, de como atuava a corte e os conflitos a sua volta, então ele decide deixar seu trabalho e partir sozinho para as montanhas.
 
A história conta - mas não sabemos se é verdade; que ele chegou até a fronteira desse reino, onde havia uma porteira e o guarda disse que Lao Tse não poderia passar a menos que escrevesse sua sabedoria. Ele tinha a reputação de um sábio, mas nunca havia escrito nada. Então, ele disse: Está bem vou escrever.
 
Não sabemos quanto tempo levou, mas escreveu. Após isso a porteira se abriu e o deixou partir. Este pequeno livro é o Tao Te Ching. Este é o ensinamento. Este é o livro. E então, de acordo com uma versão do que se conta, Lao Tse montou em um búfalo e partiu para as montanhas e nunca mais foi visto. Em outra versão, dizem que ele seguiu ensinando e chegou até os seus 160 anos.

Tao Te Ching é o título do livro, e geralmente, não se traduz. Alguns tentaram traduzir o título mas não tiveram sucesso. As vezes se coloca um sub-título, que diz assim: Tao Te Ching - o caminho da virtude. E essa é uma das traduções errôneas. Tao poderia ser traduzido por "o caminho", mas não é possível traduzir o que seja Tao. Mesmo que se traduza como "o caminho" tem pouco sentido. E se você for chines, isso pouco importa, seguirá sem saber o que significa Tao.

Tao não se pode nomear, logo falaremos disso. Em um subtítulo " O caminho da virtude"; Virtude é uma tradução errônea para "Te". Virtude em nosso idioma inglês, não tem vida; Quando foi a última vez que você usou a palavra virtude? Provavelmente a muito tempo, se é que usou alguma vez. Virtude não se usa; Te, o que realmente aponta é "poder".

Logo, Tao Te Ching, seria "O Poder do Espírito", "O Poder da dimensão transcendental"; O Caminho e seu poder, é um subtítulo mais adequado para o Tao Te Ching. O caminho se refere como viver. O caminho é viver alinhado com o único poder que subjaz no universo. A única coisa que não pode se nomear, que não é uma coisa. Viver alinhado com o Absoluto, que às vezes chamamos de Deus. Mas quando se diz, Deus, o transformamos em algo, e não é isso. Não é algo. É uma não-coisa que flui por todo o universo, que dá vida ao universo, e está além dele. Isso é Tao. E somente podes descobrir em si mesmo. Podes viver de uma maneira em que estejas conectado com essa fonte interior de toda a vida, de todo ser.

O Caminho e seu poder; Isto nos ensina como nos alinharmos com esse poder que subjaz a toda a vida; E como disse Lao Tsé: Por não possuir a palavra adequada, o chamarei de Tao.
 
Está bem, chamá-lo assim, porque é uma palavra que não se presta a distintas significados; Não se pode entender o que exatamente significa.

Da mesma forma, Buda usava a palavra "vazio"; não se pode venerar o vazio. É um termo negativo, que nega a existência da forma. Os humanos sempre tiveram a tendência a venerar a forma. O conceito de Deus que surge na mente, e começa a falar Dele. O conceito de Deus se transforma em um ídolo, porque não é mais que um pensamento.
 
Mas não se pode fazer o mesmo com Tao porque não se pode imaginá-lo, formar uma imagem dele, da mesma maneira que não se pode imaginar o vazio.
 
Essa é a realidade transcendental da qual o livro fala, e se mostra como um caminho. Existe um grande poder aí.


 

Eckhart Tolle ( Parte 1)


 

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